De São Paulo, SP.
Alerta de TL;DR - Muita tinta tem sido gasta em busca da
definição do que é inovação e entra ano, sai ano, as empresas martelam na
cabeça de seus empregados que eles precisam inovar. A despeito dos milhões
gastos por empresas e fundos de pensão contratando consultorias e projetos em
busca de novas soluções, inovação é um mecanismo simples, que tem a ver com Reimaginar,
Diversificar e de tempos em tempos, com uma rara e inovadora forma de Reduzir
inovações existentes para gerar novos paradigmas.
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Modelos de inovação (figura abaixo) vem sendo
tratados quase que como criações sobrenaturais pelas firmas de consultoria em
gestão, que ganham muito $$$ sempre inventando diferentes abordagens, frameworks
e modelos para lidar com o tema.
Inovação pode ser reduzida a dois mecanismos básicos e elementares, sobre os quais incentivo vocês a pensarem ao procurar construir o futuro da previdência complementar:
1) Um fundo de pensão inovador - ou uma empresa qualquer - pode tentar trazer ao mercado uma forma inteiramente nova de fazer as coisas, visando proporcionar segurança financeira futura para as pessoas;
2) ... ou pode melhorar soluções existentes e inovações passadas, entregando melhorias incrementais, não menos revolucionárias, com novas capacitações que mudem o paradigma anterior.
O primeiro tipo de inovação pode ser chamado de Reinvenção e o segundo, de Diversificação. Uma boa forma de entender esses dois mecanismos é olhando a evolução dos telefones celulares, cuja tecnologia permite hoje a qualquer um, fazer ligações de qualquer lugar.
Tudo começou diversificando continuamente o acesso ao se buscar respostas para as perguntas: “E se eu pudesse falar ...”:
* ... com as pessoas que moram em outra cidade?
* ... do meu jardim, com as pessoas que moram em
outra cidade?
* ... com qualquer um, a partir do meu carro?
* ... com qualquer um, de qualquer lugar no planeta?
Até que em 2007 o telefone foi reimaginado:
* E se eu pudesse usar a
Internet no meu telefone?
A partir daí, o telefone foi sendo novamente diversificado em ondas de conectividade e formas de utilização: “E se eu pudesse ...”:
* ... usar a Internet do meu carro?
* ... usar a Internet no meu pulso?
O ponto de corte da transição entre diversificação e reinvenção, obviamente, não é tão claro assim, porque as inovações que ocorrem em campos diferentes se encontram, se cruzam e tendem rapidamente a se tornar fractais.
Se por um lado os resultados desse processo podem ser genuinamente
complexos, o mecanismo da inovação em si, não é nada complicado.
O “efeito romanesco”
O resultado consolidado de alternar reinvenção e diversificação, visto do alto, se parece com uma couve-brócolis romanesco (fig. anterior). Assim como em todo fractal, se você der um zoom em qualquer parte dele - como se aquela porção da figura fosse um campo de inovação - você descobrirá um nível de complexidade semelhante ao fractal inteiro - representando todo o mercado.
Isso significa, por exemplo, que se você mergulhar profundamente
na complexidade das novas tecnologias de baterias de lítio, encontrará
um nível de complexidade em inovação comparável a todo o mercado global de
energia.
O “efeito romanesco” mostra que novos modelos de negócios da
previdência complementar, portanto, dos fundos de pensão, poderão surgir da
alternância entre inovações ocorrendo no centro do sistema financeiro (a
reinvenção) e as interações no contexto de utilização das soluções (a
diversificação). Em outras palavras, o momentum das mudanças poderá
partir do centro, se aprofundar e se expandir para todos os contextos
possíveis.
Mas também poderá vir de setores inimagináveis, tipo agetechs,
biotechs, healthtechs e sabe-se lá mais de onde ...
Reinventar o fundo de pensão? Não, obrigado!
Por que o conselho deliberativo do seu fundo de pensão deveria evitar
o caminho de reinventar o futuro dos fundos de pensão?
Bem, há inúmeras consequências práticas quando se persegue a inovação
através do mecanismo simples da reinvenção, quando se trata de segmentos
complexos.
Toda empresa gostaria de ser disruptiva, virar o jogo, criar
paradigmas, ser inovadora nesse sentido. Na prática, os exemplos daquelas que
tentaram chegar lá por esse caminho são desapontadores.
Enquanto a Xerox Parc tentava reinventar o computador, Steve Jobs
na Apple “apenas” diversificou a indústria de PCs. Inventores disruptivos e gênios
tendem a produzir, na melhor das hipóteses, negócios ruins. Fica, portanto, a advertência:
reimaginar um mercado, produto ou serviço é inacreditavelmente difícil,
ao passo que diversificar nos estágios iniciais, no momento certo, pode ser
uma força devastadora - em inovação, tempo supera genialidade
Nota: Xerox Palo Alto Research Center (Xerox PARC) foi uma divisão de pesquisa da Xerox Corp. baseada em Palo Alto, Califórnia, nos EUA. A PARC foi fundada em 1970 e transformou-se em uma companhia autônoma em 2002.
Outa consequência do mecanismo da reinvenção é que
frequentemente definimos mercados através dos produtos. Hoje em dia falamos do mercado
de smartphones, não do mercado de comunicação. Isso é ruim porque
seu portfolio de inovações pode ser fraco em telefones celulares e você acaba
deixando de considerar mercados adjacentes como caminhos potenciais para
destravar outras inovações.
No mercado de fundos de pensão isso seria equivalente a focar apenas
em planos de previdência complementar corporativos, isso que se faz hoje, ao invés
de considerar um propósito mais amplo, de fornecer segurança financeira futura
para os participantes – seja lá qual horizonte de tempo entenda-se por “futuro”
e qual definição você tenha para “participantes”.
Os mercados adjacentes são parte do mapa fractal da inovação,
deveríamos “brincar” com eles, dar zoom in e zoom out para
encontrar conectividade com nosso mercado básico, deveríamos dar um “reboot” (reiniciar)
no nosso programa de inovação.
É por isso que gigantes de tecnologia e plataformas de mídias sociais
como Amazon, Google e Meta (ex-Facebook) estão sempre se lançando em busca de negócios
adjacentes, tão logo comprovam que podem estender sua pegada fractal para novos
negócios, de forma produtiva.
Redução, a reinvenção desprezada pelos
fundos de pensão
Apesar do ciclo reinvenção | diversificação
ser simples, existe uma terceira abordagem que geralmente escapa a maioria dos inovadores.
É uma forma especial de reimaginar, de reinventar, que podemos
chamar de redução.
Quando os ciclos de Reinvenção | Diversificação chegam
ao fim, eles terminam com muito barulho de fundo. Geralmente com inovações mal projetadas,
que já não resolvem problema algum, com produtos que tentam oferecer algo novo
quando todas as possibilidades já foram esgotadas há certo tempo através da Diversificação.
Lembra da Tela de TV que precisava de óculos 3D
para assistir? Geladeiras conectadas a Internet? Ou mais recentemente, da
infinidade de celulares dobráveis? Em previdência, conhece os planos família? O
multipatrocinado para estados e municípios?
Pois é ... o ciclo de inovação geralmente termina
com um restart completo no campo das inovações, através de uma Reinvenção
crítica, sucedida por ondas de Diversificação e o ciclo vai se repetindo.
O novo ciclo de Reinvenção é geralmente desencadeado por uma grande
descoberta cientifica, que leva a criação de novos negócios a partir dela - a
disruptura é lenta, mas percebida como rápida porque só é notada quando já está
acontecendo.
O primeiro microprocessador se tornou disponível comercialmente em
1971, foi o Intel 4044,
mas a revolução que nos trouxe até aqui graças ao microchip só começou por
volta de 1996, com a invenção do primeiro smartphone.
Algumas vezes um player entra mais tarde no campo da inovação,
quando esse já parece completamente esgotado, mas não tenta criar um novo ciclo.
A empresa permanece no campo estabelecido e reinventa um produto icônico, top
do mercado, a partir de décadas de conhecimento acumulado sobre o que o mercado
precisa naquele momento. Isso é a Redução.
A Redução não é a diminuição de um campo
de inovação, mas sim o resultado de anos e anos de Diversificação. A Redução acaba sendo aquilo que a
Reinvenção deveria ter sido anos atrás, se realmente tivessemos compreendido as
necessidades do mercado e se a tecnologia corrtente tivesse disponivel na época.
Sim, o Iphone é um caso perfeito de Redução! Não,
a Apple na verdade não inventou nada, toda a tecnolgia estava lá – touchscreen
inclusive – mas eles “reduziram” o mercado de maneira maestral criando uma
inovação iconica.
Quando uma Redução acontece, ela funciona como um
buraco negro inescapavel que suga todo o resto do mercado: os competidores não
conseguem escapar dele e não conseguem encontrar uma maneira de supera-lo.
Então, a unica solução é aderir. O conhecimento
acumulado no mercado não permite ir mais além, todas as rotas, caminhos e ramificações
foram explorados, restando imitar os Teslas e Apples do seu mercado.
Na figura abaixo está um slide da Apple feito em
2012 quando processaram a Samsung por infingir sua patente (a Apple ganhou +US$
1 Bilhão)
O lado nefasto do efeito de Redução é que a
empresa que reduziu o mercado de forma genial em torno de sua inovação: também
é sugada pelo próprio buraco negro que criou e não consegue mais escapar dele.
Na figura abaixo, a “evolução” historica do Iphone.
O efeito de Redução pode ser encontrado em muitos mercados, como o de veículos elétricos e computadores pessoais. Na figura a seguir, o painel de uma Mercedes de 2014 que, assim como VW e a torcida do Coríntias do setor automotivo, não conseguiu escapar do buraco negro da Tesla ...
... e o laptop da Microsoft chamado “Surface Laptop Go” sugado pelo MacBookAir da Apple.
Se tornando um inovador no segmento de fundos de
pensão
Uma Redução não ocorre com frequencia em
determinado mercado, requer anos e anos de Diversificação depois de uma
Reinvenção inicial. Obviamente, isso é algo extremamente dificil de atingir.
Não obstante, os sinais de que o mercado está
pronto para passar por uma reviravolta dessas, são obvios: quando os incumbentes (palyers atuais) estão patinando há anos sem conseguir inovar e
o maximo que os novos entrantes conseguem oferecer são ideias derivadas das
atuais, então, o mercado está pronto!
Depois dos planos BD, o segmento maximo que o
fundos de pensão conseguiram produzir no mundo todo foram planos CV e CD e
decadas já se passaram desde então.
Não apenas faltam novos players, os atuais estão
minguando.
Se você conseguir tirar a venda dos olhos do seu
conselho deliberativo, que está impedindo que ele veja o crescimento
exponencial de novas soluções nos investimentos, nas transferencias financeiras,
nos meios de pagamento, na economia digital, no futuro do trabalho, no mundo
corporativo, na demografia e tudo o mais, enquanto os clientes se tornam mais
refinados em suas expectativas, a única limitação que restará para seu fundo de pensão
inovar será: você dá liberdade para um time supimpa de visonários liderar as
mudanças em diração o amnahã?
Grande abraço,
Eder.
P.S.: As PensionTechs estão chegando para mudar o mercado, tipo UFUND , vai lá checar que vale a pena!
Fonte: “Les trois voies de l’innovation : Réimaginer, Diversifieret Réduire”, escrito por Philippe Meda
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