domingo, 30 de junho de 2024

A IA VAI EXTENDER A LONGEVIDADE E APROFUNDAR, AINDA MAIS, O ABISMO ENTRE PLANOS CD E SEGURANCA FINANCEIRA FUTURA

 


De Sāo Paulo, SP.


Estamos apenas começando a usar a Inteligência Artificial e por enquanto a maioria das pessoas usa as ferramentas de IA como “personal assistant”, para gerar imagens, escrever textos e fazer pesquisas sofisticadas de modo mais eficiente que buscas em aplicativos na Internet, tipo Google.

No entanto, o uso da IA vai muito além disso, ela vai transformar setores de atividade inteiros e um deles é a descoberta | desenvolvimento de medicamentos e seu uso para tratamentos | intervenções médicas.

Até o final da década de 2020, as simulações biológicas estarão suficientemente avançadas para gerar em poucas horas, de modo eficaz e seguro, dados sobre testes clínicos que atualmente demoram anos para ser obtidos.

A transição dos testes humanos atuais, no desenvolvimento de medicamentos, para simulações “in sílico”, ou seja, testes realizados por computação, permitirão que seja feita uma quantidade inúmeras vezes maior de simulações em pacientes, estudada uma ampla gama de comorbidades e de incontaveis fatores demográficos -  fornecendo aos médicos detalhes granulares sobre como um novo tratamento vai, provavelmente, afetar diferentes tipos de paciente.

Conseguir desenvolver mais rapidamente medicamentos pode salvar muitas vidas e a consequência disso é que os antigos modelos de progressão linear da medicina não serão mais apropriados para definir o aumento da longevidade.

Todos sabemos que os próximos 20 anos de avanços não serão iguais aos 20 anos passados, o que a maioria ignora é a natureza exponencial das mudanças.

Os dados mostram que estamos próximos de um grande prolongamento da longevidade, mas nem pacientes, nem médicos, tem conhecimento da grande transformação que será nossa capacidade de reprogramar uma biologia que se tornou obsoleta.

A próxima década, a de 2030, trará outra revolução na saúde e está sendo vista como a terceira ponte para uma extensão radical da vida humana, com a chegada dos nano-robôs na medicina.


Imagem criada por IA através do Microsoft Designer


Os tratamentos acarretarão uma vasta ampliação da nossa imunidade natural, municiando nosso sistema imune com células T que serão capazes de destruir, inteligentemente, microrganismos hostis responsáveis por muitos tipos de patogenia – de tal forma que não conseguiremos mais viver sem eles.

A evolução humana, em sua maioria, aconteceu numa época em que comida e recursos eram muito limitados e a maioria dos seres humanos tinha uma curta expectativa de vida.

Durante milhares de anos, os humanos reproduziam cedo, ainda jovens e então morriam por volta dos vinte e poucos anos de idade. A evolução não tinha nenhuma razão para favorecer mutações que poderiam fortalecer o sistema imune contra ameaças que apareciam, em sua maioria, nas idades mais avançadas.

Assim, nosso sistema de imunidade não foi desenvolvido pra evitar câncer e outras doenças, frequentemente causadas por defeitos na reprodução de proteínas, como os príons, da mesma forma que não desenvolvemos defesas contra os vírus comuns em animais, antes deles serem domesticados.

Os nano robôs serão não apenas capazes de destruir todo tipo de patogênio, mas também, de tratar doenças metabólicas. Exceto pelo coração e cérebro, a maioria dos nossos órgãos internos lançam ou retiram substâncias da nossa corrente sanguínea e muitas doenças resultam do mal funcionamento desses órgãos.

Por exemplo, a diabetes Tipo I é causada pela incapacidade das células da ilhota do pâncreas produzirem insulina. Nano robôs irão monitorar o sangue, aumentando ou diminuindo o suprimento de substâncias como hormônios, nutrientes, oxigênio, dióxido de carbono e toxinas, estendendo ou até substituindo o funcionamento dos órgãos.

O uso dessas tecnologias, no final dos anos 2030, será capaz de superar doenças diminuindo o processo de envelhecimento e aumentando a longevidade.

A década de 2020 será caracterizada por dramáticas descobertas farmacêuticas e nutricionais, largamente impulsionadas pelos avanços da IA, não o suficiente para curar o envelhecimento em si, mas suficiente o bastante para estender nossas vidas.

Por volta da década de 20230, as pessoas mais bem informadas e abonadas, atingirão a “velocidade de escape da longevidade”, definida como o ponto em que seremos capazes de acrescentar, para cada ano calendário, mais de um ano em nossa expectativa de vida remanescente – fazendo a ampulheta do tempo começar a jogar areia para cima, ao invés de para baixo.

Finalmente, contra a preocupação ética de que apenas os mais ricos terão acesso às tecnologias radicais de extensão da vida, a resposta é até bem simples. Basta olhar para a história dos celulares.

Trinta anos atrás, você tinha que ter muito $$$ para ter um telefone celular e os aparelhos nem funcionavam muito bem.

Hoje, bilhões de pessoas tem telefones celulares e ele fazem muito mais do que ligações telefônicas, eles são uma extensão da nossa memoria e nos permitem acessar todo o conhecimento histórico da humanidade.

As tecnologias começam caras e limitadas e durante o tempo que são aperfeiçoadas, já passaram a ser disponíveis para quase todo mundo. Você, que trabalha no segmento de fundos de pensão e previdência complementar, sabe as consequências disso tudo para a poupança em busca de segurança financeira futura.

Pode ser que essas projeções estejam erradas por alguns anos, para mais ou para menos, mas a direção das mudanças é essa mesmo e seu fundo de pensāo está no meio dessas transformaçōes.

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “A.I. can radically lengthen your lifespan, says futurist Ray Kurzweil. Here’s how” escrito por Ray Kurzweil.


sexta-feira, 28 de junho de 2024

FUNDOS DE PENSĀO TERĀO QUE ATUAR NUM MUNDO COM DINHEIRO SEM FRONTEIRAS

 



De Sāo Paulo, SP.

Quando você manda uma mensagem de Whataspp para alguém ela é de graça e chega instantaneamente, não importa onde você esteja.

Por que os pagamentos não podem ser feitos da mesma forma? Inexistem barreiras tecnológicas para isso acontecer.

Minha filha mora em Strasbourg, na França e meu filho em São Francisco, nos EUA. Quando minha esposa e eu viajamos para visitá-los, temos algumas alternativas para pagar as despesas no exterior.

Podemos levar reais e trocar por dólares ou euros no destino. Para isso, teremos que encontrar um banco ou casa de cambio que esteja aberta, entrar numa fila, pagar uma taxa e ficar com raiva da taxa de cambio sempre extremamente desfavorável para quem compra moeda estrangeira.

Alternativamente podemos, claro, usar nosso cartão de débito em um caixa eletrônico no exterior para sacar euros ou dólares. Nesse caso, teremos que pagar uma taxa pelo uso do caixa eletrônico, mais uma taxa pela transação internacional, mais outra taxa de administração, dependendo do cartão.

A outra opção é trocar os reais pelos dólares ou euros aqui mesmo no Brasil, antes da viagem. O inconveniente e o risco, nesse caso, é ter que levar uma enorme quantidade de euros ou dólares para o aeroporto e ter que andar com esse dinheiro o tempo todo.

Então, preferimos usar nosso cartão de crédito para pagar as despesas de maneira fácil e sem fricção no exterior. O problema é quando você olha seu extrato e percebe que está pagando taxas e impostos (como o IOF) absurdos pelo uso do plástico, a cada transação que você faz. A conveniência tem um alto custo.

Numa época em que viajar ao redor do globo se tornou fácil e acessível, é ridículo pagarmos taxas tão altas como fazíamos no século passado. Poderia uma moeda global ser usada no mundo todo e resolver esses problemas?

Lição que podemos aprender com o dólar

O dólar surgiu durante a Guerra Civil americana como uma alternativa para substituir 8.370 papel-moeda que circulavam nos Estados Unidos da América.

Mas porque havia tantas moedas em circulação? Bem, tudo se resume a uma única palavra: confiança. As pessoas se tornaram céticas em relação ao “Banco dos EUA”, que era um monopólio e o único banco em nível nacional existente.

Quando o presidente Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos (1829 a 1837), decidiu “matar” o banco nacional, restaram como opçāo os bancos locais, mais precisamente 8.370, cada um com sua moeda.

Crédito de Imagem: GovMint


Isso tornou as coisas complicadas. Por exemplo, alguém viajando da California para o Kentucky, com o bolso cheio de dinheiro impresso pelo Banco de Sacramento, que quisesse comprar uma cerveja no Kentucky, teria uma grande dor de cabeça.

Primeiro, o cara do bar dava uma olhada na nota de dinheiro e consultava uma tabela periódica com dezenas de páginas para saber se o dinheiro vinha de um banco de verdade. O problema é que além das moedas flutuarem, os comerciantes davam descontos baseados na distância para ir ao banco e na saúde financeira, que mudavam constantemente.

Os viajantes perdiam dinheiro ao fazer os pagamentos, uma perda geralmente entre 1% e 2%. Quando veio a guerra civil americana, o governo precisava levantar dinheiro para financiar o esforço de guerra.

Isso levou ao reestabelecimento dos bancos com atuação nacional e direcionou os americanos a ter uma única moeda em âmbito nacional. Surgia, assim, o dólar que conhecemos hoje e terminava a época das milhares de moedas em circulação nos EUA.

Crypto: a evolução natural de como pagar pelas coisas

Ao longo da história, o sistema financeiro sempre enfrentou dificuldade com as fronteiras. Fronteiras representam fricção, adicionam custos e são uma dor de cabeça para qualquer um que queira gastar dinheiro ao atravessá-las.

Existem hoje no mundo cerca de 180 diferentes moedas oficiais, chamadas de moedas fiduciárias, i.e., que não são ancoradas em comodities como ouro ou prata, mas simplesmente na relação entre oferta e demanda e na estabilidade dos governos que as emitem.

Apesar do mundo atual ser mais conectado do que jamais foi, mover dinheiro através das fronteiras ainda é algo lento e caro, sujeito a taxas astronômicas.

Uma em cada 9 pessoas no mundo depende de alguém vivendo e trabalhando no exterior e bilhões de $$$ são pagos anualmente em taxas de administração por pessoas e empresas para mandar dinheiro de um país para outro.

As cryptomoedas são uma força libertadora que pode tornar o mundo mais interconectado e resolver de forma justa, de graça, os problemas de pagamento entre fronteiras.

Um tipo específico de cryptomoeda – chamada de “stablecoin” que em tradução livre seria “moeda estável” – poderia se transformar num poderoso meio para pagamentos internacionais, oferecendo liberdade econômica para qualquer pessoa ao redor do mundo.

As stablecoins são um tipo de moeda descentralizada, comprovadamente escassa, fora do alcance de governos que queiram inflar a oferta da moeda para pagar seus déficits.

Isso significa ter um tipo de dinheiro que não pode ser manipulado por bancos centrais, nem por tecnocratas de governos ao redor do mundo, tornando as stablecoins uma ferramenta para liberdade econômica das pessoas.

Propriedades das stablecoins

Existem vários tipos diferentes de stablecoin, as mais comuns são aquelas que funcionam como uma espécie de “dólar digital”. São atreladas ao dólar ou a títulos do governo americano, que são mantidos em bancos ou fundos de investimento.

Um exemplo é a USDC – acrônimo para United States Dolar Coin – uma cryptomoeda atrelada ao dólar (1 USDC = US$ 1,00) desenvolvida na forma de um token de código aberto na rede de blockchain Ethereum.


Crédito de Imagem: Shutterstoc


Você pode mandar USDC ou USDT, acrônimo para United States Dolar Tether (outra stablecoin atrelada ao dólar) instantaneamente, de graça, para qualquer parte do mundo e em poucos segundos sua transação é concluída, com toda segurança. Isso está ao alcance de qualquer pessoa, basta ter acesso a Internet.

Além disso, qualquer um pode guardar USDC, USDT e outras stablecoins no smarthphone, sem precisar de contas bancárias, como uma alternativa para quem não tem acesso ou sofre restrições para comprar moedas estáveis tipo dólar ou o euro, funcionando como um hedge contra inflação e desvalorização de moedas locais.

Você pode usar USDC em transações P2P (Pessoa-a-Pessoa), enviando dinheiro para parentes ou amigos, estejam ou não no mesmo país. Se você tem um negócio, pode usar o USDC para fazer pagamentos B2B (entre empresas) ou usar para pagamento de produtos e serviços como consumidor.

Em breve, moedas digitais como o DREX - o Real Digital em gestação pelo Banco Central do Brasil - serão comuns em vários países. O problema é que elas poderão ser usadas como ferramentas sociopolíticas e para censura.

Governos poderão usar moedas digitais, como o DREX, conhecidas por CBDC – Central Bank Digital Currency (Moeda Digital do Banco Central) para restringir o acesso de pessoas ao sistema financeiro.

As stablecoins representam liberdade econômica, fortalecem o direito de propriedade, protegem as pessoas contra confiscos (lembra da Zelia Cardoso de Melo?) e são uma liberação contra a exposição às amarras macroeconômicas de governos.

Quando se trata de sistema financeiro, sempre haverá uma forma melhor de fazer as coisas e o dinheiro sempre estará em evolução. Para a pessoa comum, que não entende de cryptografia, de blockchain nem de tecnologia, as cryptomoedas poderão tornar o mundo um lugar mais livre.

Para os fundos de pensão, entender e abraçar tardiamente as crypomoedas como meio de pagamento e investimento de longo prazo, significará ficar a margem de uma nova era, a era da economia digital.


Grande abraço,

Eder.



Fonte: Baseado no podcast “Money Without Borders”, patrocinado pela Bloomberg Media Studios e Coinbase.


quinta-feira, 27 de junho de 2024

ESQUEÇA TÍTULOS PÚBLICOS E AÇŌES, MILÊNIOS E GEN Z RICOS ESTĀO INVESTINDO EM VINHOS, JÓIAS TÊNIS

 


De Sāo Paulo, SP.


Os jovens mais abonados estão, cada vez mais, dando as costas para os ativos tradicionais e favorecendo outros investimentos. É o que diz o Bank of America.

Uma pesquisa do BofA descobriu que os Milênios e Gen Z mais ricos nos EUA estão investindo em relógios e carros raros, ao invés de ações e renda fixa. 

O Study of Wealthy Americans feito em 2024 com mais de 1.000 pessoas com pelo menos US$ 3 milhões para investir, descobriu que 72% dos jovens com idades iguais ou menores que 43 anos são céticos quanto a investir somente em ativos tradicionais.


Do outro lado, apenas 28% daqueles com idades acima de 44 anos pensam assim, esses preferem ser mais cautelosos e manter seus investimentos nos tradicionais títulos de renda fixa e ações (gráfico acima).

A pesquisa mostrou que 94% dos jovens da Gen Z e Milênios estão interessados em itens colecionáveis, com relógios, joias e vinhos cobiçados no topo da lista de desejos. 

Eles também demonstram interesse por carros raros, antiguidades, tênis e arte. Esse interesse não surpreende, afinal, a geração que se espera ser a mais rica da história é reconhecia pelo interesse em experiências e nas coisas boas da vida.

Um estudo da Bain & Co revelou que até 2030 a Gen Z será responsável por 25% a 30% das compras no mercado de luxo, enquanto os Milênios responderão por 50% a 55%.

A mentalidade de investimento está alavancando o mercado de joias com as joias finas se firmando como uma forte alternativa de investimento num mundo caracterizado por incertezas ... 

A Gen X, atualmente com idades entre 44 e 59, também se interessa por itens colecionáveis para investir, contudo, foca mais em moedas e relógios enquanto os mais jovens expandem o interesse, abraçando bolsas de grife e itens de época.

Os jovens abonados também têm uma abordagem diferente sobre como pretendem compartilhar seus ativos no futuro. Os Gen Z e Milênios querem que outras pessoas também apreciem as peças de arte que herdarão.

O estudo do BofA deixou claro que 26% deles pretendem compartilhar algumas peças com instituições não relacionadas a arte e 32% disseram que doariam uma ou algumas peças para museus e fundações privadas. 

Comparando com as gerações mais velhas, 77% disseram que guardariam suas coleções de arte em acervos pessoais com apenas 19% dizendo que doariam um item para fundações de caridade ou museus

Se sentindo bem e fazendo o bem

Se por um lado a pesquisa do BofA focou em jovens ricos, por outro, independente da situação econômica, Gen Z e Milênios tem uma relação com dinheiro diferente das gerações anteriores. 

Para os jovens, o valor do dinheiro não esta na riqueza em si mesmo e sim em proporcionar experiências de vida e satisfação (não apenas pessoal) que querem compartilhar com os outros e investimentos que façam o bem para a sociedade.


Isso muda muita coisa, a começar pelas alternativas de investimentos que os fundos de pensão oferecem, hoje concentradas em duas classes de ativos: renda fixa (títulos públicos) e renda variável (açōes da economia tradicional). 

As classes de ativos alternativos tendem, no longo prazo, a ganhar espaço na preferência dos jovens de todas as faixas de renda e essa tendência já esta clara e delineada desde agora.

O problema é que os fundos de pensão só abraçarão essa tendência quando os jovens já estiverem investindo em outras alternativas de poupança para o futuro. 

Um problema de timing ou de visão de longo prazo?

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Rich Gen Zers and millennials are investing in jewelry, sneakers and fine wine instead of traditional assets, says Bank of America”, escrito por Eleanor Pringle.


terça-feira, 25 de junho de 2024

O "EFEITO DA VILA DE VÊNUS" E A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

 



De Sāo Paulo, SP.


O “Efeito da Vila de Vênus” descreve a experiencia de alguém vivendo em uma vila isolada e conhecendo a pessoa mais bonita do lugar.

Por ser a pessoa mais atraente que ele jamais viu, é fácil pensar que ninguém pode ser mais bonito. Ainda assim, além da vila existe todo um mundo de pessoas, muitas das quais podem ser mais bonitas e atraentes.

O Efeito da Vila de Vênus é um lembrete para todos nós de que frequentemente nosso pensamento é limitado por contextos e restrições e não percebemos nem consideramos o que pode estar fora deles.

De certa forma o Efeito da Vila de Vênus nos impede de pensar grande e fora da nossa esfera de familiaridade.

Pesquisar sempre foi uma maneira de abrir os olhos. Consistentemente me surpreendo (eu já deveria estar acostumado) como ideias e soluções usadas pelas pessoas para poupar para o futuro, não são consideradas pelos fundos de pensão.

As vezes, a maneira mais simples para inovar é aprender o que as pessoas já fazem em outro lugar. Na busca para sustentabilidade futura dos fundos de pensão, eu deliberadamente venho procurando inspiração em áreas e projetos que ampliem o pensamento e me façam escapar do Efeito da Vila de Vênus, olhando em setores adjacentes.

O Efeito da Vila de Vênus tem a ver com o desafio de otimização circunscrita dos fundos de pensāo, sem perceber que pode haver caminhos e soluções interessantes de poupança para o futuro, em outro lugar.

A ele se juntam outros vieses de comportamento como o Efeito Dunning-Kruger – que torna difícil avaliar seu nível de conhecimento antes de saber que existe um nível mais elevado – e o Efeito WYSIATI (What You See Is All There Is), que restringe nossa visão de mundo aquilo que nossos olhos enxergam.

Se você está procurando uma casa para comprar, quantas precisa visitar antes de decidir que aquela que você gostou muito é a melhor compra? Se está contratando e entrevista cinco candidatos, você deve contratar o melhor dentre eles ou poderia haver um outro conjunto de candidatos no qual todos seriam melhores que aqueles com quem você já falou?

O Efeito da Vila de Vênus foi criado com base no livro The Use of Lateral Thinking, escrito em 1967 pelo Psicólogo Maltês Edward De Bono.

Quantas vezes limitamos involuntariamente nossas escolhas olhando apenas as opções imediatas que se apresentam a nossa frente?

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “The Village Venus Effect”, Sketchplanations


SE O SEU FUNDO DE PENSĀO ANDA TRANSFORMANDO O PASSADO EM FUTURO, ACHO QUE ELE NÃO VAI MUITO LONGE

 


De Sāo Paulo, SP.


Se o conselho deliberativo está otimizando o que sabe sobre o funcionamento dos atuais planos de previdência complementar, então seu fundo de pensão está transformando o passado em futuro.

Conselho e diretoria analisam o passado, identificam como o fundo está operando, entendem profundamente seu funcionamento e tentam descobrir um pequeno refinamento, que permitirá fazer aquilo um pouco melhor no futuro. 

Esse é o modo dominante nas empresas e nada diferente nos fundos de pensão. Também é o modo dominante na comunidade científica. 

No livro The Structure of Scientific Revolutions (em tradução livre seria algo tipo: A Estrutura das Revoluções Cientificas), Thomas Kuhn descreve como “ciência normal” o gentil refinamento do modelo dominante do momento, qualquer que seja o campo no qual o cientista está trabalhando.


De acordo com Kuhn, revoluções cientificas só acontecem infrequentemente porque a vasta maioria dos cientistas dedica seus esforços à ciência normal.

O modo alternativo, o coração das inovações, é a criação de um futuro que não existe agora. Isso é inovação de verdade, mas o caminho é complicado e repleto de erros e falhas – por isso assustador. É a razão dos profissionais em empresas e fundos de pensão focarem em melhorias incrementais e dos cientistas se agarrarem à ciência normal

O futuro não é um lugar amigável nem receptivo para cientistas nem para profissionais de negócios no mundo moderno. Pior, não existem dados sobre ele – ainda.

Então, as ferramentas de análise de dados no mundo dos negócios e da ciência, não se aplicam prontamente a ele. Para qualquer interessado em inovação, infelizmente, só existem dados relativos a um mundo que não se quer perpetuar e nenhum dado para qualquer outro mundo que se queira criar.

O que fazer? Como podemos ser rigorosos em relação ao futuro de uma forma que nos permita sentir suficientemente confortáveis para avançar em direção a ele de forma inovadora e não apenas de forma incremental?

Fatiando o caminho em direção à inovação

Pense sobre o futuro como fatias finas de tempo. O trabalho dessas fatias finas de tempo é transformar o futuro no passado.

O problema com os próximos seis meses é que não existem dados sobre eles hoje, mas a oportunidade é que no período de seis meses, teremos um monte de dados sobre aquela fatia de tempo.

A tarefa central das inovações bem-sucedidas é gerar dados que sirvam de guia e encorajamento para a tarefa de criar um futuro que não existe agora – um futuro notavelmente superior ao mundo que existe hoje.

Isadore Sharp e a Cadeia de Hotéis e Resorts Four Season


Four Seasons Hotel Istambul em Bosphorus

No final dos anos 60, Isadore Sharp (o nome é masculino), fundador do Four Seasons Hotels & Resorts, chegou a conclusão que queria redefinir serviço de luxo com sua então nascente cadeia de hotéis que contava com três unidades.

Ele notou que os serviços de hotéis de luxo eram uma combinação de arquitetura e decoração grandiosa com serviços obsequiosos, apesar do alto luxo. Ele havia observado que os hóspedes dos hotéis de luxo, surpreendentemente, não queriam estar lá. 

Haviam viajado demais e preferiam estar em casa com as pessoas queridas, senão, em seus escritórios onde poderiam ao menos ser mais produtivos do que num quarto de hotel de luxo trabalhando em uma mesa toda ornamentada, ao invés da mesa familiar de seus escritórios.

A nova abordagem não seria apenas um refinamento do modelo existente, seria um salto gigantesco em relação ao que existia. Sharp não era capaz de reunir dados para provar que o novo modelo funcionaria – porque simplesmente não existiam tais dados. 

Não havia como provar antecipadamente que os hospedes de hotéis de luxo seriam atraídos pelo novo modelo, muito menos que estariam dispostos a pagar por ele.

Sharp tinha que criar dados na próxima fatia fina de tempo, o que ele fez construindo um único hotel baseado no novo modelo. O Park Lane, aberto em Londres, era menor, tinha um tamanho mais intimista e contava com o modelo de serviço único que ele havia imaginado.

Como o próprio Sharp diz, se o Park Lane tivesse flopado, seria doloroso, mas não afundaria a cadeia inteira de hotéis Four Seasons. No entanto, teria gerado novos dados – como os hospedes interagiriam com um modelo de negócios inovador. Gostariam da nova abordagem? Pagariam por ela? Seria lucrativo? Sharp foi cuidadoso e ponderado ao criar dados sobre o futuro.

Para a alegria da cadeia Four Seasons, o Park Lane, aberto em 1970, rapidamente se tornou o hotel mais lucrativo da rede Four Seasons e um dos hotéis mais lucrativos do mundo, uma performance que vem perdurando por mais de meio século.

O mais importante, os novos dados que Sharp gerou se tornaram o modelo para todos os futuros hotéis da Four Seasons, o que ajudou a torná-la – de longe – a cadeia de hotéis de luxo mais bem-sucedida do mundo.

O ponto chave para criar uma fatia fina de tempo é ser rigoroso como numa pesquisa cientifica. Sharp criou um experimento real, que gerou novos dados. Definiu antecipadamente o que queria criar, não fez apenas uma coisa para ver o que aconteceria. É preciso haver uma teoria clara que defina e modele o experimento. 

Receita para o fundo de pensão interessado

Pesquisas em empresas tendem a estudar os consumidores para saber o que eles preferem, assumindo implicitamente que o mundo vai continuar a ser como ele é hoje, hipótese extremamente improvável. 

Ao contrário do que se pensa, a popular abordagem de teste A/B não cria automaticamente o futuro, como muitos proponentes acreditam. A P&G, por exemplo, adota testes de conceito e os utiliza para apresentar uma nova ideia aos consumidores e avaliar seu interesse.

No entanto, eles são notoriamente pouco confiáveis, porque o consumidor diz uma coisa durante o teste e depois, na prática, faz outra. É por isso que seu fundo de pensão precisa imaginar uma possibilidade diferente para formação de poupança e colocá-la em ação. Ao criar um futuro real, pode-se olhar de volta para antes do teste e descobrir o resultado, seja ele consistente ou não com a possibilidade imaginada. Leva algum tempo, requer paciência, determinação e coragem.

A estratégia de trabalhar com fatias finas de tempo vem de uma abordagem chamada Rapid Iterative Prototyping ou Prototipagem Iterativa Rápida. Essencialmente, essa abordagem divide o futuro em múltiplas fatias finas de tempo e usa cada fatia para avançar no entendimento da solução idealizada. Considera que a primeira interação da sua teoria não será muito profunda – mas pode colocá-lo na direção certa. Se você constrói a solução seguindo naquela direção, a cada fatia do futuro você constrói um modelo melhor. É um processo incremental para criar confiança, mudar o status quo e fazer algo realmente novo. É a melhor abordagem no mundo dos negócios para inventar o futuro (mais nesse artigo da Harvard Business Review: aqui) .

Disruptura e inovação na previdência complementar é difícil. Você pode ter certeza de que as pessoas ao seu redor tentarão desencorajá-lo. Seu conselho pedirá que você prove que qualquer inovação funcionará, antes de aprová-la e você simplesmente não conseguirá fazer isso. 

Mas quem disse que é fácil?

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Transformado o futuro no passado”, escrito por Roger Martin


segunda-feira, 24 de junho de 2024

O QUE FUNDOS DE PENSĀO TEM A VER COM TEMPESTADES TROPICAIS? O MESMO QUE SEGURADORAS TEM COM AS TEMPORADAS DE FURACĀO.




De Sāo Paulo, SP


A temporada de furacões de 2024 no Atlântico Norte, que começou oficialmente no dia primeiro de junho passado, será marcada por atividade bem acima da média e a dimensão dos danos dependerá do ponto onde as tempestades atingirão terra firme.

Pelas estimativas do NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration - órgão responsável pela meteorologia nos EUA, deverão se formar sete grandes furacões de categoria 3, 4 ou 5, com ventos de 111 milhas/hora ou mais, esperando-se uma temporada “extraordinária” de furacões no Atlântico Norte.

O NOAA espera nomear até 25 tempestades – os americanos colocam nome em tempestades com ventos iguais ou maiores do que 39 milhas/hora equivalentes a 62 km/hora – das quais oito a treze podem se tornar furacões (ventos acima de 74 milhas/hora ou 118 km/hora). 

Mas as estimativas não se limitam aquelas feitas pelo NOAA, existem outras instituições (quadro abaixo) que fazem previsões meteorológicas, como a Universidade do Estado do Colorado, cuja previsão feita no último dia 04 de abril de 2024 foi a maior até hoje: eles esperam 23 tempestades nomeadas, das quais 11 se transformarão em furacões e 5 deles serão grandes furacões que atingirão a linha costeira dos EUA e do Caribe


Muito antes do fuzuê em torno das mudanças climáticas, previsões de furacão e tempestades eram assunto acompanhado por seguradoras e resseguradoras (agora investidores) nos EUA, por razões óbvias: os danos que causam representam risco de enormes perdas materiais e de vidas humanas.

A resseguradora Gallagher tem até um Chief Science Officer (Steve Bowen), uma espécie de Diretor de Ciência, que fica baseado em Chicago e acompanha o assunto. Bowen ensina que:

"As temperaturas-recorde da superfície do mar, a transição do fenômeno El Niño para La Niña e a provável redução da velocidade dos ventos alísios deverão permitir o rápido desenvolvimento e intensificação das tempestades. Historicamente em anos de La Niña, o no maior de tempestades que chega na linha costeira é maior do que nos anos de El Niño".

Ele explica, ainda, que os anos de alta atividade não necessariamente se traduzem em grandes perdas para as seguradoras e resseguradoras porque tudo vai depender da direção que as correntes marítimas levarão as tempestades.

De fato, existe uma fraca correlação entre o nível de atividade dos furacões e as perdas das seguradoras. 

Furacões são como imóveis. Quais as três coisas mais importantes? Localização, localização e localização”, diz Karen Clark, CEO e Fundadora da Clark & Co, uma empresa de modelagem de catástrofes baseada em Boston.

Por exemplo, em 2020 um no recorde de 11 tempestades atingiu a linha costeira nos EUA, mas a perda das seguradoras naquele ano, considerada baixa, foi de apenas US$ 20 bilhões porque nenhum deles atingiu áreas densamente povoadas.

Mas, de acordo com Karen Clark, basta um furacão de categoria 4 entrar no continente próximo a Miami ou perto de Galveston, em Houston, que as perdas batem facilmente em US$ 100 bilhões, deixando claro que furacões não se transformam em desastres até que os seres humanos apareçam em seu caminho.

Fundos de pensão brasileiros e mudanças climáticas



Tudo isso nos remete às Terras de Cabral e aos nossos fundos de pensão.

Há pelo menos cinco anos que escrevo sobre a importância dos fundos de pensão brasileiros levarem mais a sério o impacto das mudanças climáticas nos seus portfolios de investimentos. 

Usei a foto que encapa esse artigo num texto de 2019 quando chuvas torrenciais atingiram a cidade do Rio de Janeiro na noite de 08 de abril, deixando um rastro de destruição e perda de vidas (link para o artigo: aqui)

Ao longo dos anos recentes, só vimos aumentar no Brasil a concentração de pessoas vivendo em locais de risco.

A migração contínua de populações para encostas de morros e margens de rios, locais de alto risco, coloca mais e mais pessoas, empresas e negócios no caminho de eventos climáticos, que tem se tornado cada vez mais extremos.

Ao maior risco de perdas humanas se junta o aumenta potencial de danos a empresas, propriedade, bens e negócios, como ficou claro esse ano de 2024 com os episódios no Rio Grande do Sul, cuja economia levará décadas para se recuperar.

É disso que se trata quando se fala do “disclosure” (divulgação) dos riscos e oportunidades que as mudanças climáticas representam para o portfolio de investimentos dos fundos de pensão.

Aqueles que investem o seu, o meu, o nosso $$$, que juntamos para ter segurança financeira no longo prazo, deveriam publicar anualmente relatórios que nos mostrem de forma clara e transparente quais os riscos que nossa poupança para a aposentadoria está correndo em função das mudanças climáticas.

Por exemplo, você sabe dizer qual a exposição do patrimônio do seu fundo de pensão às perdas dos negócios e empresas localizados no RS? Nāo? Nem eu, ninguém sabe, porque nenhum fundo de pensão brasileiro publica os relatórios seguindo o padrão do TCFD – Task Force on Climate Related Financial Disclosure.

Continuamos muito atrasados nessa área, mas não é por falta de aviso …


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Well-above-average hurricane season may not mean higher insured losses”, escrito por Claire Wilkinson


sábado, 15 de junho de 2024

FRONTEIRAS E LIMITES DA PREVIDENCIA COMPLEMENTAR

 



De Sāo Paulo, SP.


Fronteiras e limites servem para propósitos diferentes.

A grade perto do trilho do trem é uma fronteira. Você pode chegar perto dela sem correr risco. O trilho eletrificado, por outro lado, é um limite. Se tocar nele, já era.

Fronteiras podem nos dar espaço para inovar e brilhar. Orçamentos, cronogramas e especificações, todos existem para nos mostrar onde terminam as áreas seguras.

Vá até a linha divisória e desafie a fronteira, é para isso que ela está lá.

Mas limites não são fronteiras. Limites são o fim, demarcam a zona de perigo, as coisas a evitar.

Algumas pessoas se irritam com as fronteiras. Preferem ter um projeto sem orçamento, sem prazo final. O problema em viver sem as fronteiras é que os limites te alcançam e ... boom, acaba tudo.

Não devemos colorir apenas dentro das linhas, mas a criatividade funciona melhor quando há delimitações.

O futuro da previdência complementar será construído fora das fronteiras atuais dos fundos de pensão, mas há um limite para isso. 

Quando eu perguntei para o principal executivo, qual seria o plano B do fundo de pensão dele, caso o plano família e a adesão automática não atraíssem a escala necessária de novos participantes, a reação foi uma pausa prolongada ...


Abraço,

Eder.


Fonte: “Boundaries and limits”, escrito por Seth Godin



sexta-feira, 14 de junho de 2024

PORQUE PESSOAS INTELIGENTES SENTADAS NO CONSELHO DE UM FUNDO DE PENSĀO, PODEM TOMAR DECISŌES RUINS.

 


De Sāo Paulo, SP.


“Como pudemos ser tāo entupidos”?

Foi isso que o Presidente Kennedy perguntou aos seus assessores depois da Invasão da Baia dos Porcos, uma tentativa de tirar Fidel Castro do poder em Cuba.

A batalha, que durou três dias, foi um fiasco.

A estratégia era falha, as armas que seriam usadas eram inadequadas e a inteligência era imprecisa. Ainda assim, o movimento político foi autorizado pelas pessoas mais inteligentes do país.

O episódio é considerado nos livros atuais como um exemplo de erro na tomada de decisões e se tornou arquétipo de um fenômeno chamado pensamento em grupo.

Um psicólogo da Universidade de Yale chamado Irving Janis, foi pioneiro no estudo da forma de pensar que suprime a avaliação crítica em nome da busca por uma decisão unanime, por consenso.

O termo “pensamento em grupo”, que ilustra como um grupo de pessoas inteligentes pode tomar decisões ruins, foi inspirado no livro 1984 escrito por George Orwell, no qual o autor descreve uma sociedade onde o ato de pensar é deformado pela hiperconformidade, pelo falso consentimento e pela deferência a líderes políticos ou autonomeados.



Janis identificou uma serie de antecedentes que tornam o pensamento em grupo mais provável. Esses incluem: homogeneidade de experiencias e ideologias, liderança diretiva, contexto complexo ou ameaçador e membros do grupo lutando por unanimidade e coesão.

Inexiste uma teoria unificada sobre o pensamento em grupo, mas o trabalho de Janis ajudou a identificar os fatores sociais que podem levar um grupo de pessoas a tomar decisões desastrosas e fatores capazes de melhorar a tomada de decisões em grupo.

Um passeio por casos famosos de pensamento em grupo

Pensamento em grupo no mundo corporativo

Existem inúmeros exemplos de pensamento em grupo nas grandes empresas. O sintoma mais comum é a tentativa do grupo reduzir conflito e chegar ao consenso, evitando o exame critico de perspectivas e cursos de ação alternativos, negligenciando e desencorajando o dissenso de opiniões.

Como isso é possível com profissionais altamente treinados em empresas de ponta? Primeiro, pode ser devido a dependência de terceiros – auditores, advogados, conselho de administração, equipe interna e consultores externos instruindo o assunto – um fenômeno chamado de “responsabilidade difusa”.

Segundo, visando manter a harmonia no grupo, as pessoas evitam contrariar decisões abraçadas pela maioria e/ou pelo líder. Outro motivo podem ser as “algemas de ouro” – um termo educado que se referir ao forte incentivo financeiro para se olhar para o outro lado (salário e emprego).

  • análise de atas de reunião  mostra que os conselhos, especialmente ao exercerem seu papel de supervisão e monitoramento, discutem uma única recomendação em 99% das situações e discordam do Presidente | CEO apenas em 3,3% dos casos;
  • Alertas muito criveis foram ignorados como sendo bolhas de mercado. Ex.: Alerta do vice-presidente da Enron - Sherron Waltkins - para o CEO Ken Lay, alerta do diretor do banco central americano, Edward Gramlich, para o presidente Alan Greenspan e o reporte de Cynthia Cooper para o comitê de auditoria da WorldCom.

Pensamento em grupo na política e forças armadas


As pessoas que atuam em política, no meio militar ou em aviação, possuem background e valores profissionais homogêneos e tendem a exibir convergência na maneira de pensar, resultando em um processo de tomada de decisões sub-otimizado.

Nesses casos, algo que também pode acontecer em outros setores, o líder tem uma aura de legitimidade, podendo haver pressão direta nos membros do grupo que discordam. O setor de aviação vem combatendo o pensamento em grupo desde os anos 80 (talvez por causa do enorme impacto em termos de vida e passivos financeiros?).

  •  Nos dois desastres com ônibus espaciais, Challenger e Columbia, havia pressão sobre a NASA e seus subcontratados para lançamento dentro do prazo. Críticas externas não eram aceitas, desvios na performance eram normalizados e intuições dos engenheiros eram rapidamente descartadas. A trágica lição está escrita na sala de controle das missões da NASA em Houston: “Nenhum de nós é tão burro quanto todos nós

  • Antes do 11 de setembro, a agente do FBI Coleen Rowley, enviou alertas para o diretor do FBI Robert Mueller, sobre as atividades da Al-Qaeda em território americano. Em agosto de 2021 o escritório do FBI em Minneapolis recebeu informações da inteligência francesa de que Zacaria Moussaoui era integrante da Al-Qaeda. Em paralelo, a escola de pilotos local reportou ao escritório do FBI em Mineápolis que Moussaoui estava mais interessado em aprender a levantar voo do que a pousar o avião. O escritório do FBI em Mineápolis quis obter um mandado de busca para vasculhar o computador e o apartamento de Moussaoui, mas o quartel-general do FBI negou, alegando não haver prova suficiente para justificar um mandado.

  •  No acidente do aeroporto de Tenerife, entre um avião da KLM e outro da Pan Am, que matou 583 pessoas, vários fatores de risco concorreram naquele dia, mas o erro do piloto foi a causa principal. O comandante Van Zanten era um dos pilotos mais graduados na KLM e a tripulação era reticente em confrontar suas decisões. Ele indicou a decolagem antes da autorização da torre e não aceitou o alerta do copiloto que expos sua preocupação com uma voz suave, de acordo com a gravação de voz da cabine

Decisões em grupo são benéficas por utilizar a capacidade individual e conhecimento de seus membros, mesmo assim, percebe-se que decisões coletivas também são sujeitas a erro.

Por que, então, se costuma dizer popularmente que muitas cabeças pensam melhor do que uma?

Sabedoria das multidões em determinadas circunstâncias


Em 1907 o matemático britânico, Sir Francis Galton, pediu para 787 fazendeiros que participavam de uma feira agropecuária que escrevessem num papel sua estimativa para o peso de uma vaca.

Nenhum fazendeiro individualmente acertou, mas a média das respostas compiladas diferiu meros 1% do peso correto. Essa história clássica ratifica a sabedoria coletiva sobre a individual.

Entretanto, ninguém menciona que a decisão de cada fazendeiro foi tomada individualmente! No famoso livro “Sabedoria das Multidões”, o autor James Surowiecki explica em quais circunstâncias o grupo é mais inteligente do que o individuo mais inteligente nele: i) precisa haver independência no julgamento, de modo a não “contaminar” as opiniões; ii) as pessoas são especializadas e se baseiam no conhecimento individual (Galton pediu que fazendeiros estimassem o peso da vaca); iii) as opiniões são agregadas por um mecanismo, não por uma única pessoa ou por votação; e iv) as pessoas acreditam que o grupo quer tomar a melhor decisão.

A sabedoria das multidões tem limitações mesmo quando as condições acima são atendidas. A sabedoria coletiva é ótima para problemas envolvendo otimização, mas a multidão não despertará criatividade nem inovação.  

Quem lembra do jogo em que o mestre do xadrez, Garry Kasparov, jogou contra dezenas de milhares de jogadores que decidiam os movimentos online. O jogo foi vencido por Kasparov, não pela “multidão”.

Advogado do diabo e o conselheiro profissional

Em um dos primeiros estudos sobre influência social, o pesquisador Solomon Asch induziu os participantes de um grupo a darem respostas obviamente incorretas.

Era apresentado aos participantes do grupo um segmento de linha e se pedia que escolhessem o segmento de linha igual ao apresentado, dentre três alternativas com comprimentos diferentes.

No grupo havia apenas um participante real, os outros eram atores disfarçados, instruídos para darem respostas erradas.

Na média, um terço dos participantes reais se alinhavam com a resposta claramente incorreta da maioria e nas 12 repetições do experimento, cerca de 75% dos participantes reais aderiram ao menos uma vez a resposta errada.

Curiosamente, quando Solomon pediu que um único participante falso, um dos atores no grupo, desse a resposta certa, o alinhamento dos participantes reais com os demais do grupo caiu para apenas 5%. A presença de um “aliado” diminui a conformidade com o grupo.

Outros estudos mostraram que a conformidade (alinhamento) com o grupo cai mesmo quando a opinião divergente dentro do grupo está incorreta. Uma voz divergente no grupo “dava permissão” ao participante real para quebrar a barreira e falar.

Tudo que foi necessário foi uma única pessoa dar uma resposta diferente da maioria. Uma voz divergente pode parecer digamos, irritante, mas pode frequentemente ser a barreira para decisão irracional.

Processos de decisão no cockpit


Depois do desastre no aeroporto de Tenerife, a NASA criou em 1979 um programa chamado CRM –
Crew Resource Management (Gestão de Recursos em Grupos) para promover uma cultura em que opiniões divergentes e problemas podem ser reportados sem o sentimento de culpa.

Isso inclui verificações cruzadas (cross-checks), releitura de procedimentos e a “regra dos dois desafios”: um membro da equipe pode ignorar outro se essa pessoa foi desafiada duas vezes, mas deixou de responder apropriadamente.

O programa estabeleceu uma cultura menos autoritária no cockpit (o termo “Senhor” foi proibido), com os copilotos sendo encorajados a expressar visões diferentes do comandante e questioná-lo se notassem erros – espera-se que comandantes admitam a falibilidade (ser sujeitos a erro), busquem conselhos e deleguem funções.

Nos anos 90 o CRM havia se tornado padrão na aviação global. Seus conceitos foram adaptados para outros ambientes onde erros humanos podem ter efeitos devastadores, tais como navegação marítima, combate a incêndios, controle de tráfego aéreo, salas de cirurgia e emergência e usinas nucleares.

Mensagem para conselhos de fundos de pensão


Fonte: Internet

Sob risco de desapontar muita gente, as pesquisas em biologia evolucionária e antropologia não são otimistas sobre a capacidade humana de resistir ao pensamento em grupo.

O cérebro registra em menos de 200 milissegundos que o grupo escolheu uma resposta diferente da nossa e leva menos de 380 milissegundos para nosso cérebro se sentir inclinado a mudar de opinião. Portanto, se não pararmos e esperarmos deliberadamente, tendemos a seguir em frente para ficar numa boa (com o grupo).

Um grupo de cientistas holandeses estudou os mecanismos neurais por trás da “conformidade social”. Usando scaners do cérebro mostraram que imitar os outros ativa nosso sistema de dopamina (um neurotransmissor associado a prazer).

Quando toamos uma decisão errada como parte de um grupo, a dopamina declina menos do que se o fizermos individualmente. Pertencimento nos faz sentir bem, mesmos se estivermos errados.

O mais intrigante, parece que quando os indivíduos percebem um desvio das normas do grupo, isso desencadeia uma resposta neural similar a previsão de que algo está errado, no reforço de aprendizagem.

Isso sinaliza a necessidade de alinhar o comportamento futuro do individuo às normas do grupo. Tipo: “eu penso A, mas se todo mundo pensa B, deixa pra lá, vou dizer B” e mais tarde isso acaba sendo reforçado por “pensando melhor, agora consigo entender porque na verdade é B”.

Conforme aprendemos com Solomon Asch:

É preciso uma única voz distoante para quebrar a conformidade

Lembre-se disso quando o conselho deliberativo do seu fundo de pensão - formado exclusivamente por profissionais oriundos de dentro da patrocinadora – tiver que tomar decisões sobre seu futuro e o futuro dos demais participantes ...

Vai um conselheiro profissional e independente aí?


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Groupthink: When smart people make bad decisions”, escrito por Raluca Delaume


segunda-feira, 3 de junho de 2024

#PIC DU JOR

 



GRANDE BANCOS DE WALL STREET SE JUNTAM A CONGRESSISTA NUMA RARA UNIĀO EM FAVOR DA CRYPTOECONOMIA

 

De Sāo Paulo, SP.


Grupos de lobby em Washington, que defendem os interesses dos grandes bancos de Wall Street, enviaram uma carta para Casa Branca pedindo que o governo volte atras depois do presidente Joe Biden ameaçar vetar o esforço do congresso para reverter a regra SAB 121 emitida pela SEC. Membros da câmara e do Senado também enviaram cartas.

O congresso dos EUA rejeitou o Staff Accounting Bulletin no 121 (SAB 121), uma regra contábil controversa determinando que os bancos tratem os ativos digitais dos clientes de modo diferente dos demais ativos e mantenham os ativos digitais em seus balanços.

As firmas de crypto argumentam que isso ameaça a capacidade delas fazerem negocio com os bancos e os bancos concordam.

A SAB 121 impede que as instituições financeiras reguladas ofereçam o serviço de custódia de ativos digitais em grande escala ao tratarem esses ativos como se pertencessem aos bancos ao invés de estarem simplesmente custodiados pelos mesmos”, explica uma carta assinada pela Associação Americana dos Bancos, pelo Fórum de Serviços Financeiros e por vários outros grupos.

Instituições forçadas a registrar em seus balanços os ativos digitais sob custodia ficam sujeitos às exigências de manterem maior capital, liquidez e outras regras de prudência, diferente das instituições competidoras que não são bancos”, prossegue a carta.

Ao ameaçar vetar o projeto de lei (FAT 21) aprovado recentemente pelo congresso dos EUA, Biden argumentou que se aprovado, significaria que a SEC não poderia emitir regulamentação diferente sobre as cryptomoedas, restringindo a capacidade futura do órgão regulador buscar a estabilidade financeira relacionada aos cryptoativos.


O grupo de 11 senadores democratas (mesmo partido de Biden) que se posiconaram contra o presidente inclui o presidente da comissão de finanças do senado, que disse na semana passada durante o Consensus 2024 que a politica da SEC “basicamente define uma regra diferente para os cryptoativos de tudo que existe no setor financeiro”.

Os tecnocratas e burocratas da SEC parecem insistir em submeter a economia digital a sua regulamentação, quando o mundo todo clama pela criação de regras por órgãos que realmente entendam o que está em jogo na economia digital.


Quem vai ganhar essa queda de abraço? Façam suas apostas.

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Wall Street Asks Biden Not to Veto Congress' Rejection of SEC Crypto Policy”, escrito por Jesse Hamilton e Nikhilesh De.


GENZ: UMA JANELA DE OPORTUNIDADE PARA OS FUNDOS DE PENSĀO ATRAIREM OS JOVENS

 



De Sāo Paulo, SP.


Longo prazo, os fundos de pensão só sobreviverão se conseguirem atrair, hoje, as novas gerações, mas para isso precisam entender a geração que começou a entrar no mercado de trabalho no pós-pandemia do Covid-19: a GenZ.

Como a GenZ compra

A Geração Z ou simplesmente GenZ, é grande consumidora. Esses jovens adultos ultrapassam a população geral em gastos com vestuário, artigos para casa | decoração e produtos de beleza | cuidados pessoais.

Esse consumo discricionário ininterrupto não mostra sinais de arrefecimento, apesar da GenZ ter um baixo sentimento de bem-estar financeiro. A tendência a um maior consumo se deve, em parte, porque eles se divertem comprando.

Comparados com a população geral, 44% dos GenZ disseram que é muito agradável fazer compras online (46% nas lojas físicas) contra 36% e 37%, respectivamente, da população geral.

Ao contrário do que se pensa, a GenZ gosta de comprar tanto sentada no sofá como frequentando lojas físicas em shoppings. Isso reflete a maneira que eles interagem com marcas: em todo lugar e o tempo todo.

A GenZ compra, consistentemente, em altos volumes quando comparada a população geral. Em categorias como artigos para casa, produtos eletrônicos e produtos com beleza e cuidado pessoal, 73% dos adultos da GenZ reportaram ter feito ao menos uma compra no mês anterior a pesquisa, comparados com 62% de todos os respondentes.

Tem mais, 13% disseram ter feito cinco ou mais compras de produtos para casa num único mês, número que cai para 7% (quase a metade) para a população geral. A GenZ não apenas tende a fazer uma ou mais compras por mês nas categorias mostradas no gráfico abaixo, como eles tendem a ultrapassar as demais gerações no extremo da escala - entre as pessoas que fazem cinco ou mais compras por mês.


Esse comportamento de compra com alta frequência, representa uma grande oportunidade de engajamento para as marcas que queiram cimentar a lealdade com esses jovens consumidores.

O engajamento com a GenZ pode ser direcionado por meio de apps e mensagens enviadas por SMS ou Wathsapp para seus smarthpones, alcançando-os onde estiverem.

Compram muito e experimentam novas marcas

A alta frequência de compras, permite aos jovens experimentar coisas novas. Quando questionados se compraram um produto de uma marca nova para eles no último mês, os membros da Geração Z ficam consistentemente à frente da população em geral. Por outro lado, os baby boomers tendem a ficar com as marcas que lhes sāo familiares.

No gráfico abaixo, você pode ver a percentagem de respondentes de cada geraçāo que comprou algo de uma nova marca no mês passado. A GenZ ganha de todas as demais geraçōes nas categorias de produtos de beleza-cuidados pessoais, vestuário-sapatos-acessórios, , artigos para casa-decoração e produtos eletrônicos - mostradas no gráfico.




Esta tendência é reforçada por ganhos recentes na confiança do consumidor e impulsionada por um desejo subjacente de alcançar status social e “fazer parte do grupo”, características comuns a jovens como os membros da Geração Z.

Aliado a isso tudo, uma pesquisa feita pela Morning Consult entre abril/2023 e abril/2024, envolvendo 17 países e cerca de 1.000 pessoas em cada país, mostrou que vem ocorrendo uma queda constante na parcela da população global que diz confiar nas grandes corporações e em seus líderes.

A confiança está se aproximando de um ponto crítico, além do qual o adulto médio estaria mais propenso a desconfiar ou na melhor das hipóteses, a confiar “muito pouco” neles.

Essa tendência negativa é digna de nota, porque a desconfiança e o sentimento negativo adicionam um ingrediente a mais de oportunidade para os fundos de pensão que se queiram construir uma nova reputação, após o movimento de rebrading recente.

Seu fundo de pensão “tá ligado”?

Os fundos de pensão que queiram atrair e criar engajamento com os jovens da GenZ precisam ter estratégias de marketing pra dispositivos móveis.

A Web3 e as inovações da cryptoeconomia vêm criando as inovações que estāo mais bem posicionadas para isso (mais sobre o assunto, em breve).

A mensagem é clara: os jovens estāo abertos à novas marcas, mas não basta atrai-los,. Somente aqueles que forem capazes de fidelizar os jovens hoje é que colherão frutos no futuro.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “How Gen Z Shops”, escrito por Claire Tassin


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