De Sāo Paulo, SP.
Se os robôs fazem tudo, ainda precisamos de fundos de pensão?
Imagine acordar em um mundo onde carros se dirigem sozinhos, fábricas funcionam sem nenhum operador humano, escritórios são ocupados por algoritmos e plataformas digitais coordenam o trabalho de milhões, sem qualquer vínculo empregatício.
Na verdade, você não precisa imaginar — esse mundo já está em acontecendo. Estamos entrando numa era pós-industrial.
Essa portanto, nāo é a 4a Revolução Industrial, essa é na verdade, a 1a Revolução das Máquinas. A revolução tecnológica em curso, puxada por inteligência artificial, robótica e automação, está mudando não apenas a forma de trabalharmos.
A questão sendo colocada é: ainda teremos trabalho, da maneira como o conhecemos?
Daqui há alguns dias farei uma apresentação no congresso internacional de atuária, que acontecerá pela primeira vez na historia em São Paulo entre os dias 20 e 22 de maio. Minha apresentação, intitulada 'Are Pension Funds Sustainable in a Post-Work Society?', é uma provocação clara:
Os fundos de pensão foram construídos sobre contratos de trabalho estáveis, em tempo integral, prazo indeterminado e contribuições regulares. Esse mundo está desaparecendo e isso muda tudo.
Durante séculos, o trabalho foi o eixo organizador da vida social. Ele ditava horários, atribuía identidade, justificava renda e estruturava os modelos previdenciários.
Mas agora, tecnologias que antes apenas complementavam o trabalho humano estão prontas para substituí-lo. Desde tarefas simples — como empacotar mercadorias — até funções analíticas complexas — como revisão jurídica ou diagnóstico médico — estão sendo executadas com eficiência por máquinas.
Ao contrário das revoluções anteriores, desta vez a substituição do trabalhador não se limita ao esforço físico: ela atinge também a cognição.
O exemplo dos cavalos nos ajuda a entender o que está por vir. No início do século XX, havia mais de 20 milhões de cavalos nos EUA realizando tarefas produtivas no campo e na cidade. Hoje, restam pouco mais de dois milhões de cavalos, a maioria sem função econômica.
A razão? Os cavalos foram substituídos por máquinas mais baratas, mais eficientes e com menor necessidade de manutenção. E se agora for a vez das maquinas substituírem os seres humanos? Ainda que a comparação pareça extrema, dados reforçam essa tendência.
A Amazon, que tinha cerca de 200 mil robôs em 2019, já ultrapassa 750 mil em 2024. Na Volkswagen do Brasil, o número de funcionários caiu de 110 mil nos anos 1980 para menos de 15 mil hoje. Paralelamente, a chamada ‘Gig Economy’ (trabalhadores autônomos) já representa mais da metade da força de trabalho nos EUA. No Brasil, quase 40% dos trabalhadores estão fora do sistema formal de emprego.
E é aí que surge o problema: fundos de pensão precisam de vínculos formais de emprego para existir. Eles dependem de um ciclo estável: emprego formal → contribuição → tempo de serviço → aposentadoria. Se os empregos desaparecem ou mudam de forma, o modelo entra em colapso.
Mas o impacto não é apenas financeiro. Há uma transformação de valores. A ideia de que o trabalho confere sentido à vida tem sido questionada. O próprio conceito de aposentadoria — como um prêmio ao fim de uma carreira longa e estável — se torna anacrônico.
Na prática, muitas pessoas já vivem uma forma de ‘pós-trabalho’ não planejado, muitas vezes empurradas pela tecnologia, pela precarização ou pelo desemprego estrutural
Frente a isso, surgem propostas ousadas. A Renda Básica Universal (UBI) é uma das mais debatidas: a ideia de garantir a todos um valor mínimo para viver com dignidade, independentemente de trabalho.
Mas há quem proponha modelos mais ambiciosos: e se, ao invés de uma renda mínima, buscássemos uma renda máxima, confortável, derivada da enorme riqueza gerada pelas máquinas?
Afinal, a automação gera eficiência, que aumenta a produtividade, que gera lucros — mas esses ganhos estão extremamente concentrados. Se as máquinas produzem mais, com menos gente, a pergunta-chave passa a ser: quem fica com essa riqueza? Como redistribuí-la de forma justa, sem depender do emprego tradicional.
Crédito de Imagem: Reddit - r/transhumanism
Os fundos de pensão podem (e talvez devam) ser parte dessa resposta. Mas para isso, precisam se reinventar. Precisam ir além da lógica empregatícia, precisam se desvincular do trabalho e pensar em mecanismos de contribuição mais amplos.
E isso exige uma mudança cultural profunda. Governos, empresas e sociedade precisam superar o paradigma do trabalho como único meio legítimo de acesso à renda. Em um mundo onde máquinas trabalham por nós, garantir renda à população não pode ser visto como um “privilégio”, mas como uma nova forma de justiça social.
Estamos diante de uma bifurcação histórica: ou usamos a tecnologia para libertar o ser humano do trabalho forçado, abrindo espaço para uma nova era de criação, aprendizado e lazer; ou permitimos que ela aprofunde desigualdades, exclua milhões e torne obsoletos os pilares do bem-estar que construímos no século XX.
O futuro dos fundos de pensão está intimamente ligado a essa escolha. Não se trata apenas de reformar sistemas, mas de repensar sua função. Se antes eles garantiam segurança ao fim de uma vida de trabalho, talvez agora devam garantir dignidade em uma vida onde o trabalho não seja mais obrigatório.
Na próxima parte desta série, exploraremos como a renda do futuro pode ser distribuída e qual pode ser o novo papel dos fundos de pensão num mundo onde “aposentadoria” não significa mais “parar de trabalhar”, mas talvez “começar a viver de outras formas”.
“A pergunta superada não é se os robôs vão tirar nossos empregos — mas se vamos conseguir viver bem mesmo assim.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fontes: “JOCO, “Are Pension Funds Sustainable in a Post-Work Society?”, 2024 | MIT Task Force on the Work of the Future, Reports 2020–2024 | IBGE, PNAD Contínua, 2023.
Disclaimer: Esse artigo foi escrito com ajuda e IA, baseado em prompts do autor e nas fontes citadasacima.
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