De Sāo Paulo, SP.
E se aposentadoria não for mais sobre parar de trabalhar, mas sobre como viver com dignidade sem depender do trabalho?
Se o trabalho como conhecemos está desaparecendo e a juventude que sustentava os sistemas previdenciários está encolhendo, resta uma pergunta crucial: como vamos garantir a renda das pessoas no futuro?
Essa é a interrogação que encerra esta série — e talvez a mais difícil de todas.
Em meu artigo publicado no canal TECONTEI?, no Substack, intitulado 'Qual o sentido de fundos de pensão num mundo pós-trabalho?', essa reflexão é abordada com clareza:
“Os fundos de pensão foram criados para um mundo que tinha uma lógica previsível de trabalho formal, carreira longa e aposentadoria programada. Esse modelo está se esgotando diante das mudanças simultâneas no mundo do trabalho e na antiga estrutura demográfica”
Ao mesmo tempo em que a tecnologia promete abundância — com máquinas produzindo mais, a custos quase nulos — também fragmenta os vínculos tradicionais de emprego.
Isso cria uma contradição: temos mais riqueza potencial sendo criada, mas com menos distribuição automática via salários. O desafio, portanto, deixa de ser como manter pessoas trabalhando até os 70 anos, e passa a ser: como garantir renda e dignidade ao longo de toda a vida, em uma sociedade onde o trabalho humano não é mais o principal motor econômico?
A resposta, se é que existe uma única, parece estar na criação de novos mecanismos de redistribuição. Não basta mais pensar em fundos de pensão como instrumentos de poupança individual ou coletiva, baseados em contribuição ao longo de décadas. É preciso reimaginar o papel dessas instituições dentro de um novo pacto social.
Nesse pacto, os fundos de pensão poderiam se tornar grandes gestores de riqueza coletiva, investindo em ativos que beneficiem toda a sociedade e redistribuindo os frutos dessa riqueza em formatos mais flexíveis e inclusivos. É uma mudança de paradigma:
“Do 'salário diferido' para o 'dividendo social'”
Alguns países já começam a experimentar caminhos alternativos. A Noruega, por exemplo, tem um fundo soberano que distribui parte dos lucros do petróleo para todos os cidadãos. Outros países fazem algo semelhante com seus recursos naturais.
E se aplicássemos a mesma lógica para os lucros derivados da automação, da inteligência artificial, dos dados? A ideia não é nova, mas ganha força em tempos de transição acelerada.
Em vez de vincular a aposentadoria a uma idade ou tempo de contribuição, poderíamos pensar em direitos econômicos universais, financiados por tributos sobre capital automatizado, propriedade de dados ou participação em fundos de riqueza pública. Esses recursos, geridos com critérios técnicos e sociais, poderiam garantir uma renda suficeinte — ou até confortável — para todos.
Os fundos de pensão, nesse novo arranjo, teriam papel crucial. Com décadas de experiência em gestão de longo prazo, cultura de investimentos sustentáveis e boa governança, podem ser a ponte entre o modelo antigo e o novo. Mas, para isso, precisariam abandonar a rigidez dos formatos e produtos tradicionais e abraçar a inovação institucional.
Outra mudança necessária é conceitual e simbólica. Precisamos deixar de ver a aposentadoria como o 'fim da linha' para enxergá-la como uma nova etapa de contribuição à sociedade, agora não mais via trabalho formal, mas por meio do engajamento em outras formas de participação: voluntariado, empreendedorismo social, mentoria, educação entre pares ....
O modelo de 'aposentadoria em fases', já discutido em artigos publicados no TECONTEI?, é uma peça importante desse novo quebra-cabeça. Ele permite uma transição mais suave, evita rupturas financeiras e psicológicas e ajuda a repensar o tempo de vida de forma mais fluida e flexível.
Estamos vivendo um momento histórico raro: uma inflexão simultânea no tempo (envelhecimento), no espaço (tecnologia) e na estrutura (trabalho). Ignorar essa encruzilhada seria um erro estratégico.
Os fundos de pensão podem se tornar vítimas da mudança — ou protagonistas dela.
Para isso, é preciso ousadia: em políticas públicas, em regulação, em desenho institucional e sobretudo, em visão de futuro. Como diz a frase de Henry Ford, que encerra a apresentação analisada nesta série: “Se eu perguntasse às pessoas o que elas queriam, teriam dito cavalos mais rápidos”. O desafio é imaginar o que ainda não está escrito.
Talvez, no futuro, a palavra 'aposentadoria' nem faça mais sentido. Talvez, vivamos numa sociedade em que cada pessoa tenha direito a um tempo digno de vida, com ou sem emprego. E nesse mundo novo, os fundos de pensão não desapareceriam — apenas mudariam de nome, de formato e de missão.
Enquanto esse futuro não chega, cabe a nós pensar, propor, testar. E, acima de tudo, garantir que a transição seja justa, humana e solidária.
Porque, no fim das contas, aposentadoria nunca foi só sobre dinheiro. Foi sempre sobre o direito de viver com dignidade o tempo que nos resta.
“Se o trabalho vai desaparecer, a aposentadoria como a conhecemos pode ir junto. Mas a dignidade não precisa ir.”
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fontes: “Guy Standing, “Basic Income: And How We Can Make It Happen”, Pelican Books, 2017 | The Alaska Permanent Fund Corporation | Relatórios do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro do Trabalho.
Disclaimer: Esse artigo foi escrito com ajuda e IA, baseado em prompts do autor e nas fontes citadasacima.
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