segunda-feira, 17 de julho de 2023

AS DEFENESTRAÇÕES DE PRAGA E OS PERFIS DE INVESTIMENTOS DOS FUNDOS DE PENSĀO


TUDO QUE OUVIMOS É UMA OPINIĀO, NĀO UM FATO. TUDO QUE VEMOS É UMA PERSPECTIVA, NĀO A VERDADE (Marcus Aurelius)

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De Sāo Paulo, SP.


Dentro do vasto complexo de castelos da República Tcheca é fácil passar desapercebida uma grande janela, que fez parte de um momento histórico devastador: a defenestração de 1618, que levou a Europa à guerra dos trinta anos

Defenestrar é o ato de jogar alguém janela afora, como meio de execução.

A origem da guerra resta num emaranhado de acontecimentos complicados que frequentemente é resumida e simplificada como tendo sido um conflito entre Católicos e Protestantes.

Quando Ferdinando II – imperador do Sacro Império Romano-Germânico – tentou tornar o catolicismo a única religião do império, os protestantes da região da Boêmia (a moderna Tchéquia ou República Tcheca) contestaram a supressão de sua religião.

Em represaria, membros da nobreza Boêmia em Praga lançaram dois representantes de Ferdinando pela janela do Palacio Real. 

Ambos sobreviveram a queda com pequenos arranhões e dores no corpo, amortecida por um monte de estrume, apesar dos católicos acharem que foi um milagre divino que os salvou.

Quando os regentes reportaram o ocorrido a Ferdinando, a Guerra dos Trinta Anos teria começado.  

Apesar da defenestração de um inimigo pela janela parecer uma coisa única, esse foi na verdade o segundo evento histórico em que alguém foi jogado pela janela na cidade.

A primeira Defenestração de Praga ocorreu em 1419, quando uma raivosa turba de populares lançou um juiz pela janela do segundo andar do Fórum Municipal, iniciando ali uma tradição obscura.

Uma terceira defenestração teria ocorrido em 1948 quando comunistas foram acusados de assinar o ministro das relações exteriores, Jan Masaryk, usando meios similares. 


Perfis de investimentos dos fundos de pensão.

Decisões sobre investir em renda fixa ou em renda variável, comprar ações da empresa “X” ou da empresa “Y”, quanto investir em cada alternativa, qual nível de risco assumir, que setor da economia privilegiar etc., nos fundos de pensão ficam a cargo das diretorias de investimentos.

Aos conselhos deliberativos cabe aprovar as políticas de investimentos que reúnem as propostas feitas por aquelas diretorias.

Acontece que no tipo de plano de previdência complementar prevalente hoje, conhecido por plano CD (plano de contribuição definida), todo o risco pertence aos participantes e não às empresas patrocinadoras. 

Em outras palavras, o benefício do participante, i.e., o nível de renda de aposentadoria, será maior ou menor dependendo do retorno dos investimentos durante o tempo de poupança.

Por isso e também pelo fato do verdadeiro dono do dinheiro ser o participante, já que sua poupança é formada por suas contribuições pessoais e por contribuições que recebe da empresa como fruto de seu trabalho - na forma de benefícios corporativos - o participante deveria ter voz muito maior, muita mais ativa, na definição desses investimentos.

Estamos em uma era em que a tecnologia permite, de forma simples e a baixo custo, que cada participante defina seu próprio perfil de investimentos.

No entanto, os fundos de pensão seguem oferecendo em media umas três ou quatro alternativas de fundos de investimentos, os clássicos e surrados perfis conservador, moderado e agressivo. 

Os participantes não são sequer ouvidos quando os perfis de investimentos são criados. Seus propósitos pessoais, seus valores individuais e suas visões particulares de mundo não são alinhadas com seus investimentos. 

É como se Ferdinando II determinasse que em seu império, só serão oferecidas as opções de investimentos que ele determinar.

Felizmente, desde 1618, a civilização avançou muito. É improvável que os participantes de um fundo de pensão de hoje em dia, partam para defenestrar aqueles que decidem de modo unilateral, sem ouvi-los, sem perguntar o que eles querem, sem se importar com a opinião deles. 

O que pode acontecer é novos participantes não entrarem e os atuais saírem (ordeiramente pela porta) para nunca mais voltar. 

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Apesar da Guerra dos Trinta Anos não suscitar nenhuma reação da maioria dos brasileiros, para os habitantes da Europa Central foi uma catástrofe de proporções épicas, com consequências que reverberam até os dias de hoje. 

Tendo durado de 1618 a 1648, estima-se que tenham morrido entre 5 e 11 milhões de pessoas.

Se algum dia você for ao Castelo de Praga, ao admirar sua imensidão, dedique um tempinho para visitar sua famosa janela e reflita por um momento sobre as implicações e desdobramentos que pode ter a imposição de vontades individuais sobre o interesse coletivo, ainda que estejamos no Século XXI.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Defenestration of Prague Window“ , escrito por Atlas Obscura


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