segunda-feira, 17 de julho de 2023

O FUTURO DOS FUNDOS DE PENSĀO É INCERTO PORQUE A BUSCA PELA SUA CONTINUIDADE É UMA EXCEÇĀO, NĀO A REGRA



 


De Sao Paulo, SP.

Como as pessoas decidem o que fazer e o que nāo fazer? Afora decisões triviais e insignificantes ou inconscientes – como os hábitos – avaliamos os custos e os benefícios (no sentido mais amplo) das opções e escolhemos aquela que aparece no topo dessa relação.

De modo geral isso parece fazer sentido, mas ao olharmos essa questão mais de perto, será que é assim mesmo que decidimos cotidianamente? Sabemos que temos a capacidade de tomar decisões complexas, mas será que fazemos isso o tempo todo, o dia todo, todos os dias?

As coisas ficam mais fáceis quando existe uma regra.


Graças a Deus parece que temos um mecanismo que facilita muito tomarmos decisões complexas, às vezes reduzindo o número de opções que temos para escolher, a apenas duas ou até uma alternativa.

Esse mecanismo são as regras. As regras nos dizem aquilo que é ou nāo apropriado fazer. Algumas regras que afetam nosso comportamento são inatas.

Por exemplo, apesar de tecnicamente ser possível respirar pela boca, ao invés de pelo nariz, geralmente não consideramos a primeira uma opção válida e vamos direto para a segunda. Parece haver uma regra dizendo para usar o nariz.

A maioria das demais regras nos são impostas pela sociedade como um todo através de normas sociais e leis ou por um subconjunto dela, como nosso local de trabalho, um clube de futebol etc.

Devemos usar roupa em locais públicos, mesmo que não haja necessidade de nos proteger do frio. Espera-se que levemos um presente quando vamos a uma festa de aniversario. Somos legalmente proibidos de fumar em determinados lugares e de nos apropriar das coisas dos outros sem o consentimento deles.

Presume-se que vamos agir de acordo com as políticas da empresa no local de trabalho e a menos que sejamos o goleiro, não podemos tocar a bola com a mão.

Também criamos regras para nós mesmos e para os outros: não tomamos café depois das 20h00, os filhos menores precisam estar em casa antes do anoitecer, as reuniões do conselho deliberativo do fundo de pensão começam e terminam no horário e não se espera por conselheiros que se atrasam, por aí vai. 

Independente dos problemas que as regras possam causar, sua grande vantagem é trazer ordem e simplicidade para nossas vidas. Se sabemos quais regras alguém adota, podemos prever o que fará e o que deixará de fazer.

Ao abraçarmos ou construirmos regras, sempre que precisarmos fazer uma escolha será muito mais fácil chegarmos a uma decisão, porque poderemos ignorar uma miríade de opções que não são compatíveis com elas.

Em resumo, fazemos aquilo que a regra prescreve e não fazemos qualquer coisa que ela proscreve. Fácil, fácil!

As regras são aplicáveis, exceto quando não sāo


Regras, assim como leis e normas, também se aplicam a organizações e países, mas sua implementação e obrigatoriedade dependem, naturalmente, dos indivíduos que os controlam.

A maioria das regras é simples e sem nuances, sendo fácil tratá-las como absolutas, como instruções incondicionais ou como restrições. Isso acontece porque quando formulamos ou adotamos uma regra, estamos preocupados primariamente com as razões que nos levaram a sua elaboração e com as situações em que se aplicam ou deveriam ser aplicadas e não muito além disso. 

Acontece que as exceções sempre aparecem. De repente, não é bem a regra que parece ter o maior valor, mas as exceções que passam a definir nossa integridade, nosso caráter, nossa atitude, nossa autoridade e nossa confiabilidade.

Nesses casos, deveríamos nos ater estritamente a regra, qualquer que ela seja? Geralmente fazer isso não funciona.

Seja proibir a energia atômica enquanto se mantem usinas de energia nuclear, mentiras (sociais) que apanhamos nossa mãe contando e violando a regra de que é proibido mentir ou nunca terminar as reuniões do conselho no horário previsto, apesar da agenda divulgada mencionar a hora de início e de término – quase certamente, sempre haverá exceções.

Fazer de conta que as exceções não existem seria um sinal obstinado de mal julgamento. Você não esperaria o presidente do conselho para começar a reunião se ele telefonasse dizendo estar a caminho, mas se atrasou por causa de um acidente de carro? 

Apesar de tudo, quebrar regras pode ser problemático. Quando vemos os outros quebrando uma regra que eles se comprometeram a seguir, na melhor das hipóteses passamos a vê-los como não-confiáveis, que aplicam ou violam regras de forma arbitraria. O mais provável é ver quem quebra as regras como hipócrita, que se serve da virtude dependendo de interesse próprio, quebrando as regras quando isso os beneficia.

Regras não se sujeitam a compensações: não podemos negociar o cumprimento parcial de uma regra em troca de alguma outra coisa. Se uma regra é violada, é porque existe uma regra hierarquicamente superior.

As exceções que fazemos a uma regra, portanto, são nada mais do que outras regras que possuem prioridades mais altas.

A busca pelo futuro dos fundos de pensão


É impressionante como damos pouca atenção às exceções que tendemos a fazer para as regras que seguimos e como determinamos onde se encontram nossos limites para isso.

Quando alguém se senta na cadeira de conselheiro deliberativo de um fundo de pensão, se compromete a seguir o código de governança da organização. 

Dez entre dez códigos de governança determinam que os propósitos, estratégias, valores e cultura da organização devem estar alinhados. 

Especificamente, a governança de um fundo de pensão estabelece que os riscos e oportunidades em suas operações sejam endereçados visando o sucesso futuro e sustentabilidade (continuidade) da organização. 

O código de governança é uma regra que os conselheiros adotam e seguem, ao fazer isso estão sinalizando suas virtudes para os participantes e para si mesmos.
Quando os conselheiros se desviam dessa regra adotando seu próprio julgamento do que significa a continuidade futura do fundo de pensão, podem estar se enganando. 

Tipo, considerar que está ok focar na continuidade do fundo de pensão visando o pagamento dos benefícios até o último dos participantes das atuais gerações (das quais fazem parte) e não nas soluções, produtos e serviços adequados às gerações futuras que estão chegando.

As futuras gerações não serão tão lenientes e deixarão de olhar os fundos de pensão como veículo para alcançar segurança financeira de longo prazo quando notarem que seus valores, modo de vida e propósitos passam longe das soluções que os fundos de pensão colocam a sua disposição. 

Quando ações falam mais alto do que palavras, o que fazer?

Se dedicarmos a essa possível exceção a consideração que merece e estabelecermos, inequivocamente, que a continuidade dos fundos de pensão vai muito além das atuais gerações, então, estaremos mais bem posicionados para demonstrar um bom julgamento sobre seu futuro ao invés de um viés egoísta no processo de tomada de decisões atual.

Diz-se que as exceções confirmam as regras. Elas também provam quem realmente somos.


Grande abraço,
Eder.


Fontes: “The exception, not the rule”, escrito por Koen Smets

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