De Sāo Paulo, SP.
Paradigma é um modelo mental de como enxergarmos o mundo. No segmento de fundos de pensão, estamos cercados de pessoas que compartilham o mesmo modelo de previdência complementar.
Desde que o modelo esteja funcionando, vamos vivendo nossas vidas, nos voltamos para o dia a dia sem pensar muito sobre ele. Tipo, se você vivesse numa estação espacial, a ausência de gravidade seria algo que você notaria o tempo todo ... até o dia em que, não notaria mais.
Tecnologia, mudanças demográficas, transformações sociais, tudo vem conspirando para mudar as regras do jogo no campo dos fundos de pensão.
Quando isso acontece, surgem grandes oportunidades para aqueles que são ousados o suficiente para imaginar um sistema diferente, um modelo mental que não seja simplesmente um ajuste do existente, mas uma reconstrução.
A TV aberta se baseava no paradigma dos mercados de massa, no qual a batalha da participação de mercado girava em torno do ganho de uns poucos pontos percentuais de audiência do mercado todo.
A TV por assinatura mudou isso porque nichos de mercado podem representar um montão de expectadores lucrativos. De repente, aquele pequeno publico viabilizou a construção de novos gigantes da mídia.
ESPN e MTV não teriam funcionado num mundo com três ou quatro canais de televisão, mas funcionaram muito bem num com quarenta canais.
A verdadeira “guinada” no paradigma veio do YouTube. Agora não se trata mais de tentar acrescentar uns poucos canais por assinatura. Tem a ver com abraçar a ideia de que existe um número infinito de canais.
Aquele espectro de escassez dos exemplos anteriores não é normal e muito menos útil. Ninguém no mundo da TV aberta ou da TV por assinatura entendeu isso nem fez algo a respeito. Estavam muito focados em tentar “acompanhar” as mudanças e não em “transformar”.
Muitos amigos e colegas, muita gente boa no segmento tradicional de negócios dos fundos de pensão está lutando com a velha versão dos planos de previdência complementar. Com a crença de que o publico alvo é composto de pessoas com salários altos, que trabalham em empresas, que vão juntar dinheiro no começo da vida profissional, em contas individuais (modelo CD), para usufruir no fim da vida, com decisões de investimentos feitas por meia dúzia de gestores, sem ouvir a opinião dos donos do dinheiro, com uma governança controlada por um grupo limitado de representantes do “povāo”.
O setor tem recursos, reputação e um pouco do “momentum”, mas ao invés de dar uma guinada em direção a um novo sistema de previdência complementar, novas soluções de segurança financeira futura, está girando em torno de umas poucas mudanças.
Nem todos os paradigmas dão guinadas. Frequentemente, a humanidade fica presa num sistema culturalmente enraizado que é muito difícil mudar.
Quando vemos uma oportunidade para transformar um setor inteiro como o de fundos de pensão, a contribuição que podemos dar é estar dispostos a abandonar nossa confiança em como as coisas costumavam ser. Esse é o trabalho árduo a ser feito, ao invés de simplesmente tentar fazer pequenas mudanças acontecerem.
A barreira da micro gestão pelos conselhos
A micro gestão é uma estrada cansativa que leva a lugar nenhum. Procure na memória aquele que foi seu chefe favorito. Garanto que a palavra micro gestão não faz parte da sua lembrança. Ninguém gosta de micro gestores, nem eles próprios.
Abrir mão em favor de terceiros, do controle diário das minucias de um negócio, é uma necessidade. É impossível focar no futuro de qualquer organização se você ficar checando continuamente cada detalhe do negócio.
É esse impulso que domina os conselhos deliberativos dos fundos de pensão que não é fácil se livrar.
Quando uma empresa, uma startup, é pequena, todos trabalham em prol de um objetivo comum. Há confiança. É fácil dividir responsabilidades. Na medida que cresce, pequenas responsabilidades do dono vāo sendo confiadas a outras pessoas. É impossível fazer isso se você não tem a equipe sênior certa.
O fundador de uma startup pode tentar monitorar, no curto prazo, cada novo contratado com reporte direto, mas isso não é sustentável permanentemente e no longo prazo ele estará colocando pregos no caixão da empresa.
A micro gestão é horrenda, mesmo quando feita por pouco tempo. Não é boa para aqueles que trabalham para você e impede que você faça aquilo que deveria estar fazendo, que é focar no desafio maior de dar rumo á organização.
A micro gestão é péssima para a liderança por causa da pressão contínua e intensa, que leva a exaustão completa. A falta de liderança sênior no topo, quase que inevitavelmente, leva a micro gestão.
Uma das causas da micro gestão é a falta de confiança.
A micro gestão pode encobrir uma miríade de inseguranças, preocupações e dúvidas sobre o que você está fazendo, pode esconder o medo de que o fracasso está no horizonte. Pode acalmar, transmitindo a sensação de que você está no controle – quando na realidade, não está.
Como inevitavelmente se descobre no longo prazo, quando tudo começa a desmoronar e suas mãos na direção não são mais suficientes para controlar tudo.
Às vezes, como líderes, sabemos do caos, mas freneticamente fazemos micro gestão para dar a impressão de que estamos no controle, uma tentativa drástica de encobrir o quão errado as coisas estão dando.
Quando o conselho deliberativo do seu fundo de pensão ficar tentado a fazer micro gestão, dê um passo atrás e procure achar a raiz do problema. O conselho que faz micro gestão deixa pouco espaço para criatividade ou inovação.
Existe um oceano de diferença entre interferência e apoio. O dever fiduciário dos conselhos é supervisionar e dar apoio à gestão, não se imiscuir nela.
Enquanto a barreira da micro gestão feita hoje pela esmagadora maioria dos conselhos dos fundos de pensão, não for ultrapassada, vai faltar tempo para o essencial: uma guinada de paradigma.
Grande abraço,
Eder.
Fontes: “Great Management Means Doing as You Would Be Done By”, escrito por Jan Cavelle | “The paradigma flip”, escrito por Seth Godin.
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