domingo, 31 de março de 2024

INSIGTHS PARA CONSELHEIROS BUSCANDO UM CAMINHO PARA O FUTURO DOS FUNDOS DE PENSĀO

 



De Sāo Paulo, SP.


1.    Informação é abundante, ação é escassa

Uns dez anos atrás, durante um megaevento em Brasília, fiz uma apresentação sobre tendências em fundos de pensão, convidado pelo meu querido Gazzoni.

Na parte de Q&A (perguntas e respostas), uma pessoa da platéia pegou o microfone e perguntou o quê, na minha opinião, os fundos de pensão deveriam fazer para se preparar para o futuro.

Eu havia terminado de falar por +1 hora, compartilhado ideias, insights e abordado, seguramente, umas 5 transformações críticas pelas quais o segmento de previdência complementar estava passando.

Ainda assim, lá estava eu diante daquela pergunta, que respondi da seguinte maneira:

“Os fundos de pensão não precisam de mais informação, precisam de mais ação. Qualquer um deles pode, amanhã mesmo, agir sobre uma das coisas que falamos aqui hoje. Começar por ali e construir o futuro”.

Vivemos numa era em que a informação é abundante – com o simples apertar de uma tecla, você pode acessar literalmente a melhor informação a respeito de qualquer tópico, vinda das mentes mais brilhantes.

Se bastasse informação, todo mundo seria rico, teria o físico “sarado” e estaria perdidamente apaixonado por alguém.

Se você é conselheiro ou diretor de um fundo de pensão, ao invés de focar na obtenção de mais informação, pergunte a si mesmo como sua organização pode adotar pequenas ações a partir das informações que vocês já possuem e assim, começar a construir um futuro melhor.

A maioria das pessoas cai na armadilha de pensar que mais informação é igual a mais avanço - na verdade, informação é barata, ação é cara.


2.    Um futuro fora de controle



Quando dizemos que alguém está fora de controle, estamos falando de algo negativo. A pessoa perdeu o autocontrole e passa a fazer coisas das quais vai se arrepender depois.

Por outro lado, precisamos ser honestos e reconhecer que praticamente tudo, está fora do nosso controle.

Podemos tentar influenciar as coisas ou podemos aceitá-las como elas são, mas a qualquer tempo, durante nosso engajamento com os outros ou com o futuro, não estamos no comando total de todas as coisas.

O controle é elusivo. Se aceitarmos a parte que foge ao nosso controle, podemos focar nos elementos que conseguimos influenciar e alavancar.  

O conselho e a diretoria do seu fundo de pensão podem sentar-se no banco dos passageiros ou podem tentar pilotar o barco em direção ao futuro da previdência complementar, com a parte que tem sob controle, desenvolvendo novas soluções que forneçam segurança financeira.

Uma coisa é um futuro fora do nosso controle total, outra coisa é um futuro totalmente descontrolado.


3.    Lute contra o “Dilema da Centopéia”

Existe uma velha fábula sobre a centopeia e o coelho, que é mais ou menos assim:

“Uma centopeia estava andando, quando um coelho encosta ao seu lado e pergunta - Qual das suas 100 pernas é a mais rápida?

A centopeia começa a pensar, pensar, pensar ... e rapidamente fica paralisada com a pergunta do coelho, incapaz de se mover.

A ação de andar, que antes era feita subconscientemente, se torna um pensamento consciente, deixando a centopeia paralisada, sem conseguir sair do lugar.

Muitos fundos de pensão funcionam como a centopéia da fábula: ficam pensando demais sobre as mudanças necessárias e não conseguem dar um primeiro passo em direção ao futuro.

Quando você pensa que cada decisão precisa ser perfeita, você fica com medo de se mover. Essa é uma constatação poderosa que você, conselheiro, pode discutir na próxima reunião do conselho do seu fundo de pensão.

Ensine ao colegiado, que:

Decisões geralmente são reversíveis, mas a inação não é!


4.    E se eu estiver errado?

Se formos sentar no conselho deliberativo e investir nosso tempo em conversas, pesquisas ou análises sobre o futuro dos fundos de pensão, devemos começar entendendo o que será necessário para você e eu mudarmos de ideia.

Se você não estiver disposto a considerar que está errado, então, nas palavras do filósofo cognitivista americano Dan Dennett (Daniel Dennett): 

“Você é um expectador, não um participante”.

Vamos combinar as regras e então começar as discussões.


5.    A derivada para o normal



Na medida em que uma organização cresce em escala, as idiossincrasias e peculiaridades originais, representadas pelos gostos dos fundadores, se movem em direção a média.

Com o tempo, as coisas ficam mais medianas, mais ou menos iguais.

Isso porque cada novo cliente, cada novo fornecedor e cada novo empregado, quer ou precisa de coisas um pouco mais normais, pelo menos de vez em quando.

A tendencia de derivar para o normal só pode ser combatida por um esforço persistente, geralmente a custa de algum elemento de escala, no curto prazo.

Os fundos de pensão cresceram e foram se afastando das características únicas que estavam presentes no seu início, eles se moveram para a média.

Apesar de bem maiores hoje, ainda precisam continuar a crescer, porque a escala que era antes inexistente, se tornou uma questão de sobrevivência.

Talvez esteja na hora de resgatar o “somos especiais”, uma coisa é ser normal, outra coisa é ser comum.

Se não for você, quem? Se não for agora, quando?


6.    O que marca a sua marca?

O que faz a sua marca ser o que é? Como construí-la? Há três componentes:

(I)      Um caráter atrativo = seu propósito;

(II)    Uma nova oportunidade = o que você deseja alcançar;

(III)  Um novo veículo = como você vai chegar lá.


A maior parte do seu tempo deve ser investida no (I) e no (II). O componente (III) se torna mais fácil, uma vez que você tenha estabelecido sua marca.

O que entra na sua marca? Insights, produtos, alvos, canais, interesses. Esquece procurar um nicho para seu fundo de pensão atuar, crie seu próprio nicho.

Torne-se uma categoria e você será insubstituível. Joseph James Rogan (Joe Rogan) nunca escolheu um nicho.

Ele combinou sua paixão por comédia, aventuras, psicodélicos, UFC e artes marciais e criou uma marca pessoal. Ninguém pode competir com ele, porque ninguém é ele.

Ninguém pode competir em ser você.


7. Disciplina versus motivação, ao se tornar conselheiro

Quando aprendemos a fazer qualquer coisa nova – tipo, dirigir um carro – passamos por três estágios.

O primeiro estágio demanda bastante atenção, na medida em que testamos os controles (do carro), aprendemos as regras (de trânsito) e por aí vai.

No segundo estágio, começamos a coordenar nosso conhecimento, conectando nossas ações e movimentos e vinculando-os - de modo mais fluido e natural - com nosso conhecimento (sobre o carro), a situação do momento (movimento da rua) e as regras (de trânsito).

No terceiro estágio, dirigimos o carro e mal penamos sobre isso. É automático. Com isso, nossa melhoria na condução do carro vai diminuindo dramaticamente e eventualmente, paramos de evoluir completamente.    

Tornar-se conselheiro de um fundo de pensão funciona da mesma maneira. No primeiro estágio aprende-se atuária, investimentos, gestão de riscos etc. No segundo, senta-se em torno da mesa do conselho e se conecta o aprendizado à tomada de decisões na vida real.

No terceiro, se a pessoa deixa de buscar continuamente novos conhecimentos sobre previdência complementar, mudanças demográficas, novas tecnologia, se ela para de aprender, quem deixa de evoluir completamente é o fundo de pensāo.

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Inspirou, ajudou?

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Out of control” e “The arrogance of improvement”, escritos por Seth Godin | “6 Life-Changing Insights from 6 Days in India”, escrito por Sahil Bloom | “What Sam Altman’s Prediction About The $1B One-Person Business Model Means For You”, escrito por Michal Lim | “Learning”, escrito por Geoff Colvin.


sexta-feira, 29 de março de 2024

A AULA QUE A CONDENAÇĀO DE BANKMAN-FRIED DA FTX PODE DAR À JUSTIÇA BRASILEIRA, SOBRE A FRAUDE DAS LOJAS AMERICANAS

 


Do Rio de Janeiro, RJ.


Sam Bankman-Fried vai para a cadeia. Ele não vai cumprir o tempo dele em uma prisão federal de segurança máxima, será colocado em lugar mais próximo possível da família, em São Francisco – EUA, mesmo assim, ele vai para cadeia, onde vai passar os próximos 25 anos.

Depois de ficar preso por quase seis meses, ele foi sentenciado ontem por ter ocupado papel central e cometido várias fraudes ligadas a implosão da corretora de cryptomoedas FTX e sua afiliada Alameda Research, em novembro de 2022.

A sentença é longa e poderia ter sido muito mais dura – foi de apenas um quarto dos 105 anos recomendados pelo Department of Parole (sem equivalente no Brasil, mas parecido com a vara de execuções penais) e quase metade dos 40 a 50 anos pedidos pela promotoria à corte de Nova York.

Foi, porém, muito maior do que os cinco a seis anos e meio que os advogados de Bankman-Fried esperavam.

A defesa se baseava numa combinação de argumentos – o mais importante, de que ninguém de fato perdeu dinheiro com o colapso da FTX porque o governo se dispôs a ressarci-los – e as declarações de sustentação da defesa de que era injusto comparar seu cliente Bankman-Fried a “assassinos financeiros de sangue frio” tipo Bernie Madoff e Karl Greenwood, como o advogado Marc Mukasey, líder da defesa, colocou.  

O juiz do caso, Lewis Kaplan, descartou o primeiro argumento como bobagem, dizendo que “rejeito inteiramente” o argumento da defesa de que ninguém foi prejudicado com a quebra, descrevendo-o como “enganoso ... logicamente, falho ... e especulativo”.

As alegações de que Bankman-Fried tinha um coração de ouro – que foi motivado somente por impulsos altruístas e que ele era um “lindo quebra-cabeças” com “tristeza em seu âmago” – igualmente, não persuadiram o juiz Kaplan. Também não o convenceram as tentativas de usar o diagnóstico de autismo de Bankman-Fried para explicar algumas de suas terríveis escolhas, inclusive a tentativa de pressionar testemunhas.  

Aos olhos de Kaplan, o altruísmo de Bankman-Fried era a “interpretação de um personagem” – ao invés da alma gentil e do “nerd estranho de matemática” que seus advogados e a família tentaram retratar, o Bankman-Fried do tribunal de Kaplan era:

“Sedento por poder, um mentiroso, alguém atraído por jogos imprudentes, que não expressou suficientemente remorso pelos seus crimes e tinha uma flexibilidade excepcional com a verdade”.

Uau! Tem mais. O juiz disse nos autos que:

“Quando (Bankman-Fried) não estava mentindo abertamente, ele era evasivo, se prendia em minucias, esquivava-se de perguntas e tentava fazer os promotores reformularem as perguntas para poder responder de maneiras que considerasse menos prejudiciais do que teria sido uma resposta verdadeira para a pergunta efetuada. Estou nesse trabalho (de juiz) a quase 30 anos, nunca vi uma atuação como essa”

Kaplan apontou para três casos de perjúrio durante o depoimento de Bankman-Fried ao longo do julgamento, tendo o cuidado de enfatizar repetidamente que não foram os únicos casos, apenas o suficiente para defender seu ponto de vista de que o réu mentia.


Juiz Lewis Kaplan - Credito de Imagem: New York Times

O juiz pareceu particularmente impressionado com o testemunho de Caroline Ellison, de que Bankman-Fried era dado a jogar cara ou coroa e correr riscos enormes, desde que houvesse uma chance minúscula de obter sucesso.  

“Em outras palavras, um homem disposto a jogar uma moeda para o alto quanto a continuação da vida na Terra, mesmo que as chances fossem imperceptivelmente maiores de que um resultado catastrófico acontecesse, esse foi realmente o fio condutor do meu julgamento de todo esse caso”, ponderou Kaplan.

Embora Mukasey (advogado líder da defesa) tenha dito que seu cliente “nerd esquisito da matemática” havia sido suficientemente dissuadido a nunca mais cometer outro crime financeiro, por ter ficado preso por seis meses numa cadeia no Brooklin, o juiz Kaplan discordou.

Kapan alegou que uma sentença maior era necessária para impedir que Bankman-Fried viesse a cometer outro grave crime financeiro:

“Bankman-Fried é persistente e um grande marketeiro, já usou suas habilidades para tentar mudar a narrativa da mídia em torno do seu caso. Não é preciso muita imaginação para enxergar os contornos da campanha [que Bankman-Fried poderia lançar para reabilitar sua reputação].  O risco desse homem ter condição de fazer algo muito ruim no futuro, não é absolutamente um risco trivial”, completou Kaplan  

O juiz Kaplan parece ter levado muito a sério seu dever para com o público, ao proferir uma sentença que maioria das pessoas concorda ter dado a Bankman-Fried o que ele merece.

“No fim do dia, o sistema de justiça criminal nesse país [EUA] só pode contar com o apoio do público se ... de forma geral, as pessoas acharem que funciona de maneira justa. É disso que dependemos. Se isso não acontecer, voltaremos a uma época em que as pessoas faziam justiça com as próprias mãos”.


Sam Bankman-Fried - Credito de Imagem: Reprodução do Youtube

Com a justiça feita pelas próprias mãos afastada (pelo menos por enquanto), Bankman-Fried terá que cumprir seu tempo na prisão da maneira normal.

De certa forma, Kaplan levou em consideração o diagnóstico de autismo e a natureza gentil do réu, ao recomendar que Bankman-Fried seja colocado em uma prisão federal de segurança média ou baixa, de preferência perto de onde mora a família dele – argumentou que o autismo, a notoriedade e sua elevada condição financeira, poderiam torna-lo vulnerável em uma prisão de segurança máxima.

Para aqueles achando que Bankman-Fried sairá logo da prisão por bom comportamento, não, nāo sairá. Graças a uma reforma do código penal americano em 1984, Bankman-Fried e todos os detentos de prisões federais, tem direito a uma redução máxima de 15% da pena devido a bom comportamento.

Claro, tudo pode mudar e os americanos resolverem implantar as saidinhas, o regime semiaberto, a leitura de livros para redução da pena, etecetera ... sem falar na improvável revisão do veredito por um tribunal superior (americano).

Os advogados já disseram que vão apelar, eles têm 14 dias para entrar com o pedido.

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A maior fraude da história corporativa do Brasil e a impunidade



No começo de 2023 as Americanas (tiker AMER3) divulgou oficialmente uma fraude nas informações contábeis da empresa por meio de um fato relevante. As revelações já não eram surpresa, muitos no mercado financeiro falavam abertamente das irregularidades, da falta de transparência e do escândalo.

As práticas fraudulentas das Americanas são chocantes, evidenciam escolhas conscientes que vāo muito além de simples erros contábeis. Envolviam ações deliberadas de lançamentos de despesas financeiras contra fornecedores, registro de descontos potenciais e adulteração de ativos e passivos para enganar bancos, investidores, autoridades e fiscalização.

O impacto do escândalo das Americanas se estendeu além das fronteiras da própria empresa, seus credores e empregados - que perderam o emprego aos milhares - afetou a imagem de firmas de auditoria, autoridades de fiscalização, profissionais de governança corporativa, de controle de riscos, ... ______ (preencha a vontade).  

Passados 14 meses da descoberta do escândalo das Americanas pelo grande público, as investigações ainda estão em curso, ou seja, nenhum culpado sequer identificado.

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Voltando ao caso da FTX, as opiniões do juiz Kaplan (dadas dentro dos autos), a rapidez do processo - foram menos de 18 meses desde a quebra da FTX em nov./2022 até a sentença condenatória dada ontem, mar/2024, são uma pérola para educação do sistema judicial de qualquer país.

A confiança dos investidores e do público é fundamental para o bom funcionamento dos mercados financeiros. Os negócios são fechados, primordialmente, com base na confiança. Ela é um elemento essencial para o desenvolvimento econômico e social do país e para garantir a integridade dos mercados financeiros.

Que inveja do juiz Kaplan e do sistema judicial que lhe dá sustentação.

Grande abraço,

Eder.


Fonte: “What you missed”, escrito por Cheyenne Ligon | “A maior fraude da história corporativa do Brasil: O caso Americanas (AMER3)”, escrito por Daniel Abrahāo.


quarta-feira, 27 de março de 2024

“RETORNOS ANUAIS NĀO FAZEM SENTIDO”, DIZ O PRÍNCIPE MAX VON LIECHTENSTEIN - LORD EDER CONCORDA

 


De Sāo Paulo, SP.


Na era digital, na qual as informações são acessadas facilmente em tempo real e o preço das ações é acompanhado em segundos, é grande a tentação - os riscos também - de medir o resultado das empresas no curto prazo.

De acordo com o Príncipe Maximiliano von und zu Liechtenstein, mais conhecido por Príncipe Max von Liechtenstein, CEO e Presidente do Conselho do LGT Group: “essa mentalidade é impraticável”.

Nota: “The Liechtenstein Global Trust” ou LGT é a gestora de investimentos e banco privado que controla o dinheiro da “Casa Real de Liechtenstein”. O Principado de Liechtenstein (capital Vaduz) é um microestado, tido como um dos mais ricos do mundo, encravado nos Alpes entre a Áustria e a Suíça, onde moram 39 mil habitantes em 160 km2. 

 


Ele explicou isso durante uma apresentação que fez anteontem (26 de março) no Simpósio de Investidores Globais, em Hong Kong e completou: 

“Você deveria se preocupar com seu ganho ao longo de cinco, 10 anos. Há muitas coisas no curto prazo que podem fazer alguém parecer incrivelmente bom ou incrivelmente ruim. A orientação de curto prazo, que é inerente ao ser humano, é uma das causas-raiz de uma porção de problemas”

Os comentários do Príncipe Max sobre retornos anuais foram feitos como parte de uma resposta mais ampla sobre seu otimismo com mercados privados e as respectivas abordagens de investimentos, que ele acredita melhores do que os investimentos em mercados públicos.

Durante o painel do evento de Hong Kong, organizado pelo Milken Institute (um instituto de estudos), ele ressaltou como exemplos dessas abordagens um processo de “due diligence” mais profundo e uma maior interação com as empresas e completou:

“Se você refletir sobre os retornos do passado, de todas as classes de ativos, o ‘private equity’ têm gerado os maiores retornos e eu não acho que é porque as empresas investidas sejam naturalmente melhores. Eu acho que é porque [...] a abordagem de investimentos deles é superior”, completou ele.

Eu fico pensando, cá com meus botões: devido ao horizonte de tempo extremamente longo para investimento, os fundos de pensão deveriam ser os principais investidores institucionais para os quais retornos anuais não fazem nenhum sentido. 

Os fundos de pensāo deveriam medir suas performances em períodos maiores, como sugere o Principe Max, de cinco, dez anos …

Deveriam, também, pelo menos os maiores, ter profissionais com a mesma capacidade dos profissionais que atuam em private equity, para fazer análises profundas das empresas nas quais investem o $$$ de seus participantes.

No entanto, vemos os fundos de pensão brasileiros investindo +80% de seu patrimônio em .... títulos públicos.

Resta-me reproduzir aqui (foto acima) o brinde que fiz ao Príncipe Max quando estive em Liechtenstein em 2016. 


Grande abraço,

Lord Eder.


Fonte: “Prince Max von Liechtenstein: «Annual Returns Are Meaningless»”, publicado pela FiNews.com


terça-feira, 26 de março de 2024

TECONTEI? UMA NOTÍCIA PARA FECHAR O DIA


De Sāo Paulo, SP.


O que o Zé anda lendo 👇


👉 A Bolsa de Valores de Londres (LSE) vai criar agora em maio um segmento de mercado de “ETN” (Exchange Traded “Notes”) de bitcoin e ether, para negociação apenas por investidores profissionais e corretoras listadas. 

👉 O que são ETNs? São parecidos com os ETFs (Exchange Traded Funds), mas são mais complicados. 

👉 ETNs funcionam como títulos de renda fixa, não securitizados, que acompanham um índice ou uma ação, mas não são lastreados pelos ativos que acompanham (como são os ETFs). 

👉 Então, como eles ganham dinheiro? Eles funcionam como títulos de divida, têm um vencimento no qual pagam o principal e o retorno sobre a variação do índice que acompanham (no caso, bitcoin e ether). 

👉 Nesse meio tempo, a ETN pode ser negociada em bolsa de valores, como se fosse uma ação. Por não manterem em carteira os ativo que acompanham, um fator decisivo para variação do preço das ETNs é o rating de credito de seu emissor, porque o investidor precisa acreditar que o emissor tem solidez suficiente para devolver-lhe o principal e pagar a variação de mercado, na data do vencimento. 

👉 Se você entendeu o que são ETNs, ótimo. Se nāo entendeu, bem ... eu disse que era complicado. Nesse caso sugiro, como se diz na comunidade crypto: DYOR ou "Do Your Own Research", em português seria algo tipo, "faça sua própria pesquisa". (Fonte: CoinJournal).


Grande abraço,

Eder.


segunda-feira, 25 de março de 2024

O CONSELHO DO SEU FUNDO DE PENSĀO É “TOPZERA”? OU A DIRETORIA FEZ UM "FALSETE"?

 



De Sāo Paulo, SP.


Você sabe o que é “brinks”? Que tal “sus”? O quê, exatamente, é “tankar”? E “shippar”? Se esses termos fizeram você coçar a cabeça, você não está sozinho.

Ver lista com tradução e significados, no final do artigo

Os exemplares mais jovens da Geração Alpha - nascidos entre 2010 e 2025 - ainda estão aprendendo a falar, mas os mais velhos já desenvolveram e estão empregando suas próprias gírias, um dos ritos de passagem de uma geração para outra.

Apesar de algumas das gírias e termos que eles usam ainda serem emprestados da Gen Z, isso tende a mudar rapidamente, fortemente influenciado por suas interações e conteúdos que acessam online.

Os pais de crianças com idades entre 8 e 10 anos tem duas vezes mais probabilidade de dizer que não entendem palavras e termos que seus filhos estão falando, do que os pais de crianças com menos de 4 anos (43% versus 20%, respectivamente)

Uma pesquisa da Morning Consult indica que quase 3 em cada 10 (29%) dos pais de Alphas entre 8 e 10 anos nos EUA admitem não entender a linguagem dos filhos (gráfico abaixo).



A influência mais importante para as gírias dos Alpha é a tecnologia. Se por um lado, a Gen Z reivindica o título de ser a primeira geração de nativos digitais, por outro, a Gen Alpha leva isso um passo adiante. Não existe separação entre esses jovens e tecnologia.

A tecnologia está moldando o futuro deles, desde a posse de dispositivos moveis e uso de mídias sociais, até a linguagem. Faz sentido, dado que algumas das gírias mais usadas pelos Alpha nasceram na Internet e foram incorporadas no vernáculo da garotada graças a memes e viralizaçōes em platformas como Twitch e TikTok. 

É o caso de “gyat”, “sigma” e “fanum tax”, termos usados pelos Alpha americanos, assim como “bet”, GOAT”, “rizz” e vários outros. Veja no gráfico a seguir as gírias mais usadas pela criançada nos EUA.


Parte da razão de usarem gírias pode muito bem ser para que os mais velhos não entendam o que eles estão dizendo. Da mesma forma que a Gen Z sacaneava os Millenials em tudo, desde a roupa que eles usavam até as gírias ultrapassadas, os Alpha logo pegarão o bastão para definir o que é legal e fazer o mesmo, agora, com a Gen Z.  

Na medida em que as gírias da Gen Alpha passem a ser encampadas pelos adultos (leia-se: pelos mais velhos) os jovens, que as tornaram populares, já estarão passando para outras. “Se os milênios começarem a usar nossas gírias, vai ser tipo: ’Essa já era’, diz um Gen Alpha.

É crítico para as marcas - e isso não deveria ser diferente para os fundos de pensão - conectarem-se com a Gen Alpha agora e no futuro. Entender como essa geração pensa, fala e reage, seus interesses e motivadores.

Assim, qualquer mensagem que direcionem a eles será mais bem recebida. Mas isso não é tarefa fácil, considerando o quanto ligada nos acontecimentos atuais essa garotada já demonstrou estar.  

A Gen Alpha será similar à Gen Z e perceberá, rapidamente, qualquer comportamento inautêntico das marcas, chamando-as “na chinca”, online.

É essencial, portanto, falar a linguagem deles – literalmente.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “The Most Popular Slang, According to Gen Alpha”, escrito por Nicki Zink | “Gen Alpha Is Here. Can You Understand Their Slang?”, escrito por Madison malone Kircher.


domingo, 24 de março de 2024

UMA CRISE PODE ESTAR SE FORMANDO NA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

 


De Sāo Paulo, SP.


Quando se trata de previdência complementar, saber quanto poupar para ter segurança financeira no futuro é um desafio monumental.

As pessoas, atualmente, têm em média entre 8 e 10 empregos ao longo da vida profissional e vivem por muito mais tempo.

Com idade de aposentadoria de 65 anos no INSS e uma expectativa de vida em torno de 80, o desafio do panejamento pessoal para a aposentadoria é enorme.

Do jeito que acabamos de aprovar a adesão automática nos planos de previdência complementar corporativos, daqui a 20 anos vamos olhar para trás e pensar:

... foi lá atrás que precipitamos os problemas com o sistema de aposentadoria e detonamos a crise dos fundos de pensão

Por ser um assunto chato e complicado para a maioria as pessoas e por caminhar lentamente, um monte de gente não notou que da forma como foi aprovada a adesão automática nos planos CD, os estilhaços vão ricochetear em todos nós daqui a algumas décadas.

O preço econômico da liberdade

As pessoas que se aposentavam com um plano de benefício definido (BD) no passado, tinham direito a uma renda pré-determinada na aposentadoria.

No final da década 80, surgiram no Brasil os planos de contribuição definida (CD). Diferentes dos BD, nos planos CD a pessoa transforma um bolo de dinheiro (saldo de conta acumulado) num produto financeiro, que vai entregar uma renda até o saldo terminar.

Quando atinge a idade de aposentadoria nos planos de previdência complementar, geralmente entre 55 e 60 anos, a pessoa é livre para decidir, da maneira que quiser, como vai receber o benefício do plano CD.

Ela pode retirar gradualmente o dinheiro da poupança de aposentadoria e ir gastando aos poucos para viver, dosando as retiradas para não zerar o saldo.

Ou pode tirar uma parte à vista, na hora que se aposenta (geralmente limitada a 30% do saldo acumulado) – para renovar a cozinha, comprar um carro novo ou bem, para qualquer coisa – e ir retirando o resto do $$$ numa velocidade maior, para pagar as contas mês a mês.

Não há a opção de transformar todo o saldo de conta do plano CD, (no momento da aposentadoria, nem depois) numa renda vitalícia, poque as seguradoras não tiveram interesse no Brasil, em criar um mercado de anuidades.

É difícil argumentar contra a liberdade. Quem, não gosta da ideia de deixar as pessoas livres para tomarem suas decisões de como gastar seu próprio dinheiro?

Porém, as escolhas individuais, feitas livremente, tem consequências sobre os outros, mesmo quando se trata de gastar seu próprio dinheiro.

“As decisões dos participantes da previdência privada, não são um assunto inteiramente privado”



Temos uma gama de políticas públicas que encorajam a poupança em planos de previdência complementar, porque é bom para as pessoas terem dinheiro suficiente para viver com certa segurança financeira, depois da aposentadoria.

Em parte, isso é bom para as pessoas, mas também em parte, é bom para a sociedade porque se elas não tiverem dinheiro suficiente, os pagadores de impostos terão que sustentá-las e os contribuintes já recolhem bilhões de reais em impostos para financiar a previdência social.

A previdência complementar, portanto, não é um assunto inteiramente privado. Assegurar que todos tenham uma poupança de previdência complementar decente – e depois a usem com sensibilidade na aposentadoria – não é simplesmente uma questão de “liberdade”, porque as decisões que tomamos a respeito da nossa previdência complementar individual, tem consequências para os outros.

É exatamente por isso, que nos estágios iniciais do processo de participação em um fundo de pensão - enquanto estamos trabalhando ativamente e contribuindo para um plano de previdência complementar - não somos realmente “livres” para fazer o que quisermos. Sim, enquanto está trabalhando, você só pode acessar seu próprio dinheiro se terminar o vínculo de emprego com a empresa patrocinadora.

Se você pudesse resgatar todo o dinheiro do seu fundo de pensão a qualquer tempo, haveria consequências adversas para você e para toda a sociedade.

Então, temos políticas e regulamentações que “encorajam” fortemente as pessoas a poupar e não mexer no $$$ durante a vida ativa para, assim, formarem ao menos alguma poupança previdenciária.



Esse é o objetivo da adesão automática, que inclui o empregado recém-contratado no plano de previdência complementar da empresa, automaticamente. Tornamos indesejável e difícil o exercício da liberdade de escolha durante a vida ativa, para que as pessoas que participam de um plano CD poupem e ainda oferecemos incentivos fiscais para fazerem contribuições.

O papel do governo nas duas fases da aposentadoria

De modo geral, durante a fase de acumulação, nossas políticas públicas de previdência complementar são ligeiramente paternalistas e dão um empurrãozinho para que as pessoas caminhem na direção que o governo quer que as pessoas caminhem.

Ao atingir a idade de 55 a 60 anos, o paternalismo desaparece e a liberdade significa que você está mais ou menos entregue a sua própria sorte, cabendo a você achar o caminho, em geral sem te darem um mapa.

Essencialmente, durante várias décadas da sua vida profissional o Estado considera que você deve ser fortemente pressionado para fazer coisas sensatas e prudentes com o seu dinheiro, caso contrário, você pode fazer coisas insensatas que poderão prejudicar você e os outros.

Aí, quando você completa 55, 60 anos, o Estado dá um passo atrás, se retira de campo e diz: “Faça o que quiser, gaste tudo num carro esportivo ou na reforma da sua cozinha, gaste devagar ou gaste rápido, não nos importamos”.

Isso é inconsistente não apenas em termos filosóficos. Isso tem recebido pouca atenção dos políticos ao longo das décadas porque os efeitos de decisões como a implantação da adesão automática em planos CD, demoram para surgir.

A natureza lenta da formação da poupança previdenciárias e depois de seu gasto ao longo da aposentadoria (“acumulaçāo” e "desacumulaçāo”, para usar os termos do setor), significa que os efeitos da crise que vai se formar com a adesão automática nos planos CD levarão algum tempo para serem sentidos.

Para onde vai o dinheiro dos resgates?

Pesquisas internacionais mostram como as pessoas usam o dinheiro dos planos de previdência complementar, quando podem resgatar uma parte ou todo o saldo de conta na data da aposentadoria. Aqui na "Terra de Cabral" não temos estatísticas, mas esse comportamento humano não deve diferir muito entre países.


A pesquisa acima mostra que um alarmante número de pessoas que tem acesso imediato às suas poupanças previdenciárias, não está gastando o dinheiro (resgate) para investir e obter uma renda nas fases mais avançadas da vida.

Advinha o quê? As pessoas não estão usando a liberdade que os planos de previdência complementar lhes fornece, nem para fins previdenciários, nem para buscar segurança financeira futura.

Uma minoria de 35% das pessoas que resgataram 100% do saldo de um plano CD no Reino Unido, colocou ou pretendia colocar o $$$ em uma poupança ou investimento.

Em contraste, 47% disseram que usariam o dinheiro para “grandes despesas” e outros 21% pretendiam usá-lo imediatamente para pagar dívidas.

O que são “grandes despesas”? Bem, 25% disseram que usariam o $$$ de sua previdência para reformar a casa, 18% para viajar e 16% para as despesas diárias.

Apenas para ficar claro, não tem nada errado, per se, em poupar em um plano de previdência complementar e depois dos 50 usar o dinheiro para ter uma cozinha nova ou viajar – desde que você tenha dinheiro suficiente para fazer essas coisas e atender também o propósito original dessa poupança, que é obter segurança financeira na aposentadoria.  

Agora, tem uma pegadinha nisso. Muitas pessoas gastando o dinheiro do resgate numa cozinha ou num cruzeiro pelas Bahamas, ficarão OK na velhice – porque esse não é o único dinheiro que elas têm. Na geração que vai saindo de cena, muitas pessoas com 50, 60 anos contam com uma renda BD, além do plano CD. Então, gastar o $$$ do resgate do modesto plano CD, pode ser uma decisão perfeitamente razoável quando se tem outra renda BD que vai durar a vida toda.

Acontece que essa mistura de BD + CD acabou, mas ainda vai demorar umas duas décadas para isso produzir efeitos. Ou seja, vai demorar para vermos o resultado do cenário atual, em que pessoas com 60 anos, que entraram num plano de previdência complementar via adesão automática, contarão apenas com a renda de um plano CD.

Já é possível antecipar o que vai acontecer no futuro, mas até lá, aqueles responsáveis hoje pelas políticas publicas de previdência complementar, que aprovaram a adesão automática do jeito que foi concebida, terão saído do cenário político há muito tempo e estarão, possivelmente, desfrutando de seus generosos benefícios de renda vitalícia de planos BD.

O que o governo deveria fazer

As ações do governo no delineamento de políticas publicas deveriam se estender para a fase da desacumulaçāo, aquela em que a pessoa começa a gastar a poupança que acumulou durante a vida em um plano de previdência complementar.

As medidas possíveis variam desde incentivos e educação financeira - medidas necessárias, mas insuficientes - passando pelo estabelecimento de regras claras para o desenho e funcionamento dos planos de previdência complementar.

E claro, uma regulamentação urgente das seguradoras que leve a criação de um mercado de anuidades no Brasil, permitindo a compra de rendas vitalícias por quem assim o desejar. Deixado a própria sorte, com seguradoras que usam a mesma tábua atuarial, construída por elas mesmas (BR-EMS), o mercado de anuidades não vai rolar.

A regulamentação poderia exigir, por exemplo, que uma pequena parte (20%, 25%) de qualquer resgate de reserva de plano CD, na data da aposentadoria, fosse direcionada para compra de uma renda vitalícia.

Poderia exigir, também, que os operadores de planos de previdência complementar oferecessem aos participantes ferramentas, apoio e orientação efetivos na fase de desacumulaçāo.

Finalmente, deveria assegurar que a pessoa que entrou num plano de previdência complementar via adesão automática, esteja poupando o suficiente ao longo da carreira. O mesmo viés de comportamento usado para justificar a necessidade da adesão automática (a procrastinação e a inércia) passam a atuar em desfavor da formação de uma poupança adequada depois que a pessoa entrou no plano.



Um problema do congresso

Ao longo das últimas décadas houve praticamente zero debate na sociedade sobre a previdência complementar e quase nenhuma alteração no desenho dos planos.

Os problemas da desacumulação, da falta de um mercado de anuidades e da inadequação da renda gerada pelos planos CD, continuam praticamente inalterados e sem discussão.

Ainda assim, em 2024, é fácil imaginar um mundo em que as pessoas dependem apenas de planos CD - o mundo, certamente, dos nossos filhos.

Depois de acumular certa soma em dinheiro durante a vida profissional, as pessoas terão que descobrir como usar essa poupança para se manter pelo resto da vida.

Isso implica adivinhar quanto tempo viverão, qual será a inflação, quanto gastarão com assistência médica... em outras palavras, prever coisas que são muito difíceis ou impossíveis de prever, sem contar com boa informação nem ajuda sobre suas escolhas.

Acho que tudo que foi descrito nesse artigo pode ser interpretado como uma dica bastante clara para os políticos prestarem mais atenção a previdência complementar. Mas será que os políticos darão ouvido?

Nesse momento, o assunto nem aparece na agenda política. É técnico demais, complicado demais, distante demais do foco dos políticos, ainda mais em um ano de eleição, coisa de atuário, se diz por aí.

Não obstante, na medida em que mais e mais de nós atingir a idade de aposentadoria e depender apenas de um plano CD para viver, nossos “líderes”, eventualmente, terão que começar a prestar atenção para aqueles de nós que não conta com os benefícios dos regimes de aposentadoria, desfrutados pelos responsáveis pelo delineamento de políticas publicas de previdência complementar.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “A pension crisis is brewing”, escrito por Jams Kirkup.


sexta-feira, 22 de março de 2024

A "TOKENIZAÇĀO" DE ATIVOS VAI DEMOCRATIZAR O ACESSO DA POPULAÇĀO AOS INVESTIMENTOS: SEU FUNDO DE PENSĀO ESTÁ PREPARADO?




De Sāo Paulo, SP.

A tecnologia do blockchain pode ser um componente chave para reduzir as desigualdades no mundo, ao tornar os investimentos em ativos financeiros acessíveis a qualquer um com um smartphone e uma crypto wallet grátis (carteiras digitais de cryptoativos não custam nada).

Graças a Internet, a maioria das pessoas comuns no mundo hoje tem acesso a mais informações do que as pessoas mais poderosas tinham há algumas décadas. Agora, a tecnologia do blockchain tem o potencial de fazer o mesmo com os investimentos.

Imagine um mundo onde em poucos segundos, através do celular, alguém na Argentina (ou em Jundiai, no interior de SP) pode investir R$ 100 de valor em um imóvel comercial na Indonésia, para proteger sua poupança do risco Brasil.

Alguns anos depois, digamos que essa pessoa precise do dinheiro por qualquer motivo, para gastar aqui mesmo. Ela pode, simplesmente, vender sua participação (seu token digital) e usar o dinheiro ou uma stablecoin como meio de pagamento para fazer o que quiser, onde quiser.

Quer um meio melhor de uma empresa demonstrar sua seriedade com os aspectos ESG do que tokenizar seu controle? Isso não apenas aumentaria seu acesso em termos de obtenção de capital, mas também em transações subsequentemente.

Vamos pegar a Vale como exemplo. Hoje em dia, milhares de pessoas são acionistas da Vale. Muitas se beneficiam da criação de valor pela companhia. Isso significa que elas foram os fundadores que criaram inicialmente a companhia? Que investiram antes da empresa lançar ações na bolsa de valores? Nāo!

Da mesma maneira que a existência do mercado de ações democratizou o acesso aos investimentos, a tecnologia do blockchain vai permitir que a sociedade alcance resultados ainda melhores para todo tipo de investimento – seja publico ou privado – através de carteiras digitais, cryptomoedas (incluindo stablecoins), plataformas de tokenizaçāo e investimentos pessoa-a-pessoa. Os benefícios sociais de um sistema assim, são massivos.



O que significa “Tokenizaçāo”?

Definição: tokenizaçāo é o processo de emissão de um token no blockchain, que representa digitalmente e legalmente um ativo real.

Em linguagem mais simples: tokenizaçāo é a digitalização de bens e ativos físicos - como uma casa, um carro, uma ação negociada em bolsa de valores, um título de renda fixa, commodities (ex.: agrícolas) etc. – transformando-os em representações digitais que podem ser fracionadas (reduzidas em partes menores) e são facilmente negociáveis, por exemplo, via seu smarthphone.

O processo de tokenizaçāo de imóveis é o meio mais fácil para entender o conceito, porque a grande maioria das pessoas tem alguma relação com o mercado imobiliário, seja como inquilino ou proprietário de um imóvel residencial ou comercial (escritórios).

O investimento no mercado imobiliário depende de vasta documentação em papel, é um processo que consome muito tempo e tem baixa liquidez, quase zero liquidez. Por isso a tokenizaçāo de imóveis tem sido priorizada.

O processo para tokenizaçāo de um imóvel e de outros ativos físicos é semelhante.

Alguns benefícios da tokenizaçāo de ativos físicos

  • Aumenta a eficiência, reduz custos (10x) e economiza tempo
    • Digitalização e automação dos processos
    • Governança (reunião e votação de “acionistas” / cotistas) automática
    • Compliance automática
    • Eliminação de erros humanos

  • Introduz novas capacidades
    • Liquidez instantânea (de 0 a 1) e mercado secundário global
    • Possibilita trading P2P, wallet-to-wallet sem risco de contraparte
    • Permite que o investidor pague em dinheiro ou stablecoins
    • Paga os aluguéis e dividendos em dinheiro ou stablecoins
    • Propriedade fracionada / democratização dos investimentos

  • Facilita o investimento
    • Mercado funciona 24x7
    • “Ações” / cotas digitais, facilmente transferíveis
    • Baixíssimo custo das transações
    • Rápida liquidação do investimento
    • Aumenta a diversificação e acesso a novos tipos de investidores

  • Trás outros benefícios
    • Padrões globais e interoperacionalidade
    • Internacionalização dos investimentos
    • Permite o investimento na maioria das moedas
    • Transações registradas em log, transparência e rastreabilidade

A grande mudança de paradigma com a tokenizaçāo é a possibilidade de fracionar os ativos, empresas e fundos, em participações tāo pequenas quanto R$100, levando a democratização dos investimentos.

Ao reduzir o ticket dos investimentos através da fracionalizaçāo, pessoas com renda mais baixa passam a poder investir em imóveis, açōes, obras de infraestrutura etc.

Para aqueles que acham que tudo isso é apenas conceitual, sugiro dar uma olhada nesses links de uma plataforma funcionando a todo vapor em 40 países, a  DIGISHARES.

Ou entāo , sugiro ler sobre o fundo de investimentos chamado BUILD, recém lançado pela BlackRock, com “ativos tokenizados” registrados na rede de blockchain Ethereum. O nome BUILD é o acrônimo para BlackRock USD Institutional Digital Liquidity Fund (BUILD, sacou?).

Para os nāo iniciados, RWA ou Real World Assets (em traduçāo livre seria algo tipo, Ativos na Vida Real) é um segmento da cryptoeconomia que envolve “tokenizar” e representar um ativo fisico “onchain”, i.e., no blockchain.

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Quer uma apresentaçāo para o conselho deliberativo do seu fundo de pensāo sobre o que vem pela frente? Me bate um fio …

Grande abraço,

Eder.

quarta-feira, 20 de março de 2024

A CIÊNCIA POR TRÁS DE ENVELHECER E ESQUECER E A IMPORTÂNCIA DO CONSELHEIRO EXPERIENTE NO CONSELHO DO SEU FUNDO DE PENSĀO

 



De Sāo Paulo, SP.


Solomon Shereshevsky, um jornalista russo dos anos 1920, era conhecido como “O homem que não esquecia”. Sem qualquer esforço, Shereshevsky era capaz de lembrar longas sequências de números, poesias em línguas que ele não falava, fórmulas científicas complexas que ele nunca aprendera e qualquer bobagem.

Esses superpoderes, porém, cobraram seu preço. Sobrecarregado com dados irrelevantes, ele lutava para filtrar, priorizar e esquecer o que não precisava mais. 

Em seus últimos anos, desesperado, com a mente desordenada e inundada por informações, Shereshevsky bebeu até morrer. Sua história serve de advertência para a importância não só de lembrarmos, mas de esqueceremos.

“Apesar de maldizermos o esquecimento, todo mundo esquece e esquecer desempenha um papel essencial na manutenção de nossa saúde cognitiva ao longo da vida”

Quem diz isso foi Lisa Genova, autora do livro “Remember: The Science of Memory and the Art of Forgetting” (Lembrar: A ciência da Memória e a Arte de Esquecer). 

“Um sistema inteligente de memória, não apenas lembra das informações, mas também esquece ativamente qualquer coisa que não é mais útil”, complementa.

Prestar atenção: é por isso que esquecemos

A maior causa de esquecimento entre as pessoas de todas as idades, é a falta de atenção. Já aconteceu com você, fazer uma rota familiar – tipo, ir da sua casa para o trabalho – e não se lembrar de algum ponto específico do trajeto, que sofreu alguma alteração (ex.: uma nova loja) ao passar por ele?

Pois é, porque você não lembra? Porque depois de repetir várias vezes o trajeto, seu cérebro entra em piloto automático. Você deixa de notar os detalhes e não cria uma nova memória permanente. 

Quer um exemplo? Considere o teste com o logotipo da Apple. Uma imagem icônica, que todos deveríamos ser capazes de lembrar, certo? Num estudo de 2015, feito com 85 estudantes da UCLA, só um deles foi capaz de desenhar o logo de memória e menos da metade conseguiu identificar a alternativa correta, dentre essas abaixo. Você consegue dizer qual é o logo correto? (resposta no final do artigo). 

 

Conclusão: vemos muita coisa, mas não notamos quase nada. O ingrediente vital, independente da idade, é atenção.

O cérebro experiente nos conselhos

No curso normal do envelhecimento, acontecem mudanças numa área do cérebro chamada de córtex pré-frontal, que afetam a lembrança.

Memória prospetiva – tentar lembrar de algo que você precisa fazer no futuro, geralmente leva uma pancada com o envelhecimento. 

Um dos mais famosos violoncelistas do mundo, Yo-Yo Ma, quando tinha cerca de 40 e poucos anos de idade, esqueceu seu violoncelo avaliado em US$ 2,5 milhões no porta-malas de um táxi (por sorte, conseguiu recuperá-lo no dia seguinte).


Credito de Imagem: www.yo-yoma.com


Os adultos mais velhos passam por um declínio na memória de trabalho. Isso significa que se você tiver que se lembrar de uma senha de seis números, terá mais dificuldade aos 60 anos do que aos 40. Alem disso, sentirá um declínio na velocidade em que conseguirá relembrar.

Por outro lado, adultos mais velhos são melhores em reter as informações que aprenderam, mantida na chamada memoria semântica.

Ao longo da vida as pessoas retém e aumentam o vocabulário. Pessoas mais velhas são melhores do que as jovens em fazer palavras-cruzadas e falar línguas estrangeiras. Akira Haraguchi, um engenheiro japonês aposentado, recitava de memoria 100.000 dígitos do PI.

Os mais velhos se saem melhor do que os jovens quando se trata de combinar e utilizar ideias complexas. Embora não sejam tão bons quanto eles em assimilar as novidades, a partir dos 40 anos as pessoas se destacam no uso e no compartilhamento com os outros dos conceitos que aprenderam.

Aplicar conceitos complexos é um sinal de memória cristalizada – i.e., o conhecimento armazenado e acumulado ao longo do tempo. O aprendizado contínuo e a socialização, fazem a inteligência cristalizada aumentar ao longo da maior parte da vida. 

A capacidade cognitiva que costuma aparecer nas idades mais avançadas, traz um maior nível de discernimentos e também insights melhores. Em outras palavras, a sabedoria emerge com o tempo.

A sabedoria se manifesta de muitas formas. Permite enxergar um cenário mais amplo, exercitar a inteligência emocional, demonstrar compaixão, tomar decisões com base numa perspetiva mais abrangente, evitar o pensamento dicotômico do tipo preto ou branco etc. 

Quando você é jovem, você tem inteligência no estado bruto. Quando você é mais velho, você tem sabedoria. Quando você é jovem, você é capaz de mencionar e fazer referência a um monte de informações. Quando você é mais velho, você sabe o que elas significam e como usá-las. 

Essas podem ser as capacidades cognitivas mais valiosas de todas.

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A resposta correta do Teste com o logotipo da Aplle é a alternativa B.


Grande abraço,

Eder.


Fonte” The Brain Science Behind Aging and Forgetting”, Kathleen Murphy.




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