De Sāo Paulo, SP.
Solomon Shereshevsky, um jornalista russo dos anos 1920, era conhecido como “O homem que não esquecia”. Sem qualquer esforço, Shereshevsky era capaz de lembrar longas sequências de números, poesias em línguas que ele não falava, fórmulas científicas complexas que ele nunca aprendera e qualquer bobagem.
Esses superpoderes, porém, cobraram seu preço. Sobrecarregado com dados irrelevantes, ele lutava para filtrar, priorizar e esquecer o que não precisava mais.
Em seus últimos anos, desesperado, com a mente desordenada e inundada por informações, Shereshevsky bebeu até morrer. Sua história serve de advertência para a importância não só de lembrarmos, mas de esqueceremos.
“Apesar de maldizermos o esquecimento, todo mundo esquece e esquecer desempenha um papel essencial na manutenção de nossa saúde cognitiva ao longo da vida”
Quem diz isso foi Lisa Genova, autora do livro “Remember: The Science of Memory and the Art of Forgetting” (Lembrar: A ciência da Memória e a Arte de Esquecer).
“Um sistema inteligente de memória, não apenas lembra das informações, mas também esquece ativamente qualquer coisa que não é mais útil”, complementa.
Prestar atenção: é por isso que esquecemos
A maior causa de esquecimento entre as pessoas de todas as idades, é a falta de atenção. Já aconteceu com você, fazer uma rota familiar – tipo, ir da sua casa para o trabalho – e não se lembrar de algum ponto específico do trajeto, que sofreu alguma alteração (ex.: uma nova loja) ao passar por ele?
Pois é, porque você não lembra? Porque depois de repetir várias vezes o trajeto, seu cérebro entra em piloto automático. Você deixa de notar os detalhes e não cria uma nova memória permanente.
Quer um exemplo? Considere o teste com o logotipo da Apple. Uma imagem icônica, que todos deveríamos ser capazes de lembrar, certo? Num estudo de 2015, feito com 85 estudantes da UCLA, só um deles foi capaz de desenhar o logo de memória e menos da metade conseguiu identificar a alternativa correta, dentre essas abaixo. Você consegue dizer qual é o logo correto? (resposta no final do artigo).
Conclusão: vemos muita coisa, mas não notamos quase nada. O ingrediente vital, independente da idade, é atenção.
O cérebro experiente nos conselhos
No curso normal do envelhecimento, acontecem mudanças numa área do cérebro chamada de córtex pré-frontal, que afetam a lembrança.
Memória prospetiva – tentar lembrar de algo que você precisa fazer no futuro, geralmente leva uma pancada com o envelhecimento.
Um dos mais famosos violoncelistas do mundo, Yo-Yo Ma, quando tinha cerca de 40 e poucos anos de idade, esqueceu seu violoncelo avaliado em US$ 2,5 milhões no porta-malas de um táxi (por sorte, conseguiu recuperá-lo no dia seguinte).
Os adultos mais velhos passam por um declínio na memória de trabalho. Isso significa que se você tiver que se lembrar de uma senha de seis números, terá mais dificuldade aos 60 anos do que aos 40. Alem disso, sentirá um declínio na velocidade em que conseguirá relembrar.
Por outro lado, adultos mais velhos são melhores em reter as informações que aprenderam, mantida na chamada memoria semântica.
Ao longo da vida as pessoas retém e aumentam o vocabulário. Pessoas mais velhas são melhores do que as jovens em fazer palavras-cruzadas e falar línguas estrangeiras. Akira Haraguchi, um engenheiro japonês aposentado, recitava de memoria 100.000 dígitos do PI.
Os mais velhos se saem melhor do que os jovens quando se trata de combinar e utilizar ideias complexas. Embora não sejam tão bons quanto eles em assimilar as novidades, a partir dos 40 anos as pessoas se destacam no uso e no compartilhamento com os outros dos conceitos que aprenderam.
Aplicar conceitos complexos é um sinal de memória cristalizada – i.e., o conhecimento armazenado e acumulado ao longo do tempo. O aprendizado contínuo e a socialização, fazem a inteligência cristalizada aumentar ao longo da maior parte da vida.
A capacidade cognitiva que costuma aparecer nas idades mais avançadas, traz um maior nível de discernimentos e também insights melhores. Em outras palavras, a sabedoria emerge com o tempo.
A sabedoria se manifesta de muitas formas. Permite enxergar um cenário mais amplo, exercitar a inteligência emocional, demonstrar compaixão, tomar decisões com base numa perspetiva mais abrangente, evitar o pensamento dicotômico do tipo preto ou branco etc.
Quando você é jovem, você tem inteligência no estado bruto. Quando você é mais velho, você tem sabedoria. Quando você é jovem, você é capaz de mencionar e fazer referência a um monte de informações. Quando você é mais velho, você sabe o que elas significam e como usá-las.
Essas podem ser as capacidades cognitivas mais valiosas de todas.
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A resposta correta do Teste com o logotipo da Aplle é a alternativa B.
Grande abraço,
Eder.
Fonte” The Brain Science Behind Aging and Forgetting”, Kathleen Murphy.
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