segunda-feira, 8 de junho de 2020
O DESAPARECIMENTO DOS BANCOS E OS POSSÍVEIS IMPACTOS PARA OS FUNDOS DE PENSÃO
De São Paulo, SP.
Dois estudos sobre as implicações de uma CBDC – Central Bank Digital Currency ou Moeda Digital emitida por Banco Central, sem nenhuma ligação um com o outro, chegaram a mesma conclusão: o dinheiro digital pode efetivamente competir com o atual sistema de bancos comerciais e mais dia menos dia, vir a substitui-lo.
Uma moeda com base digital ou CBDC seria o mesmo que o dinheiro atual na forma digital e sua maior diferença para uma criptomoeda ou moeda virtual, é que seria uma moeda estabelecida como dinheiro por regulamentação governamental, por uma autoridade monetária ou por lei.
Um dos estudos, feito pelo Banco Central da Filadélfia – EUA (https://bit.ly/30cx2DW), investigou as implicações de CBDCs baseadas em contas. Focou a competição em potencial dos CBDCs om o papel dos bancos comerciais, cujas transformações já estão atingindo um ponto de maturação.
O outro estudo foi conduzido pelo expert em fintechs e blockchain da ONU (https://www.coindesk.com/cbdc-low-interest-bank-accounts-un-expert), o Massimo Buonomo. De acordo com ele o dinheiro digital, particularmente as CBDCs, podem em breve eliminar a necessidade de uma conta corrente bancária.
(Dis)ruptura de bancos e cartões de crédito
Quinta feira da semana passada, ao falar em um painel sobre o a ordem econômica global no mundo pós COVID-19, Massimo disse que os bancos e as administradoras de cartão de crédito há muito tempo formaram um duopólio nos meios digitais de pagamento, mas o advento das moedas digitais mostrou que os consumidores podem “escanteá-los” completamente.
Massimo avalia que as reduzidas taxas de juros tornarão crescentemente obsoletos os depósitos a vista nas contas corrente dos bancos comerciais.
Taxas zero ou negativas compõem um cenário corroborado por um estudo publicado pelo Banco da Inglaterra agora em janeiro/2020 que já mencionei algumas vezes aqui em artigos e posts. Intitulado “Eight centuries of global real interest rates, R-G, and the ‘suprasecular’ decline, 1311–2018", o trabalho sugere que, independentemente de respostas fiscais e monetárias específicas, as taxas de juros reais podem em breve entrar em território negativo permanentemente! (Paper completo aqui: https://bit.ly/2tHv0O8)
Um território de taxas zero ou negativas, impostas pelos bancos centrais como política monetária para incentivar o crédito e fazer a economia girar, pode simplesmente acelerar o processo de desaparecimento dos bancos ao encorajar os correntistas a procurar retorno em outro lugar. Afinal, quem estaria disposto a pagar ao banco em vez de receber, ao investir seu dinheiro?
Massimo tem razão, sem o atrativo dos juros - talvez o único que existe hoje - para que manter conta em banco quando você pode efetuar pagamentos eletrônicos facilmente através do dinheiro digital? O mesmo vale para os cartões de crédito cujo modelo de negócio foi montado grandemente em cima do pagamento de juros pelo consumidor.
A coisa só piora para o lado dos bancos e cartões de crédito com a fricção causada nos clientes pelas taxas de administração e cobrança por transações, sem falar na vulnerabilidade das contas e cartões aos ataques de hackers.
Em contraste, as moedas digitais permitem que as pessoas guardem o dinheiro em carteiras virtuais, paguem contas digitalmente e usem o celular dispensando a necessidade de cartões de débito ou crédito. Tudo isso sem taxas para administradoras de cartões de crédito e sem taxas para os bancos transferirem seu dinheiro.
In blockchain ou off chain?
A ONU já usou criptomoedas em uma serie de iniciativas, desde enviar ajuda humanitária para 10.000 refugiados na Síria (https://bit.ly/2UeAytM) através da plataforma Ethereum até a criação de um fundo para aceitar, manter e enviar doações para a UNICEF (https://bit.ly/2Xzlf0I) em “criptos”, como bitcoin e ether, duas criptomoedas públicas.
No entanto, ainda não está claro que tipo de dinheiro digital poderá substituir as onipresentes contas bancárias e o dinheiro em papel.
Devido às limitações tecnológicas de velocidade e implicações de privacidade, a maioria dos blockchains públicos usados pelas criptomoedas são inadequados para o dinheiro digital na dimensão requerida por um país. A taxa de transferência no primeiro caso e a necessidade de um controle abrangente do sistema pelas autoridades de regulação no segundo, empurram a escolha para uma moeda digital emitida diretamente por um banco central.
Uma pesquisa feita pelo Journal Central Banking (https://bit.ly/2UfM9bR) em fevereiro passado com o banco central de 46 países, mostrou que 65% deles já estão estudando a criação de uma moeda digital, mas apenas um indicou que pretende usar blockchain.
A questão que fica é se os bancos centrais dependerão dos bancos comerciais para distribuir dinheiro digital, como é feito hoje com papel ou partirão para uma abordagem mais radical e disruptiva distribuindo dinheiro digital diretamente para os cidadãos.
Impacto nos fundos de pensão
Massimo sugere que os bancos centrais peguem carona nos sofisticados sistemas de pagamento da previdência social existentes em vários países, para distribuir dinheiro digital para os mais necessitados, como desempregados e inválidos.
Nesse cenário, a emissão de moedas digitais pelos bancos centrais tornaria os sistemas de previdência social no novo modelo de distribuição no lugar dos bancos.
Indo um pouco mais longe e usando a imaginação, os fundos de pensão poderiam desenvolver um novo modelo de negócios, mantendo sua característica de organizações sem fins lucrativos.
Nessa configuração hipotética, os fundos atuariam junto aos sistemas de previdência social recebendo diretamente nas contas dos participantes ativos e aposentados a moeda digital e servindo como meio de distribuição complementar.
Seria mais ou menos como se as atuais contas de previdência fossem catapultadas, passando a funcionar também como contas bancárias.
Durante o painel “Beyond Tainted Coins: The Future of Onchain Forensics” do maior congresso mundial de blockchain e criptomoeda ouvi em maio passado a previsão de que em 10 anos todos os países terão sua moeda digital.
Se os pesquisadores da Filadelfia e o especialista da ONU estiverem corretos, uma frase de Bill Gates vai se mostrar mais atual do que nunca. Certa vez ele disse: "banking is necessary, banks are not", em tradução livre seria algo como "os serviços bancários são necessários, os bancos não".
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do texto escrito por Daniel Kuhn para o BlockchainBites.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Hora no Mundo?
--------------------------------------------------------------------------
Direitos autorais das informações deste blog
A obra Blog do Eder de Eder Carvalhaes da Costa e Silva foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em nkl2.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://nkl2.blogspot.com/.
Autorizações
As informações publicadas nesse blog estão acessíveis a qualquer usuário, mas não podem ser copiadas, baixadas ou reutilizadas para uso comercial. O uso, reprodução, modificação, distribuição, transmissão, exibição ou mera referência às informações aqui apresentadas para uso não-comercial, porém, sem a devida remissão à fonte e ao autor são proibidos e sujeitas as penalidades legais cabíveis. Autorizações para distribuição dessas informações poderão ser obtidas através de mensagem enviada para "eder@nkl2.com.br".
Código de Conduta
Com relação aos artigos (posts) do blog:
1. O espaço do blog é um espaço aberto a diálogos honestos
2. Artigos poderão ser corrigidos e a correção será marcada de maneira explícita
3. Não se discutirão finanças empresariais, segredos industriais, condições contratuais com parceiros, clientes ou fornecedores
4. Toda informação proveniente de terceiros será fornecida sem infração de direitos autorais e citando as fontes
5. Artigos e respostas deverão ser escritos de maneira respeitosa e cordial
Com relação aos comentários:
1. Comentários serão revisados depois de publicados - moderação a posteriori - no mais curto prazo possível
2. Conflitos de interese devem ser explicitados
3. Comentários devem ser escritos de maneira respeitosa e cordial. Não serão aceitos comentários que sejam spam, não apropriados ao contexto da dicussão, difamatórios, obscenos ou com qualquer violação dos termos de uso do blog
4. Críticas construtivas são bem vindas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário