De São Paulo, SP.
Existe um ditado Dinamarquês que diz mais ou menos o seguinte: “é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”.
No entanto, quando alguém faz uma previsão que você realmente acredita muito que vai acontecer, que você genuinamente aposta que vai se transformar em realidade, fica difícil não dar ouvidos.
Pois é! As previsões # 3 e # 13 dentre as “21 Previsões para 2021”, que acabam de ser publicadas pela RIADAC, se encaixam nesse caso. Elas dizem mais ou menos o seguinte:
# 3. “Para os serviços do sistema financeiro – abrangendo firmas de planejamento financeiro e seus profissionais, investidores institucionais, gestores de investimentos, fundos mútuos e fundos de hedge, passando por fundos de pensão, family offices e departamentos financeiros das grandes corporações – o risco de reputação vai se deslocar do “porquê você investiu nisso” para “porque você não investiu nisso”? Ao final de cada trimestre, na medida que os gestores de ativos tentarem justificar suas falhas, veremos varridas para debaixo do tapete as verdadeiras razões de não terem investido em ativos digitais.
# 13. “A tokenização vai disparar como um foguete e afetar ativos de todos os tipos – de tangíveis, como imóveis e itens colecionáveis (definição: aqui ) a intangíveis, como royalties de música e contratos profissionais com atletas/times esportivos ou artistas de cinema/TV/radio. Os tokens ganharão tração, preparando terreno para a explosão dos ativos digitais que acontecerá nessa década de 2020.
Ah, existem outras 19 previsões na lista da RIA Digital Asset Council e você pode encontrar todas elas: aqui.
Deixando as previsões de lado
Estima-se que ao longo dos últimos 12 anos um valor de cerca de US$ 1 trilhão passou a existir na economia global. Pode ser um pouco mais, um pouco menos, uns US$ 100 bilhões de variação pra lá ou pra cá.
Um dia esse valor pode chegar a US$ 10 trilhões ou US$ 100 trilhões ou permanecer em US$ 1 trilhão para sempre ou pode ir a US$ 0.
Independentemente do que vier a acontecer, esse US$ 1 trilhão em valor já se materializou e cresceu desde 2008 em redes financeiras baseadas no blockchain.
Já está aqui.
Se você é um investidor institucional, um planejador financeiro individual ou um fundo de pensão, você perdeu US$ 1 trilhão em valorização do capital do seu cliente ou participante. Pode perder mais.
Independente de como se analise, a verdade é que os cryptoativos têm sido desaconselhados, mal compreendidos e subrepresentados no portfolio dos clientes pela maioria dos profissionais de investimentos. Os cryptoativos também não têm sido distribuídos pelos agentes fiduciários para o mercado massificado.
Ao invés disso, os cryptoativos vêm sendo: (i) incluídos nos portfolios do varejo dominados por pessoas físicas, via corretoras de cryptoativos ou apps descentralizados; ou (ii) empacotados e protegidos para negociação segura por novos fundos que compram ativos para os maiores family offices e fundações filantrópicas / endowments do mundo.
Isso significa que são os investidores individuais e os investidores mais afluentes no mercado de varejo que estão investindo em cryptoativos e tem feito isso por conta própria, através de traders e carteiras digitais / wallets como Coinbase, Binance, Etoro ou Metamask.
Curiosamente, as pessoas que investem em cryptoativos adotam uma estratégia ativa em oposição ao marasmo dos investimentos passivos que tomou conta tanto do mercado de varejo (pessoas físicas) como de atacado (investidores institucionais como fundos de pensão).
O padrão passivo dos investimentos se disseminou no mercado de renda variável com fundos de pensão e pessoas físicas alocando grande parte dos patrimônios em fundos de ações e ETFs mundo afora. É fácil entender a razão.
Gestores de ativos e planejadores financeiros, cuja receita é baseada em taxas de administração, preferem uma alocação diversificada e barata que entregue retornos equilibrados em um mercado estável. Isso é logico. É estatístico. É pura matemática. Quem vai discutir com Bill Sharpe?
Corretoras de valores e planejadores financeiros americanos possuem hoje cerca de US$ 10 trilhões em ativos sob gestão, a maior parte disso seguindo estratégias passivas (gráfico abaixo).
Está claro que nem “as massas” nem os clientes institucionais estão sendo aconselhados pelos gestores de investimentos sobre cryptoativos e assim, vai ficando de lado o que realmente importa: agregar valor ao capital.
Clientes e participantes deixarão de ser seus clientes e participantes se os cryptoativos atingirem US$ 10 trilhões. Apenas para lembrar:
- O M1 nos EUA (dinheiro em circulação + depósitos a vista) soma US$ 7 trilhões;
- A capitalização de mercado das empresas de tecnologia da NASDAQ durante a bolha das “.com” era de US$ 3 trilhões;
- Todo o ouro do mundo soma US$ 8 trilhões;
- Todas as reservas internacionais / cambiais somam US$ 10 trilhões;
- O total de ações no mundo gira em torno de US$ 100 trilhões;
- Todos as classes de ativos (incluindo imóveis, arte e o contratos futuros de torresmo) totalizam US$ 500 trilhões.
Os nerds da comunidade crypto é que são os malucos?
Teoria dos jogos, bancos e fundos de pensão
A teoria dos jogos distingue-se na economia na medida em que procura encontrar estratégias racionais em situações em que o resultado depende não só da estratégia própria de um agente e das condições de mercado, mas também das estratégias escolhidas por outros agentes que possivelmente têm estratégias diferentes, mas objetivos comuns (fonte: Wikipidia).
Pois a teoria dos jogos tem sido incapaz de apontar caminhos para o atual modelo de negócios de bancos e fundos de pensão, cuja concentração e diminuição em ritmo acelerado prenuncia que se nada for feito, haverá disrupção em breve.
A concentração de depósitos nos grandes bancos, aqueles com atuação nacional nos EUA como JP Morgan e Citi, têm disparado, enquanto nos pequenos bancos com operações locais ou estaduais vem caindo. (gráfico abaixo).
Não só isso, a quantidade de bancos nos EUA que conta com garantia federal em caso de quebra, diminuiu quase que pela metade nos últimos 20 anos (gráfico a seguir).
O mesmo quadro de redução e concentração em busca de escala se verifica não apenas com os bancos no Brasil e em outros países, mas também com a quantidade de fundos de pensão em queda livre aqui e nos quatro cantos do mundo.
Paralelamente, vemos Facebook, Google e Amazon tentando engolir os serviços bancários. Vemos empresas desenvolvendo produtos baseados em ativos digitais, para poderem competir globalmente. Vemos fintechs como Square e SoFi atuando com uma pegada de distribuição digital que abrange várias regiões e inclui serviços tão amplos quanto poupança, investimentos, saúde, crédito, comercio digital e meios de pagamentos.
A regulação pode até salvar bancos e fundos de pensão da extinção no médio prazo, mas a verdade é que sem procurar entender as novas classes de ativos digitais, sem testar os investimentos emergentes em cryptoativos e sem participar da construção dessa nova economia, clientes e participantes ficarão olhando do lado de fora, a valorização do capital acontecendo do lado de dentro.
Se eu consigo testar isso em nível individual, buscando espelhar uma filosofia de investimento de longo prazo como na previdência, imagino que experts da área de investimentos dos fundos de pensão também consigam.
Minha brincadeira com a cryptomoeda ETH renderia $ 11.411 em pouco mais de dois meses e meio (20/out/2020 até 13/jan/2021), para um investimento de $ 9.800 (figura abaixo).
Estou apostando que esse retorno atinja uns $200.000 em quatro anos, mas pode-se ter $0 no final das contas. Testes são assim mesmo, o importante é aprender.
Toda decisão de negócios começa com uma pergunta. O conselho deliberativo do seu fundo de pensão já se perguntou: “Que diabos são esses cryptoativos e como podemos investir com segurança nessas classes emergentes de ativos digitais?”
Não perguntou ainda? Puxa vida, pensei que comprar na alta e vender na baixa fosse coisa de amadores .... lembre-se, sou um "professional prococateur"!
Grande abraço,
Eder.
Fonte: How the OCC is building Crypto America and saving banks from extinction, The Fintech Blueprint.
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