De São Paulo, SP.
Os investidores estão loucos pelo próximo IPO - Initial Public Offer ou “Oferta Primaria de ações”, principalmente por causa dos ganhos extraordinários alcançados nos IPOs mais recentes.
O Renaissance IPO Index é um índice que compra ações cinco dias depois das empresas fazerem seu IPO e "senta em cima" delas, mantendo-as em carteira por dois anos. Em 2020 esse índice, cujo código na NYSE é IPOUSA, valorizou 110% contra 18,4% do S&P500.
As dez maiores empresas na composição do IPOUSA em 31 de dezembro de 2020 eram Peloton, Uber, Zoom Video, CrowdStrike, Pinterest, Slack, Datalog, Avantor, Palantyr e Lift.
Uma das principais razões para uma empresa abrir o capital é ser listada em bolsa de valores para que suas ações sejam negociadas milhares de vezes por segundo. Assim, suas ações passam a ter uma liquidez inigualável permitindo que os investidores iniciais – os primeiros a apostar na empresa – possam deixar o investimento de forma suave, vendendo suas ações.
A oferta de ações no mercado cria valor para a empresa que ao ser transformado em dinheiro pode ser usado, por exemplo, para remunerar empregados ou adquirir rivais.
O Airbnb ficou tão rico com seu recente IPO que pôde até se dar ao luxo de pagar os donos dos imóveis em Washington – DC para os manterem vazios durante toda a semana da posse do novo presidente americano. Nos meses pré-IPO, o Airbnb estava pelejando para recompensar proprietários pelos cancelamentos de reservas por causa do Covid-19.
Mas tem uma pegadinha nisso tudo. O processo de abertura de capital é doloroso e custa muito caro paras as empresas. Os grandes bancos, principalmente aqueles com atuação global, cobram os olhos da cara. Os honorários chegam a 7% do valor da transação e ainda favorecem seus grandes clientes que chegam a faturar bilhões de dólares sem nenhum trabalho.
Muitas empresas que fizeram seus IPOs suspeitam que os bancos fazem um dinheiro extra com os IPOs, cujos ganhos indiretos podem exceder em muito os honorários “oficiais”.
Só se abre o capital uma vez, por isso os CEO tendem a ser muito conservadores sobre a forma de fazer a oferta primária de ações de suas empresas.
Após o sucesso alcançado pelo Spotify em 2008 com a Listagem Direta na bolsa - sem levantar capital com oferta primária de ações - muitas empresas perceberam que poderiam adotar novas formas para fazer seu IPO.
A SoFi, por exemplo, usou uma SPAC – Special Purpose Acquisition Company (explicação mais adiante) para fazer o seu IPO.
Veja as diferentes estruturas que vem sendo cada vez mais utilizadas pelos conselhos de administração e suas empresas para fazer seu IPO, cada uma escolhendo aquela que melhor se adequa aos seus objetivos específicos.
- Listagem Hibrida – no IPO tradicional, o banco que está estruturando a operação é que determina o preço da oferta primária das ações. Na Listagem Hibrida essa definição é tirada das mãos do banco. Os investidores são forçados a dar lances em um leilão, competindo entre si, para determinar o preço do IPO. Empresas que usaram recentemente esse sistema incluem o Google, a Unity Software e o Airbnb.
- Listagem Direta – esse sistema permite que as empresas abram o capital sem levantar nenhum dinheiro. A empresa é listada em bolsa sem que um preço das ações seja definido no IPO. O ruim desse sistema é que a empresa não levanta nenhum dinheiro. Empresas que optaram por esse sistema incluem Spotify, Slack e Palantir.
- Roblox – uma empresa que oferece uma plataforma de games chamada Roblox fez uma pequena mudança na Listagem Direta de ações. Poucas semanas antes de abrir o capital através de Listagem Direta, emitiu US$ 520 milhões em ações novas apenas para os acionistas existentes. Um sistema parecido com um IPO previamente precificado, com a diferença que se o preço das ações saltar no primeiro dia do lançamento, pelo menos os ganhadores serão aqueles que apostaram na empresa no longo prazo.
- Listagem Direta Primaria – combina o leilão e a Listagem Direta para permitir que as empresas que estiverem fazendo uma listagem direta possam levantar capital. Esse sistema obteve aprovação recente das autoridades reguladores, portanto, pode-se esperar mais adoção ao longo de 2021
- Sociedade com Proposito Específico de Aquisição (SPAC) – uma empresa sem operações comerciais é formada estritamente para captar recursos através de uma oferta pública inicial (IPO) com o único objetivo de adquirir uma outra empresa já existente. Quando uma empresa abre o capital através de uma SPAC, ela concorda em ser comprada com um “cheque em branco” de uma empresa já listada em bolsa. Os honorários chegam a ser maiores do que num IPO tradicional, mas os riscos são significativamente menores.
- Variações no SPAC – recentemente muitas inovações vem sendo feitas no sistema SPAC por empresas fazendo sua oferta primária de ações, como:
— The Spinning Eagle: cria automaticamente uma segunda SPAC caso não tenha gastado todo seu dinheiro na sua primeira aquisição
— Group Nine Midia: a empresa criou uma SPCA para se autoadquirir, uma forma de abrir o capital sem ter que revelar inteiramente suas demonstrações financeiras.
— The Dyal-Blue Owl: é ainda mais complicado, com a Dyal controlando participações acionarias significativas tanto na patrocinadora da SPAC como no alvo da aquisição.
Os IPOs tradicionais ainda são dominantes, mas existe hoje um monte de outras opções no menu de lançamento publico das ações de uma empresa.
Se considerarmos que os meios tradicionais para uma empresa abrir seu capital, como o IPO e Listagem Direta, funcionam como pedir um prato em um menu “à la carte”, a opção pelo sistema SPAC estaria mais próxima de pedir um prato que nem está no menu.
Sendo assim, qualquer maneira para uma empresa fazer sua oferta primaria de ações seria possível.
Tudo isso tudo dentro do centenário mercado de ações, que particularmente eu acho passará por disruptura da mesma forma que o sistema financeiro e os bancos estão prestes a passar.
Já existem outros mecanismos de atração de capital adotados por startups que passam a margem do mercado de ações, o mais comum e conhecido sendo o crowdfunding ou “financiamento popular.”
Mas estão surgindo ideias e meios incríveis na cryptoeconomia na qual está inserido o mundo DeFi - Finanças Descentralizadas, construídos com tecnologia blockchain.
Vou mencionar apenas uma ideia aqui, que é a plataforma de CSO – Continuos Security Offering (algo tipo: Oferta Contínua de Participação). A CSO permite que as pessoas | indivíduos invistam na receita de startups ao invés de investirem na compra de ações dessas e pode revolucionar o espaço de atração de capital. Mais: aqui
Um universo de outras alternativas está surgindo com o avanço da cryptoeconomia. A oferta de tokens tem potencial para criação de um universo de novos meios de atração de capital.
A atração de capital na cryptoeconomia tem uma diferença sutil: o poder de escala que hoje esta nas mãos de grandes bancos, investidores institucionais (como os fundos de pensão) e mercado de capitais, será transferido para os indivíduos, mas isso é papo para outro artigo ....
Grande abraço,
Eder.
Fonte: The complex new landscape of going public, escrito pot Felix Salmon da Axios Capital.
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