sexta-feira, 30 de julho de 2021

TE CONTEI? A HISTÓRIA DE SUCESSO DO MAIOR PLAYER ATUAL NO SEGMENTO DE PLANOS INSTITUIDOS NO BRASIL

 



De São Paulo, SP.

 

O QUE ESTÁ ACONTECENDO: 

Corria o ano de 2003. A criação do primeiro fundo de pensão instituído a ser implantado por uma associação, estava a pleno vapor. Meu envolvimento na gestão do projeto chegou aos ouvidos do Nilton Molina (o pai), da Mongeral. Um belo dia ele me telefona e me pergunta: “Você costuma vir ao Rio?”. Eu respondo: “Sim, todo mês estou por aí para reunião de diretoria do IBA-Instituto Brasileiro de Atuária”. “Então passa aqui na próxima vez que estiver na cidade”, convida ele. Semanas depois, passo na sede da Mongeral e conversamos. Falamos do projeto que eu estava conduzindo e ele perguntou minha opinião sobre o futuro dos instituídos. Ponderei que tinham tudo para dar certo, mas o crescimento seria lento e gradual, como tudo em previdência. Molina, vira-se e diz: “Não acredito nisso não, isso aí não vai dar certo”. Terminada a conversa, agradeci gentilmente, me despedi e fui embora. 

 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

“Fast forward”, Molina e a Mongeral são hoje responsáveis pelo maior “case” de sucesso dos planos instituídos no Brasil. Desenvolveram um modelo de negócios que resolveu o desafio de vender previdência individual via fundo de pensão. Uma enorme quantidade de corretores de seguros corre atrás dos potenciais participantes, a custo praticamente zero. Quando vendem o plano, são remunerados com base na taxa de corretagem das coberturas de risco (invalidez e morte) cujas contribuições vem acopladas às do plano de previdência. Todo mundo fica feliz! Com isso, a Mongeral vem nadando de braçada nesse mercado. É possível, hoje, desenvolver novos modelos de negócio para os fundos de pensão, da mesma forma que a Mongeral encontrou o deles, mas isso requer criatividade, inovação e como ensinou “Molinão”, sondando o que os concorrentes estão fazendo sem chamar a atenção deles para o que você vai fazer. Segue o jogo.

 

CONCLUSÃO:

É preciso entender o passado para projetar o futuro.


Grande abraço,

Eder.


quarta-feira, 28 de julho de 2021

TE CONTEI? CERCA DE 60% DOS FUNDOS DE PENSÃO CONTAM AGORA COM UM MEMBRO PROFISSIONAL EM SEUS CONSELHOS ... NO REINO UNIDO!






De São Paulo, SP.


O QUE ESTÁ ACONTECENDO: 

Cinco anos atrás, apenas um em cada cinco fundos de pensão no Reino Unido contava com conselheiros profissionais em seus conselhos deliberativos. Hoje, quase metade dos fundos de pensão tem ao menos um conselheiro independente em seus colegiados. De acordo com a LPC, uma firma de consultoria Britânica, há uma tendência dos grandes fundos – patrimônios acima de £$ 1bi – substituírem seus conselhos inteiros e contarem apenas com membros profissionais.


POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

A explosão na incorporação de membros profissionais nos conselhos no Reino Unido, que logo será seguida pelos fundos de pensão abaixo da linha do Equador, é explicada por vários fatores, dentre os quais esta o declínio na quantidade de executivos seniores das patrocinadoras dispostos a ocupar a cadeira de conselheiros em seus fundos de pensão. Isso tem a ver com receios de conflitos de interesse, da necessidade de conhecimento e experiência profundos do segmento de previdência complementar, do aumento da complexidade da legislação, do crescente desafio de agregar valor à gestão de poupança de longo prazo e conforme venho insistindo ”ad nauseam” aqui na Terra de Santa Cruz, da urgente mudança que é preciso fazer nos modelos de negocio dos fundos pensão.

CONCLUSÃO: 

Revolucione o conselho do seu fundo de pensão, enquanto há tempo.


Grande abraço,

Eder.



Fonte:  "Professional trustees board appointments increase 60%", escrito por Saksha Menezes

MODELAGEM DE DADOS, "BIG DATA", "DATA ANALYTICS", DADOS SÃO O NOVO PETRÓLEO, SIM, MAS ... IMPORTANTE MESMO, SÃO AS PESSOAS!

 



De São Paulo,SP.


"Venho trabalhando com dados ao longo dos últimos 30 anos e sabe ... uma das coisas que aprendi sobre os dados é que são muito bons para modelagem das coisas que você está analisando e são muito ruins em fazer surgir soluções para um futuro melhor".
- Mohamad Ali - CEO da IDG Inc.

Abrace a transformação digital em seu fundo de pensão, sim, mas NUNCA se esqueça: o que move as pessoas não é aquilo que voce faz com os dados delas e sim aquilo que nos tornou humanos há milhões de anos e que não se resume a bits e bytes.


Grande abraço,

Eder.


terça-feira, 27 de julho de 2021

TE CONTEI? A HISTÓRIA DO 1º FUNDO DE PENSÃO “INSTITUIDO”, CRIADO POR UMA ASSOCIAÇÃO NO BRASIL

 


De São Paulo, SP.


 

O QUE ACONTECEU: 

Foi por volta de 2003, passados dois anos do inicio de vigência da Lei 109/2001, o governo resolveu incentivar sindicatos, cooperativas e associações a criarem planos instituídos, aqueles que dispensam o vínculo empregatício para participação, requerendo apenas o vínculo associativo. Por uma dessas conjunções de planetas que acontecem de vez em quando, eu discutia na época com o Benê (Benedito Duarte) - Presidente da Associação de Ex-alunos da FGV (ex-GV) - uma forma de atrair novos associados. Resolvemos, então, criar um fundo de pensão instituído, que viria a ser o primeiro no Brasil. Ultrapassamos o primeiro obstáculo de “como pagar” o projeto obtendo doação de ex-alunos famosos que costumam doar para o fundo de bolsas da FGV. O segundo obstáculo, a falta de um cadastro estruturado, resolvemos com “modelagem de dados”, usando o perfil típico de ex-alunos. Assim fomos avançando. Até obter a publicação no D.O.U. da portaria de aprovação, contamos com a agilidade do governo, que já falava com uma cooperativa e um sindicato prestes a lançarem seus fundos instituídos, mas faltava uma associação para coroar a grande estreia dos instituídos.   

 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

Foi apenas depois de aprovado que descobrimos o maior desafio para “venda” dos planos instituídos. Tínhamos que divulgar o plano para os ex-alunos, mas diferentemente da divulgação por uma patrocinadora, que coloca todos os empregados numa sala e apresenta o plano, a dificuldade era como chegar nos ex-alunos. Resolvemos aproveitar para isso a festa de 50 anos da Ex-GV. Certa noite, lá fomos Carlos Chavão (atual UnileverPrev) e eu para uma boate no bairro do Itaim em São Paulo tentar convencer a turma, entre um chopp e outro (LoL), a aderir ao plano. O fundo de pensão foi criado, mas menos de dois anos depois foi extinto diante das dificuldades de atração de participantes e dos custos para sua manutenção. Entidades abertas investem muito $$$ em propaganda & marketing, ou seja, para um fundo instituído ser bem sucedido, precisa ter uma estrutura de marketing adequada e eficaz (hoje, digital) para vencer o desafio de vender previdência individual. Segue o jogo.

 

CONCLUSÃO: 

É preciso entender o passado para projetar o futuro.

 

Grande abraço,

Eder.




 


quinta-feira, 22 de julho de 2021

TE CONTEI? A HISTÓRIA DO DIA EM QUE UM FUNDO DE PENSÃO DEIXOU DE SER UM FUNDO DE PENSÃO

 



De São Paulo, SP.

 

O QUE ACONTECEU: 

Quando foi aprovada em 1977 a Lei 6.435, a primeira lei a regular o sistema de previdência complementar no Brasil, deu dois anos para que todas as organizações pagando aposentadorias no setor privado transferissem os pagamentos e criassem um plano de aposentadoria privado em uma entidade de previdência complementar. O Banco Bamerindus, assim como muitas empresas na época, continuava pagando diretamente da folha pelo regime de repartição simples (i.e., sem formação de reservas), as aposentadorias dos empregados que se aposentavam, que chamavam de “apabianos”. Para se enquadrar na lei, o Banco Bamerindus transferiu os pagamentos para sua Fundação Avelino Vieira e a transformou em um fundo de pensão, porém, não integralizou as reservas e seguiu pagando benefícios no regime de caixa. 

 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

“Fast forward” em 1997 o Banco Bamerindus quebrou e para a parte boa poder ser comprada pelo Banco HSBC (a parte ruim ficou com o Banco Central) surgiu um probleminha. O enorme passivo atuarial, à descoberto, da Fundação Avelino Vieira colocaria areia na operação. O principal acionista do Bamerindus, um senador, se reuniu então com o Ministro da Previdência Social da época e com um Diretor da Prever Seguros e Previdência - uma entidade de previdência aberta. No dia seguinte foi publicada uma portaria “jabuticaba” no Diário Oficial da União, “descredenciando a Fundação Avelino Vieira a operar como entidade fechada de previdência complementar”. O problema “sumiu”, o Bamerindus foi vendido e somente cerca de duas décadas depois o HSBC foi integralizar aquele passivo usando parte de seu lucro, talvez até com incentivo fiscal, formalizando aqueles pagamentos através de um plano criado em seu fundo multipatrocinado que existe até hoje. Segue o jogo.

 

CONCLUSÃO: 

É preciso entender o passado para projetar o futuro.


Grande abraço,

Eder.



quarta-feira, 21 de julho de 2021

CÓDIGO DE CONDUTA INTERNO DO ORGÃO REGULADOR DOS FUNDOS DE PENSÃO BRITÂNICOS DEVERIA SER ADOTADO PELA PREVIC COMO MELHORES PRÁTICAS

 





De São Paulo,SP.


O órgão regulador no Reino Unido, chamado TPR -The Pensions Regulator, equivalentes à nossa PREVIC, tem um código de conduta interno bem interessante.


Os membros da Diretoria (board) do TPR são obrigados a declarar publicamente informações que ficam disponíveis no site do órgão regulador coisas tipo:


- Se ocupam posição em algum fundo de pensão ou seus comitês;

- Se são empregados ou participantes de algum fundo de pensão (mesmo afastados);

- Se detém participação em alguma empresa de consultoria;

- Outros vínculos de emprego e posições em conselhos


Em maio passado foi acrescentado na lista de itens que devem ser divulgados ao mercado sobre possíveis conflitos de interesse, informações sobre pessoas ou informações conexas (ex.: nome de parentes e seus negócios).


As informações devem ser divulgadas em sua integralidade (ex.: nomes de pessoas), exceto em circunstancias excepcionais onde houver risco para segurança pessoal.


Seria um belo item para compor um código de melhores práticas voltado para o próprio órgão regulador, que tem extenso histórico de publicação de códigos direcionados externamente aos fundos de pensão.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: TPR updates board code of conduct following Smart’s appointment, escrito por Maria Espadinha.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

TE CONTEI? A HISTÓRIA DOS ATUAIS CONTRATOS DE CONFISSÃO DE DÍVIDA DAS PATROCINADORAS DOS FUNDOS DE PENSÃO

 



 

De São Paulo,SP.


O QUE ACONTECEU: 

Em 2001 a então SPC - Secretaria de Previdência Complementar (atual PREVIC) divulgou o nome de 86 fundos de pensão e seus déficits atuariais na casa dos bilhões de reais, que ameaçavam o pagamento futuro dos benefícios. O valor dos déficits, que naquela época não tinham nenhum prazo para pagamento e se acumulavam indefinidamente, estava em um relatório encomendado pelo governo junto a Deloitte. A titular da SPC na época era Solange Paiva Vieira, cuja elegância e sorriso cativante lhe rendarem o apelido de “Musa da Previdência”. A divulgação dos nomes dos fundos deficitários causou um grande alvoroço e a comoção no mercado levou a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil a representar contra Solange no Ministério Público por crime contra o sistema financeiro nacional.

 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

Diante do clima de “barata voa”, para evitar o risco sistêmico e o descrédito da previdência complementar, os fundos de pensão passaram a ser autorizados pelo governo a considerar como patrimônio as contribuições devidas e ainda não integralizadas pelas patrocinadoras, na forma de contratos de dívida entre as partes. Isso, naturalmente, equilibrou os enormes déficits atuariais dos planos e essa outra jabuticaba Brasileira pacificou o sistema. Ainda convivemos com a falta de uma legislação que determine o ponto em que um fundo de pensão deve ser liquidado por incapacidade de pagamento futuro dos compromissos com os participantes. Isso, aliado a cenários de quebra de patrocinadoras, que as impeçam de pagar suas dívidas com os fundos de pensão, tornam os contratos de confissão um problema cuja face mais visível pode ser vista em casos como o do Aerus da extinta Varig e outros mais recentes. Anos mais tarde Solange, uma economista carioca, foi responsável pela criação do fator previdenciário no cálculo do benefício do INSS. Segue o jogo.

 

CONCLUSÃO: 

É preciso entender o passado para projetar o futuro.


Grande abraço,

Eder.


Nota: No video acima, como é manufaturada uma ampulheta: https://www.youtube.com/watch?v=Irb2P2TcBq8





sexta-feira, 16 de julho de 2021

 


TE CONTEI? A HISTÓRIA DOS ANTIGOS CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO DE FUNDOS DE PENSÃO PARA PATROCINADORAS




De São Paulo, SP.


O QUE ACONTECEU: 

O ano era 1988 e a Lei 6.435/77 já contava com 11 anos de existência. Um belo dia, o André de Montigny – um gênio canadense que foi meu chefe – relendo a legislação notou um artigo que exigia dos fundos de pensão a manutenção mínima de 70% de cobertura de suas reservas. Muitos fundos de pensão naquela altura já contavam com 100% de patrimônio para cobrir os compromissos dos planos BD. Bingo! Surgiram ali mesmo as “operações com patrocinadoras” em que os fundos de pensão emprestavam para as empresas 30% de suas reservas com base na taxa de juros atuarial, que na época era tipo, Inflação+6% aa, infinitamente menor do que juros de mercado (negocio da China, no Brasil). Uns dez anos depois o governo proibiu essas operações e a partir de 2001 os planos de previdência são obrigados a ter 100% de cobertura de suas reservas. A razão de, mesmo assim, termos casos como o do Postalis é motivo para outro “Te Contei?”. 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

Muita gente se apega as restrições da legislação para não inovar, quando na verdade mesmo a Lei 109/2001 que já completou 20 anos de existência tem espaço para inovações. O Andrezinho faz aniversario no mesmo dia que eu, 09 de abril e é 20 anos mais velho. Ele pegou a $$$ da venda da MW para a Mercer e foi morar no Principado de Mônaco, onde vive até hoje e tem um mandato de cônsul honorário do Brasil que vai até 2022. Segue o jogo.

CONCLUSÃO: 

É preciso entender o passado para projetar o futuro.


Grande abraço,

Eder.



quinta-feira, 15 de julho de 2021

TE CONTEI? A HISTÓRIA DOS PLANOS CD e CV NO BRASIL

 


De São Paulo,SP.


O QUE ACONTECEU: 

Lá pelos idos de 1985 a VW do Brasil, assessorada por uma empresa de consultoria chamada MW (comprada em 1993 pela Mercer), do canadense André de Montigny e do americano Lawrence Woerner, revolveu implantar o 1º plano de contribuição definida (CD) no Brasil. Acontece que a lei de previdência complementar da época, a Lei nº 6.435/77, só previa planos de benefício definido (BD). O governo batia o pé e não abria mão da renda vitalícia. Então, para ter o plano aprovado, a MW criou uma jabuticaba: um plano CD na fase de formação da poupança, mas que pagava uma renda vitalícia (BD) na fase de concessão e foi chamado simplesmente de plano CD. 


POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

“Fast forward”, vem a Lei 109/2001. Marlene Rainer e eu, convidados pela PREVIC, vamos a Brasília por volta de 2003-2004, apresentar a visão das consultorias sobre tendências do mercado. Na apresentação, chamamos a atenção para o § único do art. 7º que atribuía ao órgão regulador (PREVIC) a prerrogativa de normatizar os tipos de plano (o que não havia sido feito ainda). A partir daí, a jabuticaba ganhou o nome de plano CV e CD ficou alinhado com o conceito dos EUA que nao paga renda vitalícia. Segue o jogo.

CONCLUSÃO: 

É preciso entender o passado para projetar o futuro.


Grande abraço,

Eder.



quarta-feira, 14 de julho de 2021

O QUE A PSICOLOGIA PODE NOS ENSINAR SOBRE A EFICACIA DOS CONSELHOS DELIBERATIVOS DE FUNDOS DE PENSÃO





De São Paulo, SP.


No papel e na cabeça dos legisladores, os conselhos dos fundos de pensão funcionam mais ou menos assim: 

  • A empresa patrocinadora nomeia um grupo de pessoas experientes, comprometidas, detentoras de históricos de alto desempenho, trabalho duro e visão estratégica; 
  • Submete-as a processo de certificação, fornece treinamento sobre os meandros da previdência complementar e aspectos de governança de conselhos.
  • Coloca todo mundo em uma sala e obtém como resposta um colegiado topo de linha, com alta performance, uma cultura sadia e um papel de supervisão efetivo da gestão.

Na vida real, no entanto, as coisas são um pouco mais complicadas do que isso.

 

Na prática, a cultura de nenhum conselho de fundo de pensão é perfeita. Todo board é atormentado por discussões que saem dos trilhos, opiniões que são rejeitadas sem sequer serem aprofundadas, conversas paralelas, conselheiros que dominam as discussões sem dar espaço ao contraditório, outros que mordem a língua antes de expressar opiniões e alguns tímidos demais para uma participação mais ativa.  

 

As empresas patrocinadoras, na esmagadora maioria dos casos, passam a maior parte do tempo pensando na experiência e na expertise dos candidatos para compor o colegiado dos seus fundos de pensão, achando que é esse o caminho para ter conselhos mais eficazes.

 

A nomeação de conselheiros deliberativos vem deixando de lado a importância da dinâmica das reuniões, ditada pelo elemento humano e seus inúmeros vieses de comportamento que todos levam, naturalmente, para a mesa de reuniões. 

 

Desde que minha filha disse para minha esposa e para mim há seis anos que estudaria psicologia, passei a ler mais sobre o comportamento humano.

 

Diferentemente dela, que se formou em psicologia na Sorbonne – Paris VII (Paris Diderot), concluiu mestrado na Universidade de Strasbourg e aos 25 anos trabalha na França com crianças altistas, meu interesse se voltou para o trabalho de Daniel Kahneman e Amos Tversky.

 

Kahneman e Tversky se dedicaram a catalogar centenas de tipos de viés de comportamento humano, a entender como nosso cérebro ordena as informações no processo de tomadas de decisões e como isso influencia as maneiras que as pessoas julgam a si mesmas e os outros.

 

No ambiente de negócios, como numa reunião de conselho de um fundo de pensão, esses vieses de comportamento podem levar uma pessoa a supervalorizar ou subestimar outras que se sentam ao redor da mesa ou as ideias que elas expressam.


Podem, também, influenciar o ambiente do colegiado, determinando se as pessoas se sentem “seguras” o bastante para falar livremente ou mesmo se o ambiente é favorável a diversidade de pensamentos. 

 

Melhorar a dinâmica das reuniões é um dos principais pontos que abordo em meus treinamentos para conselheiros de fundos de pensão, além de insistir “ad nauseam” na importância da diversidade nos colegiados.

 

Existem vários caminhos para enfrentar os desafios de se melhorar a dinâmica das reuniões de conselho nas empresas modernas, mas na Pesquisa Anual de Conselheiros de Administração 2020 da PWC as pessoas parecem preferir o caminho mais fácil.: 49% dos conselheiros acham que pelo menos um colega no colegiado precisa ser substituído.

 

Prefiro caminhos menos drásticos para melhorar a dinâmica dos conselhos no caso dos fundos de pensão, por isso é tão importante compreender a psicologia do comportamento humano e as formas de contornar as barreiras existentes.

 

Dentre os incontáveis vieses de comportamento com potencial para frear a dinâmica de uma reunião de conselho e impedir que o colegiado agregue maior valor a um fundo de pensão, quatro deles emitem claros sinais que identificam sua presença e para cada um deles existem técnicas que ajudam a combater seus efeitos nocivos sobre o colegiado.

 

Pensamento em grupo



Um conselho é eficaz quando consegue decidir por consenso, mas o caminho para se chegar lá é que tem importância. Vamos supor que um fundo de pensão esteja pensando em investir parte de seu patrimônio no exterior, mas 4 dos 9 conselheiros estão preocupados em discutir o assunto e alguns conversaram sobre isso entre eles antes da reunião. Durante a reunião um dos conselheiros começa a expor sua preocupação, mas o Diretor Presidente não dá muita atenção e rapidamente prossegue com as apresentações. No curso da reunião as cabeças vão balançando em concordância com a aprovação da proposta. Nenhuma parte da estratégia de investimento no exterior é modificada e no final das discussões todo o colegiado parece concordar com a recomendação, incluindo os conselheiros cujas preocupações foram desconsideradas.   

 

Apesar da construção do consenso ser importante, os conselhos são inclinados a buscar harmonia e conformidade e isso pode levar ao pensamento em grupo. Num ambiente em que todos os conselheiros nomeados pela patrocinadora acham que precisam pensar da mesma forma, o dissenso tende a ser desencorajado e visões divergentes não são bem-vindas.

 

Na pesquisa da PWC que mencionei acima, 36% dos conselheiros disseram ter dificuldade em expor visão divergente em pelo menos um assunto no conselho. A razão mais comum apontada pelos conselheiros para sufocarem suas discordâncias, foi o desejo de manterem a colegialidade com seus pares.

 

Dica para contornar: Visando reduzir o pensamento em grupo, considere implantar um processo de avaliação do conselho. Durante as entrevistas individuais com os conselheiros ou quando eles forem preencher os questionários de avaliação, situações em que os conselheiros geralmente se sentem mais a vontade para falar livremente, tente identificar se o dissenso costuma ser desencorajado no colegiado. Se determinado conselheiro estiver contribuindo para impedir o dissenso, o presidente do conselho deve assumir a difícil tarefa de conversar com o mesmo para mudar a dinâmica das discussões. Trazer consultores e profissionais de fora do fundo de pensão para apresentar uma visão diferente ou dissonante dos assuntos, para solicitar a opinião de cada membro do conselho em questões controversas ou contratar um conselheiro profissional e independente para agregar verdadeira diversidade ao colegiado e trazer uma perspectiva diferente do mundo, também podem ser possíveis soluções.

 

Viés de autoridade

 


Conselhos deliberativos de fundos de pensão precisam de experts, claro, por isso buscam conselheiros com base em sua formação e no seu conjunto de experiência e conhecimentos. Porém, da mesma forma que todos se voltam para a opinião de um membro do colegiado que seja atuário sempre que numa reunião surge um assunto relacionado ao risco da longevidade ou à ciência atuarial, os conselhos podem depender demais da experiência ou opinião de apenas um conselheiro. Aí, podem ser muito influenciados por aquela opinião desconsiderando o que os outros tem a dizer ou abdicando das suas responsabilidades individuais para equilibrar as discussões do grupo. 

 

Esse viés de autoridade também pode ser produto de uma estrutura de poder no colegiado. Há pesquisas mostrando que os colegiados tendem a priorizar a visão dos membros do sexo masculino, dos conselheiros com mais tempo de mandato, dos que tem um tom de voz mais alto ou daqueles com algum status de poder, tipo cargos hierarquicamente mais elevados. Acaba-se, assim, caindo na armadilha de se esperar para ouvir essas “autoridades” primeiro ou de sempre ser delas a última palavra. As opiniões dos especialistas deixam, então, de ser checadas ou contrapostas. Durante alguns anos tive a chance de interagir com o conselho deliberativo de um fundo de pensão presidido pelo CFO da patrocinadora, que era uma gigante multinacional do setor de Telecom. Os demais conselheiros sempre relutavam em desafiar a visão do presidente daquele conselho de modo que a opinião dele sempre prevalecia.

 

Dica para contornar: Para minimizar o viés da autoridade, o presidente do conselho poderia pedir a opinião de cada membro do colegiado de cada vez. Isso permite que todos os diretores expressem suas opiniões sobre certo assunto e que os especialistas de certa área opinem sobre outras áreas. Se um conselheiro tem sempre a última palavra nas discussões, peça que ele inicie a discussão dando sua opinião para que os demais possam colocar em discussão a ideia dele. O presidente do conselho pode, propositalmente, expressar sua por último após as discussões. 

 

Viés de confirmação

 

As pessoas tendem, subconscientemente, a buscar e supervalorizar evidências que confirmem seu modo de pensar e a desvalorizar e descartar aquelas que contrariem suas crenças. Conselheiros, sendo humanos, também caem na armadilha do viés de confirmação, afetando o processo de tomada de decisões objetivas.

 

Dica para contornar: O melhor caminho para combater o viés de confirmação é incentivado a diversidade de pensamentos. Quando as patrocinadoras e seus conselhos buscam membros que se encaixem no seu perfil, frequentemente estão buscando pessoas que partilhem dos mesmos pontos de vista e concordem com questões consideradas chave. Isso apenas aumenta o viés de confirmação do colegiado porque fatos que sustentem as opiniões que compartilham tem mais peso. Assim, vão deixando escapar aquilo que verdadeiramente beneficiaria a reunião de um conselho de fundo de pensão, que é um debate e rigorosa troca de ideias entre membros com diferentes perspectivas e pontos de vista. Ter pessoas com diferentes visões de mundo ou que enxergam os assuntos sob ângulos diferentes em um conselho, acrescenta ao colegiado a capacidade de enxergar e entender as questões da forma mais ampla possível.

 

Viés do status quo



Mudanças podem ser aterradoras, por isso muitas pessoas resistem a mudar. Quando as coisas estão funcionando razoavelmente, as pessoas preferem mantê-las do jeito que estão. Não surpreende que os conselhos dos fundos de pensão prefiram o conjunto de normas e valores que lhes são familiares e com os quais estão acostumados. Claro que os conselheiros podem supervalorizar aquilo que sabem e relutar em adotar iniciativas que envolvam mudanças substanciais – como, por exemplo, transformar o atual modelo de negócios dos fundos de pensão em resposta a disputara que se avizinha na previdência complementar – simplesmente porque enfrentar o desconhecido representa um risco individual muito alto.

 

Fico até imaginando muitos conselheiros lendo os posts e artigos dIn, abordando inovações, transformações sociais e novas tecnologias, que publico aqui no LinLinkedIn, se perguntando como poderiam incorporar em seus fundos de pensão algumas daquelas ideias. Mas dado que seus fundos de pensão estão funcionando bem hoje e considerando a dificuldade de levar adiante grandes transformações, esses conselheiros logo desistem e se apegam as estratégias atuais. 

 

viés do status quo pode ser demonstrado em conselhos com pouca rotatividade de seus membros ou onde se constata inatividade na troca da diretoria executiva ou no planejamento sucessório de seu diretor presidente. Um conselho pode racionalizar e aceitar a redução na quantidade de fundos de pensão sob a justificativa de que a manutenção de uma entidade fechada de previdência requer escala e custa muito caro para manter hoje em dia, ao invés de aproveitar a oportunidade para mudar o modelo de negócios e reconhecer que a transformação mundial no setor vem sendo impulsionada nas ultimas décadas pela redução na quantidade de empregados das empresas - provocada pela automação da manufatura e novos processos produtivos -  pela adoção de diferentes contratos de trabalho, pela aposentadoria da aposentadoria e tantas outras disrupturas.  

 

Dica para contornar: se o viés do status quo está ameaçando o futuro do seu fundo de pensão, então está na hora de fazer mudanças estruturais na governança do conselho do seu fundo de pensão e incorporar nas discussões estratégicas a pergunta: “para onde caminha o setor de previdência complementar?”. Isso implica em responder outras três questões: Que mudanças estruturais precisamos fazer para posicionar nosso fundo de pensão na nova era da previdência complementar? O que vai acontecer se não levarmos adiante mudanças profundas em nosso atual modelo de negócios? Quanto tempo temos? Alternativamente, o conselho do seu fundo de pensão pode trazer experts de fora da organização para falar de futuro (estou a disposição), repensar a agenda das estratégias de longo prazo ou dar uma chacoalhada nos conselheiros fazendo uma viagem para o Vale o Silício (também posso ajudar com isso). 

 

* * * * * *

 

A dinâmica de um conselho só muda quando ele se dispõe a enxergar os vieses e práticas de seus próprios membros, lançando mão das ferramentas amplamente disponíveis para mudar.

 

Até que isso aconteça, as reuniões continuarão a ser agradáveis momentos para se tomar um café com iguais, entremeados por decisões que pouco ou nada acrescentam na busca de um novo modelo para sobrevivência dos fundos de pensão no longo prazo.

 

Grande abraço,

Eder.

 

Fonte: Four common bias in the boardroom culture, escrito por Maria Castañón Moats, Paul De Nicola e Leah Malone. 


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Cuidados na Portabilidade

Hora no Mundo?

--------------------------------------------------------------------------

Direitos autorais das informações deste blog

Licença Creative Commons
A obra Blog do Eder de Eder Carvalhaes da Costa e Silva foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em nkl2.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://nkl2.blogspot.com/.

Autorizações


As informações publicadas nesse blog estão acessíveis a qualquer usuário, mas não podem ser copiadas, baixadas ou reutilizadas para uso comercial. O uso, reprodução, modificação, distribuição, transmissão, exibição ou mera referência às informações aqui apresentadas para uso não-comercial, porém, sem a devida remissão à fonte e ao autor são proibidos e sujeitas as penalidades legais cabíveis. Autorizações para distribuição dessas informações poderão ser obtidas através de mensagem enviada para "eder@nkl2.com.br".



Código de Conduta

Com relação aos artigos (posts) do blog:
1. O espaço do blog é um espaço aberto a diálogos honestos
2. Artigos poderão ser corrigidos e a correção será marcada de maneira explícita
3. Não se discutirão finanças empresariais, segredos industriais, condições contratuais com parceiros, clientes ou fornecedores
4. Toda informação proveniente de terceiros será fornecida sem infração de direitos autorais e citando as fontes
5. Artigos e respostas deverão ser escritos de maneira respeitosa e cordial

Com relação aos comentários:
1. Comentários serão revisados depois de publicados - moderação a posteriori - no mais curto prazo possível
2. Conflitos de interese devem ser explicitados
3. Comentários devem ser escritos de maneira respeitosa e cordial. Não serão aceitos comentários que sejam spam, não apropriados ao contexto da dicussão, difamatórios, obscenos ou com qualquer violação dos termos de uso do blog
4. Críticas construtivas são bem vindas.




KISSMETRICS

 
Licença Creative Commons
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil License.