De São Paulo SP.
Esqueça o velho modelo de conselho deliberativo.
Construa um conselho capaz de lidar com situações adversas, superar pressões, obstáculos e problemas, reagir positivamente a eles sem entrar em conflito, que tenha condição de enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades vislumbradas à nossa frente.
Estamos em um mundo novo, que requer um novo paradigma de liderança gerencial e supervisão pelos conselhos.
Com vacinas agora disponíveis para todos e o final da pandemia finalmente no horizonte, o colapso social, político e econômico sem precedentes que vivemos em 2020 começa a dar lugar à “normalidade” com planejamento para retornamos aos escritórios.
Os fundos de pensão, que estavam funcionando de forma diferente do “modo que as coisas costumavam ser”, estão se preparando para voltar o relógio para março de 2020, quando o mundo subitamente parou.
Retomar a vida normal sem reconhecer que o mundo foi mudado para sempre e sem aplicar amplamente as lições aprendidas ao longo do ano passado, seria um erro irreparável.
Os conselhos deliberativos precisam resistir a tentação de retornar aos velhos hábitos, processos e estruturas. Precisam ter a coragem de fazer seus fundos de pensão e sua governança avançar, não se acomodando com a segurança do “velho normal”.
Os conselhos deliberativos pós-pandemia demandarão novas competências, perfis e experiências - diferentes das demandadas até aqui – em áreas importantes como inteligência artificial, cryptoativos, CBDC, Web 3.0, privacidade digital, transformação e redesenho de processos, forças de trabalho moveis e formas de atender as demandas de participantes e patrocinadoras em aspectos sociais, ambientais e de governança.
Isso só será possível através da diversidade. Diversidade de pensamento, experiências e formações, além de diversidade de idade, gênero, raça, etnia e outras.
Sinto dizer, mas sem conselheiros ágeis, com mente aberta e comprometidos com aprendizado contínuo, não vai rolar mudança nenhuma nos fundos de pensão. Sorry!
Tipicamente, tanto os fundos de pensão do setor privado quanto do setor publico, tem se voltado para profissionais de dentro de casa ao nomearem novos conselheiros. Nos fundos regidos pela Lei Complementar 108/2001 a coisa é até pior, para ser conselheiro é preciso ser participante do plano de aposentadoria.
Ao selecionarem seus conselheiros, os fundos de pensão têm valorizado experiência e conhecimento com o modo que as coisas costumavam ser, ao invés de focarem nas competências requeridas para se obter sucesso no novo cenário social, econômico e digital no qual a previdência complementar está inserida.
Se por um lado a experiência passada continua extremamente valiosa, ela não é suficiente, “per se”, para proporcionar toda a expertise, perspectiva e visões de mundo que os fundos de pensão precisam nesse momento ao nível de seus conselhos.
Faça algumas perguntas para si mesmo ao analisar a composição atual do conselho deliberativo do seu fundo de pensão:
- Como a composição do nosso conselho se compara com o perfil dos nossos participantes, geografias e comunidades onde nosso fundo de pensão funciona?
- Nosso conselho tem o conjunto correto de capacitações, experiências e competências? Tem alguma lacuna que precise ser preenchida nos próximos anos
- Temos variedade de perspectivas, formações, experiências e visões de mundo representadas em nosso conselho?
- Como a composição do nosso conselho se compara com a postura do nosso fundo de pensão em relação a diversidade, equidade e inclusão?
- Nosso conselho está trabalhando de forma eficaz e colaborativa com a diretoria ou há oportunidade para melhoria?
Quando a pandemia passar será fácil voltar aos velos hábitos e padrões e fingir que o período de 2020-2021 nunca existiu.
Muitos conselheiros, empregados também, não querem outra coisa a não ser voltar ao modo como as coisas eram antes. Aliás, quem não quer?
No papel de “capitão do navio”, o conselho deliberativo precisa reconhecer a urgente necessidade de mudar, se quiser fazer o fundo de pensão navegar com sucesso em direção ao futuro.
Velhos desenhos de plano de aposentadoria, estratégias de investimentos antigas, modelos de negócio ultrapassados, fluxos de receita de outrora, podem não se encaixar mais na nova realidade.
Os conselhos deliberativos precisam saber quando contar com ajuda, seja trazendo novos membros para o conselho ou contando com apoio de consultores externos.
Esse pode ser o momento oportuno para seu fundo de pensão considerar a incorporação de conselheiros profissionais e independentes no colegiado.
Um primeiro passo seria mapear as experiências, capacitações e formações do colegiado atual e identificar as lacunas existentes para seu fundo de pensão ser capaz de enfrentar os desafios que possui a frente.
Em seguida, o conselho poderia se engajar na análise de sua estrutura (ex.: comitês) e processos (ex,: onboarding de novos membros) hoje existentes para identificar onde existem oportunidades de melhoria.
A partir daí, seria preparado um plano de ação para fazer seu conselho se ajustar ao longo dos próximos anos e ser capaz de fazer seu fundo de pensão evoluir em direção aos objetivos e metas de longo prazo para estar apto a atuar na nova era que se inicia.
Em 1868 Christopher Sholes patenteou o teclado QUERTY cujo nome vem das 6 primeiras letras da primeira linha do teclado. A intenção de Sholes foi diminuir a velocidade dos datilógrafos porque as máquinas de escrever (na época com as letras na ponta de varetas, como a da foto) “engasgavam” e paravam de funcionar quando se digitava com velocidade muito rápida.
Até hoje, computadores, laptops, smartphones e demais dispositivos eletrônicos continuam a adotar o teclado QUERTY, só que hoje a velocidade na digitação deixou de ser um problema.
Assim como acontece com o teclado QUERTY, não podemos continuar a adotar nos conselhos dos nossos fundos de pensão a mesma solução para um problema que mudou ...
Abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo Board of The Past Won't Take Your Company Into The Future, escrito por N.K. Tripathy and Glenn C. Davis
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