De Sāo Paulo, SP.
“Se não tivermos consciência histórica, não podemos entender os problemas em todas as suas dimensões e se não podemos entender os problemas, então não podemos encontrar soluções” – Dale Jamieson
A Resolução CNPC nº 60/2024, publicada em fevereiro passado, permitiu a adoção da inscrição automática de participantes nos planos de benefícios administrados por entidades fechadas de previdência complementar, os fundos de pensão.
A economia comportamental tem influenciado vários aspectos da sociedade e redesenhado a maneira que organizações e governos incentivam decisões individuais, da adesão a planos de previdência complementar corporativos à escolha de alimentos mais saudáveis,.
Desde que Richard Thaler e Cass Sustain publicaram em 2008 o livro Nudge (empurrãozinho, em tradução livre), pequenas intervenções têm sido incluídas no desenho de políticas publicas e privadas para empurrar sutilmente os indivíduos em direção a comportamentos desejados por governos e empresas.
Essas intervenções influenciam decisões pontuais, como aderir a programas de doação de órgãos ou escolher um provedor de energia renovável, mas se por um lado os “empurrãozinhos” afetam claramente as escolhas, será eles têm um efeito duradouro? Será que as pessoas permanecem com as escolhas que fizeram, tipo, continuando com a assinatura de um serviço ou usando um produto ao longo do tempo?
Foi isso que se perguntaram Evan Polman, Professor de Marketing da University of Wisconsin-Madison e Sam J. Maglio, Professor de Marketing e Psicologia da University of Toronto.
A dupla conduziu um estudo para responder essa questão. O resultado, publicado agora no Journal of Consumer Research, deveria ser lido com atenção por todo fundo de pensão que decidir adotar a adesão automática:
Embora o “empurrāozinho” (nudge) realmente aumente a probabilidade de as pessoas selecionarem a opção desejada, elas a utilizam com menos frequência e por menos tempo, em comparação com as pessoas que fizeram a escolha sem o empurrāozinho.
É exatamente essa “utilização reduzida” que tem implicações negativas para a segurança financeira futura dos participantes de planos de previdência complementar que empregam o “nudge”.
O problema com os “empurrãozinhos”
Já se suspeitava que o efeito dos “nudges” poderia não ser duradouro – que os empurrãozinhos teriam apenas um efeito inicial, mas não seriam capazes de manter as pessoas no caminho correto depois disso.
Em 2012, uma equipe de pesquisadores fez um experimento para direcionar as pessoas que costumam fazer lanches (ao invés de almoçar), a optar pelas alternativas de alimento mais saudáveis.
Frutas e vegetais foram colocados, estrategicamente, em lugares de fácil acesso para serem consumidos de graça. O que o estudo constatou, no entanto, foi que os alimentos frequentemente acabavam no lixo. As pessoas escolhiam as frutas e vegetais, mas ao invés de comê-los, as jogavam no lixo.
O experimento de 2012 mostrou que, com o empurrãozinho, as pessoas são mais propensas a fazer as escolhas desejadas (pegar uma maçã), mas não a adotar o comportamento correto na sequência (comer a maçā).
Polman e Maglio, então, conduziram uma serie de experimentos para verificar se isso também acontecia com os “empurrãozinhos” mais populares.
Eles montaram vários estudos com situações em que a pessoa podia: (i) selecionar a opção default (padrão), mas também tinha a possibilidade de; (ii) escolher uma opção que era idêntica a padrão, porém disfarçada, para parecer diferente e tornar a opção padrão mais atrativa; ou (ii) escolher uma opção extrema, totalmente diferente das outras duas.
O que emergiu dos estudos foi uma compreensão diferenciada de como esses empurrões moldam as escolhas iniciais, sem necessariamente se traduzirem em mudanças comportamentais sustentadas.
Exemplo de experimento – Foi oferecido um serviço de assinatura de notícias diarias para 323 participantes, no qual as pessoas podiam visitar todo dia um website e ler as matérias. As pessoas tinham a disposição uma opção default da assinatura e outra opçāo idêntica, mas que não era a padrão. O empurrãozinho levava as pessoas a ficar com a opção padrão. Conforme centenas de estudos já mostraram, as pessoas tendem mesmo a ficar com a alternativa padrão ao invés de fazer uma escolha. Isso foi confirmado no experimento, com a maioria ficando na opção default mesmo tendo uma opção idêntica e igualmente atrativa, mas que precisaria ser escolhida.
Então, veio a parte mais importante do estudo. Oito meses depois da escolha foi medido com que frequência os participantes do estudo acessavam o website para ler as notícias. Aqueles que tiveram um empurrãozinho para escolher a opção default, visitaram o website para ler as notícias com frequência 42% menor do que as pessoas que escolheram a opção idêntica a alternativa padrão, mas sem o empurrãozinho.
Apesar dos empurrãozinhos serem poderosas ferramentas para aumentar a adesão em planos de previdência complementar, as pesquisas indicaram que os gestores dos fundos de pensão não devem confundir o número de novos participantes de seus programas de benefícios com o necessário engajamento e participação ativa deles no acompanhamento gestāo de seus planos.
Implicações e próximos passos
Países como EUA, Canadá, Reino Unido e agora o Brasil, adotaram o empurrãozinho (adesāo automática) como ferramenta para aumentar a adesão nos planos de previdência complementar corporativos.
A arquitetura de escolhas tem um mandato claro: o empurrãozinho é para fazer o bem para as pessoas.
Não obstante, está cada vez mais evidente que o empurrãozinho é capaz de influenciar a decisão inicial das pessoas, mas perde força imediatamente e é incapaz de mudar os comportamentos ao longo do tempo.
Isso tem implicações significativas para planos de previdência complementar que se propõe a fornecer segurança financeira futura para as pessoas.
Os fundos de pensão que adotarem a adesão automática têm obrigação indelével de avaliar e monitorar ao longo do tempo a formação de poupança dos novos participantes.
Precisam assegurar que a abordagem usada para atrair novos participantes está sendo eficaz para fornecer a eles uma poupança adequada, capaz de entregar segurança financeira no futuro.
Se constatarem que os participantes que entraram no plano por meio da adesāo automática nāo estāo poupando o suficiente, os fundos de pensāo precisam avaliar que outras ações precisam adotar para assegurar que isso aconteça.
Do contrário, o empurrãozinho estará sendo dado apenas para aumentar a quantidade de participantes nos planos de previdência complementar em prol da sustentabilidade dos fundos de pensão e não para fazer o bem para os participantes ou em nome da segurança financeira futura deles ...
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “Will Your Nudge Have a Lasting Impact?”, escrito por Evan Polman e Sam J. Maglio
Nenhum comentário:
Postar um comentário