O sistema chinês de previdência social, assim como o de praticamente todos os demais países do mundo, está sob pressão.
Em apenas uma década o sistema de previdência social chinês poderá, potencialmente, ficar sem dinheiro para pagar os aposentados.
A diferença é que na china a situação está se deteriorando numa velocidade maior porque cada vez mais os jovens estão preferindo ficar com o dinheiro ao invés de contribuir para o INSS chinês.
Isso representa uma ameaça adicional, um fenômeno que pode piorar ainda mais as coisas: dezenas de milhares de pessoas, a maioria jovem, vem deixando de recolher contribuições para o sistema oficial de previdência do país.
Alguns se dizem pessimistas em relação ao futuro econômico da China, outros acreditam que o dinheiro que contribuem hoje nāo estará lá amanhã, quando eles forem mais velhos.
Esse medo não é endêmico apenas na China. Ao redor do mundo, os sistemas oficiais de previdência social nāo estāo apenas fragilizados, eles estāo ruindo. O que diferencia a China dos demais países é a escala.
Espera-se que mais de 20 milhões de chineses por ano se aposentem ao longo da próxima década. A maioria será elegível a receber algum benefício de aposentadoria. Até 2035 mais de 400 milhões de chineses – numa população total de 1.4 bilhões de pessoas – terá 60 anos ou mais. Isso é mais do que a população dos EUA e do Canadá combinadas.
Todos os três pilares do sistema de previdência chines são, de alguma forma, deficitários. Por isso, no dia 1º de janeiro passado, o governo do Presidente Xi Jinping aumentou a idade de aposentadoria pela primeira vez desde 1978, ou seja, algo que não fazia há 40 anos.
Os 3 pilares, insuficientes
A previdência social na China, o 1º pilar, cobre 80% da população (mais de 1 bilhão de pessoas). As contribuições daqueles com emprego formal – principalmente trabalhadores urbanos – são obrigatórias por lei.
Porém, assim como no Brasil, o recolhimento é opcional para os trabalhadores informais.
O 2º pilar é a previdência complementar corporativa, voluntaria, no qual as empresas podem optar por estabelecer um plano de previdência para seus empregados.
Semelhante aos nossos fundos de pensão, o segundo pilar cobre 31 milhões de chineses e tem um patrimônio acumulado de ¥$ 3,2 trilhões (US$ 437 bilhões).
O 3º pilar, introduzido em 2022, é a previdência complementar individual. Sessenta milhões de pessoas se inscreveram para ter um plano individual, mas apenas 1/3 (20 milhões de pessoas) efetivamente faz contribuições.
Parecido aos PGBLs e VGBLs das Terras de Cabral, os planos individuais têm um patrimônio acumulado de ¥$ 28 bilhões (US$ 3,8 bilhōes).
Um relatório publicado em 2019 pela Chinese Academy of Social Sciences (Academia Chinesa de Ciências Sociais) mostra que a previdência social chinesa atingirá seu pico em 2027, com reservas de ¥$ 6,99 trilhões ou US$ 958 bilhões.
A partir daí o sistema caminhará para a insolvência até zerar em 2035.
A razão? Os movimentos demográficos. As projeções para a população da China apontam uma diminuição drástica, a ponto de ser reduzida à metade até o final desse século.
Parte da culpa foi a política de filho único adotada pela China em 1979, como mostra a redução populacional a partir de sua adoção.
Quando percebeu para onde caminhava o modelo familiar 4-2-1 (quatro avós, dois pais, um filho), com o filho tendo agora que cuidar de seis idosos, o governo chines mudou a politica de 1 para 3 filhos por casal.
Mas, a tentativa de reverter os impactos da política do filho único com incentivos para as famílias terem dois ou mais filhos não adiantou nada e as taxas de natalidade continuaram diminuindo
A consequência é cada vez menos jovens para contribuir e cada vz mais aposentados recebendo benefício é impossível manter o sistema de pé, algo que soa mais do que familiar né!
A coisa piora mais ainda quando entre esse número cada vez menor de jovens aptos a contribuir, uma quantidade crescente de trabalhadores autônomos e da economia informal resolve parar de recolher contribuições para a previdência social.
O boicote dos jovens
Os jovens têm plena percepção, com o andar da carruagem, que eles estarão contribuindo para manter o sistema funcionando hoje para os outros, mas na vez dele não haverá mais dinheiro.
“Quem sabe como estará a economia da China quando eu completar 65 anos? Nāo há garantia de quanto eu receberei de aposentadoria, nem se será suficiente para pagar minhas necessidades diárias. Por isso prefiro não pagar”, diz um jovem chinês de 22 anos.
A maioria dos trabalhadores autônomos ou da economia informal na China tem menos de 40 anos de idade e 70% deles ganham menos de US$ 100 por mês. Ou seja, não sobra nem para contribuir para a previdência social.
Para piorar o equilíbrio do sistema, uma pesquisa feita com mais de 6 mil empresas chinesas mostrou que apenas 28,4% delas recolhem as contribuições devidas para a previdência social do país.
Tudo isso levou o governo a aumentar a idade de aposentadoria do sistema oficial, mas mesmo com as novas idades os chineses se aposentam mais cedo do que as pessoas nas principais economias do mundo.
Essas medidas serão suficientes para reverter a tendencia de insolvência e resolver o problema da aposentadoria na China?
Eu respondo: nāo, nāo serão. Pelo mesmo motivo que aumentar a idade de aposentadoria no Brasil, nos EUA ou em qualquer outro lugar do planeta nāo resolve um problema sistêmico.
Precisamos de um novo Bismark, mas o mundo segue em dissonância cognitiva.
Em um mini-documentário (com apenas 09:24 minutos) a Bloomberg mostra tudo isso. Quem quiser assistir pode usar esse link: aqui
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Why Are China’s Youth Boycotting Pensions?”, escrito por David Rovella.
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