De Sāo Paulo, SP.
Se a tecnologia está em toda parte, por que não deveria estar na área mais íntima de nossas vidas? Se a tecnologia permeia todo o terreno das relações humanas, por que sexo e sexualidade seriam uma exceção?
No alvorecer de uma nova revolução sexual é hora de investidores institucionais e fundos de pensão encararem o “sexo” - sem estigmas, sem preconceitos e sem tabus - como um negócio legitimo e promissor para investimentos.
O futuro do sexo
Ninguém ficaria surpreso se soubesse que 39% dos adolescentes americanos (13 a 19 anos) e 59% dos jovens adultos (20 a 26 anos) usam seus smartphones para “sexting” - definido como o envio de mensagens, imagens ou vídeos sexualmente explícitos por meio de tecnologias digitais.
Mas e se os smartphones pudessem transmitir não apenas imagens, vídeos e textos, mas também odores, sensações táteis, estímulos ...?
Alguns anos atrás foi publicado um relatório intitulado The Future of Sex Report, descrevendo o futuro da sexualidade humana e os resultados de uma pesquisa desenvolvida na interseção entre tecnologia e sexo. Quem quiser acessar o relatório completo pode usar esse link: aqui.
O estudo apresenta uma visāo prospectiva de produtos e soluçōes da indústria do sexo em cinco áreas, explicando cada uma delas e quais inovações esperar nos anos à frente (imagem que ilustra esse artigo), as cinco áreas sendo:
Sexo Remoto - Sexo entre duas ou mais pessoas que nāo estejam no mesmo lugar, mas estejam conectadas pela Internet. As pessoas usarāo brinquedos sexuais eletrônicos, operados por computadores ou dispositivos que usam dados, para aumentar a experiência do parceiro e compartilhar prazer. Os dispositivos transmitirāo sensaçōes fisicas através de sensores de toque, para estimular os parceiros à distância e em tempo real;
Sexo Virtual - Acontece quando pessoas conectadas por meio de dispositivos de comunicaçāo compartilham conteúdo sexual. Isso inclui mensagens digitadas, bem como video e conversas de voz online e por telefone. Mundos 3D desenvolvidos por computadores sāo lugares cada vez mais populares para se faaer sexo virtual usando avatares, que sāo representaçōes virtuais do jogadores.
Robôs - Sāo máquinas destinadas a fazer a vida humana melhor, mas que muita gente teme que roubem nossos empregos e nossas mentes. Robôs desenvolvidos à semelhança do ser humano sāo chamados de “humanóides”, com os robos masculinos chamados de andróides e os femininos de ginóides. Avanços nesse campo estāo focando em dominios mais complexos, como sexo, emoçōes e amor.
Entretenimento imersivo - Tecnologia que mistura o mundo fisico ao mundos virtuais ou simulados criados por computadores. O objetivo é fazer os usuários sentirem-se parte real dos acontecimentos no ambiente criado. Uma forma de fazer isso é através da realidade virtual, quando alguém entra integralmente em ambientes 3D, em geral usando um dispositivo audio-visual; e
Sexo Aumentado - Uso de tecnologia para melhorar o que o corpo humano é capaz de fazer e a forma que se apresenta. Realidade aumentada, implantes e computadores vestíveis (werables) buscam esticar os limites biologicos. Quando se trata de sexo e saude sexual, profissionais da medicina e o publico em geral vem desafiando as fronteiras do prazer.
O relatório também fez várias previsões - na figura abaixo, seguem três delas - sobre como nossas vidas sexuais sofrerão mudanças dramáticas, alcançando novos patamares nas próximas décadas.
Bertalan Meskó, médico futurista, pesquisador e palestrante, no artigo “The Future of Sex and Sexuality” descreve algumas das inovaçōes em desenvolvimento na indústria do sexo.
Telepresença: camisetas que abraçam
Há empresas desenvolvendo a impressāo de odores, que no futuro poderá levar celebridades a vender para os fās seus aromas naturais. Avançado demais? Que tal um dispositivo chamado “Camiseta do Abraço”, que permite às pessoas enviar abraços à distância - igual se faz hoje com mensagens de texto no Whatsapp?
A camiseta permite sentir a força (pressāo), a duração e a localização do toque, o calor da pele e a frequência cardíaca do remetente. Sensores, então, recriam as mesmas sensaçōes na camiseta usada pelo ente querido distante.
Já ouviu falar de “teledildonics”, que em traduçāo livre seria algo tipo: televibradores? Pois é, esses brinquedos sexuais automatizados, controlados por um usuário remoto ou por um software, sāo os precursores das máquinas robotizadas do prazer. Eles já estāo por aqui e em breve veremos manchetes tipo: “Mulher processa companhia de robótica por ter quebrado a perna durante o sexo com um robô” …
Robôs: o futuro dos brinquedos sexuais
Hiroshi Ishiguro, inventor e roboticista japonês, disse que os robôs mais sofisticados do mundo deverāo ser incorporados em nossas vidas cotidianas por volta de 2050. Recepcionistas, guias de museu, professores e … claro, brinquedos sexuais.
Em um relatório publicado em 2017 o Dr. Ian Pearson, futurologista, especulou que em 2050 o sexo com robôs se tornará mais comum do que o sexo entre dois seres humanos. Do jeito que as coisas andam, talvez ele esteja certo.
Veja, por exemplo, a meca mundial do high-tech: o Japāo. Uma preocupaçāo crescente por lá é a perde de interesse dos jovens pelo sexo, o que vem causando serios problemas sociais. Nāo por acaso, empresas japonesa vem desenvolvendo robôs com os quais se possa transar.
Caso tais robôs possam substituir satisfatoriamente o sexo, talvez muitos daqueles com dificuldade em se relacionar sexualmente na vida real possam optar por eles. Alguns robôs como o da TrueCompanion feitos de silicone e metal, sāo capazes de sentir os movimentos do usuario e ouvir sua voz, respondendo de acordo com eles.
A The RealDoll company fabrica bonecas adultas equipadas com IA que, de acordo com a empresa, é capaz de substituir conversas na vida real.
O inventor americano de robótica, Dr. David Hanson, criou a Sophia, cuja aparência é uma mistura de Audrey Hepburn e sua propria esposa. Sua pele ultra-realista é feita de silicone, ela é capaz de reproduzir mais de 62 expressoes faciais ao falar e su inteligencia é aprimorada com o tempo.
Quando Sophia foi apresentada em 2016 na SXSW, um congresso de entretenimento, cultura e tecnologia, o Dr. Hanson ventilou a possibilidade de um android como ela ser usada como um sexbot (robô sexual).
De acordo com a empresa de consultoria Root Analysis o valor estimado da industria de robôs, que em 2024 era de US$ 64,8 bilhōes, deverá atingir US$ 375,82 em 2035, representando um retorno CAGR de 17,33% no periodo.
Experts acham que produtos como Samantha, um robô com inteligencia artificial desenvolvido pela empresa Synthea Amatus, que pode dizer nāo para o sexo caso sofra violência ou seja desrespeitada, podem nao apenas ser a solucao para solitarios anti-sociais, mas também para casais descontentes nos quais nenhum dos dois quer trair o parceiro.
Na China, Japāo e Espanha já existem até bordeis com robôs. Um deles, em Barcelna, teve que se mudar depois de ser considerado uma ameaça pela concorrencia (profissionais do sexo atuando no local).
A essa altura você pode estar chocado, indignado, frustrado, surpreso ou a combinação dos quatro. No entanto, você deveria considerar que as tecnologias sāo desenvolvidas em resposta a alguma necessidade.
Há pessoas que vivem relacionamentos à distância, outras que podem ter dificuldade com a monogamia, outros ainda que apesar de estarem casados e felizes, o sexo nāo está funcionando bem. Existem pessoas solitárias que se sentem desesperadas e aquelas que tem sérias dificuldades em se relacionar sexualmente.
No futuro, a indústria do sexo nos oferecerá soluçōes para termos uma vida mais saudavel e melhor. Claro, existem inúmeras questōes que emergem, que tem a ver com nosso modo de vida, nossos relacionamentos, nossos papéis e nossa sociedade como um todo.
A principal e mais dolorosa dessas questōes, talvez seja como manter no futuro a intimidade, empatia e cuidado com os outros, com e sem a ajuda da tecnologia. Podemos e devemos preservar isso no longo prazo?
Transhumanistas como Zoltan Istvan dizem que nāo, nāo é possivel e que nāo devemos nos lamentar muito por isso
Transumanismo: movimento multidisciplinar que estuda como a tecnologia é capaz de fundir o corpo e a mente humanas, permitindo ao ser humano transcender diante das limitações atuais.
Segundo Zoltan, nāo se trata de como a tecnologia pode mudar a sexualidade, mas sim se a sexualidade pode sobreviver à tecnologia. Ele acha que nāo sobreviverá. A sexualidade, como qualquer ritual social, é algo que nāo será necessário em um mundo no qual os bebês nascem em tubos de ensaio ou onde a ideia de ter filhos é abandonada por completo.
Particularemente, acho que deveriamos ensinar nossos filhos a amar, a sentir empatia pelos outros e a formar laços duradouros enquanto, paralelamente, tentamos descobrir o lugar que a tecnologia deve ter em nossas vidas e na sexualidade.
E devemos fazer isso rapidamente, se quisermos preservar a essência do ser humano. Afinal, o quê resta quando uma das mais preciosas interaçōes humanas - tocar outra pessoa com carinho, empatia e intimidade - perde toda autenticidade e é totalmente substituída por robôs e realidade virtual?
Nāo é olhando para o lado e deixando de investir no setor que investidores institucionais e fundos de pensāo participarāo dessa discussāo e do futuro do sexo, muito mais relevante para a sociedade do que investir em titulos publicos.
Aqui termina a terceira parte desse artigo, espero que tenham gostado.
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fontes: “The Future of Sex Report”, escrito Jenna Owsianik e Ross Dawson | “The Future of Sex and Sexuality”, escrito por Bertalan Meskó.
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