quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

VAMOS FALAR DE SEXO NOS FUNDOS DE PENSĀO? (PARTE 1/3)

 


De Sāo Paulo, SP.


Em um mundo com rápidas mudanças, muitos aspectos de nossas vidas vêm sendo transformados pela tecnologia ... incluindo a maneira que sentimos e expressamos nossa sexualidade.

Entre muitas outras inovações, podemos nos comunicar instantaneamente com a pessoa amada, esteja ela perto ou longe, tornando os relacionamentos à distância viáveis ​​e a gratificação lasciva com novos parceiros mais fácil de satisfazer.

Robótica, realidade virtual e inovações científicas extraordinárias vem expandindo a forma de expressarmos e experimentarmos a sexualidade através dos cinco sentidos. Avanços nas ciências biológicas e neurológicas estão abrindo múltiplas possibilidades eróticas.

Para entender as implicações de como o sexo está evoluindo e estar mais bem preparado para as transformações da sexualidade humana – muito além do que imaginamos – é preciso enxergar o rumo que o futuro do setor está tomando e aqui vão alguns insights das oportunidades potenciais de investimentos que oferece.

Um enorme mercado

Quando se trata de investimento, a indústria do sexo pode ser difícil de vender. Você imaginaria que em pleno ano de 2025 os tabus e preconceitos em torno do prazer sexual, que existiam na época das nossas bisavós, teriam se dissipado.

Contudo, mesmo diante de uma educação aberta sobre o assunto, da revolução sexual dos anos 60-70 e dos avanços sociais dos usos e costumes, os investidores corporativos ainda parecem achar esse, um tópico difícil de abordar.

Sexo é um mercado em expansão. De acordo com o grupo de pesquisa de mercado Statista, a expectativa é de que apenas a indústria de brinquedos sexuais, sozinha, represente US$ 80,7 bilhōes em 2030.

Porém, são poucos os fundos corporativos de venture capital que optam por investir em algo remotamente relacionado à indústria do sexo – e até onde a vista alcança, nenhum fundo de pensāo o faz. Podem estar deixando passar uma oportunidade.

Numa época em que os investidores institucionais estão fazendo um escrutínio das empresas que compõe seu portfolio – em busca de maiores retornos - e os fundos de pensāo estão preocupados com a diversificação de seus investimentos, vale a pena salientar que o site de conteúdo adulto OnlyFans, fundado em 2016, teve lucros (antes dos impostos) de US$ 525 milhões em 2022.

Na década passada houve um lento aumento na quantidade de investidores buscando startups baseadas no mercado da diversão sexual. A firma de venture capital Vice Ventures, por exemplo, se dedica exclusivamente a financiar startpus “do pecado”.

Rebranding ou reformulação da marca, tem sido uma resposta para tornar mais palatável a atracão de investidores, com algumas startups ganhando investimentos ao optarem por se associar à saúde e à educação ao invés de puramente, sexo.

LoveHoney, uma empresa que distribui brinquedos sexuais, agora se apresenta como uma marca de saúde e bem-estar sexual.

As atitudes também estão mudando. As posturas mais liberais da Geração Z tornaram as startups relacionadas ao sexo mais populares entre os consumidores.

“O que era erótico demais dez anos atrás, agora está em voga. Mais apps, ferramentas e inovações estāo disponíveis, oferecendo uma gama mais ampla de soluções para atender às necessidades dos clientes”, diz Mariah Freya – Coach do Sexo, Cofundadora e CEO do aplicativo de educação sexual Beducated.

Credito de Imagem: Beducated

Com um mercado que apresenta tamanho potencial, haveria espaço para investidores institucionais – tipo, fundos corporativos de venture capital e fundos de pensāo – investirem na indústria do sexo? E será que as startups do setor desejariam o apoio de investimentos corporativos?

Sexo e educação

Empresas cujo negócio é o sexo tendiam, no passado, a ser bidirecionais. Playboy e Pornhub produzem conteúdo simplista, que atende principalmente aos homens. Enquanto a indústria de brinquedos sexuais tem a tendência de ficar presa em um dos géneros, com a maioria dos produtos produzidos para mulheres.

Uma nova safra de start-ups está tentando mudar o jogo da indústria do sexo. Educação sexual é uma tendência que vem crescendo. Por exemplo, a Beducated - uma plataforma digital com sede na Alemanha – oferece aos assinantes uma biblioteca com +100 cursos sobre atividades sexuais, dando aos usuários a opção de personalizar sua jornada sexual dentro do app.

Freya, que fundou a Beducated em 2018, diz que a start-up é vital para reascender a química sexual dos casais.

“Phil Steinweber (o outro socio fundador da plataforma) e eu estamos juntos desde 2007, manter o brilho em nossa vida sexual tornou-se mais desafiador. Ao invés de desistir, optamos por fazer algo a respeito, mas encontrar conteúdo de educação sexual de alta qualidade para adultos, de uma forma prática e fácil de aplicar, era complicado. Percebemos que ter uma ótima vida sexual é treinável e mais simples do que se imagina. Esse foi o momento ‘aha!’ que nos levou à criação do Beducated” explica Freya.

Ela diz que a empresa se orgulha de ser autêntica, produtiva e util para os usuários.

“Mostramos a realidade, com modelos e casais autênticos, sem sermos brega ou vulgar. E somos inclusivos, oferecendo ensinamentos para qualquer gênero e orientação”, diz Freya.

A startup não divulga o total de investimentos recebido, mas Freya diz que receberam financiamento de investidores-anjo.

Não é sexo, é saúde?

Sexo tem sido apontado como uma ferramenta fundamental para melhorar a saúde, reduzir stress, melhorar o sono e queimar calorias, diz um artigo da Business Insider.

A crescente compreensão dos benefícios físicos e mentais de ser sexualmente ativo fez com que o cuidado com a saúde se tornasse fundamental na construção de um novo cenário para as startups do sexo.

Freya comenta que novas startups do sexo são cruciais para ajudar a apoiar as pessoas em suas vidas diárias.

“Meramente comprar um brinquedo sexual nāo é suficiente. É crucuail entender nosso corpo, nossos desejos e como podemos experimentar o prazer. As start-ups focadas no sexo podem mehorar os relacionamentos e o bem estar pessoal, desestigmatizando os aspectos da sexualidade humana”, pondera ela.

Ir além do rótulo de “sexo” é crucial nessa área. Uma start-up espanhola chamada Myhixel, por exemplo, ressalta ser uma empresa de saúde sexual masculina e nāo de fornecimento de produtos sexuais.

A empresa fabrica o dispositivo “Myhixel Control”, que atua no tratamento de ejaculação precoce e disfunção erétil. O dispositivo, porem, é apenas parte da solução oferecida – o problema que a empresa ataca é o lado emocional, intimamente ligado à saúde mental.

Credito de Imagem: Myhixel


Álvaro Molina Bautista - CFO da Myhixel – diz que o uso de tecnologia pela empresa é que a torna única:

“Nossa tecnologia se baseia na Inernet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial. Nosso produto engloba um aplicativo integrado e um dispositivo de estimulação, combinando tecnologia e terapia para oferecer uma abordagem eficaz e personalizada para indivíduos que buscam melhorar o controle ejaculatório”, afirma ele.

Um grande diferencial entre a Beducated e a Myhixel é como eles se apresentam. Freya admite abertamente que sua starup cai na categoria de produto sexual. A equipe da Myhixel, no entanto, prefere ir além do rotulo de negócio de “sexo”.

Ser classificada como uma start-up de saude permite a Myhixel ser levada a sério no setor de investimentos, explica Bautista. O investimento total e o nome dos financiadores da Myhixel não foram divulgados.

“Assegurar capital privado é um desafio, exacerbado ainda mais pelo contexto macroeconômico desafiador. Como resposta, alternativas de financiamento privado tem sido exploradas, como crowdfunding, family offices e investidores-anjo”, comenta Bautista.

... o artigo continua, leia a Parte 2/3.


Grande abraço,

Eder.


Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Let’s talk about sex: How CVCs are missing out on a huge investment market”, escrito Roshini Bains.

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