De Sāo Paulo, SP.
O desafio de encontrar o dono dos saldos de conta de previdência complementar deixados para trás, quando participantes são desligados de uma empresa patrocinadora, não é novo.
No Reino Unido, duas décadas atrás, uma lei chamada 2004 Pensions Act criou regulamentação para permitir que o governo forneça gratuitamente aos cidadãos um serviço de rastreamento de saldos de previdência complementar nāo-reclamados ou perdidos.
Um relatório do novo serviço, chamado PST (Pensions Tracing Service), publicado seis anos depois pelo ministério do trabalho britânico estimou, conservadoramente, que o total de saldos perdidos girava em torno de £$ 3 bilhōes (uns R$ 22 bilhōes).
Nos anos seguintes houve um aumento significativo da conscientização do publico sobre o assunto. O PTS foi expandido, lançou um novo website em 2016 e ao longo dos anos conseguiu ajudar milhares de pessoas a encontrar o dinheiro de previdência complementar perdido.
Profissionais que trabalham com finanças pessoais e firmas de assessoria financeira tem dedicado grande espaço na mídia para alertar sobre o assunto. Foi criado inclusive o “Dia nacional de rastreamento de planos de previdência complementar” (National Pensions Tracing Day)
Mesmo com tudo isso, de acordo com o Pensions Policy Institute (uma firma de análises de políticas de previdência complementar) estimou que agora no começo de 2025 o montante perdido - apenas de saldos de conta de planos de contribuição definida - chega a £$ 31 bilhões – mais de dez vezes o montante de 15 anos atrás.
Parece que a despeito de todos os esforços e conscientização do publico sobre o assunto dos saldos perdidos, as boas intenções do governo não foram capazes de acompanhar o crescimento do problema.
Com a adesão automática à todo vapor, na medida que milhões de pessoas comecem pela primeira vez a acumular dinheiro em contas de previdência complementar nos fundos de pensão, espera-se que o problema dos saldos perdidos ou abandonados seja exacerbado.
A natureza do mercado de trabalho no Século XXI, caracterizada por empregados que trabalham em múltiplas empresas ao longo da carreira e acumulam poupança previdenciária em vários fundos de pensão diferentes, só aumenta o desafio.
As novas gerações, como os Millenials, que podem ter em média 14 empregos ao longo da vida, terão um plano de previdência complementar separado em cada um deles, deixando para trás inúmeros saldos inativos, um enorme desperdício de tempo para localizá-los e despesas de administração. No Reino Unido já são 10 milhões de contas em planos CD com saldos diferidos (BPD) inferiores a £$ 100 (uns R$ 600).
Em outras palavras, o problema crescerá exponencialmente.
E no Brasil?
O problema é universal, no Brasil acontece o mesmo com o agravante de que os saldos acabam sendo perdidos para sempre porque os planos cobram taxas de administração que “zeram” os saldos em poucos anos.
Inexistem dados no Brasil, mas a montanha de dinheiro que foi ficando para trás nos EUA quando os americanos mudam de emprego, de acordo com um relatório de 2017 da NBC News, soma US$ 2 Trilhōes. Relatório: aqui.
Em Terras de Cabral, quando se trata de localizar a poupança de aposentadoria ou de (trans)portar os recursos do fundo de pensão de um empregador para outro, cabe ao participante correr atrás.
Por isso, com frequência, muitos saldos com poupança de previdência complementar vão ficando para trás, espalhados em vários planos diferente quando um participante muda de emprego. As pessoas perdem o controle de suas contas de aposentadoria e dos recursos acumulados em cada uma delas.
Não existe no Brasil um banco de dados nacional que mantenha informação sobre os planos de previdência complementar de todos os trabalhadores – sejam eles administrados por fundos de pensão ou seguradoras (PGBL, VGL, FGB). Falta um sistema unificado.
Quando um participante ativo que termina o vínculo empregatício com a patrocinadora não se manifesta sobre o destino dos recursos acumulados no fundo de pensão da empresa, o dinheiro fica parado lá.
Normalmente, são os saldos de pequeno valor que ficam perdidos e 80% dos saldos de aposentadoria, são de pequeno valor. Esses saldos acabam sendo zerados com o passar dos anos em função da cobrança de taxas de administração/gestão financeira, que são deduzidas diretamente das contas.
Nos EUA acontece a mesma coisa e um saldo de US$ 1.000 levará em média nove anos para ser zerado e sumir do mapa para sempre, impondo perdas ao participante. Idem por aqui.
Só que lá a galera começou a processar as empresas pelo uso indevido dos saldos não – reclamados, ou seja, para pagar as despesas administrativas dos fundos de pensão, como acontece também aqui no Brasil. Escrevi sobre isso em agosto passado (link para o artigo: aqui).
Tecnologia ultrapassada para encontrar os participantes
As tentativas do segmento de fundos de pensão para localizar os donos dos saldos deixados para trás permanece com soluções enraizadas no Século XX.
Em Terras de Cabral os fundos de pensão ainda se baseiam em métodos tradicionais baseados em papel, como publicar avisos em jornais de grande circulação.
Isso em plena era digital, quando mais de dois terços dos participantes de fundos de pensão estão ativos nas mídias sociais e 70% passam pelo menos cinco horas por dia online. Está na hora dos operadores de planos de previdência complementar adotarem soluções contemporâneas para um problema também contemporâneo.
Usar tecnologia de ponta, incluindo IA, para recuperar e analisar dados digitais, é uma maneira eficiente e facilmente acessível para os fundos de pensões melhorarem significativamente a busca por participantes com destino desconhecido.
Essas tecnologias, conhecidas como inteligência de dados, pode permitir contato online não apenas com os participantes desaparecidos, mas também com seus dependentes.
Fazer uso da mais recente tecnologia digital desta forma não requer nenhuma infraestrutura complexa, é acessível imediatamente, é muito mais rápido do que as buscas tradicionais por contato atualizado e por utilizarem fontes de código aberto, é totalmente compatível com as regras de compliance.
Estamos vinte cinco anos adentro do Século XXI, está na hora do setor de fundos de pensāo abraçar soluções mais contemporâneas para um problema muito atual e do governo acordar para o assunto.
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Attempts to tackle the issue of lost pots have failed to keep pace with the growing challenge”, escrito por Max Lack.
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