sexta-feira, 24 de março de 2023

Será que a tecnologia de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, poderia sentar-se na cadeira de conselheiro nos fundos de pensão?

 


De São Paulo, SP.


Achei que seria mais fácil saber a opinião do próprio ChatGPT, então, perguntei diretamente para ele. Fiz a seguinte pergunta hoje:


 “Você acha que os recentes avanços da tecnologia de inteligência artificial poderiam ser uma alternativa para nomeação de membros para os conselhos dos fundos de pensão? Seria possível um dia, os membros dos conselhos dos fundos de pensão serem substituídos pela inteligência artificial?”

A resposta que o ChatGPT forneceu foi a seguinte:


Apesar dos avanços da inteligência artificial estarem mudando o cenário de vários setores, inclusive o financeiro, é improvável que os membros dos conselhos dos fundos de pensão sejam completamente substituídos pela IA no futuro próximo.

Conselhos de fundos de pensão consistem tipicamente de indivíduos com um conjunto diverso de capacitações e experiencias, incluindo a área jurídica, financeira e expertise em governança. Se por um lado a IA certamente pode ajudar com algumas tarefas como análise de dados e tomada de decisões, por outro, não pode replicar as nuances de julgamento e a capacidade de tomada de decisões dos seres humanos.

Além disso, conselheiros de fundos de pensão são responsáveis por tomar decisões que possuem implicações sociais e éticas significativas, tais como a alocação (de ativos) dos fundos de pensão e a gestão de riscos. É importante ter um grupo diverso de indivíduos com diferentes perspectivas e valores tomando essas decisões, para assegurar que sejam tomadas no melhor interesse dos participantes.

Não obstante, a IA pode certamente desempenhar um papel de apoio aos membros dos conselhos fornecendo análise de dados e avaliando riscos. A IA também pode fornecer recomendações ou sugestões aos membros do conselho dos fundos de pensão baseada em padrões e tendencias nos dados. Enfim, é provável que a IA continue a desempenhar um papel cada vez mais importante na gestão da previdência complementar, mas é improvável que substitua inteiramente os seres humanos.



Uau! A resposta trás um monte de pontos interessantes.


Primeiro, reconhece que as máquinas não são capazes de assumir o manto de responsabilidades de um conselho. Nas entrelinhas, porém, a resposta não afasta inteiramente essa possibilidade e deixa implícito que num futuro “distante”, quem sabe ...?


Segundo, assume que os conselhos dos fundos de pensão são caracterizados pela diversidade de pensamentos e ideias, por indivíduos que tem diferentes perspectivas e valores. Será mesmo? Os conselhos que temos atualmente nos fundos de pensão brasileiros são formados integralmente por gente da mesma empresa, do mesmo segmento de negócios, todos colegas de trabalho, todos participantes do plano, sem política de igualdade de gênero. Isso é “grupo diverso”? Me diz aí nos comentários ...


Terceiro, para ficar apenas nos pontos mais importantes, a resposta assume que os membros dos conselhos dos fundos de pensão possuem expertise em governança. Será que profissionais que passaram a vida toda fazendo gestão e estão se sentando pela primeira vez na vida numa cadeira de conselheiro – esse é o perfil geral dos colegiados no Brasil – são especialistas em governança e tem experiência em “supervisionar” a gestão de organizações?      


O garçom e o ChatGPT


Por ora, a discussão pelos conselhos deliberativos dos fundos de pensão sobre o papel da IA deveria focar mesmo é nos impactos sobre as operações e gestão das atividades do dia a dia.


A maioria dos especialistas em tecnologia vem alertando as organizações para a necessidade de desenvolverem políticas para o uso da IA, como o ChatGPT, antes que ela seja usada internamente, por exemplo, para obter conteúdo (informações) online, fornecer respostas nos serviços de atendimento aos clientes, programação de computador, mensagens de marketing, resumo de relatórios etc.


Esse cuidado faz sentido, estamos presenciando a democratização do acesso à tecnologia de ponta e tudo pode acontecer.


Na semana passada minha esposa e eu fomos jantar em um restaurante em Jundiaí, interior de São Paulo. Conversando com o garçom soubemos que ele estava usando o ChatGPT, rimos muito quando ele disse que havia perguntado para a IA a opinião sobre o Palmeiras (time de futebol).  


É impossível saber a fonte e citação das informações usadas por ferramentas de IA como o ChatGPT em suas respostas. Isso levanta duvidas sobre a credibilidade da informação que produz.


Por mais que o ChatGPT pareça bom, se deixado sem verificação ele pode causar problemas.


Os perigos e os cuidados imediatos que os fundos de pensão devem tomar


Imagem criada pelo DALL-E2 a partir do pedido: “crie o quadro de uma pessoa olhando para o céu, preocupada com o futuro, no estilo de Van Gogh”


Um artigo recente da Bloomberg, mencionando uma pesquisa da Gartner, mostrou que metade dos departamentos de RH das empresas está elaborando políticas e orientações regulando o uso do ChatGPT no ambiente de trabalho.


Mostrou, também, que 3% das empresas baniram por completo o uso do ChatGPT e 34% não tem planos para uma política assim.


Eser Rizaoglu – Analista da Gartner RH, disse que os departamentos de TI, Jurídico, Compliance e Auditoria Interna estão envolvidos nas conversas para avaliar os riscos e oportunidades, definir quem pode e quem não pode usá-lo e se devem ou não banir seu uso por completo.


O problema com o ChatGPT é que as ferramentas de IA não foram desenhadas para produzir novos meios de ver as coisas e as informações nas quais se baseiam podem ser tendenciosas e embutir vieses não imediatamente aparentes para os usuários.


Isso inclui apresentar opiniões como se fossem “fatos verificados”, conforme ficou mostra a resposta no alto desse artigo, assumindo que os boards dos fundos de pensão possuem diversidade.


Os conselhos terão que atacar os principais problemas que vem emergindo da IA, desde questões éticas, até transparência e as implicações legais.


Uma área na qual a IA pode ajudar significativamente é a de auditoria. Conselheiros e participantes de fundos de pensão podem ter acesso aos dados de rentabilidade em tempo real, sem esperar pelos relatórios. Imagine os participantes lendo as demonstrações financeiras, sem filtro, ao mesmo tempo que o diretor de investimentos.


A Microsoft mostrou recentemente como sua ferramenta de busca (BING), que está sendo chamada de “co-piloto para a Internet”, foi capaz de resumir o relatório trimestral de uma grande empresa varejista, produzindo bullets com os pontos mais relevantes e depois comparar os dados com uma concorrente.

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A inteligência artificial vai, inevitavelmente, ser usada no ambiente de trabalho.

Nos níveis mais hierárquicos altos, como o de diretores presidentes de grandes fundos de pensão, dominar a IA é essencial na medida em que ela vai subindo na estrutura corporativa, saindo dos processos operacionais e dando apoio ao processo de tomada de decisões pela liderança.


Aqueles que não compreenderem a (r)evolução da IA serão desbancados por aqueles versados nesse novo mundo.


O ChatGPT é uma ferramenta e como mostrou a Revolução Industrial, aqueles que entendem o significado das novas ferramentas, saem na frente.

Ah sim, a foto da capa foi gerada pelo DALL-E2  a partir do meu pedido “crie uma foto sobre IA e o futuro da raça humana”.


Está na hora dos Presidentes dos fundos de pensão começarem a se familiarizar com as ferramentas de IA.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: Could ChatGPT technology join the board?, escrito por Gavin Hinks.


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