De Sāo Paulo, SP.
“Tudo que é visível, esconde algo que é invisível”
René François Ghislain Magritte (1898-1967) foi um famoso pintor surrealista Belga, cujas obras exploravam a temática do visível e do oculto.
Conhecido pelo trabalho provocativo e muitas vezes paradoxal, Magritte acreditava que tudo o que vemos esconde outra coisa e sempre queremos ver o que está escondido.
Sobre a imagem que ilustra esse post, Magritte escreveu:
"As coisas visíveis podem ser invisíveis. Se alguém monta um cavalo através de um bosque, primeiro podemos vê-lo e depois não, mas sabe-se que ele está lá. No quadro ‘The Blank Cheque’, a moça está escondendo as árvores e as árvores estão escondendo a moça. No entanto, os nossos poderes de pensamento compreendem tanto o visível quanto o invisível. Faço uso da pintura para tornar visíveis os pensamentos"
A citação “Tudo que é visível, esconde algo que é invisível” reflete a temática surrealista que explora as camadas ocultas da realidade, sugerindo que o que vemos na superfície, muitas vezes esconde verdades mais profundas e invisíveis.
A pintura que retrata uma mulher cavalgando um cavalo por uma floresta, com partes do cavalo e da mulher escondidos pelos troncos das árvores, ilustra o conceito de visibilidade e invisibilidade num sentido artístico e literal.
O estilo, a arte de Magritte, na qual elementos são habilmente escondidos ou misturados, cria um senso de mistério e encoraja o espectador a olhar além do óbvio.
Resolução CMN no 5.292 de 27 de março de 2025
Já começou errado. A proposta original da resolução, enviada para o Ministério da Fazenda em 2024, foi formulada pelo órgão de fiscalização do setor - a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) - ao qual cabe, legalmente, a função de supervisão.
A resolução deveria ter sido proposta pelo órgão de regulamentação dos fundos de pensão - o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) - ou mesmo pelo órgão responsável pela definição de políticas públicas de previdência complementar, seja este qual for, mas não foi.
Consta que o objetivo principal da revisão nas regras de investimentos dos fundos de pensão era adaptá-las à regulamentação dos fundos de investimentos, aprovada em 2022 pela Resolução CVM nº 175 (portanto, três anos atras!).
Entre as mudanças, destacam-se alguns pontos:
- Fim da obrigação da venda de imóveis em carteira (o prazo era 2030). Ressalte-se que, diferentemente do permitido nos países desenvolvidos, os fundos de pensão brasileiros, sabe-se lá a razāo, continuam proibidos de investir diretamente na compra de imóveis.
- Permitidas aplicaçōes em Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (FIAGRO): Limite de 10% do patrimônio por plano - Nota: interessa ao governo.
- Permitidos investimentos em ativos financeiros da transição energética, a exemplo de créditos de descarbonização (CBIO) e créditos de carbono): Limite de 3% do patrimônio por plano. - Nota: interessa ao governo.
- Reduzido o limite máximo permitido para aplicações em Fundos de Investimento e Participações (FIP): Limite era de 15%, foireduzido para 10%.
- Permitidos investimentos em debêntures de infraestrutura (Lei 14.801/2024): Limite de 20% do patrimônio por plano - Nota: interessa ao governo.
- Proibição de investimento em ativos virtuais (cryptoativos / ativos digitais) de forma direta ou indireta (ETF’s, Fundos ...)
Fica a impressão de que a maioria das alterações foi feita para beneficiar o governo – que passa a contar com recursos para infraestrutura e para cumprir compromissos do país com a transição energética – em detrimento dos fundos de pensão, proibidos de investir em imóveis e ativos digitais.
No melhor estilo de René Magritte, se as mudanças levadas a cabo pelo governo escondem alguma coisa, queremos ver o que está escondido ...
O alerta de Cassandra
Na mitologia grega Cassandra, por vezes chamada Alexandra, possuía o dom de fazer profecias nas quais ninguém acreditava, sendo por isso considerada louca.
Filha dos reis de Tróia, Priamo e Hércula, Cassandra profetizou o que aconteceria caso os troianos levassem o cavalo de madeira para dentro das muralhas, não tendo ninguém acreditado nela, apesar dos seus avisos. Consequentemente, Tróia foi vencida e destruída pelos gregos.
As Cassandras no setor de fundos de pensão representam um elemento importante para reconhecer pontos de inflexão. Da mesma forma que Cassandra previu a queda de Tróia, algumas pessoas são rápidas em reconhecer mudanças iminentes e emitem alertas precoces.
Apesar de poderem surgir de qualquer canto do segmento, Cassandras não costumam ocupar posições internas de alta gestão executiva, nem atuar dentro dos muros dos fundos de pensão ou gabinetes fechados do setor publico.
Frequentemente, são profissionais ocupando posições não-executivas em conselhos deliberativos, profissionais trabalhando “com o pé na rua” em previdência complementar (tipo: em vendas) ou gente batalhando pelo pão de cada dia no ecossistema de prestadores de serviço.
Essas pessoas geralmente têm mais conhecimento sobre as mudanças que se aproximam do que gente que atua intramuros, porque passam muito mais tempo “da porta para fora”, onde a vida acontece e os ventos do mundo real sopram em suas faces.
Em outras palavras, seus genes não foram selecionados para alcançar a perfeição no modo antigo ou corrente de fazer as coisas.
Por estarem na linha de frente do segmento, as Cassandras se sentem mais vulneráveis aos perigos do que os altos gestores executivos ou tecnocratas, de certa forma, protegidos em seus escritórios com janelas reforçadas. As más notícias têm impacto pessoal muito mais imediato nelas.
Vendas perdidas afetam as comissões dos vendedores. Tecnologia e produtos que nunca deslancham no mercado causam disruptura nas carreiras de seus desenvolvedores. Por isso, eles levam os sinais de alerta muito mais a sério.
Ainda que fosse possível descortinarmos o invisível de Magritte por trás da Resolução no 5.292/2025, o alerta de Cassandra indica que nossos tecnocratas estão apenas prejudicando os participantes dos fundos de pensão, no curto prazo.
Mais dia, menos dia, os fundos de pensão das Terras de Cabral serão autorizados a investir em ativos digitais / cryptoativos, mas as oportunidades perdidas agora, jamais serão recuperadas.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Only the Paranoid Survive”, escrito por Andy Grove; “Light of Rumi”, post escrito por Kashaf Ul Rehman.
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