segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

NO MUNDO DO FAZ DE CONTA, O FUNDO DE PENSÃO QUE NÃO SE PREOCUPAR COM O “G” DE ESG SERÁ ALVO DA SELEÇÃO NATURAL

 




De São Paulo, SP.


Acontecimentos na semana passada expuseram a hipocrisia do board de empresas que são notórias por sinalizar suas virtudes, mas que ao invés de demonstrarem sua coragem, preferiram se esconder debaixo da mesa esperando as coisas se acalmarem e o problema passar.

A bomba que expôs o sério problema de governança, veio da China. Quinta-feira passada, enquanto discutíamos o imbróglio das eleições presidenciais aqui no Brasil, 12 pessoas foram queimadas vivas num prédio em Xinjiang.

Com a porta de saída do prédio soldada por causa da política de lockdown, que visa alcançar Covid19-zero na população, os bombeiros não puderam entrar para apagar as chamas e as pessoas presas dentro do prédio não puderam fugir.

Protestos contra o partido comunista Chinês irromperam em Shangai, Pequim, Wuhan e até em Toronto, Nova York e São Francisco, assim como em outras partes do globo. Independentemente de sua orientação política, é difícil alguém no mundo ocidental negar que os protestos são por uma causa justa.

Por isso, ficaram todos chocados quando começaram a chegar notícias de que a Apple – sim, a tão queridinha empresa da maçã – prejudicou a capacidade dos manifestantes se comunicarem, limitando a função AirDrop dos smartphones vendidos na China continental.

Isso mesmo depois da divulgação em meados de novembro de que trabalhadores da fábrica de Iphones em Zhenzhou haviam apanhado da polícia, simplesmente porque queriam ir para casa, estavam confinados na planta há semanas.

Aparentemente, o board da Apple optou por tapar o nariz e virar a cara para as atrocidades de um regime autoritário, em troca dos benefícios e vantagens que um país com mão-de-obra barata e potencial massivo de mercado, como a China, pode oferecer.

Qualquer empresa genuinamente preocupada com direitos humanos, zelosa de sua reputação corporativa e do impacto que acontecimentos desse tipo podem causar sobre seus empregados, clientes e acionistas, teria se perguntado: O que deveríamos estar fazendo em relação a esse problema? Que resposta deveríamos dar?

Uma verdade inconveniente para Al Gore e os demais membros do conselho da Apple é que as pessoas notam, sim, a covardia dos conselhos que tentam se esquivar de questões difíceis. Principalmente quando esses mesmos conselhos são rápidos em propagandear suas virtudes em outras áreas. A hipocrisia do Al Gore e companhia é impressionante!  

É fácil posar de paradigma das virtudes corporativas quando tudo que um conselho precisa fazer é aprovar uma polpuda doação filantrópica ou mudar a página de governança do website para descrever o comprometimento do conselho com ESG.

Outra coisa é se livrar de um fornecedor Chines de baixo custo por causa de abusos nos direitos humanos ou avisar a um regime autoritário que seu produto funciona da mesma forma em todo lugar do mundo e não será alterado.

Mas tem também a BlackRock. Esta outra entrou para a lista negra do fundo de pensão dos funcionários públicos do estado americano da Florida, que retirou US$ 2 bilhões que estavam sob gestão da BlackRock.

Em dezembro do ano passado, o diretor executivo do Consumer Research, uma das maiores organizações de defesa do consumidor nos EUA, emitiu um alerta aos consumidores sobre a BlackRock. Enviou carta aos governadores dos dez estados cujos fundos de pensão tinham os maiores valores sob gestão daquela asset manager.

A carta expressava preocupação dos laços da BlackRock com a China, suas elevadas posições em investimentos no país e os riscos inerentes a tais investimentos, uma vez que as empresas chinesas são pouco transparentes e os investimentos nem são feitos diretamente nas empresas, mas sim por meio de outros mecanismos opacos.

Curiosamente, Apple e BlackRock tem um conselheiro em comum. Susan Wagner, co-fundadora da BlackRock que foi Vice-presidente de seu Conselho e COO. Por ter se aposentado em 2012, Susan é considerada hoje uma conselheira independente sob as regras da bolsa de Nova York.

Além de Susan, Larry Fink, que também é co-fundador da BlackRock e preside seu conselho de administração, integram o colegiado de 16 membros (uauuuu) cerca de 5 conselheiros que ocupam a cadeira há mais de 20 anos cada um.

Na Grã-Bretanha, considera-se que um conselheiro que tenha ficado na cadeira por mais de 10 anos, já perdeu sua independência faz tempo.

Durante minhas aulas para conselheiros de fundos de pensão, tenho dito reiteradamente que as novas gerações é que salvarão o mundo. Eu falo isso porque para a Geração Z e mesmos Millenials, não são propriamente os produtos que importam.

A admiração que eles têm por uma marca ou empresa decorre do alinhamento de propósitos individuais com os propósitos corporativos. Quando o que está em jogo são “valores” e não valores $$$, maçãs e pedras pretas são jogadas fora com a maior facilidade...

Sabe por que seu fundo de pensão ainda não foi impactado por isso? Dá uma olhadinha na idade média dos novos participantes e na proporção de participantes das novas gerações em relação aos demais e você vai entender a razão.



.... e lembre, sem novos participantes ou sem uma preocupação genuína com essas questões, seu fundo de pensão vai caminhar para extinção, bem ao estilo da seleção natural de Charles Darwin.


Grande abraço,

Eder.

 

 

Fonte: Will Three Virtue-Signaling Boards Address orIgnore Tough Governance Issues: Apple, BlackRock and Kering, escrito pela minha querida Beverly Behan.

 



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