De São Paulo, SP.
A pergunta mais frequente quando Galileu
(1564-1642) surgiu com a teoria de que a Terra gira em torno do Sol, foi:
“Por que não notamos? Por que não sentimos vento no rosto, por que não ficamos
enjoados ao girar a 100.000 km/h na órbita solar?”
A resposta ficou conhecida como Relatividade
Galileneana e contém princípios que tem amplas implicações em nossas vidas,
muito além da física.
Relatividade é a causa de muitas armadilhas cognitivas
e por causa dela cometemos diversos erros de julgamento. Entendê-la, pode nos
ajudar a tomar melhores decisões. Pode, também, indicar se estamos realmente alcançando
os resultados que pensamos estar.
Ahhh se os conselheiros dos fundos dos pensão tivessem
prestado atenção naquela aula de física da 8ª série do ensino médio! Aquela na
qual o professor falou sobre as teorias de Galileo di Vincenzo Bonaulti de
Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei.
Se o professor tivesse dito que a Relatividade
Galileneana pode ser aplicada em praticamente tudo na vida, os futuros conselheiros
teriam prestado atenção.
O exemplo clássico para explica-la é aquele de
uma pessoa dentro de um trem, segurando uma bola de basquete com as duas mãos.
Se o trem está viajando a 60 km/h, qual a velocidade da bola?
A resposta é: depende!
Se você perguntar para a pessoa segurando bola
ela vai dizer: “a bola não está se movendo, a bola está parada nas minhas mãos”
Se você perguntar para uma pessoa do lado de
fora, vendo o trem passar, ela vai responder: “a bola está se movendo a 60 km/h”.
Essa analogia ajudou Galileu a explicar a razão
de não percebermos o movimento da Terra em volta do sol – estamos na mesma
velocidade constante da Terra, nos movendo junto com o planeta.
A Relatividade Galileneana mostra as
limitações de nossa percepção e porque devemos estar abertos a outras
perspectivas, se quisermos verdadeiramente entender o resultado de nossas
ações.
A despeito de sentirmos possuir todas as
informações, se estivermos dentro do trem, a pessoa que está fora terá muito mais
coisas para compartilhar.
Reis da Inglaterra e Conselheiros de Fundos de
Pensão
No começo do Século XIV dois reis da Inglaterra
– Eduardo I e II – estavam em conflito constante com a Escócia, que insistia em
ser independente.
Não havia uma identidade nacionalista escocesa como
hoje, a luta era por causa de terras porque o domínio de vastos territórios era
a origem da riqueza e do dinheiro de cobrança de impostos.
Por isso Eduardo I, o Rei da Inglaterra, cujo sistema
feudal era mantido por um exército de soldados profissionais pago com terras, queria
dominar a Escócia, mas os Escoceses não estavam interessados.
Eduardo I invadiu a Escócia meia dúzia de vezes,
mas tudo que conseguiu foi fazer surgir uma identidade Escocesa à parte dos
Ingleses. Seu desejo insistente em dominar a Escócia o impediu de perceber que
suas ações estavam, fundamentalmente, minando seu próprio objetivo.
O que Eduardo I não se deu conta foi que suas
constantes investidas e repetidas invasões da Escócia estavam na verdade, prejudicando
a prosperidade e o poder que ele tanto queria aumentar.
As batalhas estavam custando uma montanha de
dinheiro, coletado entre os nobres que apoiavam sua monarquia, que por sua vez
tinha que ser obtido dos camponeses. As pessoas estavam ficando cansadas de ver
seus impostos serem torrados nas guerras com a Escócia.
A autoridade de um Rei ou Governante depende,
em última instancia, da lealdade e fé de seu povo. Quando se perde o apoio
popular, se perde tudo.
Após a morte de Eduardo I, seu filho Eduardo II - também chamado de Eduardo de Caernarfon - herdou a missão de conquistar a Escócia, que invadiu repetidamente, sem sucesso.
Indiferente ao sofrimento de seu povo, Eduardo II
continuou cobrando altos impostos e guerreando com a Escócia. Isso levou a uma
insatisfação crescente com seu reinado, desembocando em sua deposição e morte.
Fica a lição e a advertência sobre o que
acontece quando se perde a lealdade das pessoas que você está liderando.
Por óbvio que conselheiros de fundos de pensão
não serão depostos nem mortos por seus súditos (participantes). Não obstante, a
perda de credibilidade dos planos de previdência complementar, caso se mostrem
crescentemente incapazes de prover segurança financeira futura para as pessoas,
levarão ao enfraquecimento dos fundos de pensão como veículos de poupança de longo
prazo.
Taxas de gestão financeira | administração
elevadas e retornos dos investimentos limitados, em função de modelos de
negócios construídos na era da economia analógica, tornarão cada vez mais difícil
juntar a poupança necessária para um futuro tranquilo.
O “expresso” dos fundos de pensão está passando
Ambas as perspectivas estão corretas para os observadores.
Como a pessoa dentro do trem não possui nenhuma referência externa, ela não
está errada ao dizer que a bola está parada e não se movendo a 60 km/h.
Dado os papeis, expectativas e mitologia em
torno dos reis e seus reinados, os dois Eduardos estavam agindo em acordo com
seus pontos de vista.
A discussão sobre a tentativa de ambos os reis
conquistarem a Escócia não tem a ver com suas premissas estarem incorretas. Sob
a perspectivas deles, conquistar terras sempre foi uma coisa boa.
Porém, ao deixarem de considerar outras
perspectivas, diferentes das deles, eles deixaram de alcançar suas intenções –
controlar a Escócia – e mais importante que tudo, foram incapazes de perceber o
que estava afetando os resultados que queriam alcançar. Mais terra não pode vir
à custa do apoio do povo à sua liderança.
É provável que ao menos um conselheiro tenha
dito para os Eduardos: “Ei, talvez você deva gastar um pouco mais de dinheiro para
aplacar a fome da população que paga os impostos que te sustentam e dar um
tempo nesse troço da Escócia”.
Conselheiros de fundos de pensão, da mesma
forma, nem sempre serão capazes de se ajustar a Relatividade Galileneana ao construírem
o futuro.
De vez em quando é importante eles saberem que
estão dentro do trem e as limitações que isso acarreta e estarem abertos quando
alguém fora do trem compartilhar uma perspectiva diferente com eles.
É aqui que se torna tão importante e útil entender
a Relatividade Galileneana – não adianta atirar no mensageiro.
Entendeu?
Assinado – O mensageiro.
Fonte:
Galilean Relativity and the Invasion of Scotland, Brain Food
Nenhum comentário:
Postar um comentário