sábado, 31 de agosto de 2024

COMO A CRYPTOECONOMIA COLOCOU ÁGUA NO CHOPP DE NICOLAS MADURO, NA VENEZUELA




De Sāo Paulo, SP.


Antes de mais nada, um alerta: esse não é um artigo sobre política e sim sobre tecnologia, sobre a tecnologia por trás da economia digital.

Muita gente boa acha que cryptoconomia tem a ver com Bitcoin, Ethereun e cryptomoedas em geral e assim, vai perdendo o bonde da história.

Conforme tenho escrito aqui nesse espaço, crypteconomia nada mais é do que a “economia-da-cryptografia” e criptografia pode ser definida assim:

Cryptografia: é um método de proteção de informações e comunicações com o uso de codificação, para que apenas os destinatários da informação sejam capazes de lê-la e processá-la. Em computação, criptografia se refere a técnicas de comunicação e troca de informações derivadas de conceitos matemáticos e de um conjunto de cálculos baseados em regras, chamados algoritmos, que transformam mensagens em maneiras difíceis de decifrar, para proteger dados e privacidade.

As recentes eleições na Venezuela expuseram uma dura realidade. Embora o regime de Maduro tenha se envolvido no passado em práticas questionáveis ​​para manter o poder, a abordagem adotada pelo partido da oposição, desta vez, não deixou espaço para se discutir a verdade sobre o real vencedor das eleições presidenciais.

O partido de oposição, liderado por Maria Corina Machado, conseguiu convencer o mundo da vitória de Edmundo Gonzalez através de provas irrefutáveis, empregando o uso da criptografia para gerar um código hash para cada boletim produzido pelas urnas eletrônicas.

  • Hash é mais do que uma serie de números aleatórios – hash é uma verdadeira impressão digital, criada por um complexo algoritmo, que leva em consideração múltiplos fatores, tais como: o código da sessão de votação, o número de votos na urna para cada candidato, a hora exata do encerramento da votação na sessão eleitoral e determinadas variáveis, que são únicas para cada urna eletrônica, tipo, a temperatura especifica da máquina e a velocidade da ventoinha interna;
  • Devido a todas essas especificidades e aos componentes sensíveis ao tempo, ou seja, o horário de registro das variáveis, as “actas” ou “boletins de urna” reais se tornaram impossíveis de replicar ou falsificar.

Edmundo Gonzales - Credito de Imagem: JUAN BARRETO/AFP

A oposição na Venezuela concentrou os esforços na coleta de todas as “actas”, ou seja, na coleta de todos os boletins de urna das sessões eleitorais pelo país afora, para mostrar ao mundo o verdadeiro resultado das eleições.
  • Com mais de 80% das “actas” em poder do partido de oposição, maduro se recusou a divulgar os resultados oficiais da votação, pois estava claro que o resultado não poderia ser falsificado e o mundo não seria mais capaz de negá-lo;
  • O upload das planilhas com os boletins de urna foi feito nesse site aqui e estão disponíveis para todos poderem constatar o que elas indicam: a vitória de Edmundo Gonzales, o legitimo novo Presidente eleito da Venezuela.

No gráfico abaixo, os resultados de 997 planilhas com dados dos boletins de urna, obtidas pela oposição, mostram que Edmundo foi o vencedor.


Ninguém te falou isso, né?

Pois é, tem muita coisa que ninguém te falou. Tem muita inovação acontecendo nas sombras da cryptoeconomia, tem muitas soluções chegando, capazes de causar disruptura em segmentos inteiros da economia e o setor dos fundos de pensão não é exceção.

Ninguém vai avisar seu fundo de pensāo, com antecedência, que a disruptura chegou, tá ligado?

Grande abraço,

Eder.


Opiniões: Todas minhas | Fonte:” Proving Election Fraud Through Cryptographic Hash”, escrito por Elliot Sternberg.

domingo, 25 de agosto de 2024

A CRYPTOECONOMIA COLIDE COM OS FUNDOS DE PENSĀO, CÍRCULOS DE COMPETÊNCIA E CICLOS DE IMPLANTAÇĀO

 



De Sāo Paulo, SP.


Mudanças nos fundos de pensão terão que vir do topo, por isso é tão importante entender os modelos mentais que nos ensinam sobre círculo de competência.

A primeira regra sobre competição é que você tem mais chance de ser bem-sucedido se atuar onde você tem certa vantagem. Fazer isso, requer um solido entendimento sobre aquilo que você sabe e aquilo que você não sabe.

Seu círculo de competência é sua esfera pessoal de expertise, a área na qual seu conhecimento e capacidades estão concentrados. É o domínio no qual você tem profundo entendimento, onde seus julgamentos são confiáveis e suas decisões acertadas.

Saber a amplitude, o tamanho, o alcance do seu círculo, não é tão importante quanto saber seus limites. A pessoa sábia é aquela que conhece os limites de seu conhecimento, que sabe dizer com confiança: “Isso está dentro do meu círculo” ou “Isso está fora da minha área de expertise”.

Atuar dentro do seu círculo de competência é o caminho para ser eficaz. Aventurar-se fora dele é a receita certa para ter problemas.

Nessa nova era da cryptoeconomia, diretores e conselheiros de fundos de pensão são como marinheiros sem mapa, navegando por águas desconhecidas, a mercê de tempestades e correntes marítimas que não conhecem completamente.

Não é que eles não devam se aventurar fora do círculo deles. Aprender coisas novas, adquirir novas competências e dominar novos conhecimentos é uma das coisas mais bonitas da vida.

Os ciclos de implantação da cryptoeconomia


Credito de Imagem: Leonid Sukala/iStock


Em cada novo ciclo do mercado de crypto surgem novas aplicações e inovações que direcionam as pessoas adotar as cryptomoedas e os ativos digitais.

  • Em 2017 foi a vez das soluções DeFi – Descentralized Finance (Finanças Descentralizadas) enquanto no ciclo passado a ascensão foi das NFTs;
  • Dessa vez os catalistas mais proeminentes parecem ser o RWA – Real World Assets (digitalização dos ativos reais, tipo imóveis e outros), DePIN – Descentralized Physical Infrastructured Netwroks (Redes de Infraestrutura Física Descentralizadas que usam blockchain, tokens, contratos inteligentes e IoT para manter infraestrutura do mundo real) e Prediction Markets (Mercados de Previsão, mercados abertos que permitem a previsão de determinados eventos usando incentivos financeiros);
  • Porém, está em curso nesse momento uma revolução silenciosa e potencialmente mais impactante: a simplificação do processo de integração das pessoas comuns com o blockchain, facilitando a adoção de soluções inovadoras “on-chain”

A experiência inicial de alguém que nunca usou a Web3 pode ser assustadora.

Ter que lidar com carteiras digitais e suas seed phrases - conjuntos de 12 ou 24 palavras aleatórias, que servem para recuperar uma carteira digital - usar chaves privadas e chaves publicas, usar extensões nos browsers/navegadores de Internet para interagir com os sites da Web3, navegar por aplicativos descentralizados (dApps) ...

Tudo isso requer uma longa curva de aprendizado quando comparado àquele que foi necessário para uso da Web2. No entanto, inovações recentes vêm tornando mais amigável a jornada on-chain, ou seja, o uso do blockchain e suas soluções.

Alguns exemplos dessa facilitação:

  • Em junho a Coinbase – uma das plataformas online para transações e armazenamento de crypto – lançou uma Smart Wallet que permite a configuração instantânea de carteiras digitais, sem necessidade de extensões ou apps específicos. Para melhorar ainda mais a experiência do usuário, também introduziu o aplicativo web de sua carteira digital (Coinbase Wallet), que consolida várias carteiras em uma única interface;
  • Em julho a Circle introduziu os “logins sociais” e a autenticação de e-mails com senha única para suas Carteiras Digitais Programáveis. Circle é uma empresa de tecnologia de pagamentos peer-to-peer que utiliza a tecnologia blockchain para transações de cripto e transferências de $$$. A Circle também criou a USD Coin (USDC), uma criptomoeda cuja valorização está ancorada no dólar americano e é a segunda maior stablecoin do mundo;
  • Mais recentemente MetaMask e Mastercard lançaram um cartão de debito que permite fazer compras e pagar diretamente com as cryptomoedas guardadas na sua carteira digital. Suas cryptomoedas são convertidas automaticamente em dinheiro via Apple Pay / Google Wallet. A parceria alavanca a rede de pontos de venda da Mastercard com a segurança da MetaMask e a expertise tecnológica da Baanx. A solução roda na rede L2 LineaBuild que tem alta eficiência, permitindo elevada quantidade de operações por segundo com baixo custo por transação e compatível com o blockchain Ethereum.

Apesar de ainda haver barreiras para uma adoção mais ampla de crypto pela população, o uso de cryptomoedas está na frente da adoção que a Internet experimentou em seus estágios iniciais (gráfico abaixo).


Credito de Imagem: House of Chimera 


Na medida em que a tecnologia amadurece, as interações on-chain tem se tornado cada vez mais amigáveis com o usuário e uma nova era de engajamento das pessoas com o blockchain promete ser tão simples como navegar na Web2 hoje.

Esse ciclo da cryptoeconomia será lembrado como a revolução silenciosa da UX (User Experience ou Experiência do Usuário) que finalmente trouxe para as massas a visão de um futuro descentralizado.

Para fundos de pensão, abraçar a cryptoeconomia desde cedo pode significar viver ou morrer de vez. Devemos celebrar nossa expertise, mas também reconhecer nossas limitações.

Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fontes: “Mental Models”, escrito por Shane Parrish e “The Unsung Hero of the Crypto Bull Market”, escrito por RJ Fulton.


sábado, 24 de agosto de 2024

BISMARK JÁ ERA E ISSO TEM IMPLICAÇŌES PROFUNDAS PARA OS FUNDOS DE PENSĀO E PRODUTOS DE PREVIDENCIA COMPLEMENTAR

 


De Sāo Paulo, SP.


Está na hora de mudarmos de ideia sobre aposentadoria. Existe uma frase de Muhammad Ali que é sensacional:

“O homem que vê o mundo aos 50, da mesma forma que via aos 20, perdeu 30 anos de sua vida”

Mudar de ideia, mudar de opinião, é como atualização de software, ela melhora a versão antiga. Precisamos abraçar a atualização do conceito de aposentadoria.

Mas primeiro, por que isso?

Num artigo recente, o The Wall Street Journal publicou o infográfico abaixo, mostrando visualmente como as pessoas nos EUA gastam o tempo durante a aposentadoria.



Credito de Imagem: The Wall Street Journal


O infográfico mostra que a maior parte do dia de um aposentado é gasta dormindo (9 horas), relaxando ou em atividades de lazer (6 horas) e assistindo TV (4,5 horas).

Muito pouco tempo é gasto lendo (0,5 horas), socializando com outras pessoas (0,5 horas) ou fazendo exercícios físicos e atividades de recreação (0,3 horas).

A maioria das pessoas cria uma imagem edilíca sobre como será sua fase de aposentadoria, mas a realidade (provavelmente) será bem diferente.

Bismark cumpriu um papel, mas já era!

O conceito tradicional de aposentadoria que vigora até hoje, foi criado lá pelos idos de 1880, na época em que o Chanceler Alemão Otto Von Bismark propôs uma solução financeira para a fase da vida pós-trabalho.

 A aposentadoria baseia-se na suposição fundamental de que há um “antes” e um “depois” em sua vida. Que a pessoa trabalha por anos e anos antes e então, passa a desfrutar e aproveitar o depois.

Todos os planos de previdência complementar pressupõem que a pessoa permanecerá em atividade até determinada idade (55, 60, 65 anos) e de repente, irá parar abruptamente de trabalhar. Irá “pendurar as chuteiras”, como se diz.

Esse conceito está ultrapassado, quebrado, não funciona mais nos dias atuais. Não precisa haver um antes e um depois no meio da nossa vida – deveria ser algo fluido, contínuo, pode ser substituído por durante.

O objetivo é viver a vida e não precisar se aposentar dela

Deveríamos buscar uma vida com liberdade, equilibrar um trabalho gratificante com relacionamentos pessoais, hobbies, experiências e atividades que nos tragam alegria e felicidade. 

Qual a solução? 

O Efeito Catedral: vamos pensar GRANDE!

Em 2007 pesquisadores da Oxford University publicaram um estudo que descobriu que a altura do teto impacta em nosso foco e criatividade. 

Tetos altos contribuem para resolução criativa dos problemas, enquanto tetos com alturas mais baixas contribuem para soluções dos problemas com base na lógica

Os resultados do estudo foram confirmados posteriormente por um experimento que submeteu o cérebro de participantes a exames de ressonância magnética (fMRI) enquanto elas olhavam para imagens de tetos altos e tetos baixos.

As partes do cérebro que eram iluminadas quando as pessoas olhavam para imagens de tetos altos eram as áreas do cérebro responsáveis por exploração. 

O termo Efeito Catedral foi cunhado por William Lidwell, um profissional de “design”, para se referir ao fenômeno em que espaços amplos, abertos ou altos promovem comportamentos criativos, abstratos e exploratórios.


Credito de Imagem: Bradley Weber/Via Flickr

Se você quer pensar grande, frequente espaços amplos. Seu ambiente cria sua realidade. Quando você passa seu tempo em espaços abertos, amplos, inspiradores, sua mente se abre, se amplia, se inspira. 

Quando você chega na beira do mar, olha pro céu e vislumbra a imensidão do oceano, quando chega no campo, respira aquele ar fresco e olha para um amplo gramado com arvores, arbustos e a imensidão da natureza mexe com você, em minutos você se sente inspirado para pensar grande.

Se você estiver se sentindo preso em um projeto (ou na vida), saia para uma curta caminhada na natureza, passe um dia na praia, entre em um espaço grande, aberto e iluminado. Garanto que todo seu mindset mudará.

Isso vale também para as salas fechadas dos conselhos deliberativos dos fundos de pensão: Grandes espaços catalisam grandes pensamentos.

Segurança financeira on-off

Alguns anos atrás o diretor de RH de uma empresa do Rio Grande do Sul perguntou:

“Eder, posso colocar no regulamento do plano de previdência complementar da empresa a possibilidade de pagar benefícios de aposentadoria para um empregado que continua trabalhando”?

Eu respondi:

“Pode! Além de não haver impedimento legal para isso, já funciona assim com o INSS. Um empregado nem precisa avisar a empresa que se aposentou, ele simplesmente continua trabalhando e passa a receber simultaneamente com o salário, sua renda de aposentadoria do INSS"

Bem-vindos aos planos de segurança financeira “liga-desliga”, criados pelo Lord Eder Carvalhaes (hahaha) para substituir a solução ultrapassada do velho Chanceler Bismark.



Na era digital, quando as pessoas atingirem as idades mais avançadas – 55, 60, 65 anos – ao invés de pararem de trabalhar abruptamente, elas poderão reduzir a quantidade de horas de trabalho e seguir na atividade. 

Os produtos de segurança financeira - i.e., os antigos planos de previdência complementar dos fundos de pensão – passarão então a pagar de forma pro-rata uma renda “de aposentadoria”.

Ao longo do tempo, dependendo da quantidade de horas de trabalho, da respetiva renda do trabalho ativo e da necessidade financeira, o saldo de conta de previdência vai sendo usado, mantido intacto ou até aumentado com novas contribuições.

Exemplo: 

  • Completei 55 anos e a empresa onde trabalho hoje como diretor, reduz minha carga horaria. Eu passo a trabalhar meio expediente, ou seja, 4 horas por dia. A. empresa continua me pagando salário, só que metade do que eu recebia antes e a outra metade (ou o valor abaixo desse, que escolher) eu começo a receber na forma de renda de “aposentadoria”, do plano de previdência complementar;
  • De repente, digamos aos 59 anos, a empresa me dispensa e eu passo a prestar consultoria de forma autônoma. Então, eu opto por aumentar a renda de “aposentadoria” pois a renda obtida com os projetos de consultoria é inferior ao salário da ativa que eu recebia;
  • Passa um par de anos e aos 61 anos sou chamado para ser CEO de um grande fundo de pensão. Tive sorte! O salário que passo a receber para trabalhar 8, 10 horas por dia é até maior do que aquele que eu ganhava aos 55 anos. Assim, eu zero a retirada de renda do meu plano de “aposentadoria” e passo, inclusive, a contribuir para o plano aumentando minha poupança previdenciária;
  • O plano de previdência complementar - que eu prefiro passar a chamar de plano de segurança financeira, serve de buffer para minha necessidade financeira. Minha poupança previdenciária vai sendo usada ou aumentada em função das circunstâncias financeiras do momento;
  • Eu continuo tendo uma vida com propósito, trabalhando independente da idade, interagindo com profissionalmente com as pessoas, com muito mais liberdade

Tudo isso são apenas ideias, precisam evoluir, precisam ser adaptadas, expandidas. O que nāo dá é continuar enxugando gelo com soluções que não mais funcionam ...

Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte: Sahil Bloom


COM A ENORME TRANSFORMAÇĀO DEMOGRAFICA ESPERADA PARA O FINAL DO SECULO, A IMPLOSĀO DA PREVIDENCIA SOCIAL SERÁ O MENOR DOS PROBLEMAS


De Sāo Paulo, SP.

Uns 30 anos atrás um escritor britânico chamado P. D. James escreveu um romance intitulado “The Children of Men”. Em 2006, o livro se transformou em filme.

No Brasil, o título foi traduzido para “Filhos da Esperança”. O filme se passa numa sociedade, 25 anos depois do nascimento da última criança.



A falta total de fertilidade, significa falta de futuro. Por isso, cientistas e demógrafos vem pesquisando com urgência cada vez maior a queda nas taxas de fertilidade

“Taxa de fertilidade” é o no médio de filhos nascidos vivos, tidos por mulher ao final do seu período reprodutivo. A taxa é estimada para um ano calendário, a partir de informações retrospetivas obtidas em censos demográficos"

Economistas e fundos de pensão, deveriam prestar muito mais atenção a isso. 

A taxa de fertilidade vem caindo surpreendentemente rápido no mundo todo. Abaixo, um gráfico dessa queda nos países do G-7, desde 1960. 


Quando a taxa de fertilidade é inferior a 2,1 filhos por casal – conhecida como taxa de reposição - significa que a quantidade de crianças gerada por casal não será suficiente para manter a população estável.

Em outras palavras, a população começa a se reduzir nos patamares da taxa de fertilidade abaixo de 2.1. Preste atenção no que está acontecendo:

Há 200 anos o mundo compartilhava da preocupação de Thomas Malthus, segundo o qual o crescimento populacional levaria o planeta Terra ao esgotamento dos recursos naturais, com disseminação de fome e miséria a partir dali.

Se por um lado as projeções de Malthus ainda eram temidas poucas décadas atrás, por outro, as consequências de termos menos pessoas no mundo, não parecem estar alarmando as pessoas o suficiente.

Não é por falta de aviso. Vozes como as de Erik Britton da Fathom - empresa de consultoria macroeconômica e geopolítica - colocam o problema que vem por aí, nos seguintes termos:

“Uma população decrescente, no longo prazo, coloca pressão crescente nas finanças publicas já sobrecarregadas e cria outros pontos de stress, como o aumento da taxa de dependência dos idosos. Também afeta o crescimento do PIB (não necessariamente per capita, mas no agregado). Se a taxa de fertilidade no Reino Unido tivesse permanecido em 2% desde 1990, o PIB Britânico talvez fosse 15% a 20% maior do que é atualmente”  

Menos jovens na população significa menos gente no mercado de trabalho, que leva a menos $$$ circulando na economia, que por sua vez representa menos recolhimento de impostos. Apenas algumas consequências disso:

  • Menos dinheiro para os governos manterem a infraestrutura (pontes, hospitais, transporte, rodovias);
  • Redução do tamanho do Estado (funcionários públicos, apertem os cintos);
  • Encolhimento dos contingentes das forças armadas;
  • Total inviabilização da previdência social (postergar a idade de aposentadoria, simplesmente não vai adiantar mais);
  • Dificuldade nos segmentos que dependem de profissionais jovens, tipo cuidadores de idosos e enfermagem (hospitais);
  • Impacto em produtos e serviços para crianças e jovens (creche, escolas);
  • Oportunidades para produtos e serviços voltados para idosos;
  • Desenvolvimento de novas soluções de segurança financeira; etc.

Num horizonte mais curto de tempo, esse será um problema maior para os países ricos. Dados das Nações Unidas (abaixo) mostram que a taxa de fertilidade dos países pobres é cerca de três vezes superior aquela dos países ricos. Note, porém, que mesmo nos países pobres a tendência é de queda na taxa de fertilidade.

Isso poderá mudar a ordem mundial ao longo da próxima geração (Geração Alpha). A China, que instituiu em 1980 a política de apenas um filho por casal e a manteve ativa por 36 anos, vai encolher completamente. Situação ainda pior será a da Coreia do Sul. A seguir, as mudanças nas taxas de fertilidade pelo mundo.


Em 2050, portanto, no meio desse seculo, veja (gráfico abaixo) quais serão os 20 países mais populosos do mundo. China e India ainda serão dominantes, mas o quadro será bem diferente do que tínhamos em 1980 com ascensão dos países da Africa subsaariana em tamanho da população. 

O Brasil terá em 2050 quase a mesma população que tem agora em 2024 apontando para o alto do platô, a partir do qual a curva população entrará em declínio. A taxa de fertilidade no Brasil é hoje, menor do que a da Califórnia-EUA. Você ouviu aquela turma no governo, responsável pelas políticas públicas de previdência social e complementar, falar alguma coisa sobre isso? Nem eu...

Qual a chance das projeções de redução populacional mencionadas anteriormente se concretizarem? James Pomeroy, economista chefe global do HSBC, diz que as projeções populacionais da ONU podem estar até subestimadas.

Ele diz isso porque as projeções da ONU levam em consideração uma redução das taxas de fertilidade menor do que a redução que acaba sendo verificada posteriormente. Tanto é que a ONU tem feito constantes revisões “post-facto” em suas estimativas populacionais e tudo leva a crer que esse rápido declínio persistirá.  

Os estudos mais recentes da ONU para a população global apontam que o pico será atingido em 2080, com 10,4 bilhões de pessoas no mundo, mas se as taxas de fertilidade vêm caindo em ritmo maior do que a ONU projeta, esse marco poderá ser atingido décadas antes disso.

Quando a primeira filha de um amigo meu nasceu, ele recebeu uma linda mensagem de felicitações que dizia: 

“Cada novo bebê que nasce é um sinal de que Deus ainda nāo desistiu da gente!”

Parece que o crescente consenso entre os demógrafos de que as taxas de fertilidade decrescente nos levarão a uma redução populacional mais cedo do que o esperado, também tem implicações teológicas ...


Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Children of Men”, escrito por John Authers.


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

A MUDANÇA DE PARADIGMA QUE OS NĀO-INICIADOS EM CRYPTOMOEDAS E ATÉ ALGUNS "PRO", ESTĀO DEIXANDO ESCAPAR




De Sāo Paulo, SP.


A mudança de paradigma que os não-iniciados em cryptomedas e até alguns “pro”, estão deixando escapar

Donald Trump falou na Conferência Bitcoin 2024, no fim de julho em Nashville, no Tennessee – EUA. O Partido Republicano incluiu crypto em sua plataforma eleitoral e escolheu um vice-presidente que investe em Bitcoins na casa dos seis dígitos.

Robert F. Kennedy Jr., um candidato independente nas eleições americanas de 2024, disse que usará blockchain para melhorar o governo e que enxerga o Bitcoin como uma opção de moeda.

Para quem participa da comunidade crypto é bom saber, mas tudo isso não vai contra o propósito das cryptomedas?

Por que alguém usaria tecnologia do blockchain para gerenciar uma entidade centralizada, tipo o governo? Você só precisa de blockchains para gerenciar entidades que não compartilhem o mesmo banco de dados e não possuam processos de negócio em comum. 

Não faz nenhuma diferença se o governo americano, brasileiro, chinês ou se os republicanos “aprovam” o Bitcoin. O Bitcoin é um tipo de dinheiro não-governamental, qualquer um pode usar.

Todo mundo fala das cryptomoedas como sendo um novo paradigma, mas parece que o conceito e a ideia por trás de seu funcionamento, não estão sendo absorvidos.

O que estão deixando escapar?

Há um monte de analista de investimento e vários comentaristas de economia dizendo que a tecnologia do blockchain demanda massivas quantidades de data centers

Então, o negócio do momento seria investir em data centers e tudo que gira em torno de sua infraestrutura, não nos tokens (uma forma de chamar os ativos digitais) em si mesmo.

Quem fala isso está deixando escapar um detalhe crucial. Se as cryptomoedas derem certo e funcionarem como deveriam, os data centers não serão necessários.

Haverá vastas redes globais, de domínio público, com enorme poder de computação, disponibilizadas por pessoas (indivíduos) e empresas (negócios) ao redor do mundo, usando seus próprios equipamentos e recursos em troca de recompensas.

Não será preciso investir em terrenos, imóveis comerciais, máquinas de ar-condicionado, computadores, geradores e outras coisas que compõem os data centers.

Pessoas normais fornecerão tudo isso em troca de remuneração pelas redes, na forma de tokens | cryptoativos (incluindo, potencialmente, tokens lastreados em moedas nacionais).

A oportunidade hoje é investir nesses tokens, nas pessoas que contribuem para o funcionamento das redes e nos inúmeros negócios que lucram com as cryptomoedas – por exemplo, mineradores, desenvolvedores, empreendedores, validadores e todo mundo que participa.

Não é como o dinheiro que você conhece


Credito de Imagem: Stock.Adobe.com - Nuthawut

Mas as cryptomoedas também vão virar de cabeça para baixo outros paradigmas.

As antigas gerações, como os baby boomers - nascidos até início dos anos 60, cresceram tāo acostumados com o monopólio do dinheiro pelos governos que não conhecem nenhuma alternativa.

Os chamados experts em política monetária ainda acham que o dinheiro tem valor intrínseco ou alguma propriedade inata que faz valer a pena usá-lo.

Na verdade, o dinheiro é uma construção social. Seu valor vem do consenso da sociedade. Se uma quantidade suficiente de pessoas concordar com seu uso, irão usá-lo.

Seja porque o governo diz que tem que ser assim - ou por outros motivos - a crença (acreditar) importa mais do que a utilidade.

Pedaços de metal brilhante? Fotos em papel? Pixels numa tela? Bits e bytes num celular? Seja o que for, dinheiro é tudo que lhe permite adquirir aquilo que você quer.

Histórias que nossos avós contavam

Muitas civilizações tinham dois tipos de dinheiro: o dinheiro do governo e as moedas comuns. Uma forma de dinheiro para os governantes, outra para o povo. Um dinheiro criado por decreto, outro por consenso. 

Os economistas atuais consideram isso instável e insustentável, mas os humanos criaram vastos impérios, redes de comercio ao redor do mundo e prosperidade com esses sistemas, antes dos bancos centrais serem criados.  

Nosso dinheiro é um meme, uma conexão emocional com fotos e imagens que quantificam nosso patrimônio e o tamanho da nossa riqueza. Uma miragem, produto de uma engenharia financeira criada por decretos governamentais e nostalgia coletiva.  

Tente explicar isso para seu vizinho e ele vai te olhar com uma cara engraçada. Na sequência, vai te pedir uma recomendação de investimento ou uma dica de que qual ação comprar. Ele não entende como funciona o dinheiro. Ele só quer ter mais.

É nisso que TradFi, o sistema financeiro tradicional, está apostando. É isso que os políticos enxergam, mas você e eu sabemos que as oportunidades que as cryptomoedas trazem vão muito além disso.

Nosso dinheiro, não deles


Credito de Imagem: www.spiked-online.com

Não precisamos inventar histórias, obter aprovação presidencial ou debater princípios de política monetária. Basta criar e interagir, deixar a tecnologia florescer ou falhar e acreditar que as pessoas e os mercados encontrarão a solução.

A rede do Bitcoin se autofinancia.  O protocolo roda sem envolvimento humano. Nenhum programador é capaz de hackear ou controlar a rede de blockchain do Bitcoin.

Com o tempo, algumas altcoins (cryptomoedas alternativas) atingirão o mesmo nível de autonomia e relevância do Bitcoin.

Podemos ter ETFs, regulamentações restritivas, protocolos de DeFi inúteis, golpes, esquemas de pirâmide, plataformas de contratos inteligentes, políticos raivosos, desenvolvedores gananciosos. 

Nada disso muda a proposta de valor inicial das cryptomoedas.

Dinheiro do povo para o povo.

Com Bitcoin você é capaz de enviar $$$ para qualquer um, em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, em qualquer montante, sem restrições, sem revelar informações pessoais sensíveis, sem colocar sua propriedade sob controle de outra pessoa, com a certeza de que sua transação será efetuada e com a confirmação de que cada pagamento que você receber é autêntico e valido.

Funciona sob qualquer condição, mesmo quando as contrapartes falham. É capaz de se sustentar sem violência política, coerção militar, manipulação governamental ou dívida soberana.

Diferentes cryptomoedas, para fins diferentes, possuem algumas ou todas essas características com o mesmo resultado: todo mundo tem acesso a todas as ferramentas das finanças. 

A oportunidade de investimentos é essa.

Pense pequeno, pense em você

Com cryptomoedas, você pode escolher com quem se associar, como se associar e os termos do acordo. Você não precisa peticionar o governo ou começar uma batalha se não conseguir o que você quer.

Você pode simplesmente criar outro protocolo ou implantar um novo contrato inteligente. 

Crypto não precisa do mercado financeiro para ser seguro e simples. Cada falha, hackeamento, cada ataque, expõe uma vulnerabilidade que os desenvolvedores consertam. Cada “ciclo” atrai mais dinheiro e atenção para a tecnologia, os problemas e como resolvê-los. 

Quando você usa crypto, o poder monetário não vai para aqueles capazes de capturar as mentes e corações dos reguladores. Ele flui para os empreendedores, desenvolvedores e membros da comunidade.

Você pode comprar um ETF de cryptomoeda e deixar parte do lucro com instituições financeiras tradicionais ou pode comprar diretamente as cryptomoedas sem precisar delas.

Cabe a você decidir se quer participar do sucesso de uma BlackRock da vida ou se prefere que esse sucesso seja só seu.

Essa é a verdadeira mudança de paradigma.

Com cryptomoedas, um adolescente na Indonésia tem o mesmo poder que a maioria dos financistas de prestígio de Nova York ou Londres. Tudo que é preciso para criar um novo sistema monetário, com atuação global, permanente e acessível sob demanda, é um laptop e uma conexão de Internet.

Talvez o que se esteja deixando escapar é que encolhemos todo o sistema financeiro e suas ferramentas. Colocamos tudo num formato que você pode levar para qualquer lugar, usar a qualquer hora, para qualquer finalidade que você queira.

... e não há nada que um político, uma instituição financeira ou um governo, possam fazer sobre isso.

Grande abraço,

Eder.


Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Cryptocurrency is Not the Paradigm Shift You’re Thinking About”, escrito por Mark Helfman


USAR SALDOS NĀO RECLAMADOS DE PLANOS CD PARA PAGAR DESPESAS ADMINISTRATIVAS É CORRETO? NOS EUA A GALERA ACHA QUE NĀO!

 


De Sāo Paulo, SP.


Lá por volta de 2013 eu era diretor de seguridade de um grande fundo de pensão brasileiro e me deparei com uma situação comum na grande maioria dos plano CD.

Costuma acontecer com saldos de pequeno valor e participantes que terminam o vínculo empregatício antes de completarem três anos de participação no plano. 

Nós chamávamos internamente de “não-optantes”, que são participantes desligados das patrocinadoras que acabam deixando para trás o saldo de conta acumulado.

Nesse caso, o participante ainda não é elegível ao BPD (Benefício Proporcional Diferido), então ele precisar optar por uma das demais alternativas: auto-patrocínio, portabilidade ou resgate. 

Só que o camarada vai embora e não opta por nenhuma delas, daí o nome “não-optante”. Na impossibilidade de depositar o resgate na conta-corrente do participante, pois isso requer uma opção formal dele, o que fazer?

A solução mais adotada pelos fundos de pensão brasileiros é começar a deduzir as despesas administrativas do saldo de conta, até o saldo se esgotar (zerar).

BofA é processado pelo uso indevido dos saldos não-reclamados 


Credito de Imagem: Wikipidia - Sede do Bank of America em Charlotte, NC


Na semana passada os empregados do Bank of America – BofA nos EUA entraram com uma ação judicial contra a empresa, por má gestão do plano CD, que lá eles chamam de 401(k).

Eles alegam que a empresa usa os saldos não-reclamados dos ex-empregados, em benefício financeiro próprio, configurando um verdadeiro confisco fiduciário.

O BofA é apenas mais uma das empresas processadas pelos empregados por quebra do dever fiduciário. Uma ação similar foi impetrada em junho passado pelos empregados da Well Fargo, na sequência do que já haviam feito os empregados da Honeywell, da HP, da Intel, da Qualcomm, da Clorox, da Intuit, da Thermo Fisher Scientific e da Tetra Tech.

As ações impetradas pelos empregados alegam que as empresas estão utilizando os ativos abandonados nos planos para reduzir as contribuições que as patrocinadoras devem fazer para seus planos.

Intuit, Clorox, Qualcomm e Thermo Fisher apresentaram moções solicitando a rejeição do processo, alegando que os participantes não sofreram nenhum prejuízo e receberam todas as contribuições requeridas pelo plano.

O pedido de rejeição do caso feito pela Qualcomm, no entanto, foi recentemente negado pela justiça e o da Tetra Tech foi enviado para arbitragem.

A ação contra o Plano de previdência complementar patrocinado pelo BofA alega que:

Como parte de uma prática ilícita os réus usaram indevidamente e de forma sistemática os ativos não-investidos do plano em próprio benefício, reduzindo as contribuições patronais futuras ao invés de usá-los em beneficio dos participantes do Plano

A ação judicial alega, ainda, que:

Ao decidir usar os ativos não reclamados do Plano para se beneficiar e não para beneficiar o Plano ou seus participantes, os réus colocaram seus próprios interesses acima dos interesses do Plano e de seus participantes

A onda recente de processos começou no ano passado com uma ação judicial movida pelo Department of Labor (DOL), equivalente ao nosso Ministério do Trabalho, questionando o uso dos saldos abandonados nos planos pelas empresas de tecnologia.

O caso foi encerrado em 2023, no entanto, a decisão estabeleceu que os saldos abandonados deveriam ser usados primeiro para reduzir as despesas dos planos antes de serem usados para reduzir as contribuições das patrocinadoras que custeiam as despesas administrativas.

Isso faz todo sentido, porque os valores deixados para trás pelos participantes que não reclamam seus saldos deveriam beneficiar o plano como um todo e não beneficiar apenas as patrocinadoras em suas obrigações. 

Na sequencia da recente revisão da lei de previdência complementar americana e aprovação de uma nova lei, chamada de SECURE 2.0, o Department of Labor (DOL) deverá enviar ao Congresso americano em 2025, recomendações para melhorar as informações prestadas aos participantes, incluindo práticas como essa.

O valor total dos saldos de conta abandonados pelos participantes nos planos de contribuição definida nos EUA representa atualmente US$ 1,65 trilhōes.

No Brasil os saldos deixados para trás também devem somar uma montanha de $$$, que atualmente esta sendo usado em benefício de apenas um dos stakeholders dos fundos de pensão e não de todo o Plano.

Enquanto isso, em Terras de Cabral, o governo quer reinventar a roda discutindo a marcação a mercado de passivos atuariais, algo resolvido há +40 anos no mundo todo. Dorme com essa ...


Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Bank of America is latest firm sued by 401(k) participants over misuse of 'forfeited' funds”, escrito por Kynn Cavanaugh


QUEM QUER VIVER PARA SEMPRE?

 

Credito de Imagem: GIFS.COM


De Sāo Paulo, SP.


Em 2011 uma pesquisa no Reino Unido fez uma única pergunta ao publico: você gostaria de viver para sempre? Resultado: mais de cinco em cada seis pessoas disseram: nāo! Acontece que o contrário é igualmente verdadeiro quando a pergunta é: você quer morrer?

Talvez por isso as pessoas estejam sempre atrás de tentar prolongar, um pouquinho mais, a vida. A expectativa de vida quase que dobrou desde o Século XIX. Enquanto a quantidade de pessoas chegando aos 100 anos em1990 era de 95.000 pessoas, projeta-se que em 2100 serão 25 milhões.  

Mas até onde podemos ir? Estaríamos destinados a ficar orbitando em torno da marca de 100 anos de vida ou será que podemos espichar a expectativa de vida para 150, 200 anos? E se nem existir um limite?

Definindo envelhecimento

Joelhos que rangem, costas que se arcam, memória que enfraquece e nos faz esquecer onde estāo as chaves – quando pensamos no envelhecimento, são esses os sinais clássicos que nos vem a mente, mas envelhecimento, não é bem isso.

De cordo com as definições cientificas mais simples existentes hoje, aquelas fraquezas físicas não resultam do envelhecimento – elas, literalmente, são o envelhecimento.

Idade e envelhecimento não são a mesma coisa”, explica o Instituto Max Plank para Biologia do Envelhecimento. “Idade é só um número, quase sempre subjetivo. Envelhecimento, por outro lado, é um processo observável, que pode ser descrito e definido cientificamente. Nas pesquisas sobre envelhecimento, o envelhecimento é descrito como a perda progressiva da integridade psicológica que leva ao comprometimento funcional e uma maior chance de morte”.

Perguntar por que envelhecemos, portanto, é perguntar sobre o que causa essa degeneração – e é aqui que a resposta simples, se torna incrivelmente complexa. Envelhecer, até onde sabemos, é resultado de uma serie de fatores diferentes – porém, interconectados: alguns naturais, alguns programados, alguns controláveis e alguns produto de aleatoriedade – além de outros que nem conhecemos ainda.

Considere, por exemplo, a alimentação. Intuitivamente, você poderia pensar que o acesso regular a boa alimentação aumenta a expectativa de vida – afinal, seria difícil viver até os 100 anos se você passa fome aos nove anos de idade.

A realidade, porém, é esquisita.

Credito de Imagem: Getty Image / Sezer66


É amplamente sabido que dietas com restrição calórica podem prolongar o tempo de vida. Estudos de curto prazo sugerem, que também pode melhorar a saúde do ser humano”, escreveu Charalampos Rallis – professor de envelhecimento celular da Universidade de Essex - Inglaterra.

Do mesmo modo, uma vida vivida no conforto pode ser mais curta do que uma vivida com certa dificuldade, conforme explica Alison Woollard – professor associado do departamento de bioquímica da Universidade de Oxford - Inglaterra:

“Quando a alimentação é abundante e os níveis de stress são baixos, os genes se voltam para crescimento e reprodução (divisão das células). Mas sob condições difíceis, eles adotam uma postura tipo ‘as coisas vão melhorar’ – então, a atividade dos genes se altera, desencadeando todo uma mudança fisiológica visando a proteção e manutenção das células (não-divisão das células)”  

Quando você lê “crescimento” e “reprodução” isso soa como uma coisa positiva e não deixa de ser - mas no momento que seu amadurecimento se completa, isso se torna um desperdício de recursos. O processo pelo qual as células se dividem e criam proteínas, consome muita energia e tem um limite: despois de certo tempo, a célula se torna senescente e incapaz de continuar se dividindo dali para frente.

O quão rápido esse limite é atingido, parece estar ligado a longevidade de cada individuo. “As células de uma tartaruga dos Galápagos se dividem aproximadamente 110 vezes antes de se tornarem senescentes”, diz o pesquisador biomédico Avi Roy, “enquanto as células de um ratinho de laboratório se tornam senescentes depois de 15 divisões.

Qual a fórmula para se viver para sempre?

O que fazer para descolar uns anos extra aqui na Terra? A resposta é desapontadora.

Para maioria da população, controlar o peso, não fumar, beber moderadamente e comer ao menos cinco vezes ao dia adotando uma dieta de frutas e vegetais pode aumentar sua expectativa de vida em até 14 anos, comparado a alguém que não faz nenhuma dessas coisas”, escreveu Richard Faragher, professor de biogerontogia da Universidade de Brighton, num artigo em coautoria com Nir Barzilai, professor de medicina e genética do Albert Einstein College of Medicine.

No final das contas, porém, a super longevidade pode se resumir a pura sorte. Um estudo descobriu que até 60% dos Judeus Ashkenazi - cujos ancestrais viviam na Europa Central e Oriental – que chegaram aos 100 anos de vida, fumou pra caramba durante a vida toda, metade era obesa ao longo do mesmo período, menos da metade sequer fazia exercícios moderados e menos de três porcento era vegetariano.

Se a fórmula simples para, ao menos, prolongar a vida é comer direito, não fumar e não deixar as células serem levadas a dedicar toda sua vitalidade construindo proteínas, qual seria o limite superior da longevidade seguindo essa receita? A resposta parece difícil de achar.

Em 1921 foi ‘demonstrado’ que idades acima de 105 anos eram impossíveis de atingir”, explica o prof. Faragher. “Desde então, estimar o limite da vida humana é alvo de críticas porque todo limite máximo proposto para expectativa de vida tem sido ultrapassado”.

Não obstante, apesar de não termos atingido um limite em todo esse tempo e de termos uma população que não para de crescer, existe um ponto nos estudos demográficos que se mostra constante já faz um-quarto de século: a idade do ser humano que mais viveu, a francesa Jeanne Louise Calment, que morreu em 1997 depois de viver, comprovadamente, 122 anos e 164 dias (em 2010 escrevi um artigo sobre ela no meu blog: aqui).



Alguns cientistas defendem que o limite da vida humana estaria em torno de 120 anos, mas não apenas porque ninguém conseguiu bater o recorde da velhinha francesa. “Se analisarmos como o funcionamento dos nossos órgãos declina com a idade e aplicarmos essa taxa de declínio até o ponto em que eles deverāo parar de funcionar por completo, os cálculos indicam que os órgãos de uma pessoa média, só funcionarão até os 120 anos”, explica o prof. Faragher.

Existe modelos matemáticos para todo gosto, uns prevendo que o limite da vida humana seria de 115, 124, 126, 130 anos, outros apontando para 150 anos. Há também quem diga que pode nem haver limite.

Identificamos que as taxa de mortalidade nas idades extremas vem caindo ligeiramente. Isso significa que não estamos nos aproximando de um limite para a expectativa de vida”, diz Ken Wachter, prof. de demografia e estatística da Universidade da California, Berkeley – EUA.

No fim das contas, acho que não importa muito se nas idades mais avançadas existe um platô na mortalidade ou se não existe limite para as idades extremas. São muito poucas as pessoas que chegam lá e o risco de morte naquele ponto é tão grande, que isso não tem nenhuma importância para a maioria das pessoas.

Nossa expectativa de vida pode nunca ter sido tão longa, porém, os anos a mais que ganhamos no final da vida continuam sendo solitários, frágeis e com um cansaço cada vez maior da vida.

Mais importante do que viver 130, 140 anos, é permanecer saudável por mais tempo, postergando o início das doenças relacionadas a idade ou idealmente, nos prevenindo contra elas.

Será que realmente vale a pena viver para sempre?


Grande abraço,

Eder.


P.S.: Tem também aquela velha fábula do discípulo que pergunta para o mestre zen: “mestre, como faço para viver para sempre”? O mestre responde: “se case”. Entāo o discípulo insiste: “se eu me casar viverei para sempre”? E o mestre retruca: “nāo, a vontade passa” … :)


Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Is There a Limit To Human Life?”, escrito por Dr. Katie Spaldin


sábado, 10 de agosto de 2024

COMO IDENTIFICAR A PRÓXIMA GRANDE INOVAÇĀO NO SEGMENTO DE FUNDOS DE PENSĀO: UM ROTEIRO QUE NÃO CUSTA NADA, MAS VALE MUITO! – PARTE 2/2

 




De Sāo Paulo, SP.


Dando sequência à Parte 1 desse artigo, falaremos de três movimentos acontecendo na economia digital, que servem de indício para se plotar a aproximação de um novo momento dos planos de previdência complementar.

São eles, a(o): 

1. Embedded Finance em fundos de pensão - eu chamo de Previdência Lego;

2. Tokenizaçāo de ativos e ativos digitais;

3. Fidelização de clientes via recompensas com cryptoativos (Web3)


Embedded Finance e Previdência Lego 



Embedded finance seria algo como “embutir produtos e serviços” financeiros em outras ofertas, em outras soluções, em outros ecossistemas de mercado.

De acordo com o Boston Consulting Group (BCG), o mercado de “embedded finance” é hoje de US$ 70 Bi, projetado para 2030 deverá atingir US$ 320 Bi. 

O interessante é que as inovações, em sua maioria, focam na distribuição de produtos financeiros. Produtos que existem há décadas, mas que ao serem reempacotados, destravam novos mercados e novos segmentos de consumidor.

Em 2020 publiquei uma serie de quatro artigos intitulada “Disruptura: a previdência lego e o futuro das finanças mudarão para sempre o modelo de negócios da previdência complementar”. Para quem quiser se aprofundar no assunto, seguem os links:

A tokenizaçāo de ativos é muito mais interessante.

Tokenizaçāo e ativos digitais

Uma “infraestrutura paralela” aos mercados financeiros, surgiu com instituições próprias, tipo Coinbase, Fireblocks, Curve, Uniswapp, Coindesk – no Brasil, Mercado Bitcoin, Coinext ...

Instituições financeiras incumbentes, como Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e fundos de hedge passaram a vender ETFs e fundos de investimentos tradicionais lastreados em cryptoativos como Bitcoin, Ethereum e vários outros.

Os novos produtos são os cryptoativos, os ativos digitais, que vem sendo vendidos para clientes que enxergam o Bitcoin como hedge (proteção) contra inflação e como reserva de valor. 

Há clientes, também, para o Ethereum, a Solana, os Stablecoins e inúmeros outros projetos que vem construindo novos produtos e infraestruturas.

Além de novos produtos para novos clientes, os cryptoativos também se tornaram produtos para os clientes existentes de “neobancos” como o Nubank e gestores de investimentos como a Hashdex e outros.

Instituições que já surgiram como “nativas digitais” – por enquanto não temos nenhuma no setor de fundos de pensão – usam 24/7 uma infraestrutura programável num novo mercado financeiro.

Essas instituições digitais, fintechs & cia, atuam como novos clientes de alguns produtos atuais, tipo, Títulos Públicos do Governo Federal.

Então, passamos a ver corretoras de crypto como o Mercado Bitcoin oferecendo aplicações no “Tesouro Direto”. Lá fora, vemos gestores de investimentos em crypto, como a Superstate, tokenizando títulos do tesouro americano para tornar um ativo do mundo real compatível com essa nova “infraestrutura paralela” da economia digital. https://thedefiant.io/news/defi/real-world-asset-firm-superstate-launches-first-fund-tokenizing-u-s-treasuries 

Do outro lado, vemos instituições tradicionais vendendo novos produtos para clientes existentes, tipo, o Banco do Brasil e seu fundo BB Multimercado Criptoativos Full LP FIC FI ou a Hashdex e seus ETFs de cryptomoedas BITH11, ETHE11 e HASH11. 



Os ETFs tornam os tokens | ativos digitais | cryptoativos, compatíveis com a infraestrutura legada e os atores dos mercados financeiros tradicionais (TradFi – Traditional Finance). Assim, instituições tradicionais passam a oferecer facilmente para sua base de clientes existente os novos produtos nativos digitais. 

Atores TradFi mais ágeis, como a Blackrock, já atuam nas duas pontas. A Blackrock está tokenizando produtos existentes como seu fundo multimercado BUILD ao mesmo tempo que cria novos produtos como ETFs de Bitcoin.

Dinheiro nunca dorme no ponto.

Com mencionei acima, ainda não temos produtos existentes no segmento e fundos de pensão (planos de previdência complementar), sendo tokenizados e vendidos para clientes existentes. Muito menos novos produtos para novos clientes, mas estamos apenas arranhando a superfície da economia digital e ainda veremos coisas muito interessantes surgindo pela frente.

Dependendo na fonte de informações que você preferir acreditar, o tamanho do mercado de tokenizaçāo de ativos reais representa US$ 2 Trilhões (McKinsey) ou US$ 16 Trilhões (BCG).

Fidelização de clientes via recompensas com cryptoativos

No final de 2023, passei a ser um dos early adopters (pioneiros na adoção) de um serviço de e-mails lançado em maio de 2022, que integra os princípios de uma Internet totalmente descentralizada (Web3), baseada na tecnologia do blockchain.

Totalmente de graça, a plataforma faz parte de uma revolução que vem acontecendo na comunicação digital. 

Eles usam uma tecnologia chamada EaaW ou “E-mail-as-a-wallet”, algo tipo “e-mail como carteira digital”, que fornece privacidade completa e controle soberano ao usuário do e-mail, ou seja, controle total sobre sua inbox.

O mais legal, por isso estou trazendo isso aqui, é o modelo que eles adotam chamado de “consensual marketing” ou “marketing consensual”, que transforma a “atenção” do usuário em um ativo valioso.

O conceito do marketing consensual é fornecer recompensa, na forma de cryptoativos (token $EMT), em troca do engajamento do usuário do e-mail que voluntariamente decida participar de campanhas de marketing promocionais.

Além de ter controle integral sobre o tipo de e-mail marketing que concorde em receber (bem diferente da tonelada de spams que não queremos, mas recebemos na Web2), o marketing consensual significa que você recebe $$$ para ler os e-mails marketing numa abordagem chamada R2E – Read-to-Earn (ganhe para ler). 

Semana passada escrevi sobre o uso por vinculas, da tecnologia do blockchain, Web3 e cryptoativos na fidelização de apreciadores de vinho, que voluntariamente queiram compartilhar os dados sobre onde e quando abrem determinada garrafa de vinho (dado importante para os produtores de vinho) em troca de pontos e recompensas na forma de tokens | cryptoativos. Mais: aqui

Na cryptoeconomia, na economia digital, os fundos de pensão terão mil e uma formas de assegurar o engajamento dos participantes com suas poupanças, mas terão que sobrevier para isso.

O serviço de e-mail que comentei chama-se Ethermail. Seguem detalhes ara quem quiser se aprofundar:

  • Vídeo explicando como funciona: aqui.
  • Tokenomics: aqui.
  • Whitepaper: aqui.

_______________

Se você não acredita em embedded finance, em tokenizaçāo de ativos reais, em cryptoeconomia, nessa altura do campeonato, francamente, nem sei o que te dizer.

O insight principal desse artigo é que a participação de mercado é barata quando os mercados são pequenos. 

A questão, então, é: quando um fundo de pensão atual ou uma nova startup de soluções de segurança financeira futura deveria mergulhar na economia digital, na cryptoeconomia, na tokenizaçāo de ativos e criar novas soluções?

Se você entrar cedo demais, seu custo será baixo, mas você provavelmente vai perder dinheiro. Isso é ruim para os players incumbentes – atuais fundos de pensão e entidades abertas de previdência complementar, mas bom para startups, PensionTechs, SavingsTech, DePen (Descentralized Pensions).

Se você entrar tarde, provavelmente vai custar mais caro e as vantagens podem não valer a pena o investimento. Porem, na medida em que o mercado amadurece, aumenta a curva de receitas potenciais, e o custo de entrar, de certa forma, se estabiliza. 


 

Existe um ponto ótimo no qual vale a pena para os players incumbentes entrarem, é quando um novo mercado é aprovado por novos clientes. O truque é fazer isso de modo a ter chance de vencer.

Por exemplo, os neobancos passaram a oferecer ativos digitais porque estāo enxergando uma regulamentação cada vez mais clara. Os grandes bancos e instituições financeiras estão adotando o ecossistema de soluções da embedded finance, porque precisam da escala e segurança que oferece. Os grandes gestores de ativos adotaram a tokenizaçāo de ativos e os cryptoativos, porque existe demanda e enxergam neles eficiência com menores custos.

O perigo quando se analisam novas oportunidades é que deixamos nossos preconceitos sobre determinado assunto, prejudicar a oportunidade.

  • Detesta cryptomoedas? Então vai perder o bonde das novas classes de ativo e maiores retornos, que vêm chegando com a tokenizaçāo;
  • Acha que embeded finance e a previdência lego sāo baboseira? Vai perder a maior oportunidade de crescimento das soluções de previdência complementar das últimas décadas.

Você está ficando para trás se não vem atualizando seu conhecimento sobre a maneira que os mercados mudam e se transformam.

Esse é o melhor momento para reservar seu lugar na era digital. Nunca aposte contra as inovações, no agregado.


Grande abraço,

Eder


Opiniões: Todas minhas | Fonte: “How to spot the next big thing in Fintech: A framework”, escrito por Simon Taylor.


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