segunda-feira, 19 de agosto de 2024

QUEM QUER VIVER PARA SEMPRE?

 

Credito de Imagem: GIFS.COM


De Sāo Paulo, SP.


Em 2011 uma pesquisa no Reino Unido fez uma única pergunta ao publico: você gostaria de viver para sempre? Resultado: mais de cinco em cada seis pessoas disseram: nāo! Acontece que o contrário é igualmente verdadeiro quando a pergunta é: você quer morrer?

Talvez por isso as pessoas estejam sempre atrás de tentar prolongar, um pouquinho mais, a vida. A expectativa de vida quase que dobrou desde o Século XIX. Enquanto a quantidade de pessoas chegando aos 100 anos em1990 era de 95.000 pessoas, projeta-se que em 2100 serão 25 milhões.  

Mas até onde podemos ir? Estaríamos destinados a ficar orbitando em torno da marca de 100 anos de vida ou será que podemos espichar a expectativa de vida para 150, 200 anos? E se nem existir um limite?

Definindo envelhecimento

Joelhos que rangem, costas que se arcam, memória que enfraquece e nos faz esquecer onde estāo as chaves – quando pensamos no envelhecimento, são esses os sinais clássicos que nos vem a mente, mas envelhecimento, não é bem isso.

De cordo com as definições cientificas mais simples existentes hoje, aquelas fraquezas físicas não resultam do envelhecimento – elas, literalmente, são o envelhecimento.

Idade e envelhecimento não são a mesma coisa”, explica o Instituto Max Plank para Biologia do Envelhecimento. “Idade é só um número, quase sempre subjetivo. Envelhecimento, por outro lado, é um processo observável, que pode ser descrito e definido cientificamente. Nas pesquisas sobre envelhecimento, o envelhecimento é descrito como a perda progressiva da integridade psicológica que leva ao comprometimento funcional e uma maior chance de morte”.

Perguntar por que envelhecemos, portanto, é perguntar sobre o que causa essa degeneração – e é aqui que a resposta simples, se torna incrivelmente complexa. Envelhecer, até onde sabemos, é resultado de uma serie de fatores diferentes – porém, interconectados: alguns naturais, alguns programados, alguns controláveis e alguns produto de aleatoriedade – além de outros que nem conhecemos ainda.

Considere, por exemplo, a alimentação. Intuitivamente, você poderia pensar que o acesso regular a boa alimentação aumenta a expectativa de vida – afinal, seria difícil viver até os 100 anos se você passa fome aos nove anos de idade.

A realidade, porém, é esquisita.

Credito de Imagem: Getty Image / Sezer66


É amplamente sabido que dietas com restrição calórica podem prolongar o tempo de vida. Estudos de curto prazo sugerem, que também pode melhorar a saúde do ser humano”, escreveu Charalampos Rallis – professor de envelhecimento celular da Universidade de Essex - Inglaterra.

Do mesmo modo, uma vida vivida no conforto pode ser mais curta do que uma vivida com certa dificuldade, conforme explica Alison Woollard – professor associado do departamento de bioquímica da Universidade de Oxford - Inglaterra:

“Quando a alimentação é abundante e os níveis de stress são baixos, os genes se voltam para crescimento e reprodução (divisão das células). Mas sob condições difíceis, eles adotam uma postura tipo ‘as coisas vão melhorar’ – então, a atividade dos genes se altera, desencadeando todo uma mudança fisiológica visando a proteção e manutenção das células (não-divisão das células)”  

Quando você lê “crescimento” e “reprodução” isso soa como uma coisa positiva e não deixa de ser - mas no momento que seu amadurecimento se completa, isso se torna um desperdício de recursos. O processo pelo qual as células se dividem e criam proteínas, consome muita energia e tem um limite: despois de certo tempo, a célula se torna senescente e incapaz de continuar se dividindo dali para frente.

O quão rápido esse limite é atingido, parece estar ligado a longevidade de cada individuo. “As células de uma tartaruga dos Galápagos se dividem aproximadamente 110 vezes antes de se tornarem senescentes”, diz o pesquisador biomédico Avi Roy, “enquanto as células de um ratinho de laboratório se tornam senescentes depois de 15 divisões.

Qual a fórmula para se viver para sempre?

O que fazer para descolar uns anos extra aqui na Terra? A resposta é desapontadora.

Para maioria da população, controlar o peso, não fumar, beber moderadamente e comer ao menos cinco vezes ao dia adotando uma dieta de frutas e vegetais pode aumentar sua expectativa de vida em até 14 anos, comparado a alguém que não faz nenhuma dessas coisas”, escreveu Richard Faragher, professor de biogerontogia da Universidade de Brighton, num artigo em coautoria com Nir Barzilai, professor de medicina e genética do Albert Einstein College of Medicine.

No final das contas, porém, a super longevidade pode se resumir a pura sorte. Um estudo descobriu que até 60% dos Judeus Ashkenazi - cujos ancestrais viviam na Europa Central e Oriental – que chegaram aos 100 anos de vida, fumou pra caramba durante a vida toda, metade era obesa ao longo do mesmo período, menos da metade sequer fazia exercícios moderados e menos de três porcento era vegetariano.

Se a fórmula simples para, ao menos, prolongar a vida é comer direito, não fumar e não deixar as células serem levadas a dedicar toda sua vitalidade construindo proteínas, qual seria o limite superior da longevidade seguindo essa receita? A resposta parece difícil de achar.

Em 1921 foi ‘demonstrado’ que idades acima de 105 anos eram impossíveis de atingir”, explica o prof. Faragher. “Desde então, estimar o limite da vida humana é alvo de críticas porque todo limite máximo proposto para expectativa de vida tem sido ultrapassado”.

Não obstante, apesar de não termos atingido um limite em todo esse tempo e de termos uma população que não para de crescer, existe um ponto nos estudos demográficos que se mostra constante já faz um-quarto de século: a idade do ser humano que mais viveu, a francesa Jeanne Louise Calment, que morreu em 1997 depois de viver, comprovadamente, 122 anos e 164 dias (em 2010 escrevi um artigo sobre ela no meu blog: aqui).



Alguns cientistas defendem que o limite da vida humana estaria em torno de 120 anos, mas não apenas porque ninguém conseguiu bater o recorde da velhinha francesa. “Se analisarmos como o funcionamento dos nossos órgãos declina com a idade e aplicarmos essa taxa de declínio até o ponto em que eles deverāo parar de funcionar por completo, os cálculos indicam que os órgãos de uma pessoa média, só funcionarão até os 120 anos”, explica o prof. Faragher.

Existe modelos matemáticos para todo gosto, uns prevendo que o limite da vida humana seria de 115, 124, 126, 130 anos, outros apontando para 150 anos. Há também quem diga que pode nem haver limite.

Identificamos que as taxa de mortalidade nas idades extremas vem caindo ligeiramente. Isso significa que não estamos nos aproximando de um limite para a expectativa de vida”, diz Ken Wachter, prof. de demografia e estatística da Universidade da California, Berkeley – EUA.

No fim das contas, acho que não importa muito se nas idades mais avançadas existe um platô na mortalidade ou se não existe limite para as idades extremas. São muito poucas as pessoas que chegam lá e o risco de morte naquele ponto é tão grande, que isso não tem nenhuma importância para a maioria das pessoas.

Nossa expectativa de vida pode nunca ter sido tão longa, porém, os anos a mais que ganhamos no final da vida continuam sendo solitários, frágeis e com um cansaço cada vez maior da vida.

Mais importante do que viver 130, 140 anos, é permanecer saudável por mais tempo, postergando o início das doenças relacionadas a idade ou idealmente, nos prevenindo contra elas.

Será que realmente vale a pena viver para sempre?


Grande abraço,

Eder.


P.S.: Tem também aquela velha fábula do discípulo que pergunta para o mestre zen: “mestre, como faço para viver para sempre”? O mestre responde: “se case”. Entāo o discípulo insiste: “se eu me casar viverei para sempre”? E o mestre retruca: “nāo, a vontade passa” … :)


Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Is There a Limit To Human Life?”, escrito por Dr. Katie Spaldin


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