De Sāo Paulo, SP.
A confiança dos investidores na IA entrou em colapso. Quem poderia prever isso, exceto todo mundo no setor de alta tecnologia ...?
Quando você vive no centro das inovações tecnológicas, fica mais fácil identificar toda vez que há sinais de que uma bolha está se formando.
Se você passear de carro hoje por qualquer uma das principais artérias rodoviárias do Vale do Silício, vai notar que quase todo outdoor exibe um produto que diz: “impulsionado por IA”.
Três anos atrás, quando fui visitar meu filho em São Francisco, nos EUA, passando pelo mesmo trajeto você lia nos mesmos outdoors a palavra “blockchain”. Há dez anos, a palavra era “big data”. Há vinte e cinco anos, literalmente qualquer coisa vinha seguida de “.com”.
Não é que a galera do Vale do Silício estivesse errada quanto ao futuro de qualquer uma dessas tecnologias. Especialmente em relação a febre do ponto com, nos anos 90, quando a Internet inteira caiu no nosso colo.
Você não pode culpar ninguém por sonhar em criar as soluções que mais tarde todos vão considerar corriqueiras. Trata-se aqui de uma questão de impaciência.
Todos os Investidores, fundadores de startups e CEOs que ficam em pânico e se jogam dentro da onda, quando emerge uma nova tecnologia promissora, estão ansiosos por resultados imediatos.
Mas, de repente, a realidade se impõe, como evidentemente está acontecendo com os investidores em IA esses dias.
Em meio ao derretimento geral dos mercados de ação mundo afora na segunda-feira passada, na esteira da maior queda em um só dia, na história da bolsa Japonesa, ações de empresas de IA como a Nvidia tomaram um tombo.
As ações da Nvidia perderam um trilhão de dólares em valuation, nada menos que 30% do total desde o pico atingido nesse ano de 2024. Se a história servir de guia – geralmente serve – não há volta depois de um ponto de inflexão como esse.
O próximo capítulo será extremamente doloroso para muita gente, mas será muito mais benéfico para o progresso tecnológico no longo prazo, do que a mentalidade durante a bolha jamais poderia ser.
Como a bolha da IA estourou
O que causou a mudança na vibe com a IA? Escolha sua alternativa. Talvez tenha sido:
- ... um estudo revelando que os consumidores andam tão desgastados com o termo “IA”, que há menos chance deles comprarem um produto com marketing baseado nele;
- ... ou talvez tenha sido o suposto erro de Sam Altman usando a voz de Scarlett Johansson em sua ferramenta de IA com voz;
- ... ou Elon Musk tentando vender seu chatbot criando deepfake produzida por IA;
- ... ou ainda, talvez o fato de um dos maiores e mais antigos hedge funds do mundo ter anunciado para os clientes que os produtos de IA “nunca serão economicamente viáveis, nunca funcionarão direito, consumirão muita energia e se revelarão indignos de confiança;
- ... ou, quem sabe, o relatório da Goldman Sachs sobre IA intitulado “Too Much Spend, Too Little Benefit?” (em tradução livre, algo como “Gasto Demais para Pouco Retorno”).
Não importa, qualquer que tenha sido o motivo da sua escolha, os sinais de pânico estão em todo canto. As ações das cias de tecnologia receberam paulada independente da disposição da empresa em aumentar ou reduzir os investimentos em IA.
Mark Zuckerberg anunciou um agressivo aporte de US$ 5 bilhões em IA numa das recentes conversas com analistas de mercado, no dia seguinte as ações da Meta caíram 15%. A Intel cortou os investimentos em IA em US$ 10 bilhões numa redução de custos e mesmo assim, as ações caíram 25%.
Conforme escreveu Gary Marcus, um conhecido cético em relação a IA:
“A Inteligência Artificial Generativa não vai desaparecer, mas os investidores podem muito bem parar de colocar dinheiro, nos níveis que vêm fazendo, o entusiasmo pode diminuir e muita gente pode ficar sem as calças. Empresas atualmente avaliadas em bilhões de dólares podem falir ou serem fatiadas”
Marcus previu que o crash aconteceria em 2025, mas agora acredita que pode ter chegado mais cedo.
As bigtechs começaram a adotar a estratégia do “acqui-hire”, ou seja, contratam os cabeças ao invés de torrar bilhões $$$ na aquisição de startups. Google fez isso com uma startup chamada Character.AI, a Amazon fez com a Adept e Microsoft fez com a Inflection.
Poderia estar mais claro que chegamos num ponto de inflexão?
Olha o lobo. Olha o lobo!
As ferramentas de IA, claramente, tem um futuro promissor, mas a promessa resta muito mais sobre tarefas chatas e não muito abrangentes como: economizar algum tempo no desenvolvimento de softwares (programação), redigir minutas de documentos etc.
A visão de um vasto crescimento exponencial da IA a ponto de ser uma ameaça para a humanidade, não deveria ser motivo de preocupação. Sam Altman, da OpenAI, gastou os últimos dois anos alardeando essa ameaça, mas hoje está parecendo mais aquele menino que gritava sobre um lobo inexistente.
Esgotaram-se os dados para treinar os modelos de LLM (Large Language Models) e quanto mais eles são treinados na Internet, mais a Internet é inundada por produtos gerados pela própria IA – degradando o resultado.
Voltado ao Vale do Silício, tudo isso significa que as empresas e os produtos de IA precisam ter algo superespecial para sobreviver à correção de mercado que está chegando.
Olhando para as startups que sobraram depois do estouro da bolha das “ponto com” no ano 2.000, você vai ver nomes como Google e Netflix e entender o que isso significa.
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “The AI bubble has burst. Here's how we know”, escrito por Chris Taylor
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