De Sāo Paulo, SP.
Dando sequência à Parte 1 desse artigo, falaremos de três movimentos acontecendo na economia digital, que servem de indício para se plotar a aproximação de um novo momento dos planos de previdência complementar.
São eles, a(o):
1. Embedded Finance em fundos de pensão - eu chamo de Previdência Lego;
2. Tokenizaçāo de ativos e ativos digitais;
3. Fidelização de clientes via recompensas com cryptoativos (Web3)
Embedded Finance e Previdência Lego
De acordo com o Boston Consulting Group (BCG), o mercado de “embedded finance” é hoje de US$ 70 Bi, projetado para 2030 deverá atingir US$ 320 Bi.
O interessante é que as inovações, em sua maioria, focam na distribuição de produtos financeiros. Produtos que existem há décadas, mas que ao serem reempacotados, destravam novos mercados e novos segmentos de consumidor.
Em 2020 publiquei uma serie de quatro artigos intitulada “Disruptura: a previdência lego e o futuro das finanças mudarão para sempre o modelo de negócios da previdência complementar”. Para quem quiser se aprofundar no assunto, seguem os links:
A tokenizaçāo de ativos é muito mais interessante.
Tokenizaçāo e ativos digitais
Uma “infraestrutura paralela” aos mercados financeiros, surgiu com instituições próprias, tipo Coinbase, Fireblocks, Curve, Uniswapp, Coindesk – no Brasil, Mercado Bitcoin, Coinext ...
Instituições financeiras incumbentes, como Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e fundos de hedge passaram a vender ETFs e fundos de investimentos tradicionais lastreados em cryptoativos como Bitcoin, Ethereum e vários outros.
Os novos produtos são os cryptoativos, os ativos digitais, que vem sendo vendidos para clientes que enxergam o Bitcoin como hedge (proteção) contra inflação e como reserva de valor.
Há clientes, também, para o Ethereum, a Solana, os Stablecoins e inúmeros outros projetos que vem construindo novos produtos e infraestruturas.
Além de novos produtos para novos clientes, os cryptoativos também se tornaram produtos para os clientes existentes de “neobancos” como o Nubank e gestores de investimentos como a Hashdex e outros.
Instituições que já surgiram como “nativas digitais” – por enquanto não temos nenhuma no setor de fundos de pensão – usam 24/7 uma infraestrutura programável num novo mercado financeiro.
Essas instituições digitais, fintechs & cia, atuam como novos clientes de alguns produtos atuais, tipo, Títulos Públicos do Governo Federal.
Então, passamos a ver corretoras de crypto como o Mercado Bitcoin oferecendo aplicações no “Tesouro Direto”. Lá fora, vemos gestores de investimentos em crypto, como a Superstate, tokenizando títulos do tesouro americano para tornar um ativo do mundo real compatível com essa nova “infraestrutura paralela” da economia digital. https://thedefiant.io/news/defi/real-world-asset-firm-superstate-launches-first-fund-tokenizing-u-s-treasuries
Do outro lado, vemos instituições tradicionais vendendo novos produtos para clientes existentes, tipo, o Banco do Brasil e seu fundo BB Multimercado Criptoativos Full LP FIC FI ou a Hashdex e seus ETFs de cryptomoedas BITH11, ETHE11 e HASH11.
Os ETFs tornam os tokens | ativos digitais | cryptoativos, compatíveis com a infraestrutura legada e os atores dos mercados financeiros tradicionais (TradFi – Traditional Finance). Assim, instituições tradicionais passam a oferecer facilmente para sua base de clientes existente os novos produtos nativos digitais.
Atores TradFi mais ágeis, como a Blackrock, já atuam nas duas pontas. A Blackrock está tokenizando produtos existentes como seu fundo multimercado BUILD ao mesmo tempo que cria novos produtos como ETFs de Bitcoin.
Dinheiro nunca dorme no ponto.
Com mencionei acima, ainda não temos produtos existentes no segmento e fundos de pensão (planos de previdência complementar), sendo tokenizados e vendidos para clientes existentes. Muito menos novos produtos para novos clientes, mas estamos apenas arranhando a superfície da economia digital e ainda veremos coisas muito interessantes surgindo pela frente.
Dependendo na fonte de informações que você preferir acreditar, o tamanho do mercado de tokenizaçāo de ativos reais representa US$ 2 Trilhões (McKinsey) ou US$ 16 Trilhões (BCG).
Fidelização de clientes via recompensas com cryptoativos
No final de 2023, passei a ser um dos early adopters (pioneiros na adoção) de um serviço de e-mails lançado em maio de 2022, que integra os princípios de uma Internet totalmente descentralizada (Web3), baseada na tecnologia do blockchain.
Totalmente de graça, a plataforma faz parte de uma revolução que vem acontecendo na comunicação digital.
Eles usam uma tecnologia chamada EaaW ou “E-mail-as-a-wallet”, algo tipo “e-mail como carteira digital”, que fornece privacidade completa e controle soberano ao usuário do e-mail, ou seja, controle total sobre sua inbox.
O mais legal, por isso estou trazendo isso aqui, é o modelo que eles adotam chamado de “consensual marketing” ou “marketing consensual”, que transforma a “atenção” do usuário em um ativo valioso.
O conceito do marketing consensual é fornecer recompensa, na forma de cryptoativos (token $EMT), em troca do engajamento do usuário do e-mail que voluntariamente decida participar de campanhas de marketing promocionais.
Além de ter controle integral sobre o tipo de e-mail marketing que concorde em receber (bem diferente da tonelada de spams que não queremos, mas recebemos na Web2), o marketing consensual significa que você recebe $$$ para ler os e-mails marketing numa abordagem chamada R2E – Read-to-Earn (ganhe para ler).
Semana passada escrevi sobre o uso por vinculas, da tecnologia do blockchain, Web3 e cryptoativos na fidelização de apreciadores de vinho, que voluntariamente queiram compartilhar os dados sobre onde e quando abrem determinada garrafa de vinho (dado importante para os produtores de vinho) em troca de pontos e recompensas na forma de tokens | cryptoativos. Mais: aqui
Na cryptoeconomia, na economia digital, os fundos de pensão terão mil e uma formas de assegurar o engajamento dos participantes com suas poupanças, mas terão que sobrevier para isso.
O serviço de e-mail que comentei chama-se Ethermail. Seguem detalhes ara quem quiser se aprofundar:
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Se você não acredita em embedded finance, em tokenizaçāo de ativos reais, em cryptoeconomia, nessa altura do campeonato, francamente, nem sei o que te dizer.
O insight principal desse artigo é que a participação de mercado é barata quando os mercados são pequenos.
A questão, então, é: quando um fundo de pensão atual ou uma nova startup de soluções de segurança financeira futura deveria mergulhar na economia digital, na cryptoeconomia, na tokenizaçāo de ativos e criar novas soluções?
Se você entrar cedo demais, seu custo será baixo, mas você provavelmente vai perder dinheiro. Isso é ruim para os players incumbentes – atuais fundos de pensão e entidades abertas de previdência complementar, mas bom para startups, PensionTechs, SavingsTech, DePen (Descentralized Pensions).
Se você entrar tarde, provavelmente vai custar mais caro e as vantagens podem não valer a pena o investimento. Porem, na medida em que o mercado amadurece, aumenta a curva de receitas potenciais, e o custo de entrar, de certa forma, se estabiliza.
Existe um ponto ótimo no qual vale a pena para os players incumbentes entrarem, é quando um novo mercado é aprovado por novos clientes. O truque é fazer isso de modo a ter chance de vencer.
Por exemplo, os neobancos passaram a oferecer ativos digitais porque estāo enxergando uma regulamentação cada vez mais clara. Os grandes bancos e instituições financeiras estão adotando o ecossistema de soluções da embedded finance, porque precisam da escala e segurança que oferece. Os grandes gestores de ativos adotaram a tokenizaçāo de ativos e os cryptoativos, porque existe demanda e enxergam neles eficiência com menores custos.
O perigo quando se analisam novas oportunidades é que deixamos nossos preconceitos sobre determinado assunto, prejudicar a oportunidade.
- Detesta cryptomoedas? Então vai perder o bonde das novas classes de ativo e maiores retornos, que vêm chegando com a tokenizaçāo;
- Acha que embeded finance e a previdência lego sāo baboseira? Vai perder a maior oportunidade de crescimento das soluções de previdência complementar das últimas décadas.
Você está ficando para trás se não vem atualizando seu conhecimento sobre a maneira que os mercados mudam e se transformam.
Esse é o melhor momento para reservar seu lugar na era digital. Nunca aposte contra as inovações, no agregado.
Grande abraço,
Eder
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “How to spot the next big thing in Fintech: A framework”, escrito por Simon Taylor.
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