sábado, 24 de agosto de 2024

COM A ENORME TRANSFORMAÇĀO DEMOGRAFICA ESPERADA PARA O FINAL DO SECULO, A IMPLOSĀO DA PREVIDENCIA SOCIAL SERÁ O MENOR DOS PROBLEMAS


De Sāo Paulo, SP.

Uns 30 anos atrás um escritor britânico chamado P. D. James escreveu um romance intitulado “The Children of Men”. Em 2006, o livro se transformou em filme.

No Brasil, o título foi traduzido para “Filhos da Esperança”. O filme se passa numa sociedade, 25 anos depois do nascimento da última criança.



A falta total de fertilidade, significa falta de futuro. Por isso, cientistas e demógrafos vem pesquisando com urgência cada vez maior a queda nas taxas de fertilidade

“Taxa de fertilidade” é o no médio de filhos nascidos vivos, tidos por mulher ao final do seu período reprodutivo. A taxa é estimada para um ano calendário, a partir de informações retrospetivas obtidas em censos demográficos"

Economistas e fundos de pensão, deveriam prestar muito mais atenção a isso. 

A taxa de fertilidade vem caindo surpreendentemente rápido no mundo todo. Abaixo, um gráfico dessa queda nos países do G-7, desde 1960. 


Quando a taxa de fertilidade é inferior a 2,1 filhos por casal – conhecida como taxa de reposição - significa que a quantidade de crianças gerada por casal não será suficiente para manter a população estável.

Em outras palavras, a população começa a se reduzir nos patamares da taxa de fertilidade abaixo de 2.1. Preste atenção no que está acontecendo:

Há 200 anos o mundo compartilhava da preocupação de Thomas Malthus, segundo o qual o crescimento populacional levaria o planeta Terra ao esgotamento dos recursos naturais, com disseminação de fome e miséria a partir dali.

Se por um lado as projeções de Malthus ainda eram temidas poucas décadas atrás, por outro, as consequências de termos menos pessoas no mundo, não parecem estar alarmando as pessoas o suficiente.

Não é por falta de aviso. Vozes como as de Erik Britton da Fathom - empresa de consultoria macroeconômica e geopolítica - colocam o problema que vem por aí, nos seguintes termos:

“Uma população decrescente, no longo prazo, coloca pressão crescente nas finanças publicas já sobrecarregadas e cria outros pontos de stress, como o aumento da taxa de dependência dos idosos. Também afeta o crescimento do PIB (não necessariamente per capita, mas no agregado). Se a taxa de fertilidade no Reino Unido tivesse permanecido em 2% desde 1990, o PIB Britânico talvez fosse 15% a 20% maior do que é atualmente”  

Menos jovens na população significa menos gente no mercado de trabalho, que leva a menos $$$ circulando na economia, que por sua vez representa menos recolhimento de impostos. Apenas algumas consequências disso:

  • Menos dinheiro para os governos manterem a infraestrutura (pontes, hospitais, transporte, rodovias);
  • Redução do tamanho do Estado (funcionários públicos, apertem os cintos);
  • Encolhimento dos contingentes das forças armadas;
  • Total inviabilização da previdência social (postergar a idade de aposentadoria, simplesmente não vai adiantar mais);
  • Dificuldade nos segmentos que dependem de profissionais jovens, tipo cuidadores de idosos e enfermagem (hospitais);
  • Impacto em produtos e serviços para crianças e jovens (creche, escolas);
  • Oportunidades para produtos e serviços voltados para idosos;
  • Desenvolvimento de novas soluções de segurança financeira; etc.

Num horizonte mais curto de tempo, esse será um problema maior para os países ricos. Dados das Nações Unidas (abaixo) mostram que a taxa de fertilidade dos países pobres é cerca de três vezes superior aquela dos países ricos. Note, porém, que mesmo nos países pobres a tendência é de queda na taxa de fertilidade.

Isso poderá mudar a ordem mundial ao longo da próxima geração (Geração Alpha). A China, que instituiu em 1980 a política de apenas um filho por casal e a manteve ativa por 36 anos, vai encolher completamente. Situação ainda pior será a da Coreia do Sul. A seguir, as mudanças nas taxas de fertilidade pelo mundo.


Em 2050, portanto, no meio desse seculo, veja (gráfico abaixo) quais serão os 20 países mais populosos do mundo. China e India ainda serão dominantes, mas o quadro será bem diferente do que tínhamos em 1980 com ascensão dos países da Africa subsaariana em tamanho da população. 

O Brasil terá em 2050 quase a mesma população que tem agora em 2024 apontando para o alto do platô, a partir do qual a curva população entrará em declínio. A taxa de fertilidade no Brasil é hoje, menor do que a da Califórnia-EUA. Você ouviu aquela turma no governo, responsável pelas políticas públicas de previdência social e complementar, falar alguma coisa sobre isso? Nem eu...

Qual a chance das projeções de redução populacional mencionadas anteriormente se concretizarem? James Pomeroy, economista chefe global do HSBC, diz que as projeções populacionais da ONU podem estar até subestimadas.

Ele diz isso porque as projeções da ONU levam em consideração uma redução das taxas de fertilidade menor do que a redução que acaba sendo verificada posteriormente. Tanto é que a ONU tem feito constantes revisões “post-facto” em suas estimativas populacionais e tudo leva a crer que esse rápido declínio persistirá.  

Os estudos mais recentes da ONU para a população global apontam que o pico será atingido em 2080, com 10,4 bilhões de pessoas no mundo, mas se as taxas de fertilidade vêm caindo em ritmo maior do que a ONU projeta, esse marco poderá ser atingido décadas antes disso.

Quando a primeira filha de um amigo meu nasceu, ele recebeu uma linda mensagem de felicitações que dizia: 

“Cada novo bebê que nasce é um sinal de que Deus ainda nāo desistiu da gente!”

Parece que o crescente consenso entre os demógrafos de que as taxas de fertilidade decrescente nos levarão a uma redução populacional mais cedo do que o esperado, também tem implicações teológicas ...


Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Children of Men”, escrito por John Authers.


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