quinta-feira, 27 de maio de 2021

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO MUNDO, DE ACORDO COMIGO.

 


De São Paulo, SP.


Resolvi dar uma parada nos posts hoje para escrever esse texto e resumir o que penso sobre o assunto. Eu não sou ninguém importante, nenhum “top voice” do LinkedIn, “influencer” no Youtube ou coisa assim.

 

Mas, leio um montão de relatórios, pesquisas e artigos e converso com um monte de gente inteligente nas mídias sociais e em eventos nacionais e internacionais. 

 

Além disso, acompanho de forma sistemática assuntos tão diversos como economia, psicologia, neuromarketing, longevidade, startups, negócios, seguros, economia, tecnologia e por aí vai. Então, com o tempo, aprendi uma alguma coisa ou outra.

 

Eu acredito que a previdência complementar esteja em apuros nos quatro cantos do mundo. E não tem nada a ver com a redução do benefício da previdência social, com o aumento da longevidade, com a qualidade da administração ou governança dos conselhos dos fundos de pensão, nem com a falta de mais incentivos fiscais. Antes que alguém diga, a culpa também não é nem do Bolsonaro nem do Lula ...

 

O problema, fundamentalmente, está em um preocupante desequilíbrio da prosperidade no mundo - nos países desenvolvidos ou não - e também no declínio das empresas como fonte de emprego e renda para os indivíduos:


  • As pessoas do andar de cima têm muito e as pessoas do andar de baixo não tem o suficiente; e
  • As empresas, a cada dia, empregam menos pessoas e aquelas que elas vão abandonando no caminho ficam economicamente vulneráveis

 

Não se trata de uma questão social, de perda de moralidade nem de convicção liberal ou conservadora. A solução não está no campo da filosofia, nem de se fazer o que é certo.

 

Trata-se de uma questão prática, de se fazer o que é necessário para sustentar e manter uma economia baseada no consumo, emprego e renda.   

 

Pessoas ricas não são consumidoras. Ainda que comprem artigos de luxo, gastam uma percentagem ínfima do que ganham. As pessoas de alta renda economizam muito mais do que gastam e não o fazem em planos de previdência complementar.

 

As pessoas de baixa renda, por outro lado, gastam tudo que tem e economizam muito pouco, se é que econimizam. Como diz um personagem da serie Atlanta, produzida e estrelada por Donald Glover na Netflix: 

“As pessoas pobres não têm tempo para investimentos, porque as pessoas pobres estão sempre muito ocupadas tentando não ser pobres”. 



 
Por conseguinte, as pessoas de baixa renda raramente podem se dar ao luxo de poupar para o futuro, do que lá contribuir para planos de previdência complementar.

 

Estamos em um momento no tempo no qual as pessoas ricas têm tanto dinheiro, que elas literalmente não sabem o que fazer com ele, onde colocá-lo ou investi-lo.

 

Grandes corporações estão sentadas em cima de trilhões de dólares no mundo todo, simplesmente porque não existem mais investimentos seguros e as empresas não sabem o que fazer com tamanha liquidez. 

 

As taxas de juros sub-zero são um problema mundial e estão tão baixas que fazem os investidores não ganharem nada ou até percam dinheiro por causa da inflação. 

 

Ainda que os juros atuais estejam subindo em alguns países, escrevi um artigo no ano passado mostrando que os juros reais vêm caindo, em um movimento “supra-secular”, ao longo últimos 800 anos (estudo do Banco da Inglaterra). Isso significa que poderemos, em breve, entrar em território de juros negativos permanentemente.

 



Tem mais, a classe média, que vive do trabalho e não do investimento de seu patrimônio, tem visto sua renda corroída pelo aumento do custo de saúde, educação e moradia. 

 

Ao longo da última década, os salários têm se mostrado incapazes de acompanhar a evolução dos preços desses itens. Vai sobrando cada vez menos para poupar para o futuro quando se deveria poupar cada vez mais. 

 

Em 2018 40% dos americanos tiveram receita liquida negativa, gastaram mais do que ganharam e tiveram que viver de empréstimos para pagar suas necessidades domésticas básicas.

 

Ainda que melhore com o tempo, certamente vamos sair dessa pandemia com um quadro ainda pior e alguns anos terão passado até que melhore.

 

Uma economia de mercado simplesmente não funciona e planos de previdência complementar não prosperam, quando os consumidores estão muito pobres para consumir ou poupar para o futuro e os ricos não querem gastar.

 

Em um estudo do "Thinking Ahead Institute" feito com 22 países, o Brasil foi o único em que o patrimônio dos fundos de pensão encolheu nos últimos 10 anos em percentual do PIB, uma redução de 1% em moeda local (não foi em dólares não).

 

Novas empresas, isso vale para startups de tecnologia também, quase que na maioria dos casos: perdem dinheiro, oferecem um produto ou serviço que torna outro produto ou serviço mais barato, ou vendem algo para grandes corporações ou para os governos.

 

Como os consumidores não tem dinheiro para gastar, muitas empresas têm dificuldade para gerar lucro de verdade. As grandonas, para se manterem vivas, se beneficiam dos juros baixos e emitem títulos de renda fixa ou tomam dinheiro emprestado.

 

Cerca de ¼ das grandes empresas de capital aberto americanas são consideradas hoje “empresas zumbi”, não conseguem gerar receita suficiente nem para pagar os juros de suas dívidas. Nos EUA o governo tem subsidiado por anos a fio.

 

No Brasil, as grandes empresas nacionais foram alavancadas com subsídios do governo, quem não se lembra da política de “campeãs nacionais”? O Covid-19 levou o governo a subsidiar diretamente os consumidores, aqui e na maioria dos países que puderam se dar ao luxo de o fazer.

 

Porém, subsídios que deveriam ser temporários vão se tornando um meio de vida e a renda mínima universal que era coisa do Suplicy e de países nórdicos, vai sendo considerada por muitos países. 

 

Para encerrar, empresas menores empregam menos gente e fundos de pensão precisam de milhares de participantes para serem viáveis. Além disso, as empresas que sempre se livraram das pessoas mais velhas, apesar de jurarem de pé junto que se preocupam com questões de igualdade, diversidade e inclusão, vão socializar esse tratamento. 

 

Podemos esperar, com pequena margem de erro, que no mundo pós-pandemia a busca das empresas por produtividade e aumento dos resultados se dará através do corte de custos trabalhistas. Uma onda de contratos de trabalho diferentes dos tradicionais contratos permanentes em tempo integral, empurrará os planos de previdência complementar para ainda mais longe da história.

 

Qual a solução? Eu não sei, estou apenas escrevendo. Mas parece que não há muito interesse em se buscar uma solução definitiva, então, vão apenas colocando band-aid no problema como os planos família.

 

Grande abraço.

 

Eder.

 

 

Fonte: Dion Rabouin, Axios Market

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Cuidados na Portabilidade

Hora no Mundo?

--------------------------------------------------------------------------

Direitos autorais das informações deste blog

Licença Creative Commons
A obra Blog do Eder de Eder Carvalhaes da Costa e Silva foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em nkl2.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://nkl2.blogspot.com/.

Autorizações


As informações publicadas nesse blog estão acessíveis a qualquer usuário, mas não podem ser copiadas, baixadas ou reutilizadas para uso comercial. O uso, reprodução, modificação, distribuição, transmissão, exibição ou mera referência às informações aqui apresentadas para uso não-comercial, porém, sem a devida remissão à fonte e ao autor são proibidos e sujeitas as penalidades legais cabíveis. Autorizações para distribuição dessas informações poderão ser obtidas através de mensagem enviada para "eder@nkl2.com.br".



Código de Conduta

Com relação aos artigos (posts) do blog:
1. O espaço do blog é um espaço aberto a diálogos honestos
2. Artigos poderão ser corrigidos e a correção será marcada de maneira explícita
3. Não se discutirão finanças empresariais, segredos industriais, condições contratuais com parceiros, clientes ou fornecedores
4. Toda informação proveniente de terceiros será fornecida sem infração de direitos autorais e citando as fontes
5. Artigos e respostas deverão ser escritos de maneira respeitosa e cordial

Com relação aos comentários:
1. Comentários serão revisados depois de publicados - moderação a posteriori - no mais curto prazo possível
2. Conflitos de interese devem ser explicitados
3. Comentários devem ser escritos de maneira respeitosa e cordial. Não serão aceitos comentários que sejam spam, não apropriados ao contexto da dicussão, difamatórios, obscenos ou com qualquer violação dos termos de uso do blog
4. Críticas construtivas são bem vindas.




KISSMETRICS

 
Licença Creative Commons
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil License.