De São Paulo SP.
Na medida em que a população envelhece a expectativa de vida na data da aposentadoria se estende por 20, 25, 30 anos e representa hoje cerca de um terço ou mais do tempo total de vida das pessoas.
Quanto mais estica o período da aposentadoria, mais o período de inatividade vai se confundindo com os anos de atividade. Os aposentados de hoje continuam trabalhado em tempo parcial, viajam, correm maratonas, frequentam academias de ginastica, mal dá para saber o que define um aposentado.
Cada geração vai sucessivamente desafiando o que definia a anterior. Antes da pandemia havia a mesma chance de encontrar um aposentado mochilando em Machu Picchu do que um aposentado cuidando das suas plantinhas no jardim.
A Geração X, que nos presenteou com A-ha, Madona, Star Wars, Kazuza, Kid Abelha e Menino do Rio, dificilmente vai querer ficar sentada na cadeira de balanço aos 65 anos. A renda de aposentadoria deles precisa refletir isso.
Espremidos entre a segurança dos planos de benefício definido e a mudança de modelo para contribuição definida, apanhados no meio do caminho, será que a turma da GenX está preparada?
O depois é tão importante quanto o antes
A base de uma aposentadoria tranquila não é resultado apenas de projeções e estatísticas, mas sim um reflexo da forma como as pessoas decidem viver com os recursos que acumularam e que tem a sua disposição.
Confrontadas com a realidade, as pessoas estão descobrindo que a importância de gastar de forma eficiente é igual a de poupar suficientemente para o futuro. Pesquisa interessante sobre os desafios da desacumulação, aqui: Tackling decumulation dilemmas
Infelizmente a liberdade de escolher onde investir as contribuições aos fundos de pensão, trazida pelos planos de contribuição definida, não veio acompanhada de maior conhecimento financeiro por parte dos participantes.
Precisamos abandonar o mito de que os planos de previdência complementar representam o Santo Graal de um futuro tranquilo para os participantes da Geração X e das próximas gerações, que dependerão cada vez mais de planos sem a garantia da renda vitalícia.
A responsabilidade por assegurar que essas pessoas obtenham a maior renda possível a partir de suas poupanças acumuladas não é apenas delas próprias, mas recai igualmente em administradores de fundos de pensão e autoridades governamentais responsáveis pela formulação de políticas de previdência complementar.
A menos que esse problema seja atacado frontalmente, a Geração X - que cresceu com vídeo cassetes e fichas para usar telefones públicos - vai ser apenas a primeira de uma longa fila a sofrer com o dilema da desacumulação.
O desafio dos conselhos deliberativos: trocar a roda com o carro andando
A atuação dos conselhos dos fundos de pensão não se limita às questões de curto prazo, eles estão aí para servir os participantes no longo prazo. Se não estiverem olhando para o futuro, se estiverem preocupados apenas com as atuais gerações, então não estarão cumprindo com seu dever fiduciário.
Costumo dizer que não precisamos de uma mudança tecnológica em nossos fundos de pensão, o que precisamos é de uma mudança cultural, por isso tenho insistido tanto em revolucionar os conselhos dos fundos de pensão.
O chamado “dilema da inovação”, enfrentado igualmente por empresas e fundos de pensão, é ter que conviver paralelamente com o legado das soluções, processos e sistemas existentes hoje, ao mesmo tempo em que investe, desenvolve e implanta os novos.
O problema é que se sairmos atrasados nessa corrida, dependendo do atraso, não conseguiremos alcançar aqueles que saírem antes.
A solução para enfrentar esse desafio é buscar uma organização mais ágil, que se adapte às mudanças com iniciativas e inovações que requeiram semanas e não anos de desenvolvimento.
A construção de um novo modelo de negócios para os fundos de pensão pode ser feita com múltiplas iniciativas pequenas, cada uma com ciclo de implantação de 3, 6 ou até 12 meses.
Foi daí que surgiu a filosofia do “fail fast”: pode errar, mas erre rápido e passe logo para a iniciativa seguinte. Até porque os sistemas e processos desenvolvidos hoje não vão mais durar 10 anos e as mudanças ocorrerão em intervalos cada vez menores.
Para acompanhar o ritmo das mudanças, as atualizações e inovações precisam ser mais frequentes. Em tempos de transformação digital, adorei uma frase que ouvi na semana passada durante um evento do SVIA – Silicon Valley Insurance Accelerator: “Você não acrescenta (um componente) digital, você se torna digital”.
A transformação dos fundos de pensão em direção a uma nova geração de modelo de negócios ainda está no primeiro dos três passos a seguir:
- Passo 1- Modernização: modernização do negócio substituindo sistemas legados por soluções tecnológicas, tipo API, nuvem, mobile, permitindo o oferecimento de micro serviços que mantenham e aumentem o atual negócio.
- Passo 2- Otimização: Otimizar o negócio atual com novas capacitações digitais e dados (data analytics) para proteger e fazer crescer a base de clientes atual.
- Passo 3- Novo modelo: construir novos modelos de negócios para uma nova geração de clientes e produtos
Como se vê, ainda temos muito a fazer. A boa notícia é que sabemos por onde começar, basta dar o primeiro passo.
Resumindo para refletir: você andaria em um carro no qual o motorista dirige olhando mais tempo para o espelho retrovisor do que para o para-brisa? Pois é ... substitua o carro pelo seu fundo de pensão e o motorista pelo conselho deliberativo. Se isso lhe causar alguma preocupação, está na hora de conversar com seus conselheiros antes que todos se envolvam em uma potencial trombada!
Grande abraço,
Eder.
Fontes: Taking cash: One lump or two? e SVIA - Innovation Trailblazers - Mini Series Webinars: Next-Gen Data, Analytics & The 2.0 Future of Insurance. Business Model Transformation & Innovation (Sept.15, 2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário