De São Paulo, SP.
Ao longo da minha carreira me deparei inúmeras vezes com aquela clássica pergunta que 10 entre 10 profissionais de HR adora fazer para candidatos a emprego:
Onde você se vê daqui a cinco anos?
Acontece que as coisas mudam tão rapidamente hoje em dia, que é impossível saber onde estaremos daqui a cinco dias, do que lá daqui a cinco anos, né não?
Mas a pergunta tem um proposito que é saber se o candidato a emprego é alguém dinâmico e que pretende evoluir profissionalmente, ao invés de uma pessoa acomodada e descansada demais.
Fora do ambiente de trabalho, a maioria de nós tende a acreditar que suas personalidades, valores e maneira de ser não mudarão muito no futuro, mesmo tendo mudado tremendamente no passado.
Isso se deve a descoberta em 2013 - pelos psicólogos Jordi Quoidbach, Daniel Gilbert e Timothy Wilson - de um fenômeno que afeta a todos, que eles denominaram de “ilusão do fim-da-história” (end-of-history illusion, em inglês).
Mais sobre o estudo, publicado na Harvard Business Review: aqui
Acontece que a ilusão do fim-da-história não afeta apenas nossas vidas pessoais, ela acaba extrapolando os limites individuais e impactando aspectos importantes de nosso processo decisório também no campo profissional.
Conselheiros de fundos de pensão são pessoas de carne e osso, com as mesmas idiossincrasias, vieses comportamentais, qualidades e defeitos que qualquer ser humano carrega consigo.
Na serie de estudos que levaram a descoberta do fenômeno, os pesquisadores testaram mudanças em preferencias pessoais tais como: comida favorita, filmes, hobbies e amizade. Testaram, também, mudanças em valores básicos, como: poder, realizações, subordinação e direcionamento pessoal.
Todos os testes levaram aos mesmos resultados.
Quanto mais velho o participante da pesquisa menor a mudança prevista ou reportada nas preferencias pelas pessoas (gráfico abaixo).
Isso mostra que as pessoas, consistentemente, subestimam o quanto seus valores e preferencias mudarão no futuro comparado com a experiência real das mudanças que elas mesmas viveram e experimentaram no passado.
O impacto nos conselhos dos fundos de pensão
Ao nos tornar reativos ao invés de proativos, a ilusão do fim-da-história nos afeta como pessoas de várias formas e nos leva a planejar com visão de curto prazo e baseados em premissas que não mudam.
Veja a seguir como isso acontece no nível pessoal e extrapole para os efeitos que pode ter sobre conselheiros de fundos de pensão.
- Escolhas reativas: apesar da vida ser imprevisível, a ilusão do fim-da-história nos rouba a iniciativa de assumir em nossas mãos a modelagem do nosso próprio futuro. “É mais fácil se acomodar com o presente do que imaginar um futuro diferente” diz o Dr. Benjamin Hardy, um dos autores do estudo. “Se você não investir um tempo para imaginar quem você quer ser, então, você vai se tornar de modo reativo, no que quer que a vida direcione você a ser”;
- Rótulos (ou premissas) fixos: “sou muito tímido para fazer amigos”, sou muito irresponsável para ter um animal de estimação” ... ao construirmos um modo fixo de pensar, acabamos nos agarrando de modo rígido a rótulos e deixamos de enxergar grandes oportunidades que podem nos mudar para melhor;
- Visão de curto prazo: quando decidimos colocar esforço em algo, estamos descansados e nossa energia e ânimo iniciais estão nos níveis mais altos, mas na medida em que o tempo passa e os dias caminham, nossa energia vai diminuindo e alguns aspectos daquele tópico começam a não parecer mais tão animadores. Ao nos tornar extremamente otimistas ou pessimistas a ilusão do fim-da-história pode ter impacto na forma que gerenciamos nosso tempo e nossa energia e isso pode nos levar a planejar olhando um futuro mais imediato.
A ilusão do fim-da-história nos faz focar no presente e pode acabar nos impedindo de construir ativamente o futuro. Se a cada dia tomarmos decisões nos conselhos deliberativos dos nossos fundos de pensão sem pensar no futuro, estaremos vivendo a vida de maneira reativa, sem um planejamento apropriado e deixando escapar a oportunidade de construirmos um futuro melhor.
A boa notícia é que se compartilharmos com os demais nossas reflexões, visões e convicções, isso pode ajudar a cada um de nós e aos nossos fundos de pensão a tomar decisões considerando o futuro.
A história dos fundos de pensão só pode ser conhecida olhando-se para trás, mas nós e principalmente nossos filhos, viveremos nos fundos de pensão que vem poela frente.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: How the end-of-history illusion prevents you from shaping your future self, escrito por Lindsay Morgia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário