De Sāo Paulo, SP.
Alguns anos atras um grande fundo de pensão fez contato comigo.
Preocupados com os desafios de sobrevivência, que afligem o setor, procuravam ajuda para traçar uma sólida estratégia de longo prazo.
Já haviam pedido propostas para firmas multinacionais de consultoria em gestão, aquela turma tipo Bain & Company, Booz Allen, A.T. Kearney ...
Só para a fase de diagnostico, os caras estavam pedindo três, quatro milhões de reais. O pacote completo, apontando caminhos e recomendando soluções, não sairia por menos de dez milhões – pior, sem garantia de sucesso.
Expliquei que sou um “lobo solitário”, atuo sozinho. Propus, então, trabalharmos em conjunto.
Precisaríamos de uma estrutura para fazer pesquisas e obter dados. Contrataríamos empresas para ajudar com isso e a partir dos inputs, faríamos as análises, tiraríamos conclusões e listaríamos possíveis caminhos.
A ideia era criarmos um pequeno grupo de trabalho, de alto nível, com as cabeças pensantes. Meu papel seria de facilitador, de apresentar questões, de provocar reflexões, que junto com os dados trazidos de fora, formariam uma boa base para discussões. As soluções seriam moldadas pelo grupo, nesse processo.
Não rolou. Paciência.
Se o seu fundo de pensão pretende desenhar uma estratégia para sobrevier e florescer nessa nova era da economia digital, não adianta terceirizar o raciocínio, é preciso usar suas próprias cabeças para pensar.
Não existe maneira melhor para fazer as pessoas pensarem e iniciar conversas sobre o futuro do seu fundo de pensão, do que fazendo perguntas. Aqui vão algumas.
- Para quem é esse projeto (patrocinadora, fundo de pensão, participantes ...)? Quem é meu publico básico?
- Que mudança esperamos fazer no rumo atual do fundo de pensão com esse projeto?
- Qual minha estratégia para fazer isso acontecer? Consigo articulá-la de forma clara para explicar a um leigo?
- Que recursos humanos e financeiros preciso dedicar a esse projeto? Temos lenha suficiente para queimar nessa fogueira?
- Qual meu cronograma para esse projeto? Quando tenho que entregar o resultado e qual meu prazo para terminar?
- Com quais sistemas estou trabalhando internamente hoje? O sistema quer o que tenho a oferecer?
- Que sistemas precisariam ser mudados para que meu projeto seja bem-sucedido? Como posso criar as condições para essa mudança?
- Onde provocarei tensão? Que resistência devo esperar dos outros (e de mim mesmo)?
- Que posições hierárquicas, comportamentos e relações institucionais (patrocinadoras x fundo de pensão) estão em jogo?
- Qual o tamanho do meu círculo atual de relacionamento e de atuação? O que posso fazer para expandi-los? E sobre os círculos dos destinatários?
- Por que alguém falaria a respeito ou recomendaria meu projeto?
- Como posso criar as condições para causar um efeito de disseminação em rede do meu projeto?
- Quem são os responsáveis pelo feedback do meu trabalho e quem pode fazê-lo avançar ou atrasá-lo?
- O que está em jogo? Quem decide as regras?
- Que jogo pode ser vencido, quem será a favor e quem será contra? Que jogo não precisa ser vencido, apenas jogado?
- O que posso fazer para aumentar minha probabilidade de sucesso? Onde posso obter conhecimento para fazer isso?
- Quais falsos caminhos podem me distrair e fazer perder tempo? Isso importa?
- Estou aproveitando o momento de transformação causado por um agente de mudança? Ou eu que preciso me tornar um deles?
- Que recursos transformariam meu projeto? Como posso obtê-los?
- Se um dos primeiros a abraçar meu projeto falasse sobre ele, o que diria?
- Há empatia com o projeto? O projeto está alinhado com as motivações reais e interesses do publico?
- Qual a tensão que estou criando no sistema ao apresentar meu projeto de mudança?
- Estou construindo o caminho que as pessoas precisarão trilhar para seguir adiante?
- Isso ajuda as forças dominantes do sistema a continuar a alcançar seus objetivos ou desafia o status quo?
- Qual minha posição? As pessoas que escolherem essa alternativa farão uma boa escolha para atender suas necessidades?
- O que posso aprender de projetos semelhantes que foram bem-sucedidos ou que não deram certo?
- Minha estratégia é fácil de descrever, mas difícil de adotar?
- Que parcerias, alianças ou colaboração poderiam ajudar a estruturar o projeto?
- Estou explorando um objetivo inalcançável?
- Qual o processo para alterar a estratégia, a partir do que aprendermos?
- Minha estratégia é suficientemente resiliente para enfrentar surpresas?
- A disseminação é suficiente para isolar das forças que puxam para baixo? Posso criar um efeito de disseminação baseado em abundância, não em escassez?
- A mudança que estamos fazendo é contagiosa? Como posso modificar a cultura que estamos criando para reforça-la?
- Como os sucessos iniciais do meu projeto tornarão mais provável os sucessos posteriores?
- Como obtemos indícios sobre a probabilidade de que nossas convicções funcionarão?
- Posso tornar mais fácil para os outros decidirem?
- Onde estāo os incrédulos e como evitá-los?
- Como o projeto pode explorar os desejos sociais de pertencimento, status e segurança para ajudar a impulsionar sua adoção e disseminação?
- Que frestas, arestas, desgastes ou contradições no sistema atual podem servir como ponto de alavanca para introduzir minha alternativa?
- Para quais métricas o sistema atual está sendo otimizado? Como minha estratégia poderia realinhar os incentivos em torno de diferentes medidas de sucesso?
- Que instâncias atuais podem ter a percepção de que meu projeto é uma ameaça ao seu poder ou posição? Como minha estratégia pode navegar essas dinâmicas políticas?
- Como posso desenhar o projeto para que o efeito de rede leve cada novo participante a criar valor para todos os outros participantes?
- Que custos podem impedir que potenciais stackeholders abracem minha abordagem? Como posso reduzir a percepção de custos da mudança.
- Que objeções mais comuns espero encontrar? Como responderei construtivamente ao ceticismo e à resistência?
- Como o envolvimento no projeto ajudará as pessoas a se tronarem quem elas aspiram ser? Que identidade e visão de mundo as convidam a aderir ao projeto?
- Como posso diminuir a barreira de entrada, tornando fácil e irresistível para as pessoas darem o primeiro passo e aderirem a solução proposta?
- Como posso evitar ficar preso a custos irrecuperáveis se minha estratégia inicial se revelar infrutífera? Quando devo pivotar versus persistir? Qual é esse ponto?
- O que deverá acontecer com o fundo de pensāo se esse projeto não existisse?
Listei essas perguntas inspirado no livro de Seth Godin, intitulado “This is Strategy – Make Better Plans”, que lista mais de 500 perguntas para quem pretende traçar uma estratégia, qualquer que seja o setor.
É isso aí, boa sorte.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “The Strategy Questions”, escrito por Seth Godin
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