De Sāo Paulo, SP.
Essa semana o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) lançou uma campanha publicitaria nas mídias sociais nos EUA com o slogan:
“Conheça seu risco. Proteja seu dinheiro”
Para os não iniciados, FDIC é o equivalente americano do nosso Fundo Garantidor de Créditos, (FGC), instituição que garante depósitos, poupanças e investimentos feitos através do sistema financeiro (bancos, cadernetas de poupança etc.).
A campanha americana tem como alvo o publico em geral e é voltada, especificamente, para as pessoas que tenham baixa confiança no sistema bancário americano ou que não tenham conta em banco.
A campanha do FDIC faz eco a uma iniciativa dos órgãos de defesa do consumidor que vem alertando os cidadãos americanos para o fato do “dinheiro depositado em apps de pagamento não ligados a bancos, não serem protegidos pelo sistema federal de seguro e garantia de depósitos”
A ideia explicita dos órgãos de defesa dos consumidores e do governo americano é levar as pessoas a transferirem para os bancos e cadernetas de poupança os saldos mantidos nos aplicativos digitais.
Só que é extraordinariamente difícil para um consumidor típico saber o risco que corre ao manter dinheiro em apps e fintechs como Venmo, Cash App (muito usados nos EUA), PayPall e outros (usados no Brasil).
Tanto o FDCI nos EUA como o FGC no Brasil, fazem um péssimo trabalho em comunicar ao público quais contas especificamente são garantidas e quais não são.
Mesmo que você saiba que seu $$$ não tem garantia, é impossível medir com precisão quanto risco você está assumindo. Isso vale tanto para uma pessoa nos EUA como para alguém aqui na Terra de Cabral.
Realisticamente, para a maioria das pessoas que não têm conta em banco e para quem vive na economia informal, o risco de manter dinheiro em um aplicativo que não tem seguro (garantia) aparece no final da lista de coisas com as quais a pessoa precisa se preocupar em um dia qualquer de sua vida.
Para os “sem banco”, sejam eles americanos ou brasileiros, o maior risco real percebido é abrir uma conta bancária – incluindo o risco de ter o dinheiro congelado ou confiscado pelo governo ou simplesmente “comido” pelas taxas de administração financeira – e não o risco teórico de um aplicativo como o Venmo ou PayPall quebrar e o dinheiro deles não ter garantia.
A mensagem subliminar da campanha americana é que cabe aos consumidores o ônus de assegurar que seu dinheiro esteja protegido. No entanto, o principal objetivo de sistemas de garantia de depósitos a vista é deixar o consumidor tranquilo, sem precisar se preocupar com sua segurança financeira ou correr atrás de informações sobre a saúde das instituições financeiras.
Se existem apps, fintechs e carteiras digitais que não garantem o dinheiro do consumidor, o governo deveria resolver o problema e obrigá-los a ter um seguro e não ficar tentando mudar o comportamento do consumidor.
As pessoas que podem se dar ao luxo de se preocupar com a proteção do FDIC ou do FGC são aquelas com saldos maiores do que US$ 250 mil nos EUA e R$ 250 mil no Brasil, não aquelas que gastam hoje aquilo que ganham hoje.
La garantia soy jo
O problema com o slogan da campanha do FDIC, “Conheça seu risco. Proteja seu dinheiro”, é que as duas partes são fáceis para se falar, mas difícil para se fazer.
O que nos remete a poupança feita através de VGBLs, PGBLs e planos de previdência complementar no Brasil.
Os saldos mantidos em entidades abertas e entidades fechadas de previdência complementar no país não são garantidos pelo FGC – Fundo Garantidor de Crédito, nem por qualquer outro sistema de seguro federal.
No momento em que se fala em “previdência para todos”, não podemos mais deixar de colocar em discussão a implantação de um sistema de garantia para os saldos mantidos em planos de previdência complementar.
Países que mantém sistemas de seguro e garantia da previdência complementar incluem os EUA (PBGC – Pension Benefit Guarantee Corporation), o Reino Unido (PPF – Pension Protection Fund), a Suécia, a Alemanha, o Canadá, a Suíça e o Japão.
Está na hora de levarmos a sério o fomento da previdência complementar e abrirmos discussão do que realmente interessa, de buscamos soluções que resolvam os problemas de base do sistema.
Nāo dá mais para ficarmos perdendo tempo com “pension-washing”, ou seja, dourando a pílula com uma suposta simplificaçāo da regulamentação e coisas do gênero.
Ou bem levamos o fomento a sério ou podemos atualizar a propaganda do vídeo cassete da Semp Toshiba (abaixo), lançada há mais de 40 anos, ilustrando a segurança do sistema de previdência complementar do país.
Grande abraço,
Eder.
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