De Sāo Paulo, SP.
Uma das verdades inconvenientes que venho abordando e que cedo ou tarde os fundos de pensão e seguradoras terão que enfrentar, é que a maioria dos participantes “fácil de atrair”, já está nos planos de previdência complementar.
O que restou foi um amplo mercado de trilhões de reais em oportunidades que ninguém no setor quis abordar, porque não fará o patrimônio dos fundos de pensão e entidades abertas explodir em poucos anos.
Quem no atual ecossistema de previdência complementar estaria preparado para investir e colocar energia em uma aposta que levará décadas para dar resultado?
As inovações digitais que vem sendo implantadas nos fundos de pensão tem tudo a ver com otimizar a gestão, a palavra-chave por trás delas tem a ver com facilidade ou eficiência, dependendo de que lado do balcão você está.
Fim de festa
Mas vou te dizer uma coisa: os grandes desafios da previdência complementar não se resolvem (só) com tecnologia. Por exemplo, você acha que poderia reinventar os mecanismos de busca na Internet em 2023? Pense novamente. Um artigo muito interessante explica a razão de ser impossível ganhar do Google apenas com tecnologia: link.
Novos produtos digitais, novas soluções disruptivas e novos entrantes hightech no mercado de previdência complementar terão que dar uma parada e encarar os problemas difíceis da previdência complementar.
Quais problemas? Todos aqueles que a revolução digital não se deu ao trabalho de abordar, porque seriam muito complexos e muito difíceis para resolver.
Atrair jovens, tornar os planos inclusivos para baixa renda, torná-los atrativos para pequenas empresas, conjugar eficiência com drástica redução de custos, colocar a economia informal dentro do barco, assegurar que profissionais com idade acima de 50 anos permaneçam contribuindo, são alguns que me vem à mente.
Mas tem outros também: conectar os investimentos aos propósitos individuais dos participantes, incorporar diversidade e igualdade de gênero nos conselhos, trazer profissionais de fora das patrocinadoras para dentro dos colegiados e por aí vai.
A pergunta de um milhão de dólares? Onde estão as estruturas, os ecossistemas, os dirigentes de fundos de pensão, os formuladores de políticas públicas, dispostos a enfrentar esses problemas?
A “deeptech”, ou seja, a P&D de tecnologias avançadas, não vai resolver tudo isso. A razão é que, além do massivo investimento necessário para mudar o status quo, a maior parte das soluções esperadas não virá da invenção de novas tecnologias.
Um paralelo obvio: as novas tecnologias e a revolução digital, tem sido capazes de resolver problemas eminentemente complexos da medicina, dos diagnósticos e do tratamento das doenças, mas não nos fizeram avançar um centímetro para tornar os planos de saúde universalmente acessíveis a todos.
O que tornará muito, muito difícil chegarmos ao próximo trilhão de patrimônio dos planos de previdência complementar é a colossal inércia de fundos de pensão e entidades abertas para resolver essas questões de base, cujos dirigentes encontram-se entrincheirados na cultura atual e em outros problemas não-gerenciais.
Nenhum desses desafios e problemas está no centro daquilo que procuramos resolver quando pensamos em inovações digitais na previdência complementar.
E isso é alarmante!
Grande abraço,
Éder.
Fonte: “Party's over, the next trillion-dollar markets are bears”, escrito por Phillipe Meda.
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