De Sāo Paulo, SP.
Se você acha que é difícil dizer "nāo", espere até ouvir um.
Quando alguém te pede alguma coisa, a pessoa está se expondo. Se você diz nāo, mesmo sem querer, você está criando o que se chama em psicologia social de “dissonância cognitiva”.
A dissonância cognitiva funciona como um chute na psique humana. O stress é causado quando você se depara com algo contrário às suas crenças.
É incrível o que as pessoas são capazes de fazer para viver em um mundo estável e consistente. Elas fazem escolhas diferentes, procuram pessoas e informações que confirmem suas convicções, racionalizam e reinterpretam mensagens, tudo em busca do mundo alegre e estável no qual desejam viver.
Interpretamos um “nāo” como um tipo de rejeição social. Pesquisas sugerem que a resposta neurológica ao ouvirmos nāo pode ser a mesma de quando sentimos dor física. Portanto, um não funciona não apenas como um chute metafórico, mas um que pode parecer bem real.
Quando você atua no conselho deliberativo de um fundo de pensão, é preciso ter sensibilidade para as demandas que são postas pela administração, mas há situações em que você vai precisar dizer: "não".
Muitos conselheiros podem pensar que não tem autoridade para dizer nāo.
Organizações excessivamente hierarquizadas, da mesma forma que organizações com déficit de confiança, tem interesse oculto em deixar que as pessoas pensem assim, tipo: as decisões cabem a diretoria executiva, não aos conselheiros que entendem pouco sobre previdência complementar.
É difícil, mas há maneiras diferentes de dizer “não” para o pedido de alguém, sem que isso deixe a pessoa se sentindo mal, ao mesmo tempo em que você é realista, construtivo e deixa aquele que fez o pedido com a sensação de que foi ouvido.
O melhor não é o que deixa quem pede, achando que recebeu um sim. Um conselheiro que sabe como dizer não, ganha legitimidade, promove colaboração e causa impacto positivo na eficácia do colegiado. Qualquer um pode fazê-lo.
Porque dizer não numa reunião de conselho
Em determinadas situações, existem muitos bons motivos para se dizer “nāo”, vamos focar em alguns deles.
- Impacto – Dizer “nāo” para coisas menos importantes, deixa tempo para focar nas coisas certas. Muitos pedidos não valem o tempo investido para fazê-los, dizer não de uma maneira efetiva, ajuda a liberar tempo para aquilo que realmente importa.
- Evita desgastes – Algumas vezes acabamos dizendo sim mais vezes do que gostaríamos. Ser bom em dizer não de forma consistente nos ajuda a evitar desgastes e otimiza o tempo disponível.
- Liderança – Ao contrário do que se pensa, aprender a dizer não é sinal de forte liderança. Você se estabelece como alguém produtivo, colaborativo e que une pessoas e ideias.
Na verdade, você nunca deve começar uma resposta com não. Seja encorajador, busque engajamento, mostre interesse em dar apoio. Lembre que sim/nāo geralmente não constituem uma dicotomia, mas sim um espectro. Seu papel como conselheiro é decidir onde nesse espectro você se posicionará, dado o contexto e as necessidades do pedido.
Existem três tipos de "não" que funcionam bem em praticamente qualquer situação. Na próxima vez que você quiser dizer não, tente uma dessas maneiras ao invés de um nāo direto. Logo você se tornará um dos conselheiros mais ativos em todas as decisões do seu fundo de pensão.
Maneira # 1: O Sim “Não”
Através do Sim “Não”, você diz “sim” para a necessidade e “não” para o pedido específico. Por exemplo, uma criança que pede um sorvete pode estar realmente precisando de algo para comer, mesmo que não consiga um sorvete.
Ou então, o pedido para aumentar o tamanho do botão de inscrição em um website pode indicar que está difícil de localizá-lo na tela, então, uma solução melhor seria mudar sua cor ou o layout da página.
Os conselheiros de um fundo de pensão precisam saber “ler” a necessidade por trás dos pedidos de aprovação feitos pela diretoria executiva. Muitas vezes a necessidade pode ser atendida de outras maneiras, mais eficazes, mais baratas e mais rapidamente.
Maneira # 2: O “Não” Material
Com o não material, você está dizendo sim para o pedido, mas apenas se tiver tempo/orçamento/pessoas/ferramentas para atendê-lo.
Você adoraria tirar a pipa lá de cima, se tivesse um meio para subir no alto da arvore. Num fundo de pensão: dá para atender o pedido para se fazer uma mudança adicional no projeto, desde que seja possível adiar a data de lançamento ou acrescentar mais um membro na equipe.
Maneira # 3: O “Não” Prioritário
Com o “não” prioritário você está dizendo sim, podemos fazer, sob a condição de descartarmos algo que tenha importância menor.
Por exemplo: você pode levar mais um bichinho de pelúcia no carro, se escolher outro para deixar em casa. No fundo de pensão: vocês podem levar o projeto adiante, desde que posterguem outro que haviam planejado.
Com o “nāo” prioritário você está transformando o pedido em uma conversa sobre o que é mais importante, algo que os melhores líderes sabem fazer muito bem.
Em cada tipo de “não”, a intenção é dar apoio e atender as necessidades da pessoa que está fazendo a solicitação, ao mesmo tempo em que você deixa claro o racional daquilo que será necessário para que a demanda seja atendida.
Em cada um dos casos acima, o “não” suscita discussões relevantes, traz a luz aspectos ocultos sobre a verdadeira necessidade, ajuda a identificar o que é preciso para realizar determinado trabalho e o que de fato é importante.
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Um não de verdade
Dito tudo isso, às vezes vai ser preciso dar aquela chacoalhada. Um não forte e difícil de dizer. A coisa mais importante nesse caso é explicar por que você está dizendo nāo.
Se você fizer isso de modo claro e transparente, a outra pessoa pode até discordar, mas em geral respeitará sua opinião. Há situações em que a conversa pode levar a uma terceira alternativa, mais produtiva e de comum acordo.
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Um não dito de forma correta, tem a mesma sensação de um sim.
Pratique com sabedoria.
Abraço,
Eder.
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