De Sāo Paulo, SP.
O contexto global do ataque do Hamas
A Rússia começou a maior guerra na Europa desde a II Guerra Mundial. A China vem se tornando cada vez mais belicosa em relação a Taiwan. A India abraçou um nacionalismo virulento. Sábado agora o grupo extremista Hamas atacou Israel.
Todos esses acontecimentos são sinais de que o mundo está entrando em um novo período de turbulência. Países e grupos políticos mundo afora estão dispostos a assumir maiores riscos sem temer as consequências de suas ações.
O conflito no Oriente Medio colocará pressão sobre os americanos para reduzirem o financiamento da Ucrânia, os EUA não podem se dar ao luxo de manter duas guerras ao mesmo tempo. Aí entra a possibilidade - não a probabilidade - de que guerras simultâneas na Europa e no Oriente Medio deem a Xi Jinping a oportunidade que ele busca para entrar em Taiwan.
A explicação mais simples para tudo isso é que estamos no meio de uma transição para uma nova ordem mundial, que os especialistas chamam de mundo multipolar.
Os EUA não são mais o poder dominante que um dia foram, mas não emergiu nenhum substituto. Apesar da longa era de domínio americano ter sido palco de injustiças terríveis como Vietnam, Iraque, Guatemala e outros, foi uma das eras mais pacificas da história, na qual houve grande declínio nas guerras e na violência.
Noah Smith, um analista político que escreve no Substack, colocou a coisa dessa forma:
“Ao longo das últimas duas décadas virou moda dar lambada na hegemonia americana, falar mal das exceções autoimpostas pelos americanos, ridicularizar o papel de polícia do mundo assumido pelos EUA e ansiar muito por um mundo multipolar. Bem, parabéns, agora temos esse mundo. Vejam se gostam dele”
Impactos potenciais nos negócios
O ataque mortal a Israel durante o fim de semana vai ter um grande peso sobre todos nós. Já comparado aos ataques de 11 de setembro aos EUA, também deverá mudar o mundo, muito além das perdas humanas na região.
Deixando de lado por enquanto os efeitos na geopolítica, em termos de negócio, uma guerra prolongada no Oriente Medio vai reduzir o fluxo de investimentos na região. Por ora a guerra não terá efeito direto sobre os mercados globais, mas se ela se espalhar pelo Iran – que sabidamente deu apoio aos ataques do Hamas – e demais países da região (o Oriente Medio é responsável por 1/3 do fornecimento mundial de óleo cru) o preço do petróleo vai aumentar novamente e isso é só o começo.
Numa pesquisa feita com 143 CEOs, conduzida pela Revista Fortune junto com a Deloitte, 57% deles disseram que muito mais do que o risco de uma recessão, eles acham que não será a economia, mas sim a geopolítica a responsável pela disruptura de seus negócios em 2024.
Se o preço do petróleo disparar, o crescimento da inflação vai assombrar a economia global novamente, porque os EUA, China, India e outras grandes economias no mundo são importadores de petróleo. Se o preço do barril de petróleo permanecer elevado, esses países estarão importando inflação alta.
Quando o preço dos combustíveis sobe, o custo de produção de várias indústrias também sobe e o custo da energia para os negócios e residências dispara, levando a inflação para a estratosfera.
O preço da energia alto e novas pressões inflacionarias poderão minar os esforços dos bancos centrais para controlar a inflação. Poderemos ver taxas de juros em patamares elevados por um perdido prolongado, prejudicando as perspetivas de crescimento da economia global.
Guerras fazem os investidores fugirem de risco e buscarem ativos seguros para investir, por isso os mercados futuros (bolsas de valores) caíram, o preço do ouro aumentou 1% e o dólar subiu.
Habitantes da Terra de Cabral
O impacto sobre a economia local e por conseguinte, nos fundos de pensão brasileiros, pode levar algum tempo para ficar claro e vai depender da duraçāo do conflito, quão intenso ele se tornará e se vai ou não se espalhar pelo Oriente Medio.
Seja como for, a guerra tem potencial ao menos para a acrescentar um conjunto de forças numa economia global que já estava desacelerando e o Brasil não é uma ilha isolada. Qualquer fonte de incerteza economica faz as empresas adiarem a tomada de decisões, postergam investimentos e aumentam o premio de risco.
A vida já estava difícil para os participantes atuais dos fundos de pensão, os participantes ativos lutando para manter empregos e os assistidos para não sofrer perda do poder de compra de suas aposentadorias.
Com o foco nos efeitos de curto prazo dessa guerra, mais um tijolo vai deixando de ser colocado na construção do fundo de pensão do futuro.
Que o bom senso prevaleça.
Grande abraço,
Eder
Fontes: CEO DAILY, escrito por Allan Murray | New York Times – The Morning, escrito por David Leonhart.
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