segunda-feira, 30 de outubro de 2023

PORQUE OS INVESTIMENTOS DE IMPACTO SĀO MAIS IMPORTANTES PARA O FUTURO DOS PARTICIPANTES DO SEU FUNDO DE PENSĀO DO QUE ESG

 


De Sāo Paulo, SP.


Alguns anos atrás meu filho, que fazia curso de graduação em Behavioral Science (Ciência do Comportamento, em tradição livre) em São Francisco – EUA, me disse por telefone que estava querendo investir uma sobra do dinheiro do estágio dele.

Ele tinha pouco dinheiro para investir, uns cem dólares - que equivalem atualmente a cerca de quinhentos reais – mas, como um típico exemplar da Geração Z, ele me explicou que estava procurando um fundo que fizesse “investimento de impacto”, condição da qual não abria mão de jeito nenhum.  

Investimento de impacto é um campo que vem crescendo exponencialmente e já atingiu US$ 1,2 trilhões globalmente em ativos sob gestão. 

Se você usa os termos ESG e Investimento de Impacto indistintamente, você não está sozinho. Muitos investidores sofisticados mundo afora, que investem coletivamente bilhões de $$$, tem problema para distinguir entre os dois.

Cunhado em 2004, ESG surgiu como um esforço conjunto das Nações Unidas, do IFC - Internacional Finance Corporation (um braço do Banco Mundial) e do governo Suíço para que o processo de decisões de investimento nas empresas levasse em consideração os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa.

A maior parte do progresso em investimentos focados na área social e na área ambiental nos últimos 15 anos tem sido feito por iniciativa de governos, particularmente, de governos europeus, com o Reino Unido na liderança. Os EUA começaram a se movimentar apenas a partir de 2011.

Investimento de impacto, por outro lado, só foi aparecer em 2007 quando a Fundação Rockfeller junto com outros investidores filantrópicos e alguns empreendedores rotularam os investimentos que faziam com a intenção de gerar resultados mensuráveis do impacto social, junto com o retorno financeiro.

O grupo evoluiu e fundou a GIIN – Global Impact Investing Network, uma rede de investidores que promovem infraestrutura, pesquisas e educação financeira em torno dos investimentos de impacto.

Se por um lado as questões ESG foram um movimento criado pelo setor publico, os investimentos de impacto evoluíram através dos esforços do setor privado.

Como resultado, ESG acabou funcionando como uma diretriz, um guia, para o publico em geral poder entender a importância dos fatores ambientais, sociais e de governança nos investimentos. Enquanto isso, a natureza do lucro do setor privado nos investimentos de impacto serviu como incentivo para direcionar capital e se agir em prol desses interesses.

Três princípios definem os investimentos de impacto: (i) precisa haver uma expectativa de retorno junto com o impacto social e/ou ambiental (pelo menos o retorno do capital); (ii) a mudança almejada – tipicamente social ou ambiental – precisa ser intencional; e (iii) precisa haver ao menos a tentativa de medir (mensurar) a mudança. 

Dentro desse contexto, vamos abordar algumas diferenças adicionais entre ESG e Investimento de impacto para você que participa de um fundo de pensão.

1. ESG é um arcabouço. Investimento de impacto é uma estratégia 

ESG é uma abordagem, um guia, para ajudar os stackeholders a entender como determinada organização gerencia riscos e oportunidades em questões de sustentabilidade. No entanto, tende a se basear em medidas que olham para trás, para coisas que já aconteceram em função do curso normal dos negócios. Isso não quer dizer que as medidas não possam ser usadas para embasar decisões futuras de negócio, mas elas geralmente funcionam mais como uma avaliação de atividades passadas.

Impacto, por outro lado, olha para a frente. É uma estratégia usada para definir o tipo de investimento que um investidor está buscando. De fato, um dos princípios do investimento de impacto é a intenção ou a vontade explicita de quem investe, em gerar benefícios sociais ou ambientais mensuráveis. Isso geralmente se traduz com o alinhamento em relação a um ou mais dos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”. O resultado procura alcançar determinadas medidas de performance em relação à objetivos predefinidos o que, em última instância, torna os investidores responsáveis. A intenção ou a vontade do investidor é o que, na verdade, evita falsas alegações sobre o real impacto buscado pelo investimento e funciona como uma linha de defesa contra o “impact-washing” (apenas fazer marketing das iniciativas). 

2. ESG enfrenta escrutínio fiduciário e questionamentos. Impacto não.

Como uma lente para endereçar questões ambientais e sociais, ESG requer discricionaridade por parte dos gestores de investimento na sua aplicação. Por exemplo, um fundo de pensão com patrimônio de bilhões de reais se sente pressionado a investir considerando os aspectos ESG. No entanto, não existe uma interpretação única sobre o que são fatores ESG ou sobre o resultado final de sua aplicação. Isso se torna um problema porque a regulamentação fiduciária determina que os administradores e gestores atuem no exclusivo interesse dos beneficiários dos investimentos (participantes). Conforme um artigo escrito por Max Schanzenbach e Robert Stirkoff na revista Stanford Law Review: “o dever de lealdade é violado se a aplicação dos fatores ESG se basear no senso de ética e na obtenção de benefícios colaterais para terceiros sob a ótica do próprio gestor, ao invés de se basear no melhor interesse dos beneficiários do investimento”. Nenhum fundo de pensão pergunta aos seus participantes quais são seus propósitos, seus valores, seus objetivos, sua forma de pensar.  

Sendo uma estratégia de investimento, impacto não enfrenta o mesmo escrutínio porque os perfis de investimento empregando essa abordagem são super específicos. Em outras palavras, o investidor (ou participante) que opta por alocar seu $$$ nesses perfis sabe, de antemão, as intenções do gestor antes mesmo de fazer o investimento. 

3. ESG pode ser um mitigador de riscos ou uma oportunidade. Impacto é ambos.

Sendo uma abordagem sistemática para avaliar o nível de eficácia de uma organização em questões ambientais, sociais e de governança, ESG pode ser usado para mitigar os riscos, pois ajuda a excluir ou avaliar os investimentos em empresas que não aderiram a padrões preexistentes. Isso inclui países, setores, empresas ou até métricas e performances especificas. Por exemplo, um país ou uma empresa com leis fracas ou inexistentes para proteger os direitos dos trabalhadores, provavelmente seria um impeditivo para investimento por um fundo focado em ESG. Por outro lado, uma empresa com padrões de proteção excepcionais dos direitos dos trabalhadores, localizada em um país com leis trabalhistas fracas, poderia ser uma oportunidade para dar apoio à evolução da regulamentação trabalhista daquele pais. Nesse sentido, um fundo de pensão faria um excelente investimento ESG baseado em padrões já em vigor e que já foram reportados.  

Um investidor de impacto, enquanto isso, olharia para o futuro – para a oportunidade que existe mais adiante. Poderia ser uma empresa privada buscando estabelecer melhores condições de trabalho em um país com leis trabalhistas muito fracas. Nesse caso, o investidor de impacto teria poucos dados disponíveis ou até nenhum dado e teria que se basear em estudos existentes ou sendo realizados para direcionar suas decisões quanto à questões sociais e ambientais. Pesquisas indicam que as decisões de investimento que incorporam fatores sociais e ambientais levam a investimento em empresas com melhores performances e valuation, evitando riscos sistemáticos que afetam o mercado como um todo ou riscos incomuns endêmicos a um ativo em particular. As empresas que falham ao não gerenciar esses riscos podem ter maiores custos de capital, maior volatilidade e irregularidades contábeis.  

4. ESG é, antes de mais nada, é um arcabouço financeiro. Investimento de impacto, geralmente, equilibra e dá o mesmo peso às questões financeiras, sociais e ambientais.

Devido a natureza ex post das métricas ESG e ao dever fiduciário, a fonte primária de valor para os investidores focados em ESG é o retorno financeiro. Os benefícios sociais e ambientais são avaliados depois do investimento ser feito, apesar novamente, dessas métricas poderem ser usadas para futuros investimentos. 

Os investimentos de impacto, por outro lado, levam em consideração todos os três benefícios, o financeiro, o social e o ambiental e pode até priorizar no início do investimento os aspectos sociais e ambientais, desde que os retornos financeiros sejam positivos.  Além disso, os investidores de impacto consideram que a performance financeira e social/ambiental são interconectadas e se reforçam mutuamente – um princípio conhecido por colinearidade. Sob essa ótica, os investimentos de impacto não são concessionários, ao invés disso, são impulsionadores da performance financeira.

5. Todos os fundos de investimentos de impacto são compatíveis com os aspectos ESG, mas nem todos os fundos ESG são compatíveis com os investimentos de impacto.

É impossível incorporar o futuro no passado, mas é essencial se basear no passado para atuar no futuro. Por requerer, inerentemente, uma visão de futuro para se investir com impacto, é possível e até uma boa prática, incorporar aspectos focados em ESG nos investimentos futuros. O mesmo não pode ser dito sobre os fundos ESG, que focam em atividades que já aconteceram. 

Por exemplo, uma estrutura ESG pode evitar, de forma geral, que se façam investimentos em empresas que produzem em larga escala gases do efeito estufa. Um fundo de impacto, no entanto, só pode investir em empresas que buscam ativamente reduzi-los. Ou seja, todos os investidores de impacto integram os fatores ESG em seus processos de investimentos, mas não necessariamente vice-versa.

É comum se confundir ESG com investimento de impacto, o que obscurece os esforços em prol dos investimentos de impacto. Entender a diferença não apenas facilita conversas mais bem informadas, como ajuda a direcionar recursos e amplificar os processos do setor para ajudar a atingir as metas audaciosas do desenvolvimento sustentável para 2030.

Não há dúvida de que o futuro dos negócios, do setor financeiro e dos fundos de pensão é incorporar questões sociais e ambientais em suas decisões. Ao mesmo tempo, a relação simbiótica entre os benefícios resultantes e a performance financeira assegura a sustentabilidade futura das organizações direcionadas por propósitos. 

Ter conhecimento para diferenciar entre aquilo que faz parte do passado e aquilo que é parte do nosso futuro, é essencial para assegurar o sucesso das pessoas e do planeta. 

Você ainda está na página do ESG? Cara, o mundo anda mais rápido do que você está conseguindo acompanhar ...


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “ESG Is Not Impact Investing and Impact Investing Is Not ESG”, escrito por Jaclyn Foroughi.


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