De Sāo Paulo, SP.
Entre 399 a.C e 387 a.C. Platāo viajou pelo Egito, Grécia e Itália e escreveu vários de seus famosos Diálogos de Platão, nos quais trata de diversos temas como política, arte, medicina, sabedoria, esportes e religião.
Geralmente construídos entre dois personagens, os diálogos apresentam as principais ideias de Platão e tem Sócrates como personagem principal. Em um desses diálogos, intitulado Ménon, Sócrates discute entre outras coisas a distinção entre uma boa e uma má “doxa”.
Grosso modo, na filosofia grega antiga o termo “doxa” (pensamento) significa a opinião da pessoa comum, do povo, do cidadão ou cidadã sem consideração de sua formação ou especialidade. A doxa se opõe à epistemé, essa ultima sendo a opinião que deriva de uma racionalidade objetiva, a partir de um conjunto sistematizado de análises e informações, aquilo que, hoje, nós chamaríamos de conhecimento ou ciência.
Sendo a maioria dos conselheiros dos fundos de pensão leigos em previdência complementar, sua falta de vivencia na área, sua parca experiencia e sua falta de conhecimento e expertise no segmento, tornam suas opiniões muito mais próximas da doxa do que da epistemé.
De acordo com Sócrates, pode-se distinguir entre opiniões boas e não-cientificas (ou especulações precisas, previsões corretas) das opiniões ruins e não-cientificas (ou especulações imprecisas, previsões incorretas).
Em seu diálogo com Ménon, Sócrates parece demonstrar como o pensamento especulativo é necessário para se achar o caminho correto. Ele diz que uma boa doxa ou uma opinião verdadeira “é um guia tāo eficaz quanto o conhecimento, para a ação correta (...) portanto, uma opinião correta não tem menos valor do que o conhecimento”.
Se alguém disser: : “O que você esta dizendo é apenas uma opinião, não é ciência”, você pode responder: “De acordo com o dialogo entre Ménon e Sócrates, descrito por Platão, há boas opiniões e más opiniões. Uma boa opinião é aquela que está a caminho de ser provada correta”.
No entanto, é essencial lembrar que Sócrates é extremamente rigoroso na sua definição de uma boa opinião: ela deve ser perfeita. Nós que vivemos no seculo XXI estamos cientes de que imperfeições são inevitáveis ao longo dos avanços científicos, mas o propósito da ciência é pelo menos tentar confrontá-las e endereçá-las.
Sim, precisamos nos educar para expressar opiniões e dialogar
Os Diálogos de Platão começam discutindo o conceito de virtude - é engraçado como, algumas vezes, ao tentarmos resolver uma questão acabamos descobrindo outras igualmente importantes.
O problema das boas e más opiniões é endereçado porque uma das conclusões de Sócrates nesse diálogo é que a ciência ou o conhecimento são a maior virtude. Para ele, permanecer na ignorância é sempre prejudicial (ou pelo menos, bastante arriscado).
Nesse sentido, devemos sempre dar maior importância ao trabalho científico, que inclui especulações, revisão de literatura e constante experimentação.
Eu concordo inteiramente com Sócrates! Particularmente, acredito que o conhecimento sobre previdência complementar nos conselhos deliberativos (equiparado ao trabalho científico) deve se tornar tão popular como a democracia se tornou ao longo do tempo.
Porque se um conselheiro vai se permitir votar para decidir questões discutidas nas reuniões do conselho deliberativo, então, certamente deverá investir fortemente na sua educação sobre previdência complementar ou acabará por votar acompanhando todos os tipos de sofistas.
Nota: Os sofistas eram um grupo de pensadores que se consideravam mestres da retórica e da oratória e acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Os sofistas negam a existência da verdade, de modo que ela surge por meio do consenso entre os homens. Enquanto a filosofia significa “amor pela sabedoria”, os sofistas se consideram os próprios sábios.
Aqui vai outra lição de Sócrates para conselheiros de fundos de pensão: ele enfatizava a importância de se debater o que significa o bem comum, como meio de determinar as melhores ideias, enquanto seus oponentes, os sofistas ou aqueles educados por eles (acredite, eles existem em vários conselhos) tendem a focar exemplos excessivamente individuais e extremamente circunstanciais.
Como um conselheiro pode aplicar os Diálogos de Platão
Um conselheiro deve abordar as discussões nas reuniões do conselho como se fossem conversas concisas entre indivíduos, provocando reflexões e questionando opiniões.
Pode ser difícil identificar uma ironia, mas Sócrates as empregava extensivamente. No começo dos diálogos Sócrates sugere que Ménon era inteligente, já que teria aprendido com professores renomados como Górgias.
Sócrates estava sendo irônico porque não acreditava genuinamente que Górgias ou Ménon eram mais inteligentes que ele próprio. Era como se dissesse “você não sabe tudo, não foi aluno de Górgias que diz ter resposta para tudo?”
Assim que Sócrates encorajava Ménon a apresentar suas ideias e defendê-las através do diálogo. O método Socrático é desenhado para guiar os interlocutores dos exemplos específicos para conceitos mais gerais.
Platão e Sócrates desenvolveram muitas teorias ao longo de suas jornadas filosóficas. Os conselheiros dos fundos de pensão não precisam ser filósofos, mas se quiserem ser bons conselheiros, se quiserem ser os melhores conselheiros possível, basta aplicar esses ensinamentos.
Grande abraço,
Eder
Fonte: “How Socrates Distinguished Good Opinions From Bad Opinions”, escrito por A.P.Bird.
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