quinta-feira, 21 de julho de 2011

Melhorando os Conselhos Deliberativos dos Fundos de Pensão


De São Paulo, SP.

Os Conselhos Deliberativos dos fundos de pensão, no papel de órgãos superiores de gestão, são responsáveis pela orientação e supervisão da Diretoria Executiva e pelo direcionamento estratégico da instituição.

No famoso livro “Great Companies Deserve Great Boards” (em tradução livre, algo como Grandes Empresas Merecem Grandes Conselhos de Administração), a autora Beverly Behan aponta o dedo para o problema com esses órgãos. Uma lição igualmente válida para nossos fundos de pensão.

Ela não tenta ensinar os Conselheiros a serem mais eficazes em seu papel. O que ela procura é persuadir o Presidente do Conselho a obter o melhor do que é considerado, hoje, o ativo mais sub-utilizado nas empresas de capital aberto: os Conselhos de Administração (no nosso caso, fundos de pensão e Conselhos Deliberativos).



É isso que indica o subtítulo “A CEO’s Guide to the Boardroom” (Guia para Presidentes de Conselhos de Administração).

Em minha longa experiência trabalhando com Conselhos Deliberativos de fundos de pensão aqui no Brasil, tenho visto profissionais talentosos e experientes, sentados ao redor de imponentes mesas de mogno, contribuindo muito aquém do esperado.

As discussões com foco em “compliance” – cumprimento de regulamentação – e aprovação de contas transforma os Conselhos Deliberativos em meros espectadores dos destinos do fundo. Um papel muito distante de atores cuja contribuição deveria se dar no campo das idéias e pensamentos.

A cultura hoje vigente nos Conselhos Deliberativos dos fundos de pensão é de uma atuação passiva, onde a única coisa que muda é o mandato dos membros com o passar do tempo (em alguns, nem isso).

Há algo de perturbador nos processos de seleção dos membros dos Conselhos Deliberativos. A falta de capacitação e conhecimento especializados em previdência complementar é apenas um reflexo desse processo.

Seria como nomear médicos para o “Board” de companhias aéreas. Ou seja, não se pode esperar grandes contribuições estratégicas...

O desempenho dos membros dos Conselhos Deliberativos dos fundos de pensão, à semelhança do que ocorre em algums Conselhos de Administração de empresas patrocinadoras, mereceria uma avaliação periódica. Mas isso não ocorre atualmente.

O Presidente do Conselho Deliberativo poderia testar e mensurar a eficácia do colegiado que preside solicitando àqueles que fazem apresentações externas para o Conselho - atuários, bancos etc. - uma avaliação da reunião não apenas sobre questões operacionais e estratégicas.

Os membros  Conselho agregaram valor ao seu desenvolvimento profissional? Você se sentiu  apoiado ou desafiado pelo Conselho?

O Conselho Deliberativo precisa se autoavaliar.

Além disso, os fundos de pensão não contam com Conselheiros Independentes, a única figura capaz de injetar equilíbrio e confiança na relação de forças entre empresa e empregados, já amplamente representadas nesses órgãos.

Conselheiros Independentes, um dia, serão comuns nos fundos de pensão e poderão elevar o patamar das discussões ao agregarem valor trazendo conhecimento especilizado para a mesa.

Funcionariam como um atalho para as questões mais sensíveis, pois a maioria do material analisado pelo “Board” é denso e extenso fazendo com que o momento do “aha!!!” só aconteça lá pela página 47....

Preparados frequentemente com jargões, acronismos e terminologias específicas do setor, os relatórios técnicos abordam assuntos que não são familiares para os  conselheiros - que não raro se sentem envergonhados de externar suas dúvidas.

Treinamentos esparsos ajudam, mas não resolvem de forma definitiva já que o contexto operacional e de negócios das patrocinadoras nunca é levado em conta nesses treinamentos.

Os “independentes” evitariam situações que presenciei em muitas reuniões de Conselho onde predominavam a discordância e o confronto entre representantes de empresa e de empregados. O dissenso, quando necessário, pode ser benéfico para se chegar a melhores decisões, mas não pode ser a tônica dominante nessas reuniões.

Por fim, na maioria das reuniões dos Conselhos Deliberativos o tempo dedicado a apresentações, questões de “compliance” e aprovações de contas é superdimensionado. Acaba restando pouco ou nenhum espaço para discussões e debates sobre estratégia, execução e sucessão.

Há uma lacuna enorme entre o que os Conselhos Deliberativos deveriam ser na teoria e aquilo que realmente são na prática. Se tivéssemos que reduzir a uma pergunta-chave o papel (objetivo) dos Conselhos Deliberativos dos Fundos de Pensão, seria:

Como sua decisão afetará, no longo prazo, o valor que o fundo de pensão representa para os participantes, patrocinadoras e – eu incluiria, também - para a sociedade?

Em suma, em seu formato atual os Conselhos Deliberativos dos Fundos de Pensão são tudo menos um lugar vibrante e cheio de energia onde os membros trocam idéias e tomam decisões.

Você não acha que chegou a hora de mudar?

Forte abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “Two New Resources for Improving Boards”, escrito por Nell Minow para GovernanceMetrics International.
Crédito de imagem: www.shepherdsglen.info

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