sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Puxe uma cadeira ... se quiser sentar no conselho deliberativo de um fundo de pensão!




São Paulo, SP;

Os conselhos de administração das empresas e os conselhos deliberativos dos fundos de pensão são muito estáveis e duradouros, mas isso não é necessariamente algo bom.

Os acionistas das 500 maiores empresas que compõem o índice S&P 500, na bolsa de Nova York, elegeram 428 novos conselheiros durante o ano de 2018 (até agora). 

Ainda assim, segundo um estudo da Spencer Stuart, uma firma de seleção de executivos, esses 428 novos conselheiros representam meros 8% de todas as posições nos conselhos dessas empresas. 

Uma pesquisa da Mercer, feita agora em setembro, mostrou que 62% dos fundos de pensão brasileiros não possuem nenhuma política de renovação de seus conselhos. 

Isso significa que nos conselhos deliberativos dos fundos não há limitação na quantidade de mandatos que um conselheiro pode ocupar. Também não há uma idade máxima imposta em seus estatutos para ser conselheiro nos fundos. Ou seja, os conselheiros podem ficar na cadeira indefinidamente, mesmo os representantes de participantes.  

A baixa rotatividade nos conselhos inibe empresas e fundos de pensão a adicionarem aos seus conselhos, membros com competências e vozes mais diversas, essenciais para competir num mundo tão dinâmico e na nova economia. 

Quando surgem assentos vagos no board as empresas americanas tendem a aproveitar as vacâncias para diversificar o colegiado. Elas procuram preencher as cadeiras adicionando mulheres e pessoas de cor, bem como profissionais com experiência nos novos desafios. 

Desafios que as organizações enfrentam hoje, tais como transformação digital, segurança cibernética e tecnologias modernas – Inteligência Artificial, Realidade Aumentada, Realidade Virtual, Big Data etc. 

Cerca de 40% dos conselheiros eleitos na temporada de 2018 (até o momento), nas empresas da S&P 500, foram mulheres. Essa renovação, porém, ainda acontece em ritmo muito lento. 

A demora na oxigenação dos conselhos certamente vai atrasar a inclusão de mulheres no board das empresas, como a TripAdisor LLC, cujos oito conselheiros são todos homens. Ou da Vornado Realty Trust, empresa na qual os conselheiros vem ocupando as cadeiras, em média, há 20,3 anos – comparados à média de 12,7 anos dos conselheiros impendentes que deixaram as cadeiras em 2018.

Os investidores institucionais nos EUA são favoráveis a uma maior rotatividade nos conselhos porque sabem a importância da diversidade na busca por resultados melhores. 

No Brasil, apesar de seu papel similar, os fundos de pensão não tem se mobilizado nessa direção em relação às empresas nas quais investem. 

Porém, ainda que não tenham acordado para essa questão externamente poderiam voltar o olhar para as estruturas internas e se perguntar: “se os conselheiros já estão no colegiado há muito tempo, faz sentido que permaneçam por outros oito ou dez anos?”.

Os fundos de pensão, assim como as empresas, observam de perto as políticas que seus pares adotam. Aquilo que começar em consequência da ação de uns poucos fundos, poderá se tornar uma prática mais comum num universo maior de fundos.

Que tal seu fundo de pensão criar uma política de igualdade de gênero e regras para renovação do conselho deliberativo, estabelecendo quantidade máxima de mandatos e idade limite?

Grande abraço,
Eder.

Fonte: Adaptado do artigo “Entrenched Boards Stymie Diversity“, escrito por Lauren Weber.

Crédito de imagem: http://blogdocorretor.com/wp-content/uploads/2013/11/Dan%C3%A7a-das-Cadeiras1.jpg

Defendendo a igualdade de gênero nos boards dos fundos de pensão





De São Paulo, SP. 

Quem nunca ouviu o surrado cliché de que os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus? Pois é, há milhares de anos a Mãe Natureza fez essa distinção entre eles e elas.

Ainda assim, a maioria das organizações continua incapaz de perceber as vantagens da representação equitativa de gêneros nos seus órgãos superiores de gestão.

Mas afinal, porque defender a igualdade na relação entre o estrogênio e a testosterona, por exemplo, nos Conselhos Deliberativos e Diretorias Executivas dos fundos de pensão?

Aqui vão algumas das principais diferenças que existem entre os sexos quando se analisa o cérebro humano, algo que certamente tem influência na dinâmica das reuniões, na análise dos assuntos que por lá são discutidos e na qualidade do próprio board de um fundo.

O cérebro das mulheres possui um córtex pré-frontal mais desenvolvido. Isso tem impacto nas emoções e em como elas são reguladas. Elas têm um raciocínio mais intuitivo e a porção do cérebro responsável pelas preocupações e cuidados também é maior.

Outra grande diferença é que nas mulheres o corpus callosum é maior, o que funciona como uma enorme rodovia de oito pistas conectando a parte esquerda com a direita do cérebro. O cérebro feminino distribui o pensamento rapidamente. Atuar com multitarefa acontece naturalmente para elas. Também é significativo que as mulheres possuam um grande hipocampus, assim o nível de nuances e detalhes que elas captam é muito maior.

Um homem pode se lembrar do dia em que propôs casamento, uma mulher é capaz te dizer praticamente tudo sobre aquele dia.

O lobo parietal nos homens é mais largo, o que significa que eles tendem a ser melhores em percepção espacial. Eles preferem imagens à leitura e a maior amigdala no cérebro masculino resulta em maior nível de agressão.

Estudos recentes na área de Neuromarketing, que usam tecnologia de rastreamento da visão, mostram como homens e mulheres reagem de maneira diferente a imagens de propaganda.

Na Figura abaixo, os homens passam mais tempo olhando a mulher, enquanto as mulheres prestam atenção ao resto do anúncio e conseguem processar mais conteúdo.




O que isso significa, por exemplo, para tomada de decisões? Bem, ajuda muito saber que as mulheres tendem a encarar as situações de forma mais abrangente, enxergam coisas que os homens não veem, são mais sociáveis, tem maior empatia e verbalizam mais suas percepções. 

NÃO É SÓ PELA IGUALDADE 

O que tem que ver o número de mulheres no conselho de administração de um banco e seus resultados econômicos? Bastante, segundo defendem Ann Owen - Professora de Economia do Hamilton College de Nova York e Judit Temesvary - Economista Sênior no Conselho de Administração do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) em Washington, DC.

Em um artigo publicado agora em agosto no blog do Banco da Inglaterra, intitulado “Gender diversity on Bank Board of Directors and performance (em tradução livre: Diversidade de gênero e performance nos conselhos de administração dos bancos) Ann e Judit chegaram à conclusão de que há uma relação positiva entre igualdade de gênero e sucesso econômico.

Não obstante, para que isso aconteça, é preciso que o banco seja bem administrado e haja certo nível de equidade. Em um banco onde não existissem mulheres na alta direção ou que contasse com poucas mulheres, acrescentar subitamente uma nova mulher, pouco afetaria o resultado.

Mas, por que um equilíbrio maior na quantidade de ternos e tailleurs existentes nos andares de cima de um banco – aqui estamos inferindo que o mesmo se aplicaria a um fundo de pensão – deveria afetar um indicador tipo “resultados anuais” que não tem nenhuma correlação com os sexos?

No artigo elas fornecem alguns indícios:
  • Primeiro: as mulheres tendem a acumular conhecimento maior em certas áreas, como relações humanas ou experiência de gestão. Assim, quanto mais igualitários forem os órgãos superiores de gestão, mais heterogêneas serão as vozes daqueles que governam a instituição e o processo de tomada de decisão será melhor; 
  • Segundo: nas reuniões dos órgãos dos quais participam, as mulheres costumam apresentar maiores porcentagens de presença do que seus colegas homens. Ou seja, um conselho mais feminino terá um papel mais ativo e com maior presença na hora de exercer tarefas como a de supervisionar a atividade da diretoria executiva;
  • Terceiro: o comportamento das mulheres em cargos de liderança varia conforme estejam sozinhas ou acompanhadas por outras. Um estudo de Karpowitz e Mendelberg feito em 2014 mostrou que as mulheres tendem a expressar mais opiniões quanto maior a porcentagem delas num grupo. É possível, portanto, que o impacto positivo do aumento da diversidade de gênero só ocorra depois que determinada quantidade de mulheres no board seja atingida. Os benefícios de se ter diferentes pontos de vista só são plenamente atingidos se as opiniões puderem ser expressas com autoridade;
  • Quarto: nos conselhos mais equilibrados entre homens e mulheres há geralmente menos risco dos reguladores tomarem medidas contra a empresa devido a uma violação legal ou ética, o que sugere que quanto mais diversidade houver, melhor será a gestão; 
  • Por fim, a diversidade em si mesma fomenta a criatividade e a produtividade, algo que tem impacto econômico positivo. 
As autoras estudaram dados de 87 instituições financeiras norte-americanas, de 1999 a 2015. Nesse período, o percentual de mulheres nos conselhos aumentou, mas permaneceu abaixo de 20% no último ano.

Além disso, de acordo com elas, os bancos comerciais americanos têm uma presença feminina significativa, mas apenas nos escalões inferiores. O percentual de mulheres chega a 57% se o número total de funcionários for analisado. Isso cai para 48% quando se refere a gerentes de nível médio ou baixo e é reduzido para 31% quando abrange apenas os executivos de nível mais alto.

Fazendo um paralelo, uma pesquisa recente da Mercer mostra que nos fundos de pensão brasileiros, a percentagem de assentos no conselho deliberativo ocupados por mulheres é de 18% e nas posições da diretoria executiva é de 34%, resultados muito semelhantes aos do estudo com os bancos americanos. 

O GÊNIO ESTÁ FORA DA GARRAFA 

Os ventos da mudança são evidentes. Na última quarta-feira de agosto, os legisladores do estado da Califórnia nos EUA aprovaram uma lei, por 41 votos a 21, determinando que as grandes empresas com sede no estado, coloquem mulheres nos seus conselhos de administração. A lei ainda precisa passar pelo Senado Estadual e ser sancionada pelo Governador Jerry Brown, um Democrata que não indicou sua posição sobre o assunto.

Se aprovada, as empresas da Califórnia com ações em bolsa serão obrigadas, até o final do ano que vem, a ter pelo menos uma mulher em seus boards. Nos conselhos com cinco ou mais membros, até o fim de 2021, dependendo do tamanho do board, dois ou três membros terão que ser mulheres. As empresas que não seguirem a norma sofrerão penalidades financeiras.

“Cerca de 25% das empresas com capital aberto baseadas na Califórnia, não tem sequer uma mulher em seus conselhos de administração, apesar dos inúmeros estudos independentes mostrando que as empresas com mulheres no board são mais lucrativas e produtivas”, disse a Senadora Hannah-Beth Jackson, representante do Condado de Santa Bárbara.

Coincidência ou não são 33% os conselhos deliberativos dos fundos de pensão no Brasil que não contam com sequer uma mulher entre seus membros e 24% no caso das diretorias executivas.

A medida da Califórnia poderá acelerar a diversidade nas salas de reunião dos conselhos de administração ao redor dos EUA onde, diferentemente de vários países Europeus, não existe legislação semelhante em nível federal e nenhum outro estado conseguiu pressionar pela obrigatoriedade das empresas terem mulheres em seus boards.

A preocupação daqueles que se opõe a nova lei é que forçar as empresas a terem mulheres nos conselhos faria com que tivessem num processo de seleção, que desistir de um candidato masculino ou terem que desalojar um membro do conselho só por causa do seu gênero.

A nova lei, porém, estabelece a criação de mais um assento no conselho para acomodar um novo membro do sexo feminino, ao invés de remover um homem que já esteja no board.

Países como a França, Alemanha e Itália tem, em anos recentes, aprovado regras mais rigorosas requerendo que os conselhos corporativos tenham mulheres em sua composição. Isso fez triplicar, em alguns casos até quadruplicar, a quantidade de mulheres nos boards de grandes empresas europeias, com a percentagem de conselheiras chegando em níveis de 40%.

Nos EUA ainda há relutância em estabelecer cotas compulsórias nos conselhos enquanto no Brasil a discussão ainda está nos estágios iniciais no mundo corporativo. No setor de fundos de pensão, estamos vários passos atrás nessas discussões. 

FAROL BAIXO, FAROL ALTO E RENOVAÇÃO 

Dentre as 3.000 empresas de capital aberto que compõe o índice Russell 3.000 nos EUA - um índice de bolsa de valores semelhante ao nosso IBOVESPA – 485 possuem conselhos de administração integralmente compostos por homens. Os dados são da Equilar, uma firma de pesquisa que acompanha dados sobre executivos e conselhos.

Caso a lei mencionada acima seja aprovada, aumentará a pressão para que as “startups” do Vale do Silício abracem a igualdade de gênero antes de abrirem o capital.

A Airbnb Inc., baseada em São Francisco, que está se preparando para abrir o capital em meados de 2019, acaba de apontar para seu board a ex-CFO da Pixar que participa de vários conselhos. Ann Mather passa, assim, a ser a primeira mulher no conselho da Airbnb que começa a se alinhar com as grandes corporações instaladas no estado, como Chevron, Netflix e Alphabet (dona da Google e do Youtube) que já possuem várias mulheres em seus boards.

A pressão pela igualdade de gênero nos conselhos está sendo feita nos EUA por grandes investidores, como State Street Global Advisors e BlackRock Inc.. Os fundos de pensão, em seu papel de grandes investidores institucionais, poderiam dar o exemplo começando pelos seus próprios conselhos deliberativos.

O ponto que tem diminuído a velocidade da mudança em direção a maior igualdade de gêneros tem sido a falta de renovação nos conselhos. O conselheiro das empresas que compõe o S&P500, outro índice das bolsas americanas, permanece em média mais de oito anos na cadeira e a maioria dos conselhos, de acordo com a Spencer Stuart (uma firma de recrutamento de executivos e conselheiros) não possui limite máximo de mandatos.

Apenas para efeito de comparação, os fundos de pensão no Brasil sofrem do mesmo problema de renovação. Algo como 62% dos conselhos deliberativos dos nossos fundos de pensão não possuem nenhum mecanismo de renovação e os mandatos se sucedem indefinidamente. A simples existência de mandatos de três ou quatro anos não garante a renovação se não há limites para a quantidade de mandatos que um conselheiro pode ocupar.

Concluindo, a igualdade de gêneros no topo das pirâmides organizacionais não é uma mera questão de justiça. As empresas e os fundos de pensão deveriam ter conselhos que representassem, respectivamente, seus acionistas e seus quadros de participantes.

O equilíbrio entre homens e mulheres nos boards é muito mais eficaz para mitigar riscos, aumentar os resultados financeiros e supervisionar a gestão das organizações.

Então, vamos criar uma politica de igualdade de gêneros no seu fundo de pensão?

Grande abraço,

Eder.    
                    



Fonte: Adaptado dos artigos “Quanto mais mulheres na cúpula, mais rentável é o banco“, escrito por Luiz Doncel, “State Pushes for Women on Boards“, escrito por Lynn Cook e "How Men's, Women's Brains Differ”, escrito por Sarah Mahoney.

Crédito de Imagens: EyetrackShop e Original Artist
 

sábado, 25 de agosto de 2018

Longevidade, Supremo Tribunal e os Problemas com o Atual Sistema de Nomeação dos Juízes.





De São Paulo, SP.

Com a aposentadoria dos ministros Celso de Melo em 2020 e Marco Aurélio em 2021, o próximo presidente da república terá o privilégio de nomear em seu primeiro mandato, dois ministros para o STF - Supremo Tribunal Federal.

Reeleito, poderá nomear mais dois em 2023 quando Rosa Weber e Ricardo Lewandowski atingirão a idade limite de 75 anos conhecida por “expulsória”.

Esse privilégio, porém, tenderá a ficar cada vez mais raro conforme o tempo for passando, já que os ministros, assim como o resto da população, estão vivendo cada vez mais.

Os ministros do STF, indicados pelo presidente da República e aprovados pelo Senado, possuem cargo vitalício e se aposentam compulsoriamente ao completar 75 anos (salvo casos de morte, impeachment ou se quiserem deixar o cargo).

Em 1900, a expectativa de vida dos brasileiros era de 33,7 anos, mas deu um salto significativo e hoje gira em torno de 76 anos de acordo com o IBGE. O fato da expectativa de vida ter aumentado mais de 40 anos nas últimas 11 décadas significa que mais pessoas atingirão os 75 anos de idade e que os mandatos dos ministros da suprema corte tenderão a ser mais longos.

Entre 1891 e 1917 - um período inferior a 30 anos que começa no ano em que o Visconde de Sabará (o ministro Sayão Lobato) instalou a primeira sessão do STF e termina no epílogo da I Guerra Mundial - foram 27 os ministros que tiveram o mandato interrompido por causa da morte.

Isso contrasta com os 14 ministros que morreram durante o curso do mandato nos últimos 100 anos, ou seja, entre 1918 e 2018, incluindo Teori Zavacki que não morreu de causas naturais.

Foi uma queda de 27 para 14! Sem falar na diferença de quase quatro vezes no número de anos entre os períodos analisados.

Com mandatos mais cumpridos, ao longo desse século, será nomeada uma quantidade menor de ministros para a suprema corte do que no último século.

Isso fica evidente analisando a quantidade de ministros indicada nos mesmos períodos acima. Os presidentes do período que vai de 1891 a 1917 indicaram ao todo 61 ministros, o que resulta em uma média de 9 ministros a cada quatro anos, enquanto os presidentes do período de 1918 a 2018 indicaram 107 ministros, uma média de apenas 4 ministros a cada 4 anos.

Replicando esse ritmo de redução, nos próximos 100 anos começando em 2018, a partir do mandato do próximo presidente, apenas cerca de 50 ministros serão nomeados e estes, permanecerão por mais tempo em suas confortáveis poltronas do STF.

O ministro Dias Tofolli, nomeado ainda jovem, aos 42 anos de idade, poderá ficar na corte por mais de oito mandatos presidenciais, já que se pode esperar que ele viva mais 33 anos após sua nomeação, conforme indicam as projeções atuariais do IBGE.

De forma semelhante, o ministro Alexandre de Moraes, nomeado aos 49 anos deverá permanecer ativo por mais 26 anos, o que equivale a quase sete mandatos presidenciais.

Esse declínio nas nomeações para a suprema corte deve ser visto com preocupação pelos partidos políticos e por toda a sociedade. Com ministros servindo, daqui para frente, por mandatos que durarão em média 30 anos, o processo de escolha de um novo membro da suprema corte vai se transformar numa verdadeira batalha.

Presidentes que não controlarem o senado, muito provavelmente não conseguirão nomear ninguém deixando cadeiras vagas no tribunal e afetando o equilíbrio do colegiado. Por outro lado, presidentes que puderem fazer múltiplas nomeações terão influência desproporcional sobre as interpretações das leis e da própria constituição, como já podemos perceber no conjunto atual.

Essas interpretações poderão perdurar por anos, indo muito além do tempo em que os ministros ocuparam suas cadeiras.

O momento é oportuno, portanto, para a sociedade discutir propostas para lidar com a longevidade dos ministros do STF. Chegar numa solução para o problema não é tarefa fácil e muitos anos terão se passado até que uma mudança finalmente venha a ocorrer.

Uma proposta seria limitar os mandatos a 18 anos, o que mitigaria os desafios que a longevidade está criando. Porém, um olhar mais atento perceberá que uma limitação simples desse tipo criaria outro problema.

Aumentaria a chance de um presidente poder apontar a maioria dos ministros da corte. Instituir um limite de 18 anos faz surgir 43% de chance de um presidente que venha a ser reeleito possa nomear a maioria dos ministros.

Na era republicana, além do Marechal Deodoro da Fonseca que nomeou os 15 primeiros ministros da suprema corte, somente oito dos trinta e três presidentes puderam até hoje apontar mais de 5 ministros. O último presidente a conseguir isso foi Lula.

Desatrelar o limite da figura pessoal dos ministros e associá-lo às cadeiras que ocupam seria uma forma mais eficiente de assegurar rotatividade no STF e ao mesmo tempo evitar que qualquer presidente tenha influência excessiva sobre o tribunal.

Isso faria surgir uma nomeação a cada quatro anos, sempre no segundo ano do mandato presidencial, fazendo com que 41 ministros ao invés de 50 sejam nomeados no próximo século. Além disso, haveria uma probabilidade de apenas 12% de que um presidente reeleito pudesse nomear a maioria dos ministros do supremo.

Esse sistema também asseguraria que cada presidente possa, ao longo de um mandato de quatro anos, indicar pelo menos um ministro.

Seja qual for a solução que vier a ser adotada, está claro para todo mundo que chegou a hora de lidarmos com a questão dos mandatos do STF.

O que talvez não estivesse claro até agora é o impacto da longevidade sobre o sistema atual. Sendo assim, essa é uma singela contribuição dos atuários para assegurar que o saudável equilíbrio entre os poderes continue existindo, algo que um supremo tribunal estático certamente colocará em risco.

Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “The Supreme Court Has a Longevity Problem, but Term Limits on Justices Won’t Solve It“, escrito por David Fishbaum.

Crédito de Imagem: https://comparativeproject.com

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Caminhe na contramão da raça humana e mostre que seu QI está aumentando - poupe para a aposentadoria


De São Paulo, SP.


Quociente de Inteligência é um valor obtido por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de um sujeito. É a expressão do nível de habilidade de um indivíduo num determinado momento em relação ao padrão ou normas, comum à sua faixa etária, considerando que a inteligência de um indivíduo, em qualquer momento, é o ‘produto’ final de uma complexa sequência de interações entre fatores ambientais e hereditários”.

Essa é a definição de QI na Wikipédia.

Os testes de QI das últimas três décadas revelam uma tendência preocupante. Novas pesquisas concluíram que o QI médio dos humanos vem caindo.

Os potenciais culpados são a piora na nossa alimentação - particularmente, menor consumo de peixes – baixa educação e o surgimento de novas tecnologias.

A tendência surpreende porque nos primeiros anos do século 20, as pessoas estavam ficando mais inteligentes.

A melhora no QI que o ser humano experimentou anteriormente foi chamada de “Efeito Flynn” ou Flynn effect, em homenagem ao Psicólogo americano responsável pelas pesquisas do assunto.

Acontece que aquela tendência de aumento do QI no século passado foi interrompida e está caminhando na direção contrária. 

Ao longo dos últimos vinte ou trinta anos, os humanos começaram a ficar mais tapados, sugerem pesquisadores da Noruega.

Os dados nos quais eles se baseiam são provenientes de testes compulsórios de QI aplicados nos jovens que entraram para o serviço militar na Noruega entre os anos de 1970 e 2009.

Os 730.000 resultados dos testes indicam uma queda média de 07 pontos no QI a cada geração, sendo cada geração composta por cerca de 25 anos.

Esse não é o primeiro estudo apontando que o QI médio está caindo. 

Dados do Reino Unido e dos países Escandinavos, incluindo a Finlândia, Noruega e Dinamarca, também sugerem estar havendo uma redução no QI.

Mas porque o QI está caindo?

O Efeito Flynn foi explicado como resultado do aumento na nutrição, de uma melhor educação, de melhora no ambiente social e por aí vai.

Resumindo em uma única palavra: progresso. Então, como explicar agora que os scores de QI estejam caindo?

O estudo foi procurar a causa em fatores genéticos, mas não encontrou evidências de que essa fosse a explicação. Escreveram os autores da pesquisa: 

“…mostramos que o aumento, o ponto de inflexão e o declínio no efeito Flynn podem ter resultado de variações nos scores de inteligência dentro de uma mesma família. As grandes mudanças nos pontos médios das diversas faixas de inteligência são um reflexo de fatores ambientais...”.

Isso nos deixa com a possibilidade de que após progredir até os anos 1970, a sociedade começou a regredir.

Nutrição ruim, piora na educação, novas tecnologias e ampliação das mídias, são fatores que podem ser culpados, escrevem os autores:

“… nossos resultados são consistentes com as diversas hipóteses propostas para explicar a redução do QI: alterações na qualidade ou na exposição à educação, mudanças na exposição à mídia, piora na nutrição ou na saúde.”

Em outras palavras, a raça humana pode estar tornando a si mesma mais estúpida com seu próprio estilo de vida.

Se você está poupando para a aposentadoria, pode se considerar na contra mão da humanidade, você está ficando mais inteligente!

Grande abraço,

Eder.



Fonte: Adaptado do artigo “These Huge Changes In Human IQ Are Frightening” publicado no PSYBLOG.
Crédito de Imagem: http://www.guaranoticias.com.br/noticias/ler/id/27792

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Ninguém é tão cego quanto aquele que enxerga, mas não consegue ver - Poupe para a aposentadoria e enxergue seu futuro!





De São Paulo, SP.


Há mais de 10 anos dicionários de língua inglesa como o Merriam-Webster e o Oxford Dictionary of English, mantem a tradição de eleger a “palavra do ano”.

Associações ligadas às línguas e à escrita cultivam tradições semelhantes mundo afora.

Obviamente, estava na hora de surgir uma iniciativa equivalente no campo dos números. Foi assim que, em 2017, pela primeira vez em sua história, a Real Sociedade Estatística da Grã-Bretanha convidou seus membros e o público em geral para elegerem sua estatística favorita.

A “estatística do ano”, a que recebeu mais votos, foi uma que indicava a percentagem de terra no Reino Unido, ocupada por áreas densamente povoadas.

Essas áreas, também conhecidas pelo termo “fábricas urbanas contínuas”, são aquelas ocupadas por prédios, casas e construções.

Mesmo que você nunca tenha visitado o Reino Unido, nem jamais tenha ouvido falar desse tipo de estatística, tente dar um chute sobre essa percentagem.

Se quiser algo mais próximo, tente chutar o percentual do território brasileiro ocupado por áreas urbanizadas (as respostas poderão ser encontradas mais abaixo nesse artigo). 

Chutes não tão “calibrados” 

O que causou surpresa na estatística do ano vencedora, na eleição do Reino Unido (e provavelmente foi o que a fez ser mais votada), foi ser tão diferente daquilo que a maioria das pessoas imaginava sobre o assunto.

As pessoas podem ser totalmente ignorantes a respeito da altura da maior montanha de Marte, da extensão do Rio Nilo ou da produção diária de petróleo cru, a menos que tenham um interesse especifico nesses assuntos.

Porém, esperava-se que as pessoas que vivem no Reino Unido fossem capazes de adivinhar a resposta correta com razoável assertividade. Talvez com um fator de diferença máxima de 2 ou 3 vezes entre suas opiniões e a resposta certa. O mesmo provavelmente se aplicaria aqui no Brasil e em outros países.

Os chutes calibrados são uma combinação intrigante de fatos e crenças e de certo modo, são uma mistura entre nossos dois modos de pensar tão bem descritos por Daniel Kahneman em seu “best seller“ (Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar).

O modo rápido e impulsivo de pensar, o Sistema 1 do cérebro, explora nossos sentimentos e impressões e o modo devagar e lógico, o Sistema 2, ganha tempo para pensar racionalmente e considerar todos os fatores.

Algumas vezes não raciocinamos muito e o processo de adivinhar (o famoso “chute calibrado”) resulta do Sistema 1 que é dominado por heurística e crenças, sem nos darmos conta de que é isso que está acontecendo. 


Nota: Heurística = processos cognitivos empregados em decisões não racionais, definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida.


No caso da estatística acima, o chute foi influenciado pelo fato de 83% das pessoas no Reino Unido viverem em aglomerados urbanos. Para piorar, muitos que não vivem nas cidades, trabalham nelas. Muito parecido com o que acontece no Brasil. Ou seja, áreas construídas são marcantes em nossa experiência, assim como na deles.

Até visitamos o interior ou ocasionalmente percebemos quão pequeninas são as cidades vistas do alto, quando viajamos de avião. Ficamos surpresos com aqueles pontinhos em que se resumem as cidades e a imensidão de espaço vazio entre uma e outra.

Mesmo assim, a imagem prevalente em nossas mentes é dominada por tijolos, concreto, estradas e edifícios e isso “calibra” nosso chute mais do que qualquer raciocínio lógico.

Kahneman chama isso de “Tudo que existe é o que você vê” (em inglês: WYSIATI – What You See Is All There Is). Reflete nossa tendência a sermos influenciados mais fortemente pelo que sabemos e está ligado aos diversos vieses cognitivos descritos a seguir. 

Disponibilidade heurística: o atalho mental que ativa os conceitos trazidos mais facilmente às nossas mentes. Por exemplo, quando pensamos sobre um cisne, a maioria das pessoas imagina um cisne branco, simplesmente porque essa é a única cor de cisne que quase todo mundo vê. 

Negligência do cenário básico: faz muitos acreditarem na força da fé para curar doenças ou outras intervenções que não tem nenhuma base científica. Quando não sabemos qual a chance de que uma determinada condição melhore sem qualquer intervenção humana, é tentador acreditar que tal melhoria é resultado de reza brava, milagre, ação santificada ou da mão divina. 

Viés de confirmação: reforça o efeito - “Tudo que existe é o que você vê”, porque nos faz ver (e até procurar) o que acreditamos ser a resposta correta. 

Viés do excesso de confiança: faz com que nos tornemos excessivamente confiantes de que o que enxergamos é tudo que existe.

Por falar nisso, a percentagem da área densamente construída no Reino Unido é de 0,13%, o equivalente a 320 km2. No Brasil a área urbanizada é de meros 0,63% de todo o território do país. Seu chute chegou perto? 

Percepções Perigosas 

O efeito que nos faz errar nas avaliações não está limitado somente àquilo que enxergamos fisicamente. Esse efeito pode ser estendido facilmente para “Tudo que existe é aquilo que acreditamos existir”.

A empresa de pesquisas IPSOS MORI conduz regularmente um estudo chamado “Perigos da Percepção”. O estudo entrevista pessoas de diversos países buscando entender suas percepções sobre determinados parâmetros sociais, como a incidência de gravidez na adolescência ou crença em céu e inferno.

Na versão de 2017 desse estudo, os entrevistados tinham que dizer em qual país acreditavam haver maior consumo de álcool. A Rússia surgiu no topo da lista (quando na verdade está apenas na sétima posição).

O resultado não tem nada a ver com os russos bêbados, com uma garrafa de vodca na mão, que vemos na TV comemorando o sucesso (até aqui) na Copa do Mundo, mas sim porque nos baseamos numa informação que simplesmente não é verificada.

Meros 4% dos respondentes colocam o verdadeiro campeão de consumo de álcool (a Bélgica) nas três primeiras posições. Até mesmo na Bélgica, apenas 5% dos respondentes adivinharam habitar o país mais “bebum” do mundo.

Os estudos dos “Perigos da Percepção” estão cheios desse tipo espetacular de erro de percepção. As figuras abaixo mostram alguns exemplos intrigantes de chute nos quais as pessoas erram por margens consideráveis, muitas vezes maiores do que uma ordem de magnitude.

Nota de atenção: Os exemplos acima foram selecionados para sustentar os argumentos do artigo. “O que você vê não é tudo que existe!”


Em resumo 

Fazer uma estimativa ou dar um chute calibrado, ainda que nos pareça um processo bem embasado, nem sempre representa a resposta mais racional possível, porque não dispomos de todos os fatos relevantes toda vez que tomamos uma decisão e nossa capacidade de raciocínio é limitada.

“Tudo que existe é o que você vê”, envolve muito menos raciocínio e muito mais conclusões apressadas. Nós superestimamos a relevância daquela fração de informação que temos disponível e a usamos para generalizar. Fazemos isso imbuídos da maior convicção.

No exemplo da percentagem de terra ocupada no Brasil, não é que a gente desconheça as vastas áreas de espaço desocupado entre São Paulo e Manaus. É que passamos nossas vidas nas cidades, entre construções de prédios e casas e isso nos contamina.

A natureza perniciosa do “Tudo que existe é o que você vê” é precisamente o fato de não raciocinarmos. Uma antiga história ilustra bem como pulamos apressadamente para conclusões: 

Um pai e um filho sofrem um terrível acidente e o pai morre. O filho é levado correndo para um hospital. Quando está prestes a ser operado, o cirurgião exclama: “Não posso operar - esse garoto é meu filho!” 

Como pode isso?

Da mesma forma que assumimos que todos os cisnes são brancos porque é isso que mais vemos, nós tendemos a pensar que os cirurgiões são todos homens, porque a maioria dos cirurgiões que conhecemos ou ouvimos falar são do sexo masculino. Você, por um momento, imaginou que o cirurgião pudesse ser a mãe do menino?

“Tudo que existe é o que você vê” distorce inconscientemente nossa percepção e reforça nossos estereótipos.

Claro que nunca conseguimos ver tudo e sempre vai existir um monte de coisas que estão fora do nosso campo de visão, coisas de que não lembramos ou coisas que contrariam nosso conhecimento.

O que podemos fazer é sempre nos lembrar de que temos uma perspectiva limitada do mundo a nossa volta – especialmente quando nos sentirmos confiantes demais em nosso julgamento.

Se tivermos ciência do nosso viés cognitivo do “Tudo que existe é o que nós vemos”, então já estaremos enxergando um pouco mais.

Poupe para a aposentadoria, seu futuro está além daquilo que você consegue enxergar hoje! “Nem tudo que existe é o que nós vemos”.

Grande abraço,

Eder.




Fonte: Adaptado do artigo “All there is” escrito por Koen Smets

Crédito de Imagem: Adobe Stock
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