quinta-feira, 8 de março de 2018

Veja como é viver nos EUA sem poupança para a aposentadoria. Imagina no Brasil!


De São Paulo, SP.

Muitos idosos estão presos numa vida de trabalho sem fim, um destino que pode assolar milhões de americanos nas próximas décadas.
Roberta Gordon nunca imaginou que chegaria viva aos 76 anos e muito menos que ainda estaria trabalhando com essa idade. Mas todo sábado ela distribui amostras de frutas para os clientes de um pequeno mercado para ganhar cerca de R$ 160 por dia, porque ela precisa do dinheiro.
Roberta, que vive hoje no interior da Califórnia, fez dezenas de bicos e teve inúmeros empregos temporários ao longo da vida – foi faxineira, cuidadora de idosos, operadora de telemarketing e recepcionista de biblioteca – em muitas dessas ocasiões seus empregos informais não recolhiam contribuições para a previdência social e nos temporários ela simplesmente não ganhava o suficiente para poupar para a aposentadoria.
Agora com 76 anos de idade ela recebe da previdência social uns R$ 2.900 por mês, mas desde agosto passado quando morreu seu companheiro, tem que pagar sozinha um aluguel mensal de R$ 3.300. Para cobrir a diferença e ainda pagar as contas de agua e luz, comprar artigos de necessidade básica e alimentos, ela está se endividando no cartão de crédito. Frequentemente ela vai a uma igreja do bairro onde vive para receber alimentos como parte de um programa social.
Na medida em que as gerações mais velhas chegam à aposentadoria sem poupança suficiente e que aumentam os preços de moradia e os custos de assistência médica, mais e mais idosos estão se encontrando na mesma situação que a Roberta.
“Será a primeira vez que veremos uma porção de pessoas ganhando rendas descendentes enquanto suas idades vão progredindo”, disse Diane Oakley – Diretora Executiva do National Institute on Retirement Security (Instituto Nacional para Segurança na Aposentadoria). “Elas vão evoluir de quase pobres para pobres”, completa ela.
De acordo com Kevin Prindiville - Diretora Executiva da “Justice in Aging” (Justiça no Envelhecimento), uma ONG que procura soluções para o empobrecimento dos idosos, entre 8.000 e 10.000 americanos completam 65 anos de idade todos os dias. A única faixa etária que viu aumentar, significativamente, as taxas de pobreza entre 2015 e 2016, de acordo com dados do Censo, foi a dos idosos.
Enquanto caíram os níveis de pobreza das pessoas com idades inferiores a 18 anos e também da faixa etária entre 18 e 64 anos, houve um aumento de 14,5% nos níveis de pobreza das pessoas com idades superiores a 65 anos.
“Há algumas décadas, quando começamos nosso trabalho, ajudávamos jovens comunidades que eram pobres. Atualmente, estamos ajudando pessoas que estão entrando pela primeira vez na linha de pobreza ao atingirem a terceira idade”, completou Kevin.
Isso é muito preocupante porque pode atingir milhões de trabalhadores que se aposentarão nas próximas décadas.  
Se as pessoas idosas já estão tendo dificuldade com baixas rendas na aposentadoria, imagina o que acontecerá com as pessoas que hoje possuem empregos precários, recebem rendas fragmentadas e não conseguem poupar para a aposentadoria?
A atual onda de pobreza dos idosos pode ser apenas o começo. Dois terços dos Americanos não possuem planos de previdência complementar nem poupam para a aposentadoria, de acordo com pesquisadores do Censo. Isso poderá ter grandes implicações para a economia. Se a classe media de hoje reduzir os gastos quando se aposentar, toda a economia será afetada.
Para muitos idosos a única saída para a falta de poupança para a aposentadoria tem sido continuar trabalhando e trabalhando, como faz a Roberta Gordon. Hoje, 12,4% das pessoas com idade de 65 anos ou mais ainda faz parte da população economicamente ativa, no ano 2.000 eram apenas 3%, de acordo com Diane.
Conheci uma mulher chamada Deborah Belleau que tem 67 anos e trabalha como gerente num estacionamento de mobile-home, em Palm Springs na Califórnia. Mãe solteira, ela trabalhou como garçonete durante 30 anos e frequentemente dependia de ajuda assistencial do governo para criar os dois filhos. “Você simplesmente não pensa no amanhã” quando está mais preocupada em colocar comida na mesa hoje, disse ela. O resultado é que, atualmente, apesar de receber dinheiro da previdência social, ela não pode se dar ao luxo de ter um celular ou uma televisão. Seu aluguel custa R$ 1.900 por mês. Ela trabalha em tempo integral no estacionamento de mobile-home, apesar de sentir dores nas costas e nos pés. Algumas vezes, quando se levanta ela não consegue nem andar. Mas diz para si mesma: “Não posso parar. Não tenho como viver com R$2.500 por mês” valor que recebe da previdência social.
Essa situação pode ser particularmente dura para as mulheres que recebem, tipicamente, benefícios menores do que os homens. Em 2014, as mulheres idosas recebiam da previdência social nos EUA, em media, US$4.500 a menos por ano do que os homens. Salários menores durante a carreira das mulheres acabam levando a benefícios menores na aposentadoria. Além disso, as mulheres costumam interromper suas carreiras para cuidar dos filhos ou de parentes idosos, fazendo com que contribuam por menos tempo para a previdência social, portanto, recebendo benefícios menores.
Deborah Belleau e outros, pelo menos, ainda possuem condição física para trabalhar. Alguns que não tem a mesma sorte, sem capacidade de gerar renda, tem se tornado sem-teto. 
Cerca de metade dos adultos, solteiros, sem-teto, tinham nos EUA em 2016, idade igual ou superior a 50 anos, comparado a 11% em 1990. O que pode ser feito para ajudar os idosos de hoje e as futuras gerações?
Há duas abordagens possíveis, segundo Kevin:
A primeira seria tornar os planos de previdência mais acessíveis. Uma iniciativa federal vem tentando estabelecer programas que ajudem as pessoas a pouparem para a aposentadoria através de deduções feitas diretamente nas suas folhas de salários, mesmo que seus empregadores não ofereçam nenhum plano de previdência complementar.

Infelizmente, o governo Trump rejeitou em maio de 2017 uma regulamentação do Ministério do Trabalho da era Obama que permitia que os Estados Americanos tornassem mais fácil a implantação de programas desse tipo. Além disso, o governo federal está descontinuando um programa chamado “myRA”, que procurava encorajar pessoas de renda média e baixa a pouparem para a aposentadoria. “Não há novas iniciativas ou estratégias vindas do governo federal numa época em que está aumentando a necessidade de iniciativas desse tipo”, desabafa Kevin.

A segunda abordagem seria tornar as moradias mais acessíveis, criar programas para ajudar os idosos a cobrir suas despesas com saúde e reformar os programas de assistência social de modo a fornecer benefícios maiores aos idosos.
Não parece haver apetite em Washington, nesse momento, por nenhuma das ideias acima. A administração de Trump propôs cortes no programa e complementação de renda dos idosos e também no programa de renda por invalidez da previdência social americana.
Iniciativas como as sugeridas acima podem ser a diferença entre ter ou não ter uma casa — e alguma aparência de estabilidade.
A Roberta Gordon, do interior a Califórnia, mal conseguia se manter quando foi entrevistada. Alguns meses mais tarde, ela estava muito mais estável. Por quê? Ela saiu da lista de espera e foi aceita em um programa conhecido como Seção 8 (Section 8) que ajuda a pagar parte do aluguel de pessoas idosas. Ela ainda tem que trabalhar aos 76 anos de idade, mas se sente um pouco mais segura agora que conta com mais ajuda financeira.
Pelo menos, ela sabe que é uma pessoas de sorte — ainda consegue colocar comida na mesa e ter um teto sobre a cabeça.
 
* * * * *

Eu me sinto melhor, enquanto profissional de previdência complementar, relatando histórias positivas, mostrando o lado bom das pessoas terem poupado para a aposentadoria.
Contudo, não podemos apagar os efeitos negativos da ausência de preparação financeira para a fase de aposentadoria.
Não consigo nem imaginar quantas Robetas e Deborahs devem existir no Brasil! Vale a reflexão.
E você, o que acha?
 
Grande abraço,
Eder.

Fonte: Adaptado do artigo “This Is What Life Without Retirement Savings Looks Like”, escrito por Alana Semuels e publicado no The Atlantic Daily.
Crédito de Imagem: Howard McWilliam

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