quarta-feira, 12 de junho de 2019

Um longo caminho pela frente – maior fundo de pensão Brasileiro na penúltima posição em iniciativas ligadas às mudanças climáticas




De São Paulo, SP.

Sendo investidores que focam no longo prazo e diversificam bastante seus investimentos, os fundos de pensão estão expostos a uma variedade de riscos (e oportunidades) financeiros relacionados ao clima.
Não estamos falando aqui de riscos teóricos, mas sim de riscos materiais e físicos relacionados à condições meteorológicas extremas.
Se você estava no Rio de Janeiro em abril passado, quando um mega temporal atingiu a cidade, sabe bem do que estou falando. São Paulo também já enfrentou os seus.
Muitos associam os eventos severos como esse do Rio às mudanças climáticas e você pode ou não concordar, mas que eles são bem reais e acontecem de verdade, isso são.
O fato é que temos visto mudanças nos padrões climáticas, com aumento da frequência e severidade das catástrofes. 
De acordo com o relatório Insurance Banana Skins, produzido pela PWC em conjunto com o “Centre for the Study of Financial Innovation –CSFI”, a indústria de seguros e resseguros já aponta esse como um dos principais riscos, que tem inclusive quebrado os modelos de precificação. Ao ponto de alguns analistas estimarem que determinados riscos patrimoniais, em breve, se tornarão impossíveis de segurar.
Além das condições meteorológicas extremas, os fundos enfrentam riscos associados à rápida transformação de uma economia baseada em petróleo para uma economia de “baixo carbono”. 
Carros elétricos, geração eólica de energia e tantas outras iniciativas estão ai para comprovar, anunciando uma transição fenomenal em andamento.
Na medida que crescem esses riscos, aumentam também os custos econômicos associados aos investimentos, projetados em US$ 360 bilhões anuais para a próxima década, apenas nos EUA.
Sabe o que os fundos de pensão estão fazendo em relação a esses riscos climáticos e suas implicações para seus participantes?
Ainda, sabe dizer se as medidas que os fundos estão adotando, são divulgadas para participantes e sociedade e implementadas conforme as recomendações da TCFD - Taskforce on Climate-related Financial Disclosure?

Nota:  A TCFD é uma força tarefa composta por 32 membros que representam bancos, seguradoras, acionistas e consultorias de países pertencentes ao G20, grupo que congrega chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. A força-tarefa recomenda que a publicação de riscos monetários relativos ao clima seja incluída no principal relatório financeiro das empresas, de forma a dar visibilidade e transparência às orientações sugeridas.

A fotografia mais recente desse quadro foi tirada em novembro passado e mostra um “barômetro” do que os 100 maiores fundos de pensão no mundo - ativos totais de US$ 10 trilhões - estão fazendo. Dentre eles, o maior fundo de pensão brasileiro.
O relatório (fotografia) foi publicado nesse inicio de ano pelos meus amigos da ShareAction (quando os conheci ainda eram a FairPensions), uma ONG baseada em Londres que promove os Investimentos responsáveis. 
A inciativa faz parte de um projeto chamado AODP – Asset Owners Disclosure Project, que procura melhorar a divulgação e as praticas das empresas sobre o assunto. Eles criaram, para isso, um ranking global dos investidores institucionais visando proteger a poupança de aposentadoria dos riscos gerados pelas mudanças climáticas.
Veja um resumo dessa fotografia:
·   +60% dos fundos de pensão não publicam ou publicam pouca informação sobre o que estão fazendo em relação às mudanças climáticas, podendo ser acusados de violação de suas obrigações legais com os participantes;
·   Há mais fundos de pensão do que seguradoras na liderança das iniciativas ligadas ao clima, mas também há mais fundos de pensão nas ultimas posições; 
·   Os fundos de pensão na liderança consideram ser seu dever fiduciário incorporar os riscos climáticos em suas decisões de investimentos; 
·    Apenas 10% dos fundos possuem uma politica de investimentos formal que procura se alinhar com as metas do Acordo de Paris;
·    Somente 15% dos fundos desenvolveram estratégia de diminuição de sua exposição ao risco dos ativos dependentes da economia ligada ao carbono;  
·   Em 60% dos fundos não há sequer uma supervisão básica pelo conselho deliberativo ou comprometimento da alta gestão com problemas associados ao clima e 70% ainda nem identificaram as mudanças climáticas como um assunto material para discussão ao nível do conselho; 
·   Menos de um quinto dos fundos aborda questões de mudanças climáticas na comunicação com seus participantes e somente um quarto dos fundos fornece treinamento sobre o assunto para seus empregados;
·   60% dos fundos não considera na seleção dos gestores de investimento, como estes se posicionam em relação as mudanças climáticas;
·   Metade dos fundos se engaja em questões climáticas nas empresas em que investem, mesmo assim, o foco desse engajamento é na melhoria da divulgação de informações ao invés de ser em ações praticas, como estabelecer objetivos a serem alcançados em determinado horizonte de tempo ou votação de resoluções do conselho relacionadas ao clima;
·   Meros 1% dos investimentos, em media, estão alocados em portfolios com soluções da economia de baixo carbono;
·   O tamanho do fundo não importa quando se trata daqueles que lideraram as iniciativas envolvendo mudanças climáticas;   
Fica claro que na maioria dos fundos de pensão em nível global e no Brasil em particular, os riscos relacionados ao clima não são nem identificados, nem avaliados em seus processos de investimento.
Abaixo, segue o ranking dos 100 maiores fundos de pensão.
O relatório completo pode ser baixado por esse link aqui:
Os reguladores do setor, no Brasil seria a PREVIC, estão sendo instados, dentre outros aspectos, a: (i) esclarecer se é responsabilidade legal dos fundos, integrar as questões associadas ao clima em seus processos de decisão de investimentos; (ii) tornar obrigatória a divulgação – alinhada às recomendações do TCFD – do que os fundos estão fazendo em relação aos eventos climáticos e à economia de baixo carbono.
Esta na hora dos fundos de pensão levarem mais a serio em suas operações os aspectos ESG – Environmental, Social and Governance. Aliás, já passou da hora...

Grande abraço,
Eder

Crédito de Imagem: Wilton Junior / Estadão
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