terça-feira, 19 de maio de 2020

Web 3.0 – Seu fundo de pensão vai encontrar uma Internet descentralizada, livre e aberta. Seu conselho deliberativo está preparado?



Credito de Imagem: Iaremenko | Getty Images / Stockphoto


De São Paulo  SP.

Nos anos 80 quando tive meu primeiro contato com microcomputadores (os atuais PCs), não existia a distinção entre os desenvolvedores de softwares e aplicativos – na época chamados de programadores e analistas de sistemas – e as pessoas “comuns” que usavam os computadores, chamadas de usuários. 

Lá no laboratório de informática da UFRJ nós éramos os programadores e usuários ao mesmo tempo, desenvolvíamos programas para produzir resultados específicos. 

A distinção entre programador e usuário foi surgindo na medida em que as linguagens e os sistemas por trás das telas se tornavam cada vez mais complexos e complicados. Hoje somos todos usuários de aplicativos em alguma instância. Porém, sem os desenvolvedores dos softwares e aplicativos (os “coders” atuais) que transitam por trás das telinhas, elas não serviriam para nada.

“Consensus: Distributed 2020”, o maior congresso mundial sobre as tecnologias de blockchain e criptomoedas aconteceu na semana passada. Foram cinco dias de intensas discussões, trocas de ideias, visões e previsões de um futuro iminente. 

O show global de inovações e conhecimento ainda envolve uma comunidade restrita. Não porque se trate de um grupo fechado, mas porque a maioria das pessoas não entende o funcionamento dessas novas tecnologias. Me fez lembrar da distinção entre programadores e usuários que mencionei acima.

A maratona virtual que durou uma semana terminou em grande estilo, marcada por um painel em que Juan Benet, fundador da “Protocol Labs”, deu uma rara entrevista. Falando sobre a descentralização da Web 3.0 Juan comentou que “a Internet se tornou dramaticamente importante para nós”. 

Num horizonte de 50 anos a computação saltou de uma ideia para uma “tecnologia capaz de transformar nossa espécie”. Contudo, a configuração atual da Internet se tornou um grande problema. 

Os princípios subjacentes de desenvolvimento de uma rede aberta, na qual ninguém precisasse de permissão para usá-la, foram distorcidos por provedores de serviço centralizados e monolíticos. A pretensão original cedeu lugar a um “capitalismo de vigilância”, invasão de dados, hacking e conteúdo fechado em silos.     

Os modelos para distribuição de mídia (música, vídeo, produção de notícias etc.) na Internet se tornaram um problema. “Todos nós criamos e consumimos conteúdo num ritmo frenético e usamos tecnologia o tempo todo”, disse Lance Koonce o moderador de outro painel. 

Mídias diferentes tem fluxos de receita diferentes, explicou o criador do Cardstack, Chris Tse, mas todos esses modelos estão quebrados. O problema atual é que os principais players da Internet reivindicaram para si o controle não apenas do tipo de mídia, mas também da audiência e da distribuição.
Isso vale para os gigantes da tecnologia, Google, Facebook, Youtube, Amazon, preencha o nome que você quiser aqui: .............. Todas as plataformas de tecnologia se apoderaram das mídias, da distribuição e da audiência, transformando o autor do conteúdo em refém. Elas ficam com todo ou a maior parte do quinhão, restando pouco ou nada para o produtor de conteúdo.

Eu acho que a Nadine Strossen, uma professora da “New York Law School”, ao falar sobre “fake news” e desinformação, definiu muito bem um problema que 
também se aplicar à Internet atual. Ela disse, apropriadamente, que não existe solução criptográfica nem nova legislação que concerte o que é essencialmente um problema humano.

A renovação da Internet requer soluções de identidade mais abrangentes. A tecnologia funciona melhor se puder resolver pequenos problemas primeiro e depois partir para grande escala. “É preciso solucionar a dor de alguém em um nicho específico, antes de partir para concertar o oceano. Essa coisa de propriedade é uma solução em busca de um problema”, adorei esse comentário do Bill Rosenblatt da GianSteps Media. 

A Web 3.0 tem a ver com a criação de uma plataforma descentralizada, que coloque os direitos humanos à frente e possa construir uma Internet muito mais livre e aberta, travando-a desse jeito, conforme a opinião do próprio Juan Benet.

Os princípios fundamentais da Web 3.0 são sobre assegurar a liberdade de expressão e de construção, propriedade dos dados e soberania individual. Se um desses princípios for sacrificado no início, se você abrir mão mesmo que apenas de um pouquinho dessa visão, isso terá um efeito em cascata sobre o que se quer construir.     
O conceito de Web 1.0, 2.0 e 3.0 se refere a ideia geral sobre como funciona a Internet e a experiência do usuário. Não significa nenhuma versão ou linguagem de programação especifica, nem envolve a forma que você vê, acessa e usa um website. Darcy DiNucci cunhou o terno Web 2.0 em 1999, mas foi apenas a partir de 2004 que conceito se popularizou, apos ter sido mencionado em um conhecido congresso sobre Internet chamado O'Reilly. Daí bastou um pulo para olhar para trás e chamar a “antiga Internet” de Web 1.0 e olhar para a frente e começar a falar de Web 3.0.  

Na tabela abaixo encontra-se uma breve comparação dos três conceitos. 


As tecnologias de blockchain e criptomoeda já estão mudando as principais indústrias na Internet, permitindo a criação de websites descentralizados, remodelando o streaming de música, assegurando direitos autorais e a distribuição segura de vídeos e conteúdos.

A ideia de estabelecer liberdade financeira que começou com o Bitcoin, se estendeu para todo tipo de setor e começa a redesenhar a Internet abrindo a possibilidade de novas plataformas de computação.

Você deve estar se perguntando: mas o que tudo isso tem a ver com planos de previdência complementar? Eu sei que as novas aplicações que vão surgir não são nada intuitivas, mas vamos tentar um par de exemplos para materializar o que vem pelo caminho.

  • Saldos perdidos – Existe hoje um problema que permanece na sombra e vem passando desapercebido pelos reguladores. As regras vigentes determinam que um empregado demitido ou que tiver pedido demissão da patrocinadora e for participante de um fundo de pensão, precisa decidir qual tratamento quer dar para o saldo de conta que acumulou. O participante que não optar pelo resgate, não quiser permanecer no plano como participante autopatrocinado ou não portar seu saldo para outro plano, será tratado de forma presumida como optante pelo BPD (benefício proporcional diferido). Aquele que ainda não for elegível ao BPD ficará no limbo, como “não-optante”. Em ambos esses dis últimos casos, os saldos de conta permanecem no fundo de pensão e sobre eles incidem taxas de administração. Com o passar do tempo esses saldos acabam sumindo, sendo “zerados”. Milhões de reais são perdidos anualmente, viram pó. Isso ocorre principalmente com saldos de pequeno valor, de participantes que vão embora e não se dão contam de que possuem valores - ainda que pequenos - a receber. Com a tecnologia blockchain, sem entrar no detalhe de como funciona, as autoridades poderiam manter um banco de dados na Web 3.0 onde o saldo de cada participante ficaria registrado em seu nome e nunca se perderia. Poderia ate mesmo ser transferido para um plano de previdência individual automaticamente, no momento que o participante deixasse o antigo empregador ao invés de ficar no limbo e acabar perdido para sempre (mais sobre o assunto: aqui)
  • Prova de vida de aposentados – usando um aplicativo no celular, no seu “tablete” ou no seu desktop de casa, um aposentado seria reconhecido por biometria (digital e/ou reconhecimento facial) usando a câmera e/ou botão de ligação do dispositivo. Essa operação seria imediatamente registrada no sistema do fundo de pensão, gravando inclusive o local em que aconteceu (geolocalização) e via tecnologia blockchain seria criada uma evidência que pode ser rastreada, que não pode ser alterada e que pode ser auditada de forma independente. Parece ficção? O fundo de pensão das nações unidas esta testando uma solução extamente desse tipo e pretende implantar ate o final de 2020 (mais sobre o assunto: aqui).


Ainda há muito trabalho a ser feito e inúmeras soluções a desenvolver. Revolucione o conselho do seu fundo de pensão e faça parte das mudanças. Não porque elas virão, mas porque elas já estão aqui!

Abraço,
Eder.


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Fonte: Adaptado do artigo “Top Shelf” escrito por Daniel Kuhn para a CoinDesk. As definições de web 1.0, 2.0 e 3.0 foram obtidas no website Tibetangeeks.com 


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