sexta-feira, 10 de julho de 2020

POR QUÊ CONSELHEIROS INDEPENDENTES IRÃO BENEFICIAR O BOARD DO SEU FUNDO DE PENSÃO


Credito de Imagem: BoardEffect


De São Paulo, SP.

Nas empresas de capital aberto ao redor do mundo é hoje uma prática padrão contar com conselheiros independentes. No entanto, raríssimos são os fundos de pensão que possuem algum membro independente em seus conselhos – aqui no Brasil, conheço apenas um.

Os conselhos que não contam com conselheiros independentes estão perdendo uma enorme oportunidade de se beneficiar de um pool diverso de candidatos no mercado.

Board Profissional

Antes mesmo dos fundos contarem com representantes dos empregados em seus conselhos e das organizações se preocuparem com diversidade de uma forma geral, apontar para os conselhos deliberativos os executivos-chave da patrocinadora, fazia sentido.

Contando com elevado prestígio, respeitados tanto internamente como externamente e experientes em suas funções de gestão, os conselheiros traziam para o fundo de pensão seu conhecimento da empresa patrocinadora. 

A responsabilidade do conselho era dar apoio às estratégias traçadas pelo Diretor Presidente e assegurar que os interesses da patrocinadora estivessem sendo bem representados.

A evolução natural do setor de previdência complementar alçou aos conselhos dos fundos os representantes dos participantes. Eleitos entre seus pares, eles trouxeram mais equilíbrio na defesa do interesse de uma parte dos stackholders, até então ausente nos boards.

A configuração da atual composição dos conselhos dos fundos de pensão, carrega algumas desvantagens significativas. Uma vez nomeados, os conselheiros passam a defender os interesses da parte que os apontou para o colegiado, interesses esses muitas vezes divergentes entre patrocinadora e participantes. Eventualmente, o alinhamento pode ir na direção contraria aos interesses das patrocinadoras, já que seus representantes são participantes também.

Outro aspecto relevante é que a indicação de membros acaba focando em pessoas, ou seja, os participantes do plano que potencialmente se tornariam bons conselheiros, quando o ideal seria a busca de profissionais com conhecimento e experiência específicos para enfrentar os desafios impostos aos fundos de pensão.

A revolução digital e a rápida mudança do ambiente econômico e social, tornaram chave o papel dos conselheiros, desafiados a buscar soluções altamente complexas para os problemas enfrentados pela previdência complementar. Isso está levando muitos fundos de pensão a refletir sobre a contribuição que conselheiros profissionais poderiam trazer para tornar o colegiado mais diverso e eficaz.

Benefícios de conselheiros profissionais

Os potenciais benefícios de um conselho profissional estão bem documentados nas empresas de capital aberto e podem servir de guia para os fundos de pensão. 

Tipicamente, um conselheiro independente tem poucas razões para se sujeitar a interesses específicos, quer seja dos participantes, quer da patrocinadora. Sendo assim, está em melhor posição para proteger os interesses do fundo de pensão em si mesmo, trazendo maior equilíbrio para todos os stackeholders

No caso dos fundos de pensão do setor publico, patrocinados pela União, Estados e Municípios, seria ele que levaria em consideração os interesses da sociedade como um todo, já que o contribuinte não está hoje presente nos boards dessas organizações.

Além disso, o membro profissional possui acesso a recursos e fontes de informação externas a patrocinadora, a uma ampla rede de relacionamento e conexões e tem uma visão objetiva sobre os problemas que afetam a previdência complementar.    

Paralelo entre conselheiros internacionais e conselheiros independentes

Vem ganhando força nos conselhos de empresas americanas, canadenses e europeias de capital aberto que atuam globalmente, a incorporação de pelo menos um “membro internacional”. A percepção atual é que muitas empresas até aqui, avaliaram mal o que é de fato “experiência internacional”.

Um conselheiro que passou dois anos trabalhando como expatriado em uma cidade como Londres, Sidnei ou Coreia do Sul, antes de retornar para casa, tem uma experiência internacional bastante limitada. Uma pessoa só passa a “pensar de forma global” depois de ter passado um tempo prolongado imerso em outro país e em sua cultura e apenas a partir daí é que agrega valor verdadeiro. 

Da mesma forma que conselheiros internacionais agregam valor levando para o board de uma multinacional uma forma global de pensar, conselheiros profissionais trazendo vivência e conhecimento especializado do mercado de previdência elevam o conhecimento conjunto do colegiado de um fundo de pensão. 

Treinamentos e cursos de formação e certificação em previdência complementar, sem sombra de dúvidas, são importantes. Porém, da mesma forma que um expatriado que morou um par de anos no exterior assimila de forma limitada uma nova cultura, o conselheiro oriundo das áreas de negócios de uma patrocinadora adquire conhecimento com cursos de capacitação, mas não adquire vivencia em previdência complementar.  

Empresas e fundos de pensão começam a se dar conta de que às preocupações com diversidade de gênero e etnia, deve se juntar o cuidado em assegurar a diversidade de pensamento e áreas de formação. 

Charles T. Munger, para quem não conhece, foi Vice-Presidente da Berkshire Hathaway, sócio e amigo de longa data de Warren Buffet. Em 1994 Munger abordou a importância da diversidade de pensamento ao falar de modelos mentais em seu famoso discurso na USC Business School (discurso: aqui e video: aqui). 

Quem quiser se aprofundar mais sobre o papel dos modelos mentais na tomada de decisões, pode ler o artigo "Mental Models: The Best Way to Make Intelligent Decisions", publicado no site Canadense Farnam Street.

Prós e contras dos conselheiros independentes

Um dos maiores pontos positivos para se ter conselheiros profissionais independentes no board de um fundo de pensão, é que eles trazem uma perspectiva da indústria de previdência para as reuniões do conselho. Eles fazem o colegiado pensar em novas ideias, abrem o horizonte das discussões, ajudam a debater um espectro mais amplo de questões, contribuem com soluções inovadoras e tendem a identificar problemas que não haviam sido considerados previamente.  

Ter uma perspectiva vista sob a ótica da previdência ajuda os demais conselheiros a entender melhor as tendências e evoluções organizacionais necessárias em um fundo de pensão. As tecnologias estão mudando o mundo e isso está acontecendo extremamente rápido.

Contratar um conselheiro independente é também uma excelente maneira de agregar expertise profunda sobre o mercado de previdência a um conselho formado com membros do setor específico de atuação das empresas patrocinadoras. A seleção de conselheiros dentro dos muros da empresa patrocinadora, limita a escolha a um determinado pool de talentos de onde escolher.  

Eu não poderia deixar de falar de alguns pontos negativos de se recrutar conselheiros independentes para um fundo de pensão. O custo adicional para o fundo é um deles. Conselheiros profissionais são, necessariamente, remunerados.

Além do gasto com a remuneração do conselheiro em si, existe o custo de contratação de uma firma especializada em remuneração e seleção de executivos. Essa é a melhor forma de se obter dados de mercado para balizar o valor a ser pago ao conselheiro profissional.

A pandemia do Covid-19 mostrou que o conhecimento de mercado e a experiência em previdência que membros profissionais trazem para os conselhos, podem fazer muita diferença no processo de tomada de decisões. 


Grande abraço,
Eder.

  
Fonte: Adaptado do artigo “Why international directors will benefit your board”, escrito por Paul Battye.

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