sábado, 8 de julho de 2023

Ensinamentos de uma jovem agente da CIA para experientes conselheiros de fundos de pensão





De Sāo Paulo, SP.

Amaryllis Fox foi recrutada pela CIA aos 21 anos, para trabalhar em uma das unidades mais secretas da agência de espionagem americana. Aos 22 anos, era a agente mais jovem atuando com disfarce não-oficial, ou seja, conduzindo operações no exterior sem proteção diplomática.

Atuando em operações de contraterrorismo, Amaryllis era mandada para áreas remotas do Oriente Médio e Ásia, para se infiltrar em redes terroristas. 

Em suas memórias, intituladas Life Undercover – que em português ganhou o título de A Vida na Sombra, ela conta como foram seus 10 anos de operações clandestinas passando por 16 países, a serviço de uma das mais secretas unidades de elite da CIA.  

O trabalho era emocionalmente fatigante. Quando foi designada para cobrir o Iraque, sua primeira tarefa foi assistir um vídeo de decapitação centenas de vezes, focando em diferentes partes da imagem a cada vez para tentar notar qualquer pista desapercebida, que pudesse indicar a localização do crime.

Apesar de ter sido treinada a usar uma pistola Glock, a como se safar de algemas dentro do porta-malas de um carro e a como resistir a torturas, a principal parte do trabalho dela focava numa das habilidades mais simples de todas: ouvir atentamente

O trabalho requeria que ela interagisse com os mais perigosos traficantes de armas do mundo e com pessoas que queriam ver os americanos mortos, mas ela precisava colocar tudo isso de lado para fazer seu trabalho.

Ela aprendeu que para extrair informações de uma contraparte, primeiro ela precisava humanizá-la – não como traficante de armas, mas – por exemplo - como um parente próximo.

“A única maneira real de desarmar um inimigo é ouvindo-o. Se você ouvir o que eles têm a dizer, se realmente ouvir a história deles, na maioria das vezes você vai perceber que teria feito as mesmas escolhas se tivesse vivido a vida deles, ao invés da sua”, explica ela

É surpreendente descobrir quantas ferramentas com aplicações práticas envolvendo empatia, resolução de conflitos e legitimidade, os conselheiros dos fundos de pensão podem aprender com o trabalho de uma ex-agente da CIA. 


Amadurecer como conselheiro é saber ver e ouvir 


O que diferencia os militares dos agentes da CIA? 

De acordo com Amaryllis, a diferença tem a ver com a construção de relacionamentos. Ela usa uma metáfora interessante para explicar o poder das interações interpessoais em um mundo que depende de tecnologia.

“Quando você segue uma amiga nas mídias sociais, você pode ver os ‘fatos’ sobre a vida dela, tipo, um novo namorado, um neném que nasceu. Mas quando você fala com ela na vida real, você fica sabendo como ela se sente a respeito daqueles fatos”, explica ela.

“Talvez sua amiga esteja com medo de se casar ou talvez ela te diga que está planejando ter um bebê meses antes dele nascer. A capacidade de entender os medos, sonhos, esperanças e aspirações de uma pessoa, permitem que você preveja geopolítica de maneiras que a análise técnica de pontos de dados, simplesmente é incapaz de fazer. É o porquê ao invés de o quê”, conclui Amaryllis.

Conselhos deliberativos são colegiados com pessoas que frequentemente possuem perspectivas (visões) diferentes, mas perspectiva é que nem quiabo, é algo escorregadio. O que você vê e o que você ouve, podem não necessariamente, ser a verdade. 

Amaryllis aprendeu isso ainda criança, quando seu pai - segurando na mão um pequeno bloco - perguntou que formato ela estava vendo. Ela respondeu: um triangulo.

O pai, então, perguntou o mesmo para o irmão dela, que estava sentado do outro lado da mesa. Ele disse: um quadrado. O pai girou o bloco que era, na verdade, uma pirâmide.

“Vocês dois estavam tão convencidos do que viam que começaram a pensar que o outro era um idiota, estava mal-informado ou estava mentindo de proposito. Cada um de vocês tinha certeza do que estava vendo. Devemos ter a disciplina de sempre procurar pela dimensão superior: a pirâmide”, ensinou o pai.


Dignidade ajuda a desatar o nó dos conflitos


Em suas memórias, Amaryllis conta um episodio em que conversou com presos que integravam uma rede terrorista que vendia material para fabricação de armas nucleares.

Um deles disse para ela: “humilhação é uma coisa poderosa, armas nucleares são apenas um substituto para o respeito, todo mundo quer ser respeitado, não quer? Até as pessoas que você chama de terroristas.”

A ex-agente diz que isso também acontece em nossas interações cotidianas. Ela compara nossas desavenças, nossos conflitos, a “nós” que podem ser desatados através de conversas que preservem a dignidade da outra parte.

Durante as discussões entre representantes de patrocinadoras e de participantes nas reuniões de conselho, é responsabilidade de cada conselheiro estar sempre alerta para identificar os pontos de interseção, em que o pensamento é comum e as opiniões convergentes.

O mais difícil é tentar identificar quais são esses pontos, que permitem estabelecer uma troca baseada em respeito e diálogo, de tal modo que quando a conversa retornar aos pontos de profunda divergência, o nó esteja um pouco mais folgado e possa começar a ser desfeito. 

“A linguagem pode separar ou conectar as pessoas – tudo depende de como você a usa, seja ponderado com suas palavras”, diz Amaryllis.


Reconhecendo a nós mesmos, nos outros

Amaryllis foi proficiente no seu trabalho porque foi capaz de humanizar pessoas que nós normalmente demonizamos.

Já participei de incontáveis reuniões de conselhos de fundos de pensão para saber que nos colegiados mais polarizados, é difícil um conselheiro que representa as patrocinadoras se colocar no lugar do conselheiro eleito pelos participantes.

Nesses tempos de extrema polarização e divisão entre as pessoas em que vivemos, quando rotulamos uma pessoa como sendo de um certo tipo, temos dificuldade em escutá-la, tendemos a vê-la com um propósito único: um adversário, membro de um grupo contrário ao nosso etc. 

Deixamos de reconhecer que esse é apenas um dos chapéus que eles usam, mas acontece que eles usam outros chapéus: o de filho, de fotografo, alguém que gosta de futebol ...

Quando somos capazes de nos conectar baseados nesses chapéus que compartilhamos, isso nos dá uma base comum de respeito e humanidade. Quando nos voltamos para nossas diferenças, podemos ter uma com versa muito mais construtiva.

Ser conselheiro de um fundo de pensão não é seguir cegamente os interesses da parte que o nomeou, seja ela a das patrocinadoras, seja a dos participantes, mas sim fazer o que quer que seja correto para a continuidade do fundo de pensão.

Abraço,
Eder.



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