sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 



De São Paulo, SP.


GAFAM é o acrônimo em inglês usado para se referir aos gigantes da tecnologia em geral e em particular, às cinco grandes dos EUA nascidas entre o fim do século XX e início do século XXI, que dominam o mundo digital: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft.

Ao longo dos últimos quinze anos convivemos com a presença dessas gigantes, cuja capitalização de mercado atinge a casa dos trilhões de US$ e alcançam bilhões de usuários mundo afora.

Essa turma - que redefiniu nossas vidas, a forma que trabalhamos e o próprio tecido social – reinou suprema, aparentemente, com nenhuma competição que os destronasse.

Passado o Covid-19 e fechadas as cortinas de 2022, surgiram distúrbios na força e evidentes sinais de fragilidade.

A capitalização de mercado do Facebook - ninguém se acostuma a chamá-lo de Meta - tomou um tombo: de US$ 1,07 trilhões para US$ 560 bilhões. A dependência que a Apple tem da China, onde suas plantas de baixo custo foram fincadas, virou uma verdadeira bomba relógio e o Google está na iminência de se tornar irrelevante da noite para o dia, com a súbita chegada de ferramentas de inteligência artificial.

Todo mundo pensou que essa galera tinha tudo sob controle, calmamente sugando o $$$ de todos os segmentos da economia, protegidos por uma impenetrável barreira de entrada, no entanto, esses gigantes podem estar chegando ao fim ...  

Google: um mecanismo de busca? Nana nina não!

Fundada em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, durante um curso de PhD na Universidade de Stanford e reagrupada na holding chamada Alphabet, a empresa se tornou conhecida pelo “me pergunte qualquer coisa”, na Internet.

Famosa por seu home page totalmente branco com uma caixa de busca debaixo do logotipo, foi a primeira empesa a levar ao extremo um modelo de negócios totalmente baseado em anúncios, no qual os usuários são o produto e os verdadeiros clientes são companhias tentando vender qualquer coisa, de brinquedos sexuais a planos de previdência complementar.

O Google nunca se esforçou realmente para criar algo novo. Tentou imitar o pacote Office da Microsoft, só que online, criou o G-mail, mas seu core business permaneceu o mesmo: um mecanismo de busca

O Google, no entanto, é mais conhecido por ter lançado no mercado e matado centenas de produtos e serviços. Vão de TV, a radio, telefone celular, jogos, rede social etc. Os caras tentaram de tudo.  

Tem até uma página na Internet que faz um tributo aos 280 produtos e serviços mortos pelo Google. É a “Killed by Google” (morto pelo Google), link: aqui

Só que as coisas estão mudando – alô, fundos de pensão! Como você já deve ter visto à essa altura, o ChatGPT, oferecido gratuitamente na versão beta pela OpenAI, está causando marolas.

Essa incrível ferramenta de inteligência artificial fala com você via browser de Internet, responde suas perguntas, fornece um programa para seu website, cria roteiro de filmes, pede desculpas quando erra ...

O ChatGPT não está sozinho, é apenas uma das soluções precursoras de uma tecnologia que promete causar disruptura em um sem-número de negócios incumbentes.

Alerta vermelho no Google

Se a luz vermelha acendeu na Alphabet, não é porque eles não tenham visto a ameaça chegar. O Google é atualmente um dos maiores investidores em pesquisa de IA, machine learning e chatbots. Além disso, por trás do ChatGPT roda uma tecnologia desenvolvida pela divisão de pesquisas do próprio Google, chamada LaMDA – Language Model for Dialogue Applications.

O problema do Google não está no ChatGPT nem nas soluções derivadas da tecnologia de IA propriamente dita, mas sim no seu modelo de negócios.

O Google não está no negócio de te dar a melhor resposta possível para suas perguntas e pesquisas, o negócio deles é fazer você clicar num anúncio.

Se você perguntar qual a melhor TV com preço abaixo de R$ 1.000, eles precisam assegurar que você verá, no topo da lista de links, os anúncios pagos pelos clientes do Google.

Em 2016, quando o Google tentou lançar sua própria linha de smartphones para logo na sequência matar o produto, Ben Thompson – um analista americano de tecnologia e mídia, autor do newsletter/podcast Stratechery – escreveu:

Será que o Google está esquecendo que eles são uma empresa horizontal, cujo modelo de negócios é desenhado para maximizar o alcance, não para limitar? Não é que o Google esteja matando artificialmente seu próprio modelo horizontal de negócios, o seu modelo de negócios é que está sendo morto pela realidade de um mundo que a inteligência artificial vai dominar. Nesse mundo, não há espaço para anúncios, tornando ultrapassados tanto o modelo de negócios quanto o modelo de distribuição do Google.  Ambos precisam mudar, para o diferencial tecnológico da companhia se tornar um avanço.   

Quem paga? Quem ganha?

Estima-se que o Google processe algo em torno de oito bilhões de procuras por dia. O custo de rodar uma ferramenta de inteligência artificial baseada em deep leaning é pequeno, uns poucos centavos de dólar por pesquisa.

Se o ChatGPT substituísse o Google da noite para o dia, o custo do fornecedor local deles para processamento na nuvem seria na casa do bilhão de dólares. Se fosse funcionar como mecanismo de busca, o ChatGPT ou qualquer outra ferramenta de IA não seria lucrativo o suficiente.

Claro que isso vale para hoje, mas em tecnologia existem três palavrinhas mágicas: Lei de Moore. Dentro de uns dois, três anos, talvez o custo por pesquisa seja tão baixo que o modelo de negócios de um ChatGPT desses da vida se torne viável, quem sabe?

Há um problema mais complicado que pode dificultar o surgimento de uma nova geração de competidores do Google: uma batalha legal - que se avizinha – sobre como essas IA foram treinadas.  

Por mais abrangente que sejam hoje as pesquisas de inteligência artificial, vasculhar bilhões de fontes e paginas na Internet, filmes, livros, imagens, textos, para construir um banco de dados e treinar ferramentas de IA, ainda que na fronteira das questões legais, ainda é aceitável.

Mas no dia que a OpenAI (dona do ChatGPT) e as demais ferramentas de IA começarem a ser exploradas comercialmente, a coisa muda de figura. Para onde vai a receita se o ChatGPT oferecer uma resposta claramente baseada nos artigos da Gartner ou do New York Times e cobrar por isso?

O Google hoje faz um jogo de semântica dizendo que não produz conteúdo, apenas aponta | indica onde está esse conteúdo e ganha $$$ com esse serviço através de anúncios. Porém, ferramentas de IA não apontam para nada, elas leem, aprendem, digerem e cospem o resultado reformatado.

A batalha pela propriedade intelectual envolvendo uma grande e ampla quantidade de fontes diferentes de informação, promete ser épica.

Qual a lição para os fundos de pensão?

É de se perguntar por que todos parecem ter descoberto o ChatGPT de uma hora para outra e de repente estarmos questionando a sobrevivência do Google.

Empresas como a McKinsey estimam que as tecnologias baseadas em deep learning têm potencial para causar disruptura daqui a dez anos, não hoje.  De forma semelhante, você não verá empresas de consultoria como Mercer, AON e WTW prevendo que a existência dos fundos de pensão estará ameaçada nos próximos anos.

Todas as principais firmas de consultoria estão no negócio de assessorar grandes organizações e governos a evoluir. Elas ajudam os clientes a absorver, incorporar e aprimorar as inovações que estão na moda sem perturbar o status quo.

Não é surpresa, portanto, quando você pesquisa sobre assuntos como OpenAI, ChatGPT, Dall.E ou desaparecimento dos fundos de pensão, que você não encontre nada.

Porém, os disruptores das bigtechs e dos fundos de pensão não surgem de um dia para o outro. Eles já estão entre nós e vêm se preparando para isso há anos, só que fora do alcance do radar.

A OpenAI foi fundada em 2015 e seu primeiro modelo de ferramenta de IA foi colocado no mercado em 2018. O lento surgimento das disrupturas estava à plena vista de todos. O stacking de cryptomoedas que vem sendo usado como investimento de longo prazo, existe pelo menos desde 2017.

O que está colocando em perigo a existência do Google e dos fundos de pensão, pela primeira vez na história, é sua incapacidade de mudar seus modelos de negócios, de lançar uma nova linha de produtos, serviços e planos que compitam com os atuais.

Lembram da história da Kodak? Do Blockbuster? Da Xerox? …

Pois é, essa é a lição.

Por melhor que as soluções atuais funcionem, elas criam uma cultura de complacência que acabará comprometendo a continuidade do negócio. Todo negocio muda em algum momento no tempo e se não muda, é mudado.

Ao não se prepararem com antecedência, ao darem de ombros para medidas como a incorporação de membros profissionais e independentes em seus conselhos, o nível de incerteza vai aumentar tanto na cúpula dos fundos de pensão, que quando precisarem abandonar o modelo de negócios atual, será tarde demais.   

   

Grande abraço,

Eder.


Fonte: The year the GAFAMs could disappear. Episode 1, Google, escrito por Phillipe Medda


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