domingo, 16 de abril de 2023

A CURIOSA CIÊNCIA CAPAZ DE FAZER MAGICA COM MARCAS, NEGÓCIOS E REDEFINIR O MODELO DE NEGÓCIOS DOS FUNDOS DE PENSÃO – PARTE 2

 


SE VOCÊ NÃO SABE O QUE VOCÊ QUER, VOCÊ TERMINA COM UM MONTE DE COISAS QUE VOCÊ NÃO QUER

(Autor desconhecido)
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PARTE 2 – A Tecnologia vem depois, antes vem o comportamento



De São Paulo, SP.

 

Se você chegar em uma possível solução que faça as pessoas pouparem para o futuro, mas que não seja por tê-las convencido com base na racionalidade, ninguém se sentirá confortável em acreditar nela.


Existem duas dificuldades para uma solução assim. Primeiro, porque ninguém olha nessa direção e segundo, porque se alguém acidentalmente encontrar uma solução dessa maneira, será tradado com suspeita.


Nas empresas não são apenas as pessoas mais experientes e mais velhas que se preocupam com o que se chama de validação processual, os jovens também se orientam por ela, perguntando: “chegamos lá por meios legítimos, seguindo os processos formais?” (convencemos racionalmente o camarada a poupar?).


Mas se você pensar bem, diante de um desafio desses, quem se importa como resolvemos o problema, não é verdade? A evolução é um processo da natureza baseado em tentativa e erro, um processo estocástico (se você quiser usar um termo sofisticado) que de certa forma é mentalmente aleatório.


As mentes inovadoras buscam soluções não convencionais, mas tem aquela frase maravilhosa de Keynes que ilustra bem a dificuldade para se inovar:

 

A sabedoria popular ensina que é melhor para a reputação falhar de forma convencional do que ter sucesso de modo não convencional

 

Nos próximos cinquenta anos o maior progresso para fazer as pessoas pouparem para ter um futuro melhor poderá vir, não dos avanços na tecnologia, mas dos avanços na psicologia e design thinking (soluções desenhadas com base no comportamento humano).


Isso terá grandes implicações econômicas e sociais, porque a economia está mais preocupada com a beleza intelectual de seus processos, do que propriamente com a solução de problemas da vida real.


Existe uma enorme quantidade de valores implícitos que não são capturados pelos modelos econômicos. Por exemplo, a compra de uma casa.


As pessoas são doutrinadas com a ideia de que a casa é o maior negócio que alguém vai fazer na vida. Se você chegar num banco e disser que quer um empréstimo de R$ 500 mil para comprar ações da IBM, eles vão te mandar passear, mas se for uma casa eles pedem para você se sentar e continuam a conversa.



As pessoas juntam algum dinheiro e então tentam conseguir um empréstimo imobiliário, somam os dois valores e começam imediatamente a procurar uma casa naquele preço. Se comprássemos carros desse jeito, provavelmente metade das pessoas estaria andando de Mercedez.


Não se compra carro assim. Ponderamos o quanto tempo usaremos o carro, para que vai servir, o quanto gostamos de carro e uma série de itens que tem a ver com qualidade. Não pensamos automaticamente “eu vou pagar o máximo que puder nisso aqui”.


A maiorias das pessoas poupa para o futuro da mesma forma que compram suas casas. Elas juntam o dinheiro que conseguem poupar a cada mês, sem se preocuparem na maioria dos casos se estão juntando demais ou de menos. Não fazem conta para estimar quanto $$$ precisarão no futuro, nem acompanham periodicamente para saber se estão no caminho certo ao longo da vida.


O problema é que os fundos de pensão não parecem conseguir contornar isso. Eles procuram ser eficientes no processo de poupar, reduzindo custos, coisa e tal, seguindo aquilo que os economistas defendem, que é a eficiência dos mercados.


Porém, o verdadeiro gênio do livre mercado não é a eficiência, mas sim a inventividade e essas duas coisas são antagônicas. Quando você tem cinco fundos de pensão fazendo de modo muito eficiente a mesma coisa, isso é um desperdício extraordinário.


Isso deveria os forçá-los a procurar diferenciar suas ofertas, tentar uma abordagem diferente, um novo produto, abocanhar uma fatia específica do mercado.


O que produz os verdadeiros ganhos do capitalismo é o fato das pessoas serem forçadas continuamente a serem inventivas, criativas, para escapar da estreita armadilha de ser eficiente.


Eficiência de certa forma está em desacordo com inventividade. Vamos combinar, negócios baseados no controle econômico podem ser muito, muito eficientes, mas não espere que descubram uma maneira melhor de fazer o que fazem.


Quando eficiência se torna sua vantagem competitiva, você não consegue mais crescer cortando custos e você não descobre mais nada particularmente interessante. Você se torna mais e mais parecido com seus concorrentes, isso destrói valor no segmento. Sabe aquela história de todo mundo implantar plano família? Pois é ...


Existem fundos de pensão que são bastante eficientes, mas se não criarem novas soluções, não inovarem, não encontrarem um novo modelo de negócios, vão caminhar para o desaparecimento.


Jules Goddard, professor da London Business School, diz que “estratégia é a capacidade de permanecer um passo à frente da necessidade de ser eficiente”.


A falácia do porteiro e o fomento à previdência complementar



Planos de contribuição definida são um veículo de previdência complementar? São, claro. Educação financeira ajuda as pessoas a poupar para a aposentadoria? Sim ajuda, mas depender apenas de um único meio para mudar o comportamento das pessoas e fomentar a previdência complementar, faz lembrar a falácia do porteiro.


Consultores de gestão ou consultores de previdência complementar tendem a raciocinar como engenheiros. Quando você aponta para determinada coisa em engenharia e pergunta "para que serve isso?", você obtém uma resposta única.


Quanto melhor for o resultado produzido, melhor será aquela coisa, mas sistemas complexos não funcionam assim. Convencer as pessoas a poupar para a aposentadoria envolve lidar com um sistema complexo.


A falácia do porteiro emerge da quantificação, de uma forma muito particular e perniciosa que é definir uma pessoa que tem uma função muito limitada.


Uma equipe de consultores entra em um hotel e pergunta: “O que o porteiro faz e qual o custo dele?”. A resposta é: O porteiro custa X. Ele abre a porta.


Bem, num nível muito básico o trabalho de um porteiro é esse mesmo. Então, o que os consultores fazem, eles entram em contato com seus parceiros de tecnologia (talvez recebendo um rebate das vendas), demitem o porteiro e o substituem por uma porta de correr automática, controlada por um mecanismo de detecção de movimentos infravermelho.


Eles explicam para o cliente que o custo será amortizado ao longo de tantos anos e isso representará uma economia de milhares de $$$. Contentes da vida com o fato de terem substituído um ser humano com uma peça de tecnologia, aumentado a eficiência e economizado para ao cliente, eles terminam o projeto, embolsam honorários gigantescos e vão embora.


Seis meses depois dos consultores terem ido embora, o nível de satisfação dos hospedes cai 50% e surge um monte de moradores de rua dormindo na frente do hotel porque, claro, o porteiro tinha múltiplas funções.


Se você quer ser um hotel de luxo e cobrar diárias de um cinco estrelas, você precisa de um porteiro que chame taxis, ajude na segurança da entrada, dê a dica para o atendimento na recepção sobre hospedes problemáticos, ajude no desembarque das malas, empreste o isqueiro etc.


O porteiro estava desempenhando um montão de funções e agregando valor de inúmeras outras maneiras, além de simplesmente abrir a porta.


Esse reducionismo ao estilo da engenharia visa tornar as funções juniores todas iguais e substituíveis, porque as define de maneira muito estreita tornando desnecessário pagar um prêmio pela experiência.


Não há necessidade – e isso cria empregos nos quais você não precisa pensar, que são desagradáveis, porque não há realmente potencial para melhorar a forma de fazer as coisas, você não tem a liberdade ou poder de discrição para descobrir melhores maneiras de fazer as coisas.


Alguém definiu isso como estar “abaixo do debaixo”, i.e., reduzir os trabalhos com menores remunerações a funções muito, muito estreitas. Essa urgência de reduzir tudo a sistemas mais simples, mesmo as coisas que não podem ou não devem ser reduzidas é muito ruim e por diferentes motivos, pode ser catastrófico para os fundos de pensão.


Um carteiro bom é incomparavelmente melhor do que um carteiro ruim. Ter sempre o mesmo carteiro é 10 vezes melhor do que ter uma firma de entrega (courrier) sempre com um motorista diferente, que não acha sua casa e não se dá ao trabalho de procurar nem de perguntar na redondeza.


O reducionismo nos fundos de pensão, a definição estreita dos fatores envolvidos na busca de melhores soluções para ajudar as pessoas a pouparem para o futuro, tema ver com eficiência, não com a melhor forma de faze-lo.



Grande abraço,

Eder.



Fonte: Essa série foi produzida a partir do episódio do Podcast Hub Dialogues no qual Sean Speer entrevista Rory Sutherland – Vice-presidente da agência de propaganda Ogilvy, sobre: “Porque é razoável ser irracional: a força surpreendente das ideias que não fazem sentido”. (Why it’s reasonable to be irrational: Rory Sutherland on the surprising power of ideas that don’t make sense).


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