A robótica humanoide está rapidamente deixando o campo da ficção científica para se tornar uma realidade tangível em diversos setores. Iniciativas recentes exemplificam esse avanço: a implementação do robô Digit pela Amazon em seus centros de distribuição nos EUA, a adoção de robôs humanoides pela Mercedes-Benz em suas linhas de produção na Alemanha e os robôs policiais na China.
Em outubro de 2024 resolvi participar do 8º Concurso de Monografias organizado pela PREVIC – Superintendência Nacional de Previdência Complementar.
Menos pelo prêmio de R$ 10 mil, que considero simbólico, mais pela possibilidade de contribuir com uma sugestão que visa preencher a lacuna existente no Brasil:
Produtos unindo previdência complementar e cobertura de saúde
O título da monografia de 25 páginas, que enviei foi Contas de Poupança com Cobertura de Saúde: Fazendo Benchmark com Antoine-Laurent de Lavoisier.
Optei pela categoria Fomento, Educação Financeira e Inscrição Automática, porque mais se alinhava com o objetivo da iniciativa da PREVIC: estimular a pesquisa e a elaboração de trabalhos técnicos sobre previdência complementar fechada.
Essa foi a Introdução da monografia 👇
Muitas vezes, responder ao desafio da inovação não requer necessariamente inventar algo inédito, algo genial. Você pode causar disruptura apenas fazendo benchmark de algo que já existe e adaptar determinada solução à circunstâncias, geografia e cultura especificas.
Não por acaso, o título desse trabalho sugere fazermos benchmark usando os ensinamentos de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794).
Lavoisier foi responsável por grandes feitos, como o Tratado Elementar de Química publicado em 1789, no qual apresentou uma nomenclatura moderna para os elementos químicos, até então baseados na linguagem obscura da alquimia.
Contudo, entrou para a história por ter enunciado a conhecida lei de conservação da matéria ou lei de conservação das massas, cujo enunciado real (que difere um pouco do conhecido popularmente) foi:
“Em todas as operações da arte e da natureza, nada é criado: uma mesma quantidade de matéria existe antes e depois do experimento. Neste princípio se baseia toda a arte da experimentação em química”
A lei de conservação da matéria de Lavoisier tem alcance muito além da química. Esse trabalho está pegando-a emprestado para abordar o desenvolvimento de uma solução que une previdência complementar e saúde.
O momento dos diagnósticos e das consequências advindas das transformações demográficas no Brasil, já passou. O acelerado envelhecimento da população brasileira, na esteira do aumento incessante da longevidade ao longo do último século, é fato abordado na mídia “ad nauseam”.
Soluções práticas, no entanto, tem se mostrado escassas, senão, inexistentes. Diante do infinito tic-tac que marca a passagem do tempo, a urgência não é por inovações e produtos teóricos, mas sim práticos, reais, para nosso dia a dia. Esse trabalho oferece uma possibilidade.
A monografia foi dividida nos seguintes itens 👇
Alta longevidade + baixa fertilidade = desastre demográfico
Como funciona o Health Spending Account (HSA) nos EUA
Comparação entre HSA e Flexible Spending Accounts(FSA)
Conta de Poupança com Cobertura de Saúde: Por que não?
Lavoisier teve um fim trágico durante a revolução francesa. Em 08 de maio de 1794, aos 51 anos de idade, foi morto na guilhotina. A frase que o célebre matemático francês, Joseph-Louis Lagrange disse quando soube de sua morte, resume bem o acontecido e suas consequências:
“Só um minuto para cortarem aquela cabeça e talvez cem anos não nos deem outra igual”
Quem sabe os atuais governantes, responsáveis pela previdência complementar brasileira, possam se inspirar nessa incrível história e no gênio de Lavoisier, para criar as condições legais para o surgimento de uma solução | produto similar aos HSAs, como seria o caso das Contas de Poupança com Cobertura de Saúde, tão necessárias para nossa população.
As leis servem para regular mercados já existentes, mas também tem o condão de fomentar e incentivar o surgimento de novos mercados.
Essa oitava edição do prêmio PREVIC de monografias pode fazer história, alavancando uma ideia simples, mas poderosa, que já existe no mercado americano, contribuindo para que na população tenha um futuro mais saudável e financeiramente mais tranquilo, com ajuda da previdência complementar.
Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o volume de receitas que o governo estaria abrindo mão anualmente ao oferecer incentivo fiscal para as Contas de Poupança com Cobertura de Saúde, seria infinitamente menor do que os gastos que o governo teria com o SUS – Sistema Único de Saúde, caso nāo exista uma solução semelhante aos HSAs, diante de uma enorme parcela da população com idade média acima de 65 anos. “ALEA JACTA EST”.
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Contas de Poupança com Cobertura de Saúde – Fazendo Benchmark com Antoine-Laurent de Lavoisier”, escrito por Eder C da Costa e Silva.
Ninguém gastaria dinheiro com um modelo de IA Generativa que respondesse “nāo sei”, mas essa pode ser a característica mais importante que você deveria saber, antes de ir em frente.
Em 2023 dois advogados de uma firma de assessoria jurídica submeteram uma petição ao juiz P. Kevin Castel, da Corte Distrital Sul de Nova York, fazendo citação a casos e decisões inexistentes. Eles não sabiam que as citações que usaram, haviam sido inventadas pelo ChatGPT.
O juiz Castel descobriu e aplicou sanções não apenas aos advogados, mas principalmente à firma onde eles trabalhavam, que se comprometeu a contratar externamente um programa de educação continuada em IA para ensinar, treinar e capacitar - compulsoriamente - seus advogados, no uso da tecnologia no local de trabalho.
Quão prevalente tem sido o uso de IA no escritório? De acordo com uma pesquisa da Pew Research Center, feita em outubro de 2024, cerca de 16% dos empregados adultos fazem parte de seu trabalho usando IA e outros 25% dizem que seu trabalho poderia ser feito usando IA.
Esses números são significativamente maiores para empregados jovens, o que significa que o uso de IA devera aumentar.
Se o seu fundo de pensão nāo tem uma política de uso da IA, está enterrando a cabeça na terra feito avestruz e está sujeito ao risco de ser acusado de negligência por erros causados no desempenho de suas obrigações com uso de IA.
Por outro lado, uma política de IA nāo pode ser muito restritiva e não pode ter efeito inibidor na utilização de IA pelos funcionários. A IA tem potencial enorme para desempenhar tarefas sofisticadas com maior acurácia e mais rapidamente do que antes.
Criando uma Política de IA
Qual a melhor maneira de elaborar uma política que leve em consideração os riscos de uso da IA no seu fundo de pensāo, sem fechar as portas para as oportunidades? Aqui vai um roteiro:
Faça uma pesquisa: qualquer um pode acessar o o Google e fazer download de uma política de IA na Internet ... ou até pedir ao ChatGPT para escrever uma. Mas uma política de IA precisa ser customizada ao uso específico da IA no caso do seu fundo de pensão. Do contrário, terá pouca utilidade prática para seus empregados. Peça aos gestores para pesquisar os funcionários (anonimamente), convocar pequenos “focus groups” para identificar casos de uso específicos que deveriam ser abordados na política de IA. Deixe claro que não haverá recriminações sobre o que for descoberto. Isso aumentara a probabilidade dos empregados serem honestos. Reporte o resultado para o conselho.
Obtenha apoio da liderança: o conselho “comprou” a ideia de desenvolver e implementar uma política de IA? Caso positivo, como está transmitindo esse apoio internamente? Vai ser difícil os funcionários levarem a política de IA a sério, se não houver apoio visível do topo. Os funcionários podem subutilizar a IA, com receio, levando a empresa a ficar para trás em comparação com os demais fundos de pensão que utilizam a IA de forma responsável. Ou podem ir na direção contraria, usando IA sem orientação suficiente, colocando a organização e a eles próprios em risco.
Crie um Comitê de IA: Nenhum profissional sozinho é capaz de cobrir todos os aspectos da IA, mesmo nas organizações de complexidade mínima. Além do apoio vertical, a política de IA precisa de insights horizontais de todas as áreas. Apesar da responsabilidade de redigir a minuta de uma política de IA ser, frequentemente, do departamento jurídico, é preciso obter inputs das equipes de tecnologia, operações, finanças, investimentos, gestão de riscos, segurança cibernética, privacidade de dados e potencialmente, outras áreas. Um comitê que se reúna no mínimo mensalmente e compartilhe experiencias sobre as inovações e desenvolvimentos mais recentes, ajudaria ao menos durante a elaboração da política. O coordenador do comitê de IA apresentaria reportes regulares ao conselho.
O bom é inimigo do ótimo: não existem especialistas de verdade em IA, Trata-se de um campo muito dinâmico. Após revisar o resultado da pesquisa interna, obtenha feedback dos stackeholders sobre a linguagem e a minuta da política. Aprove uma política curta, objetiva e compreensível, que possa ser revisada periodicamente e atualizada quando necessária. A criação de vários grupos de trabalho, uma análise abrangente de todos os modelos de IA generativos, incluindo aqueles que os funcionários nem sequer utilizam, poderá levar um ano ... e provavelmente já estará obsoleta no momento que for aprovada.
Faça o uso da IA ser divertido ou pelo menos interessante: Focar em compliance é a abordagem errada e poderá inibir inovações. O conselho deve incentivar o uso experimental e seguro na medida que os funcionários forem aprendendo como usar a IA incluindo fora do trabalho. Por exemplo, crie um concurso de culinária com IA ajudando a preparar receitas a partir de prompts que usem determinados ingredientes. Os funcionários conseguirão ver valor no uso de IA e transpor a experencia para o ambiente de trabalho.
O conselho deliberativo deve rever e aprovar a política de IA, da mesma forma que se faz com o código de ética e com outras políticas críticas que os fundos de pensão modernos implementam.
Durante décadas nós, atuários, fomos reverenciados como mestres da previsão. Com nossas tábuas de mortalidade, fórmulas de capitalização e ferramentas estatísticas, modelamos o futuro de milhões. Sabíamos quando as pessoas iam morrer — ou pelo menos, presumíamos saber. Mas talvez tenha chegado a hora de encarar uma verdade incômoda: a ciência atuarial está estagnada. E como toda ciência que para de questionar a si mesma, começa a tropeçar em seus próprios limites.
Como na física — que parece ter se enredado num labirinto teórico de hipóteses inalcançáveis — a atuária parece hoje presa a paradigmas envelhecidos. Paradigmas que funcionaram bem num mundo onde se morria aos 70, mas que se mostram cada vez mais insuficientes num século em que supercentenários (pessoas que vivem mais de 110 anos) começam a deixar de ser exceções curiosas e bizarras, para se tornarem uma nova realidade estatística.
Tábuas anacrônicas, futuro incerto
As tábuas atuariais continuam tentando descrever o comportamento da morte como se ela obedecesse a uma lógica de regularidade. Mas a morte — assim como a vida — se tornou cada vez mais errática, imprevisível e distante. O problema? Em parte, dados. Ou melhor, a ausência deles. Quando um modelo estatístico é baseado em informação histórica, ele necessariamente projeta o futuro como um prolongamento do passado. Mas e se o futuro biológico da humanidade e o limite da vida humana, não forem uma linha, e sim uma curva exponencial alimentada por avanços em biotecnologia, inteligência artificial, nanotecnologia, neurociência, robótica …?
A maioria dos modelos atuariais atuais não tem o que dizer sobre os 110, 115 ou 120 anos. Não porque esses anos não existam, mas porque quase não temos registros confiáveis de quem os viveu. E quando temos, são números esparsos demais para alimentar uma modelagem robusta. Isso faz com que, na prática, as projeções de longevidade se tornem um exercício de fé estatística, e não de ciência.
Previdência em xeque
Se a física contemporânea parece cada vez mais incapaz de explicar o “real”, a atuária parece cada vez menos capaz de garantir a “segurança financeira futura”. Como desenhar planos de previdência complementar que ofereçam segurança para vidas que talvez durem 30 ou 40 anos além do que os próprios planos previram? Como assegurar a solvência de fundos quando as bases atuariais sobre as quais foram construídos começam a ruir silenciosamente?
Aqui surge um paradoxo: a tecnologia que prolonga a vida é a mesma que desafia os modelos que garantem a sua dignidade econômica. A medicina personalizada, as terapias genéticas e a possível reversão do envelhecimento biológico são grandes promessas — mas cada ano extra de vida representa um ano extra de pagamento de benefícios, um ano a menos de arrecadação, um ano a mais de incerteza atuarial.
O fim da previsibilidade?
Credito de Imagem: Adobe Stock
Talvez o maior desafio da ciência atuarial contemporânea seja filosófico. Assim como a física vive um impasse entre a beleza matemática de suas teorias e sua incapacidade de serem testadas empiricamente, a atuária vive entre a elegância de suas fórmulas e sua desconexão com a realidade em rapida mutação.
A previsão de riscos exige premissas. Mas quando as premissas são frágeis — e a mais frágil de todas é a suposição de que podemos prever a longevidade com base no passado — a previsão se transforma em miragem.
E agora?
É preciso repensar. Incorporar incertezas radicais aos modelos. Simular cenários extremos que hoje soam como ficção científica, mas que podem ser o “business as usual” de amanhã. Olhar para a longevidade não como uma curva suave, mas como uma cadeia de rupturas. E, sobretudo, aceitar que o papel do atuário no século XXI talvez não seja mais “prever com minima precisão”, mas sim “projetar com humildade”.
Porque, no fundo, o que está em jogo não é apenas a sustentabilidade dos fundos de pensão. É a capacidade de uma ciência de se reinventar diante de um futuro que insiste em não se deixar calcular.
A ciência atuarial parou no tempo?
Enquanto a tecnologia corre, a atuária caminha. Ou melhor: tropeça.
Você já parou pra pensar que os atuários, esses mestres da previsão, podem estar sendo enganados por sua própria régua? Pois é. Eles ainda usam tábuas de mortalidade criadas dois séculos atrás. Mas o mundo mudou. A atuária … nem tanto.
Modelos ultrapassados, futuros imprevisíveis
Crédito de Imagem: www.elearning.strathmore.edu
A ciência atuarial segue tentando prever quanto tempo as pessoas vão viver — só que com dados antigos e, principalmente, sem dados sobre quem vive muito mais do que a média. Afinal, quantas pessoas com mais de 110 anos têm a certidão de nascimento à mão? Quando tem, será que é fidedigna? Sem essas provas, não tem como calibrar os modelos. Resultado? A tábua “dá tilt” justo onde ela deveria ser mais útil: na modelagem da mortalidade nas idades extremas.
Vida longa demais pro Excel acompanhar
Enquanto isso, lá fora: biotecnologia, IA, robôs cuidadores, impressoras 3D de órgãos e talvez até pílulas para rejuvenescer células. Sim, estamos entrando numa era em que viver até os 150 pode virar o novo 80. E os planos de previdência? Foram desenhados pra uma humanidade que vivia menos, se aposentava cedo e morria rápido.
O rombo invisível
Quanto custa viver mais? Muito. Exatamente por isso os fundos de pensão, que precisavam pagar aposentadorias por décadas a mais do que planejaram nos planos BD, deixaram de fazê-lo nos planos de previdência complementar atuais. Ainda por cima, com menos gente nova entrando no sistema. Qual o resultado? Um baita risco de colapso silencioso. Porque o risco não é só viver mais — é viver mais sem dinheiro.
Prever o imprevisível ou encarar o caos?
A verdade é dura: a atuária não consegue mais prever com segurança um futuro que não se parece com o passado. E talvez o papel do atuário precise mudar. Trocar a “certeza matemática” por “gestão de incertezas radicais”. Parar de procurar por uma fórmula mágica e começar a navegar cenários onde a pergunta não é mais “quanto tempo vamos viver?”, mas sim “como vamos garantir dignidade até lá?”
A ciência que nasceu pra trazer segurança virou refém de um futuro que não cabe mais nas suas planilhas. Está na hora da atuária acordar, abandonar o piloto automático e enfrentar o imprevisível de frente.
Depois do advento dos planos de previdência complementar chamados no Brasil de contribuição flexível, ali por volta do final dos anos 80, começo dos anos 90, receber um benefício de aposentadoria passou a significar - para a maioria as pessoas - converter o saldo da poupança acumulada, em uma renda vitalícia (a ser recebida até morrer).
Com o surgimento dos planos de contribuição definida (CD) puros, que passaram a dominar o cenário dos fundos de pensāo a partir do final dos anos 90, as pessoas que chegam na idade de aposentadoria não contam mais com a opção de renda vitalícia.
Em troca, passaram a ter uma liberdade maior de escolha sobre o que fazer com sua poupança acumulada. As alternativas para recebimento de renda se multiplicaram, com opções podendo ser: (i) escolha de um percentual do saldo remanescente (ex.: 0,5%, 1,0% ... 2,5%); (ii) definição de um período fixo (5 a 20 anos); (iii) fixação de um valor nominal, pré-determinado, em Reais; (iv) alteração anual dos percentuais e/ou do numero de anos e/ou do valor e/ou da própria forma de recebimento mencionadas nos itens anteriores.
Junto com essa enorme flexibilidade de escolha, veio uma responsabilidade maior. De repente, as pessoas ficaram expostas a uma série de riscos envolvendo o que, para muitos, será a maior decisão financeira de suas vidas.
A maioria das pessoas chega na data de aposentadoria tendo acumulado um saldo de poupança por inércia, i.e., com falta de engajamento durante a carreira, sem projetar o benefício que deverão receber na aposentadoria.
Assim, poucos estão preparados para tomar decisões tão importantes e complexas, que requerem equilibrar longevidade, inflação e riscos dos investimento, para garantir que desfrutem de uma aposentadoria confortável, não ficando sem dinheiro antes de morrer.
Sem apoio especializado, nāo surpreende que a maioria das pessoas esteja assumindo riscos financeiros ao tomarem decisões ruins. Pesquisa feita em março de 2020 pela FCA – Financial Conduct Authority (a CVM do Reino Unido), mostrou que 1/3 das pessoas que tiveram acesso a sua poupança acumulada quando se aposentaram, resgataram parte do saldo e mantiveram o montante em dinheiro parado no banco, inevitavelmente, perdendo o retorno dos investimentos.
Esse é um problema urgente. Milhões de pessoas da geração Baby-boomer e da Geração X estão prestes a se aposentar nos próximos anos e não têm tempo para poupar mais. Há uma clara necessidade desses participantes receberem ajuda e assistência num estágio crucial de suas vidas, que é a entrada em aposentadoria.
É vital pensarmos em uma regulamentação que leve os fundos de pensāo e seguradoras a fornecer assessoria para as pessoas durante toda a fase de recebimento da renda de aposentadoria, assegurando a otimização do benefício durante a desacumulaçāo.
Essa é a única forma de impedir que as pessoas entrem em default, ou seja, se tornem inadimplentes consigo mesmas – o que ocorre quando acaba a renda de aposentadoria e ainda sobre tempo de vida pela frente. Isso acontece atualmente com mais da metade (56%) das pessoas que se aposentam em planos CD.
A solução para o “elefante na sala”: desacumulaçāo
Há cerca de 40 anos, desde que comecei a trabalhar no setor de previdência complementar, que meu proposito tem sido ajudar as pessoas a terem uma renda decente de aposentadoria.
Apesar do progresso das últimas décadas, o alcance dos fundos de pensão no Brasil ainda é limitado. Além disso, existe uma desconexão entre os produtos oferecidos e a segurança financeira futura almejada pelas pessoas.
Muita gente, inclusive eu, gostaria de ver mais pessoas obtendo apoio completo de seus fundos de pensāo e seguradoras durante o longo período de desacumulaçāo (fase de aposentadoria).
Por isso, venho cutucando, provocando, tirando da zona de conforto, tecnocratas, conselheiros de fundos de pensão, diretores de patrocinadoras, executivos de seguradoras e dirigentes de associações de aposentados.
Na fase de acumulação da poupança, ao longo da carreira, as soluções de investimentos disponibilizadas pelos planos CD funcionam para todo mundo porque as pessoas, de certa forma, estão procurando a mesma coisa, As pessoas estão tentando acumular o maior saldo de poupança possível, através de bons retornos dos investimentos, baseadas em seu perfil de risco.
Porém, uma vez que entram na fase de desacumulaçāo dessa poupança, tudo muda, porque cada individuo tem uma situação especifica e às vezes até a situação financeira de cada um pode mudar.
Pessoas diferentes têm necessidades diferentes, o que funciona para uns pode não ser o ideal para outros. Apesar de não ser possível oferecer uma única solução que seja perfeita para todos, os planos de previdência complementar corporativos deveriam, ao menos, proteger os poupadores de decisões que sabemos podem ser prejudiciais.
Devido à grande gama de opções disponíveis para recebimento da renda mensal, calculada a partir da poupança acumulada em planos CD, nāo surpreende vermos decisões “sub-otimizadas” sendo tomadas pelos participantes.
Fundos de pensão e seguradoras deveriam ser capazes de oferecer produtos flexíveis, que permitam aos participantes mudar sua abordagem conforme sua circunstância mude, mitigar grandes oscilações no nível de renda que recebem e abordar questões relacionadas à proteção contra a longevidade.
O que uma regulamentação deveria cobrir
Credit de Imagem: StockCake
O foco deveria ser o suporte aos indivíduos no ponto de acesso ao benefício de aposentadoria, ou seja, na data em que precisam definir a forma de recebimento do benefício de renda mensal.
Independente do tipo de operadora de previdência complementar, i.e., se fundos de pensāo (entidades fechadas) ou seguradoras (entidades abertas), os elementos-chave de uma regulamentação de apoio aos participantes na desacumulaçāo deveriam:
Exigir orientação e informação aos poupadores durante toda a jornada de desacumulaçāo, i.e., a fase de aposentadoria, seja com soluções internas ou externas ao plano, melhorando a experiencia de aposentadoria dos participantes;
Estabelecer um conjunto de padrões mínimos de produtos a serem oferecidos aos aposentados como parte do plano de previdência complementar, endereçando os numerosos e complexos riscos enfrentados na fase de recebimento da renda de aposentadoria, a serem disponibilizados pelos planos, pois as operadoras são mais capazes do que os poupadores para negociar esses riscos;
Requerer padrões mínimos de governança, essenciais para sustentar o design e a entrega dos elementos acima mencionados;
Impor a todos os conselheiros e administradores de planos de previdência complementar corporativos (fundos de pensão e seguradoras) a responsabilidade de oferecer produtos e serviços de desacumulação aos participantes, no “ponto de acesso” à renda de aposentadoria, com qualidade e preço adequados;
Exigir que os planos CD criem uma solução padrão de recebimento da renda (por exemplo, simplesmente pagando o montante fixo em dinheiro que é isento de impostos), com base no perfil geral de seus participantes. O participante seria colocado automaticamente nessa opção padrão, ao ter acesso à sua poupança de previdência, caso nāo fizesse uma escolha ativa sobre como receber a renda de aposentadoria;
Permitir acordos de parceria direta ou indireta entre fundos de pensão, seguradoras, fintechs e outras organizações, para fornecer uma ampla gama de serviços de desacumulaçāo aos participantes; e
Criar mercados que permitam o desenvolvimento de produtos para a fase de desacumulação, como o óbvio e ainda ausente no Brasil, mercado de anuidades (rendas vitalícias).
A legislação deveria exigir que os planos de previdência complementar corporativos - administrados por fundos de pensão e seguradoras – ofereçam, verdadeiramente, produtos de previdência. Assim, as pessoas teriam uma renda na aposentadoria e não apenas uma reserva de poupança, quando pararem de trabalhar.
A previdência complementar deveria ser obrigada a focar no recebimento da renda pelo aposentado, nāo apenas na acumulação de um saldo de poupança.
A legislação deveria, ainda, atribuir aos conselhos deliberativos dos fundos de pensão a responsabilidade fiduciário de oferecer não apenas uma solução ou uma gama de soluções de renda, mas também orientação ao participante durante o longo período de aposentadoria, constantemente otimizando essa renda.
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Estima-se que nos próximos 20 anos, mais de 40% dos aposentados dependerão, como única renda na aposentadoria, da poupança acumulada em planos de previdência complementar do tipo contribuição definida.
Para cumprir com seu dever fiduciário, fundos de pensão e seguradoras deveriam disponibilizar aos aposentados soluções de gestão permanente da renda de aposentadoria, do tipo “faça para mim” ou “faça comigo” e nāo como hoje, no estilo “faça sózinho” ou “se vire”.
Em suma, operadores de planos de previdência complementar deveriam, simplesmente, oferecer aos aposentados o conjunto de soluções de desacumulaçāo mais adequado às suas circunstâncias, tudo integrado no plano de previdência complementar, como um produto único.
Credito de Imagem: www.essential.com.br
Fundos de pensāo e seguradoras (alô @abrapp, @apep e @fenaprevi) poderiam, voluntariamente, desenvolver soluções de desacumulaçāo para melhorar seus produtos e serviços atuais.
Políticas publicas de previdência complementar (alô @ministériodaprevidência e @cnpc) poderiam encorajar o desenvolvimento de inovações, fornecendo orientações ao mercado para atingir esses objetivos, sem a necessidade de legislação.
Grupos de representantes dos aposentados (alô @ANAPAR), como as associações que existem aos montes, poderiam consultar seus membros sobre a gama de produtos e serviços de desacumulaçāo que eles precisam.
Mas se isso nāo aconteceu até aqui, a única forma de fazer isso é mesmo através de regulamentação (alô @camaradosdeputados, @senado e @congressonacional).
O plano de previdência complementar que se preocupa apenas com a fase de acumulação da sua poupança, mas não te ajuda na fase de desacumulação, quer seu dinheiro, nāo seu bem-estar ...
Semana passada entrei numa nova onda de memes de IA que viralizou na Internet e que está sendo chamado de “Barbie Box”, algo como “Barbie na Caixa (de Boneca)”.
Basicamente, o ChatGPT transforma você em um daqueles bonequinhos de brinquedo para crianças acima de 4 anos de idade. Tudo que você precisa, é fazer o upload de uma foto sua de corpo inteiro e de alguma criatividade.
Forneci a foto abaixo para o ChatGPT.
Você pode ser específico, informando ao ChatGPT suas preferências de roupa, pose, expressão, acessórios, estilo (retrô, moderno) – pode fornecer nome e título para o bonequinho ou pode ser vago.
Optei por ser mais para vago e usei o prompt abaixo, em inglês:
Inglês:“Create an Action Figure of me based on this uploaded photo featuring a “Pensions’ Un-boring” figure. I’d like my outfit to look like an airline pilot pose, a capitain hat, and a retro packaging style”
Português: “Crie um bonequinho de mim baseado na foto que estou fornecendo, reproduzindo a figura de um ‘Deschatizador da Previdência Complementar’. Eu gostaria que minha roupa fosse de um piloto de avião, com quepe de capitão numa embalagem com estilo retrô”.
A IA criou essa figura abaixo.
Não gostei muito da primeira versão porque veio sem o quepe, então, pedi para ajustar. A segunda tentativa acrescentou o quepe e de quebra, colocou uma gravata. Gostei , mas a aparência facial da nova imagem (a seguir) ainda soava muito artificial.
Então tentei de novo e a terceira versão do bonequinho ficou com o rosto mais realista, sem jeito de boneco de plástico.
Nāo se pode esperar perfeição e quanto mais você pedir modificações, mais esquisito fica o resultado. Na última tentativa (acima) fiquei parecendo uma versāo piorada do Russel Crowe, de óculos.
Todo o exercício me fez refletir sobre o que é a IA e como nós - seres humanos criativos - devemos interagir com ela. Isso me levou a escrever o texto que segue.
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A IA está engolindo o trabalho e claramente, tem grande apetite.
Primeiro, devorou o Excel. Triturando números, cuspindo tabelas dinâmicas e transformando analistas de dados em “clicadores” de botões.
Porquê? Porque planilhas são o alimento da IA: estruturadas, previsíveis, prontas para automação.
Depois, veio o Word. Minutando relatórios, elaborando contratos, até melhorando nossa prosa e estilo de escrever. A IA mantém tudo sobre controle, deixando analistas e gestores imaginado o que sobrou.
PowerPoint? Está no início. Elaborar slides requer talento, narrativa, aquela centelha humana que a IA não consegue imitar... ainda.
Uma apresentação de PowerPoint envolve persuasão, tem a ver com tomada de decisões, relacionamentos e como você conta uma história.
Isso nos leva a uma grande transformação no mundo do trabalho, que muitos não querem reconhecer. O trabalho vem se tornando mais e mais repetitivo, menos racional, mais orientado por processos. Já notou como a palavra compliance se tornou comum?
O emprego atual tem menos a ver com intuição, imaginação, relacionamento, julgamento, parcerias, ideias, carisma, empatia.
O emprego e o trabalho hoje em dia têm mais a ver com padronização, dados, otimização, gestão de riscos, burocracia, regras, rigor.
De certa forma, a melhor maneira de proteger sua função num futuro com mais IA e uma cultura baseada em lógica, mensuração, KPIs e dados, é descobrir como não ser transformado em um robô.
Muitas perguntas, poucas respostas
O problema com Inteligência Artificial – ou pelo menos a razão de nem os especialistas saberem o que vai acontecer – nāo é desconhecermos como ela vai mudar nossa realidade.
É fácil entender que a IA é uma tecnologia com alcance e implicações diferentes das inovações que experimentamos até aqui.
O problema é que estamos na fronteira entre dois mundos e ninguém consegue traçar um esboço claro de como um emerge do outro.
Como resultado, quase um século depois dos primeiros experimentos com IA terem surgido, ainda não sabemos o que esta obra-prima da tecnologia significa para a nossa compreensão da realidade.
Não nos faltam previsões do que vai acontecer. Qual delas é de sua preferência, é uma questão de gosto ou de sua inclinação filosófica, porque as previsões não podem ser submetidas a testes experimentais.
Conforme brincou certa vez o físico N. David Mermin, falando sobre “teoria quântica”, algo que cai como uma luva para o futuro da IA:
“Novas opiniões aparecem todo dia. Nenhuma delas desaparece”
O que é IA?
IA é sexy (como diria o @lucasnobrega, da EnergisaPrev). IA está aprofundando a desigualdade, transformando o mercado de trabalho e destruindo a educação, diriam outros.
A IA alavancará a economia. A bolha da IA está prestes a estourar. A IA trará abundância e levará a humanidade a florescer no universo, ouve-se por aí.
A IA nos matará a todos ...
Sobre o que diabos todo mundo está falando?
Inteligência Artificial é a tecnologia mais top do nosso tempo, mas o que é ela? Parece uma pergunta estúpida, mas respondê-la nunca foi tão urgente.
A resposta pode ajudar a entender a razao de ninguém saber o que vai acontecer, por que todo mundo discorda e por que deveríamos nos importar com isso, dado a velocidade com que vem evoluindo.
Em apenas dois anos (2022-2024) a IA progrediu assim:
Ferramenta nāo é habilidade
O que o advento da IA significa para pessoas que ganham a vida trabalhando com palavras, imagens, sons e ideias?
O medo não declarado que as pessoas sentem, mas raramente externam, tem a ver com procurar constantemente se manter à frente do que a IA pode fazer. As pessoas estāo usando IA (e muito!), mas mesmo assim estão preocupadas.
Na medida em que mais e mais ferramentas sāo desenvolvidas e se tornam disponíveis, as pessoas sentem que estāo numa corrida contra uma força que é, de longe, muito mais poderosa do que elas.
Mas o trabalho cognitivo e criativo não deveriam ser uma corrida – o ponto da tecnologia não é esse. O conhecimento não é movido por eficácia, ele é movido por “expressão”.
A evolução profissional e artística não tem a ver com dominar todas as técnicas e tendências. Tem a ver com levar você de quem você é hoje para quem você será amanhã.
Ao invés de querer correr mais depressa do que os robôs, devemos explorar o que já fazemos bem e usar novas ferramentas para realçar isso.
A IA não é o fim do trabalho cognitivo nem do trabalho criativo.
A IA é mais uma superfície a ser moldada e as pessoas que vão moldá-la não são as que têm as melhores ferramentas. São as que nunca perderam de vista quem elas são.
Quando criamos algo com um propósito, nós projetamos. Nāo é um acidente. O cabo de um machado é projetado e assim também é uma ponte ou viaduto.
Algumas coisas, no entanto, sāo desenhadas. As impressões digitais do designer estāo por toda parte. As fontes rebuscadas (tipos de letra do MS-Word), as curvas e enormes áreas envidraçadas nas obras de Niemeyer, estāo lá para quem se der ao trabalho de prestar atenção.
Ocasionalmente, mas nem sempre, alguns itens são bem-desenhados. Ironicamente, isso acontece quando deixamos de notar o desenho e simplesmente passamos a usar os itens.
Utensílios de cozinha, menus de restaurante, apresentações em seminários e planos de previdência complementar – são bem-desenhados quando cumprem com seus propósitos e geram os resultados que estávamos esperando deles.
Para que usar palavras para explicar quando temos disponíveis duas ou três imagens?
A melhor maneira de um cliente saber se um desenho é coerente, é o designer explicar: (i) para quem ele é destinado; (ii) para que serve; e (iii) quais são as restrições de uso.
A questão é: como saberemos se um item é bem-desenhado? Uma resposta honesta para todas as três questões acima é que fizemos essas perguntas e consertarmos o desenho, muito antes do item ser lançado.
“Criei isso para ganhar um prêmio” ou “Fiz assim para criar fuzuê e espalhar para todo mundo” ou ainda “Esse plano de previdência complementar segue as práticas e tendencias de mercado”, todas são respostas honestas, embora possam não ser o motivo pelo qual contratamos o designer.
Depois de sabermos para quem um desenho se destina e para que serve, poderemos dar um feedback útil ao designer e trabalhar junto com ele para atingir os objetivos almejados.
O plano de previdência complementar do seu fundo de pensão está entregando, consistentemente, segurança financeira futura para TODOS os participantes e atingindo os objetivos e propósitos para o qual foi desenhado?
Se a resposta para essas perguntar for diferente de SIM, o plano de previdência complementar do seu fundo de pensão NĀO foi bem-desenhado e foi muito mal projetado...
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Mestre em Administração Profissional pela EAESP/FGV, Bacharel em Ciências Atuariais pela UFRJ,com especialização em Propaganda & Marketing pela ESPM-RJ e em Governança Corporativa pelo IBGC. Mais de 25 anos de atuação no mercado de previdência complementar, Membro nº 641 e ex-Diretor do Instituto Brasileiro de Atuária e ex-Professor do MBA de Gestão de Riscos Financeiros e Atuariais da USP/FIPECAFI. Gerenciou inúmeros projetos internacionais e regionais na área de benefícios, tendo morado em Jacksonville, FLA-EUA e em Lincolnshire, CH-EUA. Ocupou cargos de alta gerência e direção nas maiores empresas globais de benefícios, em fundos de pensão, em seguradoras e em bancos.
Desenvolve Pesquisas, Projetos e Palestras sobre Previdência, Seguros (RE), Benefícios a Empregados, Programas de Saúde, Economia Comportamental, Neuromarketing e Investimentos Responsáveis.