De Sāo Paulo, SP.
Os fundos de pensāo passam o tempo todo focando na segurança financeira das pessoas na fase pós-trabalho.
Talvez por desconhecimento ou interesse, pintam a aposentadoria como uma fantasia, como uma fase de anos dourados, que é bem distante da realidade.
Se a história tem algo a nos ensinar, é que geralmente os maiores riscos não vem daquilo que desconhecemos, mas sim daquilo que temos certeza que conhecemos.
A aposentadoria é vendida como se a pessoa passasse décadas se esforçando em ambientes iluminados por lâmpadas fluorescentes, trocando a juventude por um salário e marcando a data da aposentadoria em um calendário, como um prisioneiro entalhando marcas na parede de uma cela.
Até que ... chega o Dia da Liberdade: a aposentadoria.
Um mal silencioso sobre o qual pouco se fala
Um ano aposentadoria adentro, metade dos aposentados admite estar mais solitário do que nunca, a saúde mental entra em crise, a fantasia de barracas de praia iluminadas pelo sol se transforma na realidade de olhar para as paredes enquanto o telefone não toca.
A aposentadoria, ao que parece, pode ser menos uma libertação e mais uma emboscada existencial em câmara lenta.
A aposentadoria não lhe dá automaticamente mais tempo para viver a vida. Apenas lhe dá mais horas para notar as rachaduras que vāo aparecendo nela com o tempo.
A sociedade vende a aposentadoria como uma volta olímpica da vitória. Você “mereceu”, dizem.
Nos folhetos sobre o tema: casais de cabelos grisalhos alinhados, como se tivessem feio escova progressiva, bebendo vinho em navios de cruzeiro, rindo como se tivessem acabado de tomar um porre com amostras grátis de vodka no supermercado.
A realidade? Um número chocante de aposentados descreve seus dias como monótonos, vazios, solitários.
Pesquisas sobre saúde afirmam que a solidão é tão mortal quanto fumar 15 cigarros por dia;
As taxas de depressão clínica dobram após a saída do mercado de trabalho;
A perda de estrutura, identidade e contato humano é muito mais forte do que a maioria das pessoas imagina.
Mudança da noite para o dia
Num dia você é essencial, no outro você é apenas um ruido de fundo. Por quarenta anos, você foi “o engenheiro”, “o medico”, “o cara que tem solução para tudo”.
No outro, você é só o Carlos ou a Joana ou “vovô”.
Você passa de escrever relatórios e gerenciar projetos milionários para pesquisar sobre a maneira correta de descalcificar a máquina de Nespresso.
Humanos precisam de propósito assim como plantas precisam de luz solar. Tire isso das pessoas e observe-as murchar.
A economia da solidão e porque o telefone não toca
Para quem se sente sozinho na fase de aposentadoria, já há empresas à disposição com suas “soluções”:
ONGs que organizam comunidades para idosos vendem calendários de atividades sociais como se fossem hotéis fazendas no interior do Pantanal;
Empresas de tecnologia promovem companheiros de IA — robôs programados para ouvir, ver e falar.
Anúncios de farmacêuticas anunicam antidepressivos entre a novela das 20h e o noticiário das 23h.
Tudo isso, porém, não tem nada a ver com solidão, tem a ver com lucrar com o isolamento das pessoas.
Por que ninguém pega o telefone? Parte do problema está nas diferenças geracionais.
Os filhos adultos estão atolados em trabalho, lutando para pagar as contas e se manter num emprego que nunca durará para sempre;
Os netos moram na TikToklândia, não na sua sala de estar.
Os amigos da sua idade? Se mudaram, morreram ou te ignoraram discretamente para nāo admitir que também estão sozinhos.
O silencio espicha e você que costumava reclamar de uma reunião atrás da outra, agora, daria a vida por uma reunião-almoço daquelas que nāo fecham negócio nenhum e só servem para jogar conversa fora.
Todo mundo diz que a aposentadoria te dá “mais tempo”: mais tempo para viajar, fazer trabalho voluntário, dedicar aos seus hobbies.
Mas tempo sem conexão humana é apenas um recipiente vazio.
Claro, você pode fazer pão caseiro de fermentação natural ou aprender uma nova língua no Duolingo, mas hobbies por si só não vão te salvar.
Propósito sim e propósito, quase sempre, envolve outras pessoas.
A matemática brutal da solidão
Risco 29% maior de doenças cardíacas;
Risco 32% maior de derrame;
Expectativa de vida reduzida em vários anos.
Então, sim, você pode se aposentar aos 60 anos com dois milhões de reais no plano CD do seu fundo de pensāo, mas se você não investir em relacionamentos, pode não chegar aos 70.
Nāo existe magica, o que se requer é um esforço da sua parte:
1. Dedique tempo para pessoas, nāo para hobbies
Marcar encontros só para tomar um café, telefonar para irmãos, visitar parentes e amigos: Inegociável.
2. Participe de grupos que nāo dāo a mínima para seu CV
Clube do livro, coral da igreja, clube do vinho ... o nome do seu cargo é história
3. Seja mentor
Sua experiencia, capacitação e história importam. Passe-as adiante!
4. Faça terapia
Sim, você, principalmente você. Solidāo nāo é fraqueza, é fator biológico.
Aposentadoria nāo é o fim, é uma reescrita da vida
Nos vendem a história errada. A aposentadoria não é champanhe ao pôr do sol. É uma redefinição radical de si mesmo. Pense na aposentadoria menos como “o fim de uma fase” e mais como o começo de outra.
Aposentadoria, saúde mental e solidão formam um triângulo perigoso que a maioria das pessoas ignora, até que seja tarde demais.
Mas se você enfrentar esse perigo — buscando conexão, admitindo vulnerabilidade, rejeitando a mentira de “envelhecer com elegância”, em silêncio — você terá boa chance de nāo ser tragado por ele.
Ninguém merece viver num lugar onde o som mais alto que se ouve são seus próprios pensamentos ...
Ah, sim, claro, os fundos de pensāo poderiam ajudar as pessoas nessa nova fase, não apenas garantindo o pagamento dos benefícios, mas fornecendo um proposito para as pessoas seguirem em frente.
Mas Eder, você vive em outro mundo! Pode ser...
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fontes: “Retirement: The Golden Years Nobody Warned You About”, escrito por Troy Breland.
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