De São Paulo, SP.
domingo, 24 de fevereiro de 2019
Um robô com inteligência artificial é feito para ser inteligente, não para ser humano - Poupe para a aposentadoria com a inteligência de um robô.
De São Paulo, SP.
Se quiser passar no “Teste de
Turing” um robô falando com você do outro lado do celular, precisa te convencer
de que ele é uma pessoa de carne e osso.
Para isso, o robô precisa
responder a uma série de perguntas, como diria o Presidente, sem fraquejar. Brincadeirinha! O robô
falando com você não pode deixar você perceber que está conversando com uma
máquina.
“Um computador merece ser chamado
de inteligente se puder enganar um humano fazendo-o acreditar que é humano” — Alan Turing
Mas afinal, convencer uma pessoa
numa situação dessas prova o quê? Inteligência? Na verdade, não. O que o teste
mostra para nós é que um computador pode se passar por uma pessoa. É um teste
para o computador fingir que é humano.
Passar num teste assim pode não
ser grande coisa. Isso porque as pessoas, frequentemente, não são lá tão
inteligentes. Tendemos a cometer erros de julgamento, somos tendenciosos,
tomamos decisões irracionais e somos passíveis de manipulação.
Na realidade, nossos erros e vieses
de julgamento em diversas situações, são até previsíveis, como nos ensina Dan
Ariely em seu magnifico livro “Previsivelmente Irracional”. No livro Ariely
mostra que cometemos erros de maneira incrivelmente repetitiva.
A natureza humana evoluiu para
sobreviver e procriar, não para ser lógica e racional. Muitas de nossas
decisões são baseadas em emoção e intuição e não o resultado de cuidadosas
análises embasadas pela racionalidade. A maioria de nossas decisões são
adotadas pelo cérebro em nível subconsciente, conforme amplamente comprovam os
estudos de Neurociência.
Prova disso é que muitas pessoas
não poupam para a aposentadoria, o que seria para lá de lógico, racional e
inteligente todo mundo fazer né!
Isso não significa que o genial
Alan Turing estivesse errado.
Apesar de nossa tendência a cometer erros, somos
considerados a espécie mais inteligente do planeta – pelo menos, até agora.
Portanto, se pudermos ser convencidos de que uma máquina é uma pessoa, claro
que deveríamos dizer que ela é inteligente.
No entanto, ser inteligente é ser
mais do que as pessoas são. Alguns de nossos comportamentos são inteligentes,
outros não. Determinados comportamentos, por mais inteligentes que sejam, nós
nunca adotamos.
Os computadores podem fazer uma
série de cálculos inteligentes e tomar decisões de modo que nós nunca havíamos
pensado antes. Deveríamos desconsiderar esse tipo de inteligência só porque
nunca seria considerada humana?
Teste de
Inteligência versus Teste de Humanidade
Qualquer coisa querendo se passar
por uma pessoa precisaria falhar de acordo com os mesmos erros de comportamento
que os humanos cometem.
Uma máquina que não comete os mesmos
erros que uma pessoa, falhará no teste de humanidade. Já uma máquina que erra
igual a uma pessoa, estará se tornando burra ou nivelando sua inteligência com
a “inteligência” humana.
Nenhuma
dessas opções é interessante.
Inteligência
Artificial nível-humano
Se um computador for tão
inteligente quanto uma pessoa, então cometerá os mesmos erros que nós cometemos.
Mas ué! Isso (errar) não é exatamente o que um robô com IA - inteligência
artificial não deveria fazer?
IA é essa grande inovação em
função do seu potencial de melhorar aquilo que os humanos são, em particular,
superar nossas fraquezas e deficiências. Para ser justo, a IA já é melhor do
que nós em muitas áreas.
Os assistentes de voz encontrados
no mercado, raramente cometerão erros de gramática nem, provavelmente, farão
cálculos matemáticos errados. As pessoas sim, cometem erros desse tipo.
Inteligência não se resume a
dominar uma habilidade, envolve o domínio de muitas habilidades.
A IA está lentamente elevando seu
nível em direção a inteligência humana. Para se passar por uma pessoa a IA
precisaria, simultaneamente, melhorar e piorar, se tornar mais esperta e mais
estúpida.
Como saberemos quando ela tiver
nos alcançado?
IA
nível-mega inteligente
Uma IA que propositalmente
forçasse sua burrice seria preocupante por motivos não tão óbvios. Você ficaria
impressionado ou se sentiria manipulado por um algoritmo que
conseguisse te convencer de que é humano?
O próprio Turing estabeleceu que um
computador seria inteligente quando conseguisse nos enganar fazendo a gente pensar que é humano. Claro, saberíamos que
por trás daquela fachada computacional haveria muito mais domínio de
informações e processamento de dados do que nosso cérebro seria capaz de
processar.
Mas não seria um insulto
interagir com uma máquina mais inteligente do que nós que apesar disso, ficasse
tentando nos imitar e insistindo em nossos erros? Não seria esquisito saber que
poderia ter uma inteligência muito melhor que a nossa, corrigir nossos erros e
que mesmo assim só estaria querendo andar, falar e agir como nós?
O homem sempre construiu
ferramentas e meios para superar suas deficiências. Carro para andar mais
rápido, avião para chegar mais longe, martelo para imprimir força concentrada,
óculos para enxergar direito e por aí vai.
O propósito da IA é ser mais
inteligente do que nós e não ser um humano melhor do que nós. Então, o que
queremos de uma máquina é a maior inteligência possível.
A “mente”
de um robô
Os robôs em suas mais variadas
formas e finalidades terão uma “mente” – se é que podemos chamar a IA assim –
diferente da nossa. Não vamos querer uma IA que fique com raiva ou que tenha
ciúmes. Também não havemos de querer uma IA que possa ser convencida de que a
terra é plana (essa é a parte da idiotice) ou que algumas pessoas são melhores
do que outras.
Ou seja, vamos querer separar a
natureza humana e pegar apenas a parte que consideramos boa para, então, achar
uma maneira de programar isso num computador.
Ainda assim, o funcionamento
dessa mente robótica feita da parte boa seria imensamente diferente da nossa. A
IA será capaz de reter, de uma única vez, muito mais coisas na mente do que nós
somos. Não esquecerá como esquecemos. Será capaz de pensar em 3-4 ou mais
dimensões. Conseguirá pensar em milhões de coisas ao mesmo tempo.
Seria um esforço inútil tentar
forçar um sistema único desses a pensar e se comportar da maneira que as
pessoas agem. Mal comparando, seria como tentar rodar o MacOS Mojave num PC que
roda Windows. Como o hardware não foi desenvolvido para aquele sistema
operacional seria necessário um esforço muito maior para funcionar.
Ou seja, se você está tentando
desenvolver humanidade em um computador, você estaria tentando rodar um sistema
operacional baseado em biologia químico-orgânica em uma máquina feita de chips,
circuitos e componentes eletrônicos que funcionam de forma específica.
A IA deverá ser imbuída de alguns
elementos humanos. Seria bom falar as mesmas línguas que nós falamos, para que a
forma de interagirmos e nos comunicarmos com ela nos seja familiar.
Também deverá ter determinadas
emoções (ou algo que funcione como uma emoção) para ajudar a nos direcionar
para o caminho certo e de forma amigável ao ser humano, com comportamentos e cognição
– empatia, por exemplo.
Ainda, a IA pode ser programada
para mostrar certas emoções que ajudam na nossa interação e relacionamento com
terceiros ou que nos fazem sentir confortáveis. Isso, claro, sem que a IA sinta
ou experimente essas emoções da mesma maneira que um ser humano o faz.
Os algoritmos da IA também podem
ser desenhados para ler as emoções das pessoas e responder de forma apropriada.
Nenhuma dessas programações, no entanto, fará a AI assumir a condição humana.
Um algoritmo que tenha medo da
sua própria morte, que consiga odiar alguém ou alguma coisa ou que fique aborrecido
quando estiver perdendo um jogo, provavelmente não funcionará muito bem.
Vamos ter que achar e selecionar com
equilíbrio suficiente os elementos emocionais entre humanidade e “roboticidade”.
Conforme bem definido por Patrick Lin – Diretor de Ética + Grupo de Ciências
Emergentes da Cal Poly (California
Polytechnic State University): “Quando dizemos que os robôs têm emoções,
não significa que eles fiquem alegres ou tristes ou passem por estados mentais.
Significa que eles apresentam comportamentos que nós humanos interpretamos
dessa ou daquela forma”.
IA
artística
Ao acharmos um meio de fazer a IA
ter seu próprio "eu" e trabalhar junto conosco, ao invés de tentar simular a
mente e o comportamento humanos, estaremos ajudando a reservar determinadas
áreas para os humanos – arte é um bom exemplo.
Sem o espectro completo de
emoções que as pessoas possuem, conseguiria a IA criar arte e música verdadeiramente
tocantes?
As artes plásticas costumam
provocar reações emocionais. Sabemos que muitos dos grandes trabalhos artísticos
foram produzidos a partir de sentimentos negativos como decepções amorosas,
saudade e tristeza.
Sim, já
existe arte desenvolvida por IA que conseguiu produzir alguns resultados
interessantes que poderiam se passar por criações humanas. A despeito disso, a
arte produzida por IA depende de:
1.
Definição de regras: Antes da IA criar qualquer coisa que possamos
apreciar, os engenheiros humanos precisam estabelecer os limites ou definir as
regras do campo de criação – restringindo o programa a certo estilo em música,
por exemplo.
2.
Aprendizado com os melhores: a IA é treinada a partir de exemplos de arte
produzida por outras pessoas – acaba, assim, com um conceito homogeneizado de
arte. A IA foi capaz de criar novos trabalhos seguindo o estilo de pintores
famosos e criou músicas que soam como os Beatles, ou seja, a IA fica presa aos
limites desses artistas.
Nós
também fazemos dessa forma, claro – estudamos música e praticamos instrumentos copiando
nossos ídolos.
Mas não paramos aí. Simplesmente seguir as regras e copiar os
maiores artistas não garantirá que você fará músicas que as pessoas vão querer ouvir.
Com imitações baratas você provavelmente vai apenas diluir o mercado de um
estilo já suficientemente explorado por outros artistas.
A chave
para uma boa arte é desenvolver algo a mais, levar a um lugar novo, elevar a um nível
inesperado ou nunca atingido antes e fazer isso de uma forma que provoque
uma resposta emocional, conforme a intenção do artista.
Será que
conseguimos que a IA crie seu próprio estilo que não seja simplesmente uma
réplica de outro artista?
Conseguiríamos que criasse um estilo que não seja
apenas uma “média” de tudo que aprendeu? Será que conseguimos – e essa é a
grande questão – fazer a IA criar um estilo de arte que mesmo desconhecido nos sensibilize,
algo que provoque emoção nas pessoas, não aleatoriamente, mas intencionalmente?
De modo a
criar algo ao mesmo tempo bom e
novo a IA teria que saber quando e como quebrar as regras. Você pode programar uma
escala musical e como se mover entre os acordes, mas será que conseguiria
ensinar como quebrar essas regras e se afastar dessas estruturas quando o
contexto emocional da música demandar – e fazer isso da forma esteticamente mais
prazerosa?
Sem uma
mente semelhante à de uma pessoa, sem a habilidade de associar o espectro
completo de emoções ou de sentir por si mesmo a música e a arte da maneira que
nós sentimos, as chances da IA nos levar às lágrimas através da música são praticamente
impossíveis. Iria precisar constantemente de um julgamento humano para nos
dizer: “Ei, essa música é legal!”, porque simplesmente não seria capaz de julgar
por si mesmo.
Separados seguiremos
Se a arte ficará livre da automação
graças a complexa interação entre regras, criatividade e emoções, então talvez
outras áreas possam ficar também.
Campos que requerem certos níveis
de inteligência emocional e habilidades relacionadas à condição humana podem
permanecer empreendimentos largamente humanos.
Música,
arte, cinema, literatura, esportes, ilustração e muitos outras atividades ligadas
à criação, requerem a distorção da psique humana de um modo que apenas outro
ser humano possa apreciar ou prever.
Não
deveria ser assim mesmo? Deixemos os computadores lidarem com dados e processamento,
deixemos que eles conduzam análises mais detalhadas e melhorem nosso processo
decisório que é apoiado somente na lógica. Mas deixemos as pessoas lidem com o
subjetivo e com os mundos interiores de outras pessoas.
Olhando para o futuro, na medida em que os computadores aumentem seu poder e inteligência, a
IA provavelmente vai criar arte capaz de nos tocar. Vai desenvolver coisas
novas.
Com nossa ajuda, poderá entender, mesmo que não seja capaz de sentir, a
forma que reagimos emocionalmente. Saberá, mesmo que não consiga vivenciar por
si só, como e quando usar determinadas emoções da mesma forma que nós fazemos.
Mas deveríamos almejar isso? Eu não quero ser convencido de que um computador superinteligente
é uma pessoa. Eu não quero algo que é capaz de solucionar problemas complexos, desperdiçando
tempo tentando agir como um cérebro. Deixemos que fale como o Spock, deixemos me
convencer que é esperto, deixemos se exibir resolvendo problemas que eu nunca conseguiria
resolver.
Deixemos a
condição humana, a volatilidade emocional e com ela a arte, para nós, humanos.
“...
parece que dar a IA a compreensão da condição humana seria apenas mais uma
forma de nos tornar obsoletos – e nesse processo, renunciar a qualidade final
que nos diferencia das máquinas e nos torna humanos” (Singularity Hub).
Poupe
para a aposentadoria com sua inteligência humana, porque a IA não vai precisar disso!
Abraço, com calor humano,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “All Too Human—Why Passing the Turing Test is
a Bad Idea “, escrito por Sam Brinson.
Crédito
de Imagem: Photo: NA Films/ Film4/ Universal Pictures
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Hora no Mundo?
--------------------------------------------------------------------------
Direitos autorais das informações deste blog
A obra Blog do Eder de Eder Carvalhaes da Costa e Silva foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em nkl2.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://nkl2.blogspot.com/.
Autorizações
As informações publicadas nesse blog estão acessíveis a qualquer usuário, mas não podem ser copiadas, baixadas ou reutilizadas para uso comercial. O uso, reprodução, modificação, distribuição, transmissão, exibição ou mera referência às informações aqui apresentadas para uso não-comercial, porém, sem a devida remissão à fonte e ao autor são proibidos e sujeitas as penalidades legais cabíveis. Autorizações para distribuição dessas informações poderão ser obtidas através de mensagem enviada para "eder@nkl2.com.br".
Código de Conduta
Com relação aos artigos (posts) do blog:
1. O espaço do blog é um espaço aberto a diálogos honestos
2. Artigos poderão ser corrigidos e a correção será marcada de maneira explícita
3. Não se discutirão finanças empresariais, segredos industriais, condições contratuais com parceiros, clientes ou fornecedores
4. Toda informação proveniente de terceiros será fornecida sem infração de direitos autorais e citando as fontes
5. Artigos e respostas deverão ser escritos de maneira respeitosa e cordial
Com relação aos comentários:
1. Comentários serão revisados depois de publicados - moderação a posteriori - no mais curto prazo possível
2. Conflitos de interese devem ser explicitados
3. Comentários devem ser escritos de maneira respeitosa e cordial. Não serão aceitos comentários que sejam spam, não apropriados ao contexto da dicussão, difamatórios, obscenos ou com qualquer violação dos termos de uso do blog
4. Críticas construtivas são bem vindas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário